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Quarta Hora – Nuctemeron

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Na Quarta Hora a alma regressa da visita aos túmulos. É o momento em que as quatro lanternas mágicas dos quatro cantos do círculo são acesas. É a hora dos encantamentos e das ilusões.

O candidato salvou-se da tríplice goela de Cérbero. Os perigos do medo, do dogmatismo e da idolatria foram neutralizados pelo candidato mediante as três línguas do relâmpago, mediante a tríplice força do caduceu renovado.

E então ele, o candidato, é posto diante da Quarta Hora: “Na Quarta Hora a alma regressa da visita aos túmulos. É o momento em que as quatro lanternas mágicas dos quatro cantos do círculo são acesas. É a hora dos encantamentos e das ilusões.”

Se vós acompanhastes com atenção nossa viagem de estudos, então compreendereis que, quando o candidato nos Mistérios Universais ingressa na Quarta Hora mágica, ele deve provar se de fato pode seguir livremente e por iniciativa própria, o Caminho da grande e mágica auto-libertação.

Foi para isto que ele se preparou.

Todas as exigências elementares ele as satisfará.

Para a grande viagem ele desimpediu toda a Senda.

Cérbero, o guarda do umbral, foi posto de lado.

O candidato passa pelos portais, estando agora em condições de fazê-lo. Todas as forças libertadoras estão concentradas nele.

Agora ele precisa mostrar qual o uso que vai fazer delas. Suponde que seja essa a vossa situação. Estais equipados para a viagem. Vossas roupas estão em ordem. Os meios estão à vossa disposição. O alvo da viagem é do vosso conhecimento.

Em princípio nada mais poderá interpor-se no caminho ou contrariar-vos. No entanto, agora, em vossa viagem pelos Mistérios Universais, não acontece o fato de serdes como que apanhados, acondicionados, levados e despachados para o alvo, ou, exprimido romanticamente, que sois levados para o objetivo como que em asas de anjos com música e salmos.

Não, equipados com todas as possibilidades e forças, vós mesmos precisais estabelecer a direção passo a passo. Quanto ao plano de viagem, vós mesmos precisais tomar a decisão no tocante a todos os detalhes desse plano. As novas capacidades devem, por conseguinte, ser utilizadas, provadas, e é preciso aprender a manejá-las praticamente. Assim, toda a viagem dependerá do vosso próprio discernimento.

Se possuís compreensão, então precisais utilizá-la; se possuís coração, então precisais deixá-lo resplandecer.

Assim, todas as capacidades do estado liberto da Alma devem ser manejadas praticamente. Esta é a razão pela qual muitas dificuldades no desenvolvimento do candidato começam a aparecer, quando ele já passou por Cérbero. São dificuldades que aparecem pela falta de treino na fase inicial, da fragilidade de um novo estado de nascimento. Pois que, repetimo-lo, toda a viagem, agora iniciada, deve basear-se na nova e própria capacidade de discernimento.

Ninguém deverá decidir pelo que deveis fazer ou deixar de fazer nesta Quarta Hora, mas vós próprios deveis julgar, deveis tomar a decisão e executá-la. As vozes de todos os vossos irmãos e irmãs se silenciam nesta Quarta Hora! Chegou o momento em que as lanternas mágicas são acesas por uma força-julgamento perfeitamente autônoma, nos quatro cantos do círculo, e precisamos prestar atenção se de fato a alma regressa da visita aos túmulos. Por túmulo entende-se aqui a natureza da morte. A natureza da morte com todas as chamadas manifestações de vida é, verdadeiramente, um gigantesco cemitério.

Nada existe que na verdade se aproxime da imperecibilidade ou além dela.

A vida da dialética, com todos os seus aspectos, é uma sepultura estarrecedora!

A Quarta Hora deve agora provar se o candidato, que em princípio e fundamentalmente está equipado para a grande viagem, tudo preparou para ela, se também, e em sentido amplo, se despediu efetivamente da imensa sepultura da dialética.

Essa sepultura é mais complicada do que pode parecer à primeira vista. Ela não só possui o aspecto material denso, mas abrange também muitos estados de ser extremamente sutis e cultivados. Se vencemos aquilo que é grosseiro, aquilo que é vulgar, então vem sobre nós aquilo que é refinado, disfarçado, escolhido.

Por isso, quem ingressa na Quarta Hora, experimenta “a hora dos encantamentos e das ilusões.”

Justamente então tendes a extrema necessidade das lanternas mágicas nos quatro cantos do círculo. Que são os círculos de que aqui se fala? Também se poderia falar de esferas.

Nosso estado de ser dialético, em seu conjunto, abrange várias esferas ou círculos de vida, nos quais se revelam os vários estados de ser. Sob a noção coletiva “esfera refletora” compreendemos todas essas diferentes esferas ou círculos de vida, e os processos que neles se manifestam.

Agora está claro que o candidato, quando começa a sua viagem, e, por conseguinte, elevou-se acima das esferas mais grosseiras do reino dos mortos, precisa em seguida viajar por todos os outros círculos da natureza da morte e, na verdade, em experiência discriminadora e triunfante.

Para efetuá-la, ele precisa colocar em cada círculo pelo qual almeja passar, as quatro lanternas mágicas, para que na luz quádrupla do discernimento mágico, ele possa remover o encantamento e a ilusão de cada círculo de vida.

Apolônio de Tiana fala aqui de um processo que é indicado em todas as Escrituras Santas e em todas as Doutrinas Universais, Pensai, por exemplo, na viagem de Pistis Sophia; ela, em sua volta para o Décimo Terceiro Eao, não pode saltar por nenhum círculo de vida, e em cada um deles, pelo qual ela passa, procuram os eões e as forças detê-la ou capturá-la.

Pensai na viagem de Dante na Divina Comédia.

Ao iniciá-la, ao iniciar a viagem pelo inferno, Dante se vê numa floresta tenebrosa. Imediatamente precisa apelar para a força e a capacidade de seu próprio estado de ser, e assim se restabelece do ataque de medo. Chegando ao pé da colina, diz: “Olhei para o alto e vi os meus ombros já cobertos com as radiações daquele planeta que é guia fiel de todos os caminhos. Assim o meu espírito, ainda inquieto, contemplou a paragem que acabava de franquear e da qual jamais saíra um ser com vida.”

Diz-se de Jesus que ele morreu e foi sepultado, desceu ao reino dos mortos e ressuscitou ou passou elevando-se ao Seu Reino.

Esse é o Caminho Universal para todo candidato. Por isso que na Quarta Hora do Nuctemeron é-nos esboçada, de modo coerente, essa viagem ao inferno, essa viagem através de todos os círculos da dialética.

Em seguida, ainda precisamos dar um lance de olhos nas quatro lanternas mágicas, lanternas estas que são colocadas nos quatro cantos de cada círculo que deve ser ultrapassado.

As quatro luzes formam naturalmente um quadrado mágico tapete, uma base de construção, uma chave absoluta. Conheceis o quadrado do Tapete da Rosacruz: “Unidade de Grupo” – diretriz inequívoca – ausência de luta, harmonia em todas as nossas atividades.

O quadrado mágico do auto-julgamento enobrecido, no qual se acha a força para passar por todos os encantamentos e ilusões dos círculos, pode-se denominá-lo razão pura, vontade pura, sentimento puro e ação pura.

O julgamento absoluto encontra-se aqui incluído se a nossa razão estiver perfeitamente firme na Gnosis e a ela dirigida sem vacilações.

A nossa vontade não deve querer outra coisa senão o que a Gnosis quer! Nosso coração só deve amar o que a Gnosis deseja que o coração ame.

Nossa vida de ações não deve realizar outra coisa senão o que está em harmonia com a razão, com a vontade e com o coração.

Essas são as quatro luzes da Magia que, em cada círculo de vida, em cada passagem devem abranger o candidato.

É sabido que poderosas forças encontram-se ocultas em nossa razão, em nossa vontade e em nosso coração. Quando, impelidos pela razão, pela vontade e pelo coração, passamos à ação, à realização, então ficamos ligados ao resultado da ação, então ficamos detidos até sermos capazes de novamente neutralizar a ação e suas conseqüências.

Por isso, compreendeis como é urgentemente necessário provar na prática as quatro luzes da Magia Gnóstica. A compreensão e a experiência correspondentes não caem do céu, elas devem ser conquistadas.

É preciso que fique provado se a alma, de fato, em todos os aspectos, regressou da visita aos túmulos.

Permiti-nos, por fim, ainda considerar os encantamentos e as ilusões. São também quatro em número, ordenados em quatro rubricas, como sombras projetadas ou imitações das quatro luzes mágicas.

A primeira imitação é a que aparece freqüentemente nos círculos superiores da dialética, é a mistura da verdade com a mentira, da realidade com a ilusão e através da qual uma segunda intenção, uma orientação autocentralizada, um desejo proveniente da natureza da morte se envolve em belas palavras e em roupagem de verdade, a fim de conseguir ser ouvida e realizada.

A segunda imitação é o veneno das falsas doutrinas, o mortal veneno de cobra pelo qual o homem que o bebe ou que nele é injetado, fica agrilhoado à natureza da morte.

A terceira imitação é a do amor. O amor da dialética é, em todos os seus aspectos, mesmo no mais sutil, mesmo naquele classificado como desapaixonado, finito.

Com isto pensamos que também o chamado comportamento sentimental na dialética é praticado na base do eu, da auto-satisfação e da auto-conservação, da exploração, da situação de senhor e escravo, da presunção de si mesmo.

É um amor que nada tem que ver com a esfera do Amor, com a natureza de Amor da Alma.

A quarta imitação é a especulação, a carência de pensamento, sem compreensão, ação impulsionada por tendências ou influências.

Pois bem, essas quatro limitações ameaçam todo candidato em sua viagem da alma pelos círculos da natureza da morte.

Porém, se ele souber conservar ardendo as suas quatro lanternas mágicas, e se ele regressou perfeitamente de sua visita aos túmulos, então nada lhe poderá causar dano!


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