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Teorias a Respeito dos Fenômenos Psíquicos – Ísis sem véu

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AS TEORIAS DE FENÔMENOS PSÍQUICOS.

O Conde de Gasperin é um protestante devotado. A sua batalha contra dês Mousseaux, de Mirville e outros fanáticos, que atribuem todos os fenômenos espiritistas a Satã, foi longa e feroz.

As afirmações seguintes, relativas aos fenômenos psíquicos de que ele próprio foi testemunha, bem como o Prof. Thury, podem ser encontradas na volumosa obra de de Gasparin.

“Os experimentadores viram freqüentemente os pés da mesa colados, por assim dizer, ao assoalho e, apesar da excitação das pessoas presentes, recusarem-se a mudar de lugar,. Em outras ocasiões, eles viram as mesas levitarem de uma maneira bastante enérgica. Ouviram, com os seus próprios ouvidos, algumas batidas fortes e outras muito suaves; as primeiras ameaçavam, por sua violência, fazer a mesma em pedaços; as outras eram ligeiras, a ponto de mal serem percebidas. (…) Quanto a LEVITAÇÃO SEM CONTATO, encontramos um meio de produzi-la facilmente com sucesso. (…) E essas levitações não são resultados isolados. Nós as produzimos mas de TRINTA vezes. (…) Um dia a mesa se moverá e erguerá sucessivamente os seus pés, mesmo que o seu peso seja acrescentado o de um homem sentado sobre ela, que pesasse 88 quilos; num outro dia, ela ficará imóvel e imovível, embora a pessoa colocada sobre ela pese somente 60 quilos. Numa determinada ocasião, queríamos que ela se virasse de pernas para o ar e ela se virou, com as pernas para cima, embora nossos dedos não a tivessem tocado sequer uma única vez.

A partir de 1850, dês Mousseaux e de Miville, católicos romanos intransigentes, publicaram vários volumes cujos títulos foram habilmente escolhidos para chamar a atenção pública. Eles denunciam, da parte dos seus autores, uma inquietude muito séria que, além disso, não se preocupam em ocultar. Se fosse possível considerar os fenômenos como espúrios, a Igreja de Roma não se esforçaria tanto em reprimi-los.

Estando as duas partes de acordo em relação aos fatos, ficando os cépticos fora do problema, o público dividiu-se em dois partidos: os que acreditam na ação direta do diabo e os que acreditam nos espíritos desencarnados e em outros. A Igreja de Roma nunca foi crédula nem covarde, como o prova abundantemente o maquiavelismo que caracteriza a sua política. Além disso, ela nunca se preocupou muito com os incríveis prestidigitadores que ela  sabia serem apenas adeptos da trapaça. Robert-Houdin, Comte, Hamilton e Bosco puderam  dormir seguros nos seus leitos  enquanto ela perseguia  homens como Paracelso, Cagliostro e Mesmer, os filósofos herméticos e os místicos – e fazia cessar efetivamente toda manifestação genuína da natureza oculta pela morte, da parte dos médiuns.

Mas o melhor testemunho em favor da realidade dessa força foi fornecido pelo próprio Robert-Houdin, o rei dos prestidigitadores, que, tendo como perito sido chamado pela Academia para ser testemunha dos poderes maravilhosos de clarividentes e de erros ocasionais de uma mesa, disse: “Nós, prestidigitadores, jamais cometemos erros e minha segunda visão jamais me falhou”.

“O problema do sobrenatural”, diz de Gasparin, “tal como foi apresentado na Idade Média, e tal como se apresenta hoje, não está no conjunto daqueles de que podemos desdenhar; a sua extensão e a sua grandeza não escapam a ninguém(…) Nele, tudo é profundamente sério, tanto o mal quanto o remédio, a recrudescência supersticiosas e o fato físico que deve finalmente levar vantagem sobre ela.”

Entre a multidão de livros publicados contra o Espiritismo, proveniente de fontes católicas e protestantes, nenhum produziu uma sensação mais aterradora do que as obras de Mirville e de dês Mousseaus: La magie au XIX sècle; Moeus et pratiques dês démons; Les hauts phénomènes de la magie; Les Médiateur et les moyens de la magie; Pneumatologie. De Esprits et de leur manifestations diversesfoi um. Elas constituem a biografia mais enciclopédica do diabo e dos seus diabretes que apareceu para o deleite secreto dos bons católicos desde a Idade Média.

Negando que a Igreja tivesse algo a ver com seus livros, dês Mousseaux  gratificou a Academia, em acréscimo ao seu Mémoire, com os seguintes pensamentos interessantes e profundamente filosóficos sobre Satã:

” O Diabo é coluna fundamental da Fé. É uma das grandes personagem cuja vida está intimamente ligada à Igreja; e sem a  sua fala, que saiu tão triunfante da boca da  Serpente, o seu médium, a queda do homem não  teria  ocorrido. Assim, se não fosse por ele, o Salvador, o Crucificado, o Redentor seria apenas um ente ridículo e a Cruz, um insulto ao bom senso!”

Este escritor, lembrai-vos, é apenas o eco fiel da  Igreja, que anatematiza ao mesmo tempo aquele que nega Deus e aquele que duvida da existência objetiva de Satã.

Esta guerrilha entre os campeões do clero e a materialista Academia de Ciências prova abundantemente quão pouco esta última  fizera para desarraigar o fanatismo cego das mentes  mesmo  das  pessoas mais instruídas.  Evidentemente a  ciência  não  venceu,  nem sequer refreou a Teologia

Babinet, Rayer e Jobert de Lamballe – todos membros do Instituto – distinguiram-se particularmente na sua batalha entre o ceticismo e o sobrenaturalismo e muito seguramente não colheram louros.

Babinet começou por aceitar a priori a rotação e os movimentos das mesas, fato que declarou estar “hors de doute”. “Esta rotação”, disse ele, “pode manifestar-se com uma energia considerável, seja por uma velocidade muito grande, seja por uma forte resistência quando se deseja que ela se interrompa.”

Agora temos a explicação do eminente cientista: “Suavemente empurrada por pequenas impulsões concordantes das mãos colocadas sobre ela, a mesa começa a oscilar da direita para a esquerda. (…) No momento em que, após um intervalo mais ou menos longo, uma trepidação nervosa se estabelece nas mãos e as pequenas impulsões individuais de todos os experimentadores se harmonizam, a mesa se põe em movimento”.

Babinet considera isso fácil, pois “todos os movimentos musculares são determinados nos corpos por alavancas de terceira ordem, para as quais o ponto de apoio está próximo do ponto em que a força age. Este, em conseqüência, comunica uma grande velocidade às partes móveis em busca da pequena distância que a força motriz tem de percorrer. (…) Algumas pessoas se espantam ao ver uma mesa sujeita à ação de muitos indivíduos bem-dispostos e em conjunto, a vencer obstáculos poderosos e mesmo a quebrar as pernas das pequenas ações concordantes. (…) Uma vez mais, a explicação física não oferece dificuldades”.

Nessa exposição, dois resultados são claramente mostrados: a realidade dos fenômenos é provada e a explicação científica se torna ridícula. Mas Babinet permite que se ria um pouco às suas custas; ele sabe, em sua qualidade de astrônomo, que se pode encontrar manchas escuras até no Sol.

O Sr. Crookes, no seu artigo publicado no Quarterly Jorunal of Science a 1º de outubro de 1871, menciona de Gasparin e a sua obra Science versus Spiritualism. Ele observa que “o autor finalmente chegou à conclusão de que todos esses fenômenos devem ser creditados à ação de causas naturais e não exigem a suposição de milagres, nem a intervenção de espíritos e de influências diabólicas. [De Gasparin] considera, como um fato plenamente estabelecido pelos seus experimentos, que a vontade, em certos estados do organismo, pode agir à distância sobre a matéria inerte, e muito da sua obra é consagrada à verificação das leis e das condições sob as quais essa ação se manifesta”.

Mas o Sr. Crookes mencionou outro eminente erudito, Thury, de Genebra, professor de História Natural, que foi colaborador de Gasparin nos  fenômenos  de Valleyres. Este professor contradiz sem rodeios as asserções do seu  colega. “A condição primeira e mais necessária”, diz Gasparin, “é a vontade do experimentador; sem a vontade, nada se obterá, podeis formar a cadeia (o círculo) por 24 horas consecutivas, sem obter o mínimo  movimento.”

Isto prova apenas que de Gasparin não faz  diferença entre fenômenos puramente magnéticos, produzidos pela vontade perseverante dos assistentes entre os quais não deve haver um único médium, desenvolvido ou não-desenvolvido, e os chamados psíquicos. Ao passo que os primeiros podem ser produzidos conscientemente por quase todas as pessoas que tenham uma vontade firme e determinada, os outros dominam o sensitivo muito freqüentemente contra o seu próprio consentimento e sempre agem independentemente dele. O mesmerizador deseja uma coisa e, se ele for suficientemente poderoso, essa  coisa  se produzirá. O médium, mesmo que ele tenha um propósito honesto a cumprir, pode não conseguir  nenhuma  manifestação; quanto  menos  ele exercita a sua vontade, melhor será o fenômeno; quanto mais  ele  se mostra ansioso, tanto menos provável é que consiga alguma coisa; mesmerizar requer uma natureza positiva;  para  ser  um  médium é preciso ter uma natureza absolutamente passiva. Este  é  o Alfabeto do Espiritismo, e nenhum médium o ignora.

Mas podem os cientistas afirmar que têm em suas mãos as chaves dessa lei? De Gasparin acredita que sim. Vejamos.

“Não me arrisco a explicar; não é da minha conta [?]. Constatar a autenticidade de simples fatos e sustentar uma verdade que a ciência deseja sufocar é tudo o que pretendo fazer. Entretanto, não posso resistir à tentação de mostrar àqueles que nos tratariam como um entre tantos illuminati ou feiticeiros que a manifestação em questão comporta uma interpretação que concorda coma as leis comuns da ciência.

Suponhamos um fluído, que emana  dos  experimentadores, e, sobretudo, de alguns deles; suponhamos que a vontade determinasse a direção tomada pelo fluído – e compreendereis facilmente a rotação e a levitação daquela perna de mesa para a qual foi emitida, com mais ação da vontade, um excesso de  fluído. Suponhamos que um vidro permitisse que o fluído se escapasse – e compreendereis como um copo colocado sobre a mesa pode interromper a rotação e que o copo, colocado em um dos lados, causa a acumulação do fluído no lado oposto, que, em conseqüência, é levantado!”

Se cada um dos experimentadores fosse um mesmerizador hábil, a explicação, minus alguns detalhes importantes, poderia ser aceitável. Isso basta para o poder da vontade humana sobre a matéria inanimada, de acordo com o ilustre ministro de Luís Filipe. Mas, e quando à inteligência demonstrada pela mesa? Que explicação dá ele às respostas obtidas pela ação dessa mesa? Respostas que possivelmente não seriam os “reflexos  do cérebro” das pessoas presentes (uma das teorias favoritas de de Gasparin), pois que as idéias destas pessoas eram absolutamente o contrario da filosofia muito liberal professada por essa mesa maravilhosa? Ele se cala a esse respeito. Tudo, menos espíritos – humanos, satânicos ou Elementais.

Assim, a “concentração simultânea de pensamento” e a “acumulação de fluído” não são melhores do que  a  “celebração inconsciente” e a “força psíquica” dos outros cientistas. Devemos tentar novamente; e podemos predizer, de antemão, que as  mil e uma teorias da ciência  de  nada  servirão  até  que  eles  confessem que esta força, longe de ser uma projeção das vontades  acumuladas do círculo,  é, ao  contrário,  uma  força  anormal,  estranha a eles e supra-inteligente.

Como nos relata o Sr. Crookes, o Prof. Thury refuta  “todas  essas explicações e acha que os efeitos devidos a uma substância  particular, fluído ou agente, penetram, de maneira similar ao éter luminífero do cientista, toda a matéria  nervosa,  orgânica  ou inorgânica – que ele denomina psicode. Discute a fundo as propriedades desse estado ou forma da matéria e propõe o termo força  ectênica  (…) para o poder exercido quando a mente  age  à distância através da influência da psicode”.

O Sr. Crookes observa ainda qual a força ectênica do Professor Thury e a sua própria “força psíquica” são evidentemente termos equivalentes.

Nós poderíamos, com certeza, demonstra facilmente que as duas forças são idênticas, além disso, [à] luz astral ou  sideral, tal como a definem os alquimistas e Éliphas Lévi no seu Dogme et rituel de la haute magie; e que, com o nome de ÂKÂSA (Ver inicio capítulo V), ou princípio da vida, esta força que tudo penetra era conhecida dos ginosofistas, dos mágicos hindus e dos adeptos de todos os países há milhares de anos; e que era conhecida também, e ainda hoje usada por eles, dos lamas tibetanos, dos faquires, dos taumaturgos de todas as nacionalidades e até de muitos dos “prestidigitadores” hindus.

Em muitos casos de transe,  induzidos artificialmente por mesmerização, é bastante possível, e até mesmo provável, que se trate do “espírito” do paciente que age sob a orientação da vontade do operador. Mas, se o médium permanece consciente e se os fenômenos psicofísicos ocorrem de maneira a indicar uma inteligência diretora, então, a menos que não se tratasse de uma  “mágico” e que ele fosse capaz de projetar o seu  duplo, a exaustão física significa apenas uma prostração nervosa. A prova  de que ele é o instrumento passivo de entidades  invisíveis  que controlam potências ocultas parece ser conclusiva.

Assim, vemos que nem Thury, que investigou essas manifestações com de Gasparin em 1854, nem o Sr, Crookes, que admitiu a sua autenticidade inegável em 1874, chegaram a algo definido. Ambos são químicos, físicos e homens muito cultos. Ambos dedicaram toda a sua atenção a essa questão enigmática; e além desses dois cientistas houve muitos outros que, tendo chegado à mesma conclusão, foram também incapazes de fornecer ao mundo uma solução final. Segue-se que, em vinte anos, nenhum cientista avançou um passo no desvendamento do mistério, que continua impassível e inexpugnável como as paredes de um castelo de fadas.

Seria por demais impertinente insinuar que talvez os nossos cientistas modernos tivessem caído naquilo que os franceses chamam de un cercle vicieus? Tolhidos pelo peso de seus materialismo e pela insuficiência das ciências ditas exatas em demonstrar palpavelmente a eles que a existência de um universo espiritual, mais povoado e mais habitado ainda do que o nosso universo visível – estão eles condenados para sempre se arrastarem dentro desse círculo, mais por falta de vontade do que por incapacidade de penetrar no que está para além desse anel e de explorá-lo em sua extensão e largura? É só o preconceito que os impede de um compromisso com os fatos já bem-estabelecidos e de firmar aliança com especialistas magnetistas e mesmerizadores como Du Potet e Regazzoni.

“O que, então, se produz a partir da morte?” pergunta Sócrates a Cebes. “A Vida”, foi a resposta. (…) “Pode a alma, dado que é imortal, ser algo mais do que imperecível?” A “semente não, se desenvolve a menos que seja consumida em parte”, diz o Prof. Le Conte; “o que semeias não se vivifica, se primeiro não morre”,
diz São Paulo.

Uma flor desabrocha; depois murcha e fenece. Deixa atrás de si um perfume que resiste no ar até muito tempo depois de as suas pétalas delicadas se transformarem em pó. Nossos sentidos materiais podem não mais percebê-lo, mas ele ainda existe. Vibrai uma nota qualquer num instrumento e o som mais frágil produz um eco eterno. Uma perturbação se produz nas ondas invisíveis do oceano sem praias do espaço e a vibração nunca  se  extingue. A sua energia, transporta do mundo de matéria  para  o  mundo imaterial, pendente e racional, a divindade que habita a obra-prima suprema da nossa natureza, abandonará o seu envoltório e não mais existirá. O princípio de continuidade que existe mesmo naquilo que se chama de matéria inorgânica, num átomo perdido, seria negado ao espírito, cujos atributos são a consciência, a memória, a mente e o AMOR! Realmente, esta idéia é absurda. Quanto mais pensamos e quanto mais aprendemos, tanto mais difícil se nos torna compreendermos o ateísmo do cientista. Podemos entender facilmente que um homem ignorante das leis da Natureza, que não aprendeu nada de Química ou de Física, possa ser fatalmente lançado no materialismo por sua própria ignorância, por sua incapacidade de compreender a filosofia das ciências exatas ou de fazer uma indicação qualquer pela analogia entre o visível e  o  invisível. Um metafísico nato, um sonhador ignorante, pode despertar abruptamente e dizer para si mesmo: “Sonhei; não tenho nenhuma prova palpável do que imaginei; é tudo ilusão”, etc. Mas para um cientista, familiarizado com as características da energia universal, sustentar a opinião de que a vida é apenas um fenômeno de matéria, uma espécie de energia, é confessar simplesmente a sua incapacidade de analisar e de compreender apropriadamente o alfa e o ômega mesmo daquela – matéria.

O ceticismo sincero em relação à imortalidade da alma do homem é uma doença, uma má-formação do cérebro físico, que tem existido em todas as épocas. Da mesma maneira que existem crianças que nascem com uma coifa em suas cabeças, assim também há homens incapazes de, até a sua última hora, livrar-se desta  espécie de coifa que, evidentemente, recobre os seus órgãos de espiritualidade. Mas é um sentimento bastante diferente o que os faz rejeitar a possibilidade de fenômenos espirituais e mágicos. O verdadeiro nome desse sentimento é – vaidade. “Nós não podemos produzi-los nem explicá-los; portanto, eles não existem e, além disso, nunca existiram.” Este é o argumento irrefutável dos nosso filósofos atuais. Há cerca de trinta anos. E. Salverte surpreendeu o mundo dos “crédulos” com a sua obra, The Philosophy of Magic. O livro pretende desvendar todos os milagres da Bíblia e os dos santuários pagãos. Seu résumé: longos séculos de observação; um grande conhecimento (para aqueles dias de ignorância) das ciências naturais e da Filosofia;  impostura; trapaça; ilusões de ótica; fantasmagoria; exagero. Conclusão final e lógica: taumaturgos, profetas, mágicos, velhacos e desonestos; o resto do mundo, loucos.

Dentre muitas outras provas conclusivas, o leitor pode vê-lo oferecendo a seguinte: “Os discípulos entusiásticos de Jâmblico afirmavam, a despeito das asserções contrárias do seu Mestre, que, quando orava, ele era elevado a uma altura de dez côvados do solo; e, iludidos pela mesma metáfora, embora cristãos, tiveram a simplicidade de atribuir um milagre similar a Santa Clara e a São Francisco de Assis”.  Centenas de viajantes contam terem visto faquires a produzir os mesmos fenômenos e os tomaram a todos por mentirosos ou alucinados. Mas faz pouco tempo  que  o  mesmo  fenômeno  foi  testemunhado e referendado por um cientista muito conhecido; foi  produzido sob condições de teste; declarado pelo Sr. Crookes como  sendo autêntico e estar  além da possibilidade de uma ilusão ou truque.

Por que deveria parecer tão impossível que o espírito, uma vez separado do seu corpo, possa ter o poder de animar uma forma evanescente, criada por essa forma mágica “psíquica”, “ectênica” ou “etérea” com a ajuda das entidades elementares que lhe fornecem a matéria sublimada de seus próprios corpos? A única dificuldade consiste em compreender o fato de que o espaço circundante não é um vácuo, mas um reservatório, cheio até a borda, de modelos de todas as coisas que foram, que são e que serão; e de seres de raças incontáveis, diferentes da nossa. Aparentemente, fatos sobrenaturais – sobrenatural no sentido de que contradizem flagrantemente as leis naturais demonstradas da gravitação, como nos casos acima mencionados de levitação – são reconhecidos por muitos cientistas. Quem quer que tenha ousado investigar com minúcia, viu-se compelido a admitir a sua existência; só nos seus esforços inúteis de explicar dos fenômenos segundo teorias baseadas nas leis já conhecidas de tais forças, alguns dos mais altos representantes da Ciência envolveram-se com dificuldades inextricáveis!

No seu Résumé, de Mirville reproduz a argumentação desses adversários do Espiritismo por meio de cinco paradoxos, que ele chama confusões.

Primeira confusão: a de Faraday, que explica o fenômeno da mesa pela que vos empurra, “em conseqüência da resistência que a empurra para trás”.

Segunda confusão: a de Babinet, ao explicar todas as comunicações (por batidas) que são produzidas, como ele diz – “de boa fé e em perfeita conseqüência, correta em toda maneira e em todo o sentido -, por ventriloquia”, cujo uso implica necessariamente – má fé.

Terceira confusão: a do Dr.  Chevreul, ao explicar a faculdade de o móvel se movimentar sem contato pela  aquisição preliminar dessa faculdade.

Quarta confusão: a do Instituto da França e dos membros, que consentem em aceitar os milagres com a condição de que não contradigam de maneira alguma as leis naturais com que eles estão familiarizados.

Quinta confusão: a de Gasparin, ao apresentar como fenômeno muito simples e absolutamente elementar aquilo que todo o mundo rejeita, exatamente porque ninguém viu algo que se assemelhasse a ele.

Não é a primeira vez na  história do mundo que o mundo invisível tem de lutar contra o ceticismo materialista dos saduceus cegos de alma. Platão deplora tal incredulidade e se refere a essa tendência perniciosa mais de uma vez em suas obras.

Desde Kapila – o filósofo hindu que muitos séculos antes de Cristo, duvidava já de que os iogues em êxtase pudessem ver a Deus face a face e conversar com os seres “mais elevados” – até os voltairianos do século XVIII, que riram de tudo o que fosse considerado sagrado por outras pessoas, cada época teve os seus Tomés descrentes. Chegaram eles alguma vez a impedir o progresso da Verdade? Não mais do que os beatos  ignorantes que julgaram Galileu impediram o progresso da rotação da Terra. Nenhuma revelação é capaz de afetar virtualmente a estabilidade ou a instabilidade de uma crença que a Humanidade herdou das primeiras raças de homens, aqueles que – se podemos acreditar na evolução do homem espiritual tanto quanto na do homem físico – receberam a grande verdade dos lábios de seus ancestrais, os deuses dos seus pais, “que estavam no outro lado da inundação”. A identidade entre a Bíblia e as lendas dos livros sagrados hindus e as cosmogonias de outras nações deve ser demonstrada qualquer dia. Das fábulas das épocas mitopoéticas dir-se-á que elas transformaram em alegoria as maiores  verdades  da Geologia e da Antropologia. A essas fábulas de tão ridícula expressão terá de recorrer a Ciência para encontrar “os elos perdidos”.

De outra maneira, de onde provinham essa “coincidências” estranhas nas respectivas histórias de nações e povos tão distantes entre si? De onde essa identidades de concepções primitivas que, chamadas agora fábulas e lendas, contêm em si, entretanto, o germe dos fatos históricos, de uma verdade amplamente com as cascas dos embelezamentos populares, mas ainda assim a Verdade? Comparai apenas estes versículos do Gênese VI, 1-4: “Como  os homens tivessem começado a multiplicar-se, e tivessem gerado suas filhas; vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosos, tomaram por mulheres as que de entre elas escolheram. (…) Ora,  naquele tempo havia  gigantes sobre a Terra”, etc. – com esta parte da cosmogonia hindu, nos Vedas, que fala da origem dos brâmanes. O primeiro brâmane lamenta estar sozinho entre todos os seus irmãos sem esposa. A despeito de o Eterno aconselhá-lo a devotar os seus dias apenas ao estudo do Conhecimento Sagrado  (Veda), o primogênito da Humanidade insiste. Irritado com tal ingratidão, o Eterno deu ao brâmane uma esposa da raça dos daityas, ou gigantes, de que todos os brâmanes descendem em linha materna. Assim, todo o sacerdócio hindu descende, por um lado, dos espíritos superiores  (os filhos de Deus) e de daiteyí, uma filha dos gigantes terrestres, os homens primitivos. E elas pariram filhos para eles; os filhos tornaram-se homens poderosos que na velhice foram homens de renome.”

A mesma indicação encontra-se no fragmento cosmogônico escandinavo. No Edda ocorre a descrição, feita a Gangler por Har, um dos três informantes (Har, Jafnhar e Thridi), do primeiro homem, chamado Buri, “o pai de Bor, que tomou por esposa Beila, uma filha do gigante Bolthorn, da raça dos gigantes primitivos”. A narração completa e muito interessante encontra-se no Prose Edda, seções 4-8, das Northen  Antiquities de Mallet.

O mesmo fundamento tem as fábulas gregas sobre os Titãs e pode ser encontrado na lenda dos mexicanos – as quatros raças sucessivas do Popol-Vuh. Ele se constitui numa das muitas conclusões encontráveis no novelo emaranhado e aparentemente inextricável da Humanidade considerada como fenômeno psicológico. A crença no sobrenaturalismo seria inexplicável de outra maneira. Dizer que ela nasceu, cresceu e se desenvolveu através das incontáveis eras, sem causa ou pelo  menos  sem uma base firme ou sólida sobre a qual repousar, mas apenas  com  uma  fantasia oca, seria considerá-la um absurdo tão grande quanto a doutrina teológica segundo a qual o mundo foi criado a partir do nada.

Não foram fatos que faltaram à Psicologia, desde muito tempo, para que ela tornasse as suas leis misteriosas mais bem-compreendidas e aplicadas às ocorrências tanto ordinárias quanto extraordinárias da vida. Ela os teve em abundância. O que eles exigem é registro e classificação – observadores treinados e analistas competentes. O corpo científico deveria fornecer tais homens. Se o erro prevaleceu e a superstição correu  desenfreada durante estes séculos por toda a cristandade, essa é a infelicidade das pessoas comuns, a repreensão da Ciência. Gerações nasceram e desapareceram, cada uma delas fornecendo a sua quota de mártires para a consciência e para a coragem moral, e a Psicologia é pouco mais bem-compreendida em nossos  dias  do  que quando a mão pesada do Vaticano  arremessou  aqueles  bravos  desafortunados a um fim intempestivo e ferreteou a  sua  memória  com o estigma de heresia e feitiçaria.

Isis Sem Véu – VOLUME I – CIÊNCIA I


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