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Thiago Tamosauskas*
A famosa Tábua Esmeralda persiste hoje como o texto fundamental do hermetismo. Atribuído a Hermes Trismegisto, sua passagem mais célebre diz que “aquilo que está acima é como aquilo que está abaixo” e é conhecida como a Doutrina da Correspondência, um dos muitos ensinamentos ocultos contidos na tábua que é transmitido em praticamente todos os círculos esotéricos. Esta Doutrina doutrina ensina que o Superior é como o Inferior, que o Exterior é como o Interior e que às Leis universais que fazem nosso mundo físico funcional também se aplicam às esferas astrais e espirituais.
A força da Tábua Esmeralda está em sua simplicidade. A forma como foi escrita, permitindo uma série de interpretações diferentes abre espaço para o exercício da contemplação e uma série de pensamentos profundos e uma pequena pequena passagem como mostrado acima pode ter não duas ou três interpretações, mas muito mais. Madame Blavatsky possui setenta e duas camadas interpretativas diferentes, um número que por si só também é passível de interpretação (como os 72 nomes de Deus da cabala)
Por isso, alguns hermetistas possuem réplicas ou cópias da Tábua de Esmeralda em algum lugar em seu laboratório, para que ocasionalmente meditar sobre ela. De fato, todo estudante de ocultismo, seja de qual vertente for se beneficiará se dedicar um tempo a leitura da tábua e tente absorver seu significado.
Outra prática interessante pode ser reescrever a Tábua com suas palavras. Sabemos que Apolônio de Tiana, Jabir ibn Hayyan, Albertus Magnus e Isaac Newton, entre outros fizeram suas próprias traduções da Tábua de Esmeralda que servia como um guia e uma bússola em seus trabalhos. Uma das versões mais interessantes foi produzida por pelo artista Matthieu Merian, o célebre ilustrador de Atalanta Fugiens. Um ano depois de sua parceria com Michael Mayer, o artista fez uma ilustração para a obra Opus Medico-Chymicum de Daniel Mylius. Uma ilustração que acabou se tornando mais famosa do que o próprio livro.
Intitulada “Tabula Smaragdina” trata-se de uma versão gráfica da Tábua Esmeralda, e portanto um resumo visual dos principais ensinamentos do hermetismo. Vejamos alguns de seus detalhes:
“É Verdade, Certo, Muito Verdadeiro”
Essa passagem esta ilustrada pela presenta no topo de figuras que representam as três figuras da Trindade. No alto o Pai, representado pelo Tetragramaton. Ao seu lado o cordeiro, representando o Filho e a pomba representando o Espírito Santo.
“O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.”
A figura como um todo está dividida horizontalmente em duas partes, uma acima outra abaixo. A parte de cima povoada por anjos e raios de luz é o reino espiritual. A parte de baixo com terra, plantas e animais o reino material. O círculo comum a ambos os lados denota uma relação entre ambos.
“E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.”
O circulo comum que forma uma mandala entre ambos os lados representa a coisa o Um e suas adaptações. No círculo externo temos os signos do zodíaco. Dentro dele o círculo contento as expressões que se referem aos diferentes ciclos de transformações: solar, astral e planetário. Os próximos três circulos contem as três expressões dos três elementos primordiais “Mercurio”, “Enxofre” e “Sal” mostrando que sua transmutações ocorrem em níveis micro, meso e macrocósmicos ou materiais, mentais e espirituais. A circulo central traz o símbolo da Água e do Fogo e inscrição “Quator ad opus ignis’, “Quatro (elementos) para trabalhar no fogo.”
“O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua nutridora”
Uma figura solar e outra lunar nos dois lados da parte de baixo representam esta passagem. Note que raios de luz saem dos seios da mulher apontam para a Terra. O homem recebe o Sol de um leão e a Mulher recebe a lua de um veado
O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
O Pai de toda Telesma é representado pela figura do próprio Hermes Trimegistro. Sua roupa estrelada mostra sua relação com o alto, mas seus pés estão no chão. Sua barba longa é sinal da experiência e sabedoria.
Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
O poder convertido em Terra é aqui representado pelos diversos símbolos astrológicos e alquímicos associados a árvores plantadas ao redor de Hermes. A simbologia da árvore é poderosa por si só, mas aqui basta compreendermos que suas raizes crescem para baixo para que suas copas possam ascender. O trabalho espiritual depende do trabalho material.
Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
Hermes levanta dois machados estrelados como ele e esta prestes a cortar as correntes que prendem as duas figuras ao seu lado ao mundo terreno.
Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
Os pássaros (seres capazes de subir e descer dos céus) estão representados tanto nos cantos inferiores como no centro da camada representando o mundo material. Cada pássaro representa uma das fases da Grande Obra. O Corvo, o Nigredo, o Cisne e a Águia, o Albedo. Os últimos três passos representam a Fênix em seu processo de morte e ressureição e também o Pelicano, cujo sacrifício beneficia suas crias.
Desse modo obterás a glória do mundo. E se afastarão de ti todas as trevas. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido. Assim o mundo foi criado. Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
O trabalho efetuado por Hermes permite que os dois lados, agora livre de seus grilhões possam se reunir e com ele ascender ao reino espiritual representado pela parte superior da figura. Onde não há trevas e onde reside a fonte original de toda criação.
Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.
As três partes da filosofia universal são representadas por Hermes se colocando acima dos dois leões que dividem um mesmo rosto. O Leão da Direita está relacionado ao lado feminino, noturno e lunar da figura, e o leão da esquerda ao lado masculino, diurno e solar.
O que eu disse da Obra Solar é completo
Com relação a Obra Solar é interessante ver que existem dois grandes sois concêntricos na parte superior da imagem. O Sol Maior representa o “Nous” e o Sol Menor o “Logos”. O primeiro é a consciência una, universal e o segundo é mente criadora. A implicação aqui é que o Deus supremo não cria diretamente sua criação, mas o faz por meio da sua Palavra. Esta palavra, por sua vez age por meio de um padrão ou sentenças representadas pelos anjos dentro do Sol menor.
* Thiago Tamosauskas autor do Principia Alchimica, um manual simples e direto dos principais conceitos e práticas da alquimia.
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