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Treinamento Mágico do “não tão básico”

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Edu Berlim

Possivelmente parte da primeira das grandes dúvidas dentro da cena ocultista, compreender que, para além de estudar, é necessária a prática e o desenvolvimento de uma série de habilidades é um dos passos iniciais mais difíceis de se dar. Talvez mais difícil que o próprio desenvolvimento de uma “rotina mágica” com treinamentos diários seja compreender adequadamente o que deve ser praticado. E não são poucos os textos, livros e cursos que tentam justamente sanar essas questões mais básicas.

Se você está nesse início recomendo que busque boas referências e um caminho para iniciar sua trajetória. De preferência, comece por aqui ou busque treinamentos básicos e plausíveis, vindo de pessoas que tenham passado pela prova do tempo, com ao menos uma década e meia de ocultismo. Pode ter certeza de que será um início de meditações, visualização criativa, ásanas, exercícios de concentração e talvez um ou outro ritual de limpeza e/ou banimento. A verdade é que não há muito o que inventar neste início de jornada.

Mas pode ser que você já esteja como meu anônimo amigo CAIO e precise de práticas que vão para o segundo capítulo deste livro que é a senda ocultista. Este é um ponto extremamente curioso em que você talvez ainda não se sinta apto a evocar os Espíritos para tomar um café, mas também já se vê capaz de visualizar o próprio café que você toma após o almoço. Nesse ponto a senda se torna extremamente particular, pois as habilidades que precisam ser desenvolvidas para dar continuidade já não são tão simples.

Depois de comer muito capim, eu sinto que pude chegar em uma boa lista de seis habilidades que devem ser desenvolvidas por um mago que está no meio de sua jornada. Pode ser que você não desenvolva todas elas e talvez uma ou outra vá ser mais útil em sua vida, mas se você trilha um caminho mais cerimonial, grimorial ou menos caótico-discordiano, por assim dizer, creio que elas acabarão por ser úteis em algum momento.

É óbvio que separei seis delas (afinal, eu até que gosto de repetir este número em meus textos). Elas não são as únicas, mas são as que gostaria de destacar aqui.

Teurgia

Minha posição como henoteísta é a de que não importa a senda pela qual se vague, o primeiro ato é a conexão com o divino maior. A oração precisa vir antes do labor como sabemos pelo eterno ora et labora e é através desta conexão que todo ato realmente poderá ser feito, mas vale ressaltar que não defendo nenhuma religião em especial e que o Deus a quem você reza deve ser aquele do teu coração. Ou deuses. Afinal, nada impede que você tenha uma prática politeísta ou similar.

Cuide dos teus Santos, Orishàs, Panteão, Altar, Ancestrais e o que mais você achar adequado, mas crie formas de se conectar diretamente com eles diariamente. Conecte-se com Deus, Elohim, Alá, Olodumaré, Brahman, Caos, com o Todo ou com qualquer nome pelo qual você chame o Criador acima de todos os outros seres. No fim, o que vale é ter essa conexão bem estabelecida, pois é através dela que podemos realizar atos de magia.

Lembre-se que se você tem uma crença neste sentido, mesmo que tua magia não tenha ligação direta com a tua crença, o simples fato de haver um Criador com o qual você conecta a própria criação torna tua magia submissa àquele que a criou junto contigo.

Perceba, contudo, que a Teurgia como meio do caminho já é uma Teurgia pautada nas suas próprias criações e métodos. Para exemplificar com minha própria jornada, hoje eu entendo que minha conexão se dá através de música, da criação das minhas próprias orações, em evocar seres que me ajudem na conexão etc. Se no começo de minha jornada eu contava apenas com as orações católicas que aprendi com minha estimada avó, hoje tenho meu próprio breviário capaz de me conectar de forma muito mais intensa e bela.

Sonhos Lúcidos e Templo Astral

Enquanto o tão famoso diário de sonhos é uma das práticas mais comuns no início de jornada, assim como os primeiros exercícios de criação do Templo Astral, a reunião destas práticas é certamente um passo seguinte que pode tornar-se muito útil para o mago.

Saber reconhecer quando se entra no sonhar e poder optar por continuar nele para buscar alguma mensagem inconsciente ou desligá-lo completamente para ir trabalhar no Templo dá ao mago uma autonomia especial que o permite fazer melhor uso do seu tempo noturno. São infinitas as possibilidades dentro do próprio inconsciente e ter maestria em tais habilidades lhe permite coisas únicas como rever leituras presas no fundo da memória, se conectar melhor com seus próprios familiares durante o sono, ser capaz de falar com Espíritos que dão primazia a este momento e até fazer rituais teúrgicos e de proteção ao longo da noite.

Viagem Astral

Outra habilidade por muitas vezes pouco estimada pelos magistas com quem tenho contato, a viagem astral se soma com as práticas anteriores de maneira formidável. Pode lhe poupar muito tempo, além de lhe permitir explorar lugares inimagináveis, conversar com seres e até exorcizar os cômodos da tua casa sem precisar sair da própria cama (já pensou em exorcizar aquele sótão que tua escada não alcança?).

Na minha experiência pessoal, o desenvolvimento desta técnica tornou-se um enorme divisor de águas. Toda a dificuldade que tenho de ver os Espíritos com os quais trabalho desapareceu no momento em que percebi que sou capaz de vê-los e me comunicar no astral com muito mais facilidade que no mundo físico. E se eu que sou uma basicamente uma pedra cega com Lua em Virgem fui capaz de desenvolver isso (com muito custo), qualquer um provavelmente também o é.

Scrying

O terror de muitos magos é outra dessas habilidades a serem desenvolvidas no meio da senda. Uma verdadeira habilidade de “faixa marrom” que dificilmente se consegue desenvolver sem muito custo.

Entenda que desenvolver o scrying consiste em ter a capacidade de optar por ver ou não ver a cada momento e que ter uma “visão espiritual ininterrupta” não é agradável e pode acabar por te largar em uma sala branca com uma ‘camisa de se abraçar’. Para muito além da simples “visão na bola de cristal”, o scrying permite que o mago tenha rituais muito mais fluidos e naturais.

Oraculação

Sim, eu sei que muitos que acabam nesta senda começam justamente por este tipo de estudo. Não é de hoje que o Tarot, as Runas e o Lenormand fazem parte do “mel que pega as moscas” do ocultismo e que é a partir destes que alguém que só queria saber se ia passar numa vaga de emprego acaba comparando traduções do Picatrix. 

Ainda assim eu preciso ressaltar o quanto isso é importante no meio da jornada, pois da mesma forma que existem muitos que chegam por este caminho, há candidatos a mago que o negligenciam de forma insana justamente por não perceber o valor que um oráculo possui na elaboração de correção de rituais. Uma ferramenta que é capaz de corrigir as futuras cagadas antes que elas aconteçam sempre deve ser levada em conta.

Além disso, tornar-se bom na leitura de um oráculo, sobretudo para si mesmo, é uma tarefa que leva, no mínimo, alguns anos de muito estudo e dedicação. Não é incomum que tarólogos leiam para si mesmos de maneira muito leve ou extremamente brutal, sem encontrar um meio de caminho ideal que ela usa com outras pessoas.

Elaboração de Psicodrama

Cristais, incensos, velas, aromas, meditação, óleos essenciais, iluminação, música… São diversas as ferramentas que um magista pode ter à sua disposição na hora de trabalhar seus rituais e o conhecimento daquilo que melhora as tuas capacidades deve ser parte essencial do estudo do mago. E não estou falando sobre não seguir as tradições grimoriais: estou falando justamente sobre aprender com elas e compreender os motivos de cada coisa que ali está descrita.

Toda a questão de autoconhecimento deve estar muito presente neste momento em que você é capaz de perceber que uma fragrância de flor de cerejeira lhe ajuda a elaborar os textos dos teus rituais e que ouvir a Hammerklavier de Beethoven antes de iniciar um trabalho te coloca “na vibe” correta para chamar o Anjo de Marte. O conhecimento dos seus próprios pormenores permite uma preparação muito mais eficaz do que ficar deitado na cama olhando para o teto pensando no que pode dar errado.

A compreensão das emoções e do estado certo para determinado ritual te permite encontrar a tua própria fórmula de acessar esse estado antes de iniciar qualquer coisa, impedindo os mil pensamentos inapropriados durante o rito e aumentando em muito a sua eficácia.

Enfim, existem outras inúmeras técnicas a serem desenvolvidas que não foram nomeadas neste breve ensaio e pode ser que alguma delas lhe seja essencial. Meu conselho é que tente descobrir o que vem lhe fazendo falta para que se aperfeiçoe e melhore sua senda como mago.


Eduardo Berlim é músico, tarólogo e estudante de hermetismo com vasta curiosidade. Tem apetite por uma série de correntes diferentes de magia e se considera um eterno principiante. Assumidamente fanboy dos projetos da Daemon e das matérias do Morte Súbita inc.


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