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Entrando em qualquer Dôjô de artes marciais, deparamos com uma pequena prateleira (神棚 Kamidana) em um lugar de honra, que denominamos 床の間 Tokonoma (ou 神坐 Kamiza de forma mais específica nas artes marciais).
O Tokonoma (espaço no Tatami) tem sua origem no inicio do período Muromachi (século XIV-XVI), foi também chamado de 押板 Oshiita e é basicamente um espaço na parede onde são pendurados 掛け物 Kakemono (Pintura em papel), colocado 香 Kaori (incenso), 生け花 Ikebana (arranjo de flores), 行灯 Andon (abajur de papel) e outros arranjos artísticos. O espaço é comparado a nós ocidentais como uma sala de espera, porém comsentimentos culturais diferentes.
Podemos distinguir claramente um local diferenciado no ambiente Marcial classificado como Kamiza ou “acento divino” onde é visto o 神殿 Shinden ou pequeno templo e pequenos objetos juntos sobre uma prateleira chamada de Kamidana, literalmente traduzido como: “prateleira divina”. Cada item desse altar tem um simbolismo concreto dentro da tradição japonesa do 神道 Shintô (“Caminho dos Deuses” uma forma primitiva da espiritualidade japonesa).
No Shinden é guardado o 御札 Ofuda (amuleto) ou Shinpu (神符) que protege nosso treinamento.
A maneira de preparar um Kamidana pode seguir um padrão ou ser pessoal, mas devem incluir alguns objetos como:
As 燈明 Tômyô (Velas) simbolizam a luz universal da energia cósmica, da qual nos somos pequenos fragmentos ou 香 Kô (Incenso).
A 注連縄 Shimenawa (corda torcida) que é a identificação de um lugar Sagrado. O Shimenawa, de acordo com o 古事記 Kojiki, foi usado pela primeira vez para impedir que a a deusa do sol Amaterasu retornasse a caverna e assim, salvando o mundo da noite eterna.
O 鏡 Kagami ou espelho que tem o significado no Shintô de revelar sem preconceito o verdadeiro aspecto de qualquer pessoa ou objeto refletido. É também representado no conceito chamado 神心神眼 Shinshin Shingan (Olhar e coração divino). O espelho possui de acordo com o 風水 Fusui ou Feng Shui, o poder de conservar as energias positivas presentes em um espaço e redirecionar as negativas de modo a beneficiá-las.
O espelho também é um dos três objetos sagrado ou 神器 Shinki da tradição do Shintoísmo (os outros dois artigos são a espada e a jóia). O espelho também fez um papel importante na mitologia de Shintô. Conta à lenda que a deusa do sol 天照 Amaterasu mergulhou no mundo da escuridão depois de se refugiar em uma caverna desgostosa pelas atitudes invejosas do seu irmão, deus da tempestade que saqueava a terra. Os outros deuses não puderam a persuadir de sair do seu esconderijo até que um espelho foi pendurado à vista de Amaterasu em uma árvore. Assim a deusa foi intrigada pela imagem refletida da sua bonita face que a fez sair da caverna trazendo o amanhecer e devolvendo a luz para o mundo.
Os pequenos ramos de 榊 Sakaki (ou qualquer planta perene) simbolizam nosso lugar dentro da Natureza e também a vida.
A 水 Mizu (água) o 米 Kome (arroz) e o 塩 Shio (sal) representam os três elementos para sustentar a vida. Também representa nossa voluntariedade e disponibilidade para o sacrifício, em ordem a alcançar o crescimento em nossa busca pessoal. O arroz também representa a pureza e o sal, assim como a água têm o poder de limpar o que for impuro. O 酒 Sake (bebida feita da fermentação do arroz) é outro elemento simbólico no Shintô e também é oferecido no Kamidana.
O Kamiza preferencialmente deve estar orientado a Leste, lugar onde nasce o Sol e provem à luz, a geradora da vida.
Devemos sempre lembrar que esse local é para recordar simbolicamente o legado histórico de todos os ensinamentos transmitidos durante séculos ate nossos dias. Nossa primeira reverência (礼 Rei) ao entrarmos no 道場 Dôjô é dirigida para este local, de forma que devemos sentir toda a energia dos mestres e praticantes que puseram os segredos das artes marciais ao nosso alcance e ainda continuam fazendo. Assim, ao expressarmos nossas reverências ao Kamiza, estaremos mantendo uma ligação com os espíritos (Kami) que se encontram neste lugar mágico de progressão denominado Dôjô.
Todas estas regras de cortesia e reverências não são somente maneiras de educação, mas, através do gesto tratamos de conectar com essas energias que se movem em nossa volta. Por exemplo, quando saldamos a um companheiro de prática, tratamos simplesmente de comunicar-lhe nosso respeito com um evidente propósito de “conexão”.
Se pensarmos no momento de realizar a reverência em: “O espírito que há em mim, saúda o espírito que existe em ti”, concluímos a evidência de que é a mesma divindade que existe em ambos. Isso nos recordará da conexão com as forças da Natureza, a gratidão para nossos mestres e a responsabilidade que assumimos com a tradição e para poder descobrir as chaves que regulam nosso potencial de crescimento espiritual.
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