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OS OBJETIVOS DOS MITOS.
“Os mitos”, diz Horácio em sua Ars Poética, “foram inventados pelos sábios para fortalecer as leis e ensinar as verdades morais.” Ao passo que Horácio procurou esclarecer o espírito e a essência dos mitos antigos, Euhemerus pretendia, ao contrário, que “os mitos eram a história legendária dos reis e dos heróis, transformados em deuses pela admiração dos povos”. Foi esse último método que os cristãos seguiram inferencialmente, quando concordaram com a aceitação dos patriarcas euhemerizados, e os confundiram com homens que houvessem realmente existido.
Mas, em oposição a essa teoria perniciosa, que produziu tantos frutos amargos, temos uma longa série dos grandes filósofos que o mundo produziu: Platão, Epicarmo, Sócrates, Empédocles, Plotino, Proclus, Damasceno, Orígenes, e mesmo Aristóteles. Este último confirmou plenamente a verdade do que dizemos, ao afirmar que um tradição da mais alta Antigüidade, transmitida à posteridade sob a forma de mitos variados, ensina-nos que os princípios primários da Natureza devem ser considerados como “deuses”, pois o divino permeia toda a Natureza. Tudo o mais, detalhes e personagens, foram acrescentados posteriormente para uma compreensão mais clara do vulgo, e sempre com o objetivo de reforçar as leis inventadas no interesse comum.
Os contos de fadas não pertencem exclusivamente às amas; toda a Humanidade – exceto os poucos que em todas as épocas lhes compreenderam o sentido secreto e tentaram abrir os olhos supersticiosos – ouviu tais contos numa forma ou outra, e, depois de os transformar em símbolos sagrados, chamaram o resultado de RELIGIÃO!
O SISTEMA MÍTICO RELIGIOSO, TEM BASE NO SISTEMA NUMÉRICO.
Começaremos com o livro da Gênese, e buscaremos seu sentido secreto nas tradições bramânicas e na Cabala caldadico-judaica.
A primeira lição das Escrituras que nos ensinaram em nossa infância afirma que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. Por tal motivo, acredita-se que uma solenidade peculiar esteja vinculada ao sétimo dia, e os cristãos, adotando as rígidas observâncias do Sabbath judaico, no-lo impingiram, com a substituição do primeiro, e não do sétimo dia da semana.
Todos os sistemas de misticismo religioso se baseiam nos números. Para Pitágoras, a Monas, a unidade, emanando a Díada, e assim formando a trindade, e a quaternidade, o Arba-il (o quatro místico), compõe o número sete. A sacralidade dos números tem início no grande Primeiro – o UM -, e termina apenas com o zero – símbolos do círculo infinito que representa o universo. Todos os números intermediários, em qualquer combinação, ou mesmo multiplicados, representam idéias filosóficas, desde o esboço impreciso até o axioma científico definitivamente estabelecido, que se relacionam a um fato físico ou moral da natureza. Eles são uma chave para as antigas concepções sobre a cosmogonia, em seu sentido amplo, que inclui o homem e as coisas, e a evolução da raça humana, tanto espiritual como fisicamente.
O mundo sete é o mais sagrado de todos, e é, indubitavelmente, de origem hindu. Tudo que tinha alguma importância foi calculado e moldado nesse número pelos filósofos arianos – tanto as idéias como as localidades. Assim, eles tinham os:
Sapta-Rishis, ou sete sábios, que simbolizam as sete raças primitivas e diluvianas (pós-diluvianas, como dizem alguns).
Sapta-Lokas, os sete mundos inferiores e superiores, donde provinha cada um dos Rishis, e para onde retornava gloriosamente antes de alcançar a beatitude final da Moksha.
Sapta-Kulas, ou sete castas – com os brâmanes pretendendo representar os descendentes diretos da mais elevada de todas.
Além disso, há também Sapta-Puras (sete cidades sagradas); Sapta-Dvîpas (sete ilhas sagradas); Sapta-Samudras (os sete mares sagrados); Sapta-Parvatas (as sete montanhas sagradas); Sapta-Aranyas (os sete desertos); Sapta-Vrikshas (as sete árvores sagradas); e assim por diante.
Na Magia caldaico-babilônia, esse número reaparece de modo tão notável quanto entre os hindus. O número é dual em seus atributos, i.e., sagrado em um de seus aspectos, torna-se nefasto sob outras condições. Tal é o caso da seguinte encantação, que encontramos gravada nas tabuinhas assírias, e agora fielmente
interpretadas.
“A tarde de mau-agouro, a região do céu, que produz a desgraça (…)
“Mensagem da peste.
“Depreciador de Nin-Ki-gal.
“Os sete deuses do vasto céu.
“Os sete deuses da vasta terra.
“Os sete deuses das radiosas esferas.
“Os sete deuses das legiões celestes.
“Os sete deuses maléficos.
“Os sete fantasmas – maus.
“Os sete fantasmas de flamas maléficas (…)
“Demônio mau, alal mau, gigim mau, tilol mau (…) deus maus, maskim mau.
“Espírito de sete céus, lembrai-vos (…) Espírito de sete terras, lembrai-vos (…) etc.”
Esse número reaparece igualmente em quase todas as páginas do Gênese e em todos os livros mosaicos, e encontramo-lo de forma notável (ver o capítulo seguinte) no Livro de Jó e na Cabala oriental. Se os semitas hebreus o adotaram tão facilmente, devemos inferir que não o fizeram às cegas, mas com pleno conhecimento de seu sentido secreto; é por essa razão que eles devem ter adotado as doutrinas de seus vizinhos “pagãos”. É, portanto, natural que busquemos na filosofia pagã a interpretação desse número, que reaparece novamente no Cristianismo com os sete sacramentos, as sete igrejas na Ásia Menor, por sete pecados capitais, nas sete virtudes (quatro cardeais, e três teológicas), etc.
Teriam as sete cores primárias do arco-íris vistas por Noé outro significado além da aliança entre Deus e o homem para refrescar a memória deste último? Para o cabalista, pelo menos, elas têm significado inseparável dos sete trabalhos da Magia, as sete esferas superiores, as sete notas da escala musical, os sete números de Pitágoras, as sete maravilhas do mundo, as sete eras, e os sete passos dos maçons, que levam ao Santo dos Santos, depois de passar pelos vôos do três e do cinco.
De onde procede portanto a identidade desses números enigmáticos, que se acham em todas as páginas das Escrituras judaicas, assim como em todo ola e sloka dos livros budistas e bramânicos? De onde vêm esses números que são a alma do pensamento de Pitágoras e de Platão, e que nenhum orientalista não-iluminado, e nenhum estudante da Bíblia jamais foi capaz de penetrar? Mesmo que tivessem eles a chave, não a saberiam utilizar. Em parte alguma como na Índia foi tão bem compreendido o valor místico da linguagem humana, ou tão perfeitamente entendido ou explicado o seu efeito sobre a ação humana, como pelos autores dos Brâhmanas mais antigos, em que, não obstante a sua remota antigüidade, se expõem de forma assaz concreta as especulações metafísicas abstratas de seus próprios ancestrais.
Tal é o respeito que os brâmanes mostravam pelos mistérios sacrificais que, segundo sua concepção, o próprio mundo veio à existência como conseqüência de uma “palavra sacrifical” pronunciada pela Primeira Causa. Essa palavra é o “Inefável Nome” dos cabalistas.
O segredo dos Vedas, por mais “Conhecimento Sagrado” que estes possam ser, é impenetrável sem a ajuda dos Brâhmanas. Corretamente falando, os Vedas (que estão escritos em verso e distribuídos em quatro livros) constituem essa porção chamada de Mantra, ou orações mágicas, e os Brâhmanas (que são em prosa) contêm a sua chave. Ao passo que apenas a parte do Mantra é sagrada, a porção dos Brâhmana contém todas as exegeses teológicas, as especulações e as explicações sacerdotais. Nossos orientalistas, repetimos, jamais farão qualquer progresso substancial na compreensão da literatura védica enquanto não derem o devido valor a obras que agora desprezam, a Aitareya-Brâhmana e a Kaushîtaki-Brâhmana, que pertencem ao Rig-Veda.
OS MITOS ANTIGOS.
Entrementes, esquecidos das pretensas autoridades, tentamos examinar, nós mesmos, alguns desses mitos antigos. Procuraremos uma explicação na interpretação popular, e sentiremos nosso caminho com a ajuda da lâmpada mágica de Trismegistro – o misterioso número sete. Deve haver alguma razão para esse número tenha sido universalmente aceito como um número de cálculo. Para todos os povos antigos, o Criador, ou Demiurgo, estava assentado sobre o sétimo céu. “Se tivesse de falar da iniciação em nossos Mistérios sagrados”, diz o Imperador Juliano, o cabalista, “que os caldeus consagraram ao Deus dos sete raios, cuja veneração exaltava as almas, diria coisas desconhecidas, muito desconhecidas do vulgo, mas bem conhecidas dos Abençoados Teurgistas”. Em Lido, afirma-se que “Os caldeus chamam ao Deus de IAÔ, e TSABAÔTH é ele amiúde chamado, pois Aquele que está sobre as sete órbitas [céus, ou esferas], esse é o Demiurgo”.
Precisamos consultar os pitagóricos e os cabalistas para aprender a potencialidade desse número. Exotericamente, os sete raios do espectro solar são representados concretamente no deus de sete raios Heptaktys *. (* O mesmo que IAO). Esses sete raios, resumidos em TRÊS raios primários, a saber, o vermelho, o azul e o amarelo, formam a trindade solar, e simbolizam respetivamente o espírito-essência. A ciência também reduziu recentemente os sete raios a três primários, corroborando assim a concepção científica dos antigos de pelo menos uma das manifestações visíveis da divindade invisível, e o sete dividido numa quaternidade e numa trindade.
Os pitagóricos chamavam o número sete de veículo da vida, como se ele contivesse corpo e alma. Eles explicavam tal ponto dizendo que o corpo humano consistia de quatro elementos principais, e que a alma é tripla, compreendendo razão, paixão e desejo. A PALAVRA inefável era considerada a Sétima Palavra, a mais alta de todas, pois há seis substitutas menores, cada qual pertencendo a um grau de iniciação. Os judeus derivaram seu Sabbath dos antigos, que o chamavam de dia de Saturno e o consideravam maléfico, e não dos últimos dos israelitas quando cristalizados. Os povos da Índia, da Arábia, da Síria e do Egito observavam semanas de sete dias; e os romanos aprenderam o método hebdomadário dessas nações estrangeiras quando elas se tornaram sujeitas ao Império. Foi apenas no século IV que as calendas, as nonas e os idos romanos foram abandonados, e as semanas empregadas em lugar; e os nomes astronômicos dos dias, tais como dies Solis (dia do Sol); dies Lunae (dia da Lua), dies Martis (dia de Marte); dies Mercurii (dia de Mercúrio); dies Jovis (dia de Júpiter), dies Veneris (dia de Vênus), e dies Saturni (dia de Saturno) provam que a semana de sete dias não foi emprestada dos judeus. Antes de examinar cabalisticamente esse número, propomos analisa-lo do ponto de vista do Sabbath judaico-cristão.
Quando Moisés institui o yom sheba, ou Shebang (Shabbath), a alegoria do Senhor Deus que repousa de seu trabalho de criação no sétimo dia era apenas um disfarce, ou, como expressa o Zohar, um manto, para ocultar o verdadeiro significado.
Os judeus computavam então, como o fazem hoje, os seus dias pelo número, do seguinte modo: dia, o primeiro; dia, o segundo; e assim por diante; yom a’had; yom sheni; yom shelishi; yomrebí’i; yom `hamishi; yom shishshi; yom shebí’i.
O sete hebraico, que consiste de três letras, sh, b, ô, tem mais de um significado. Em primeiro lugar, ele significa século, idade ou ciclo, Sheb-ang; Sabbat, pode ser traduzido por idade antiga, e também por descanso, e no antigo copta Sabe significa sabedoria, saber. Os arqueólogos modernos descobriram que como no hebraico shib, também significa de cabeça grisalha, e que por conseguinte o dia do Saba era o dia em que os “homens de cabeça grisalha”, ou os “pais antigos” de uma tribo tinham o costume de fazer reuniões para concílios ou sacrifícios.
Portanto, a semana de sei dias e o sétimo, o período do dia de Sapta ou Saba, é da mais alta antigüidade. A observância dos festivais lunares na Índia mostra que essa nação também mantinha encontros hebdomadários. A cada novo quadro. a Lua produz alterações na atmosfera, e por isso certas modificações também são produzidas por todo o nosso universo, das quais as meteorológias são as mais insignificantes. Por ocasião do sétimo e mais poderoso dos dias prismáticos, os adeptos da “Ciência Secreta” se encontravam, como o faziam há milhares de anos, a fim de se tornarem os agentes dos poderes ocultos da Natureza (emanações do Deus operante), em consonância com os mundos invisíveis. É nessa observância do sétimo dia pelos sábios antigos – não por causa do dia de descanso da Divindade, mas por que eles lhes compreenderam o poder oculto – que repousa a profunda veneração de todos os filósofos pagãos pelo número sete que eles chamam de “venerável”, o número sagrado. A Tetraktys pitagórica, reverenciada pelos platônicos, consistia num retângulo, representado este último – a Trindade – uma encarnação da Mônada invisível – a unidade, e era tal nome tão sagrado que só se podia pronunciá-lo dentro das paredes de um Santuário.
A observância ascética do Sabbath cristão pelos protestantes não passa de pura tirania religiosa, e, conforme tememos, faz muito mais mal do que bem. Ela data, na verdade, apenas da Lei de Carlos II, que proibia qualquer “comerciante, artífice, operário, camponês, ou outra pessoa” de “fazer qualquer trabalho mundano, etc., etc., no dia do Senhor. Os puritanos levaram tal coisa ao extremo, aparentemente para assinalar seu ódio ao catolicismo romano e episcopal. Não estava nos planos de Jesus distinguir um tal dia, como se pode constatar não apenas por suas palavras, como também por seus atos. Ademais, os cristãos
primitivos não observavam esse preceito.
Quando Trifon, o Judeu, censurou os cristãos por não terem um Sabbath, o que lhe respondeu o mártir? “A nova lei vos mandará um perpétuo Sabbath. Por passardes um dia na ociosidade, julgai-vos religioso. O Senhor não se agrada com tais coisas. Se o perjuro e o fraudulento se arrependerem, se o adúltero se reformar, guardarão eles o Sabbath que mais agrada a Deus (…) Os elementos nunca descansam, e não guardam nenhum Sabbath. Se antes de Moisés não houve necessidade de guardar o Sabbath, tampouco haverá depois de Jesus Cristo”.
A EMANAÇÃO DA CAUSA SUPREMA.
A Heptaktys (ou IAHO ) não é a Causa Suprema, mas simplesmente uma emanação dEle – a primeira manifestação visível do Poder Não Revelado. “Seu Sopro Divino, que, surgindo violentamente, se condensou, brilhando com radiância, até que se transformou em Luz, e assim se tornou visível aos sentidos externos”, diz John Reuchlin. Tal é a emanação do Supremo, o Demiurgo, uma multiplicidade numa unidade, os Elohim, que vemos criando nosso mundo, ou antes moldando-o, em seus dias, e descansando no sétimo. E quem são esses Elohim, senão poderes evemerizados da Natureza, os fieis mensageiros manifestos, as leis daquEle que é lei e harmonia imutável?
Eles demoram no sétimo céu (ou mundo espiritual), pois foram eles que, segundo os cabalistas, formaram sucessivamente os seis mundos materiais, ou melhor, os seis esboços de mundos, que precederam o nosso, que, conforme dizem, é o sétimo. Se, deixarmos de lado a concepção metafísico-espiritual, prestarmos atenção apenas ao problema religioso-científico da criação em “seis dias”, no qual nossos melhores eruditos da Bíblia tanto meditaram em vão, poderemos, talvez, desentranhar o sentido oculto dessa alegoria. Os antigos eram filósofos, congruentes em todas as coisas. Assim, eles ensinaram que cada um desses mundos, tendo alcançado a sua evolução física, e atingido – graças a nascimentos, crescimento, maturidade, velhice e morte – o fim de seu ciclo, retornaram à sua forma subjetiva primitiva de terra espiritual, servindo, doravante, por toda a eternidade, como morada daqueles que a haviam habitado como homens, e mesmo animais, porém que serão agora espíritos. Essa idéia, embora seja tão difícil de provar quanto a de nossos teólogos relativa ao Paraíso, é, pelo menos, um pouco, mas filosófica.
Assim como o homem, e como todas as outras coisas vivas sobre ele, nosso planeta está sujeito à evolução espiritual e física. De um impalpável pensamento idéia sob a Vontade criativa d’AquEle de quem nada sabemos, e que só podemos conceber obscuramente na imaginação, este globo tornou-se fluido e semi-
espiritual, e então se condensou mais e mais, até que o seu desenvolvimento físico – matéria, o demônio tentador – o compeli a tentar sua própria faculdade criadora. A Matéria desafiou o ESPÍRITO, e a Terra teve também a sua “Queda”. A maldição alegórica sob a qual ele trabalha é que ele apenas procria, e não cria. Nosso planeta físico é apenas o servo do espírito, seu patrão. “Maldita é a terra (…) espinhos e cardos ela produzirá”, dizem os Elohim. “Na dor parirás teus filhos.” Os Elohim dizem isto à terra e à mulher. E essa maldição perdurará até que a menor partícula de matéria sobre a terra tenha sobrevivido a seus dias, até que todo grão de pó se tenha transformado, pela transformação gradual através da evolução, numa parte constituinte de uma “alma viva”, e até que esta tenha completado o arco cíclico, e finalmente se deponha – se próprio Metratron, ou Espírito Redentor – aos pés do patamar superior dos mundos espirituais, como na primeira hora de sua emanação. Além, repousa o grande “Abismo” – UM MISTÉRIO!
Deve-se lembrar que toda cosmogonia tem uma trindade de trabalhadores à sua testa – Pai, espírito; Mãe, Natureza, ou matéria; e o universo manifestado, o Filho, ou resultado de ambos. O universo, assim como cada planeta que ele compreende, passa também por quatro idades, como o próprio homem. Todos têm sua infância, sua juventude, sua maturidade e sua velhice, e essas quatro idades, acrescentadas a três outras, perfazem novamente o sete.
A GÊNESE DA BÍBLIA JUDAICA, AS TENTATIVAS DE CRIAÇÃO DO MUNDO.
Os capítulos introdutórios do Gênese nunca pretenderam apresentar sequer uma remota alegoria da criação de nossa terra. Eles consistem (capítulo I) numa concepção metafísica de algum período indefinido na eternidade, quando tentativas sucessivas estavam sendo feitas pela lei de evolução para a formação de universos. Essa idéia consta com clareza do Zohar: “Houve mundos que pereceram assim que vieram à existência; eram informes e chamavam-se chispas. Assim, o ferreiro, quando amolga o ferro, deixa que as chispas voem em todas as direções. As chispas são os mundos primordiais que não podem continuar, porque o Ancião Sagrado [Sephirah] ainda não assumira a sua forma [de sexos opostos ou andróginos] de rei e rainha [Sephirah e Cadmo] e o Mestre não se tinha ainda posto a trabalho”.
Os seis períodos, ou “dias” do Gênese referem-se à mesma crença metafísica. Cinco de tais infrutíferas tentativas foram feitas pelos Elohim, mas a sexta resultou em mundo como o nosso (i.e., todos os planetas e muitas estrelas são mundos, e habitados, embora não como nossa Terra). Tendo formado este mundo por fim no sexto período, os Elohim descansaram no sétimo. Assim, o “Sagrado”, quando criou o presente mundo, disse: “Este me agrada; os anteriores não me agradavam”. E os Elohim “viram tudo que ele havia feito, e consideraram que era bom. E a tarde e a manhã foram o sexto dia”. – Gênese, I, 31.
O leitor deverá lembrar-se de que no Capítulo IV se explicou o sentido do “dia” e da “noite” de Brahmâ. O primeiro representa um certo período de atividade cósmica; a segunda. um período igual de repouso cósmico. Num, os mundos estão em evolução, e passam pelas quatro idades de existência; noutro, a “inspiração” de Brahmâ reverte a tendência das forças naturais; o visível dispersa-se gradualmente; instala-se o caos; e uma longa noite de repouso revigora o cosmo para o seu termo seguinte de evolução. Na manhã de um desses “dias”, os processos formativos atingem gradualmente o seu clímax de atividade; à tarde, os mesmos processos diminuem imperceptivelmente, até que chega o pralaya (período de repouso), e, com ele, a “noite”. Uma manhã e uma tarde constituem de fato um dia cósmico; e era num “dia de Brahmâ” que pensava o autor cabalista do Gênese quando dizia: “E a tarde e a manhã foram o primeiro (ou quinto, ou sexto, ou qualquer outro) dia”. Seis dias de evolução gradual, um de repouso, e então – a tarde! Desde a primeira aparição do homem sobre a nossa terra, tem sido o tempo um Sabbath eterno de repouso para o Demiurgo.
As especulações cosmogônicas dos primeiros seis capítulos do Gênese se demonstram nas raças dos “filhos de Deus”, “gigantes”, etc., do capítulo VI. Propriamente falando, a história da formação de nossa Terra, de nossa “criação”, como a chamam de forma assaz inadequada, começa com o resgate de Noé das águas do dilúvio. As tábuas caldaico-babilônicas recentemente traduzidas por George Smith não deixam nenhuma dúvida do que passava pela mente daqueles que liam esotericamente as inscrições. Ishtar, a grande deusa, fala na coluna III da destruição do sexto mundo, e do surgimento do sétimo, nos seguintes termos:
“Por seis dias e noites, dominaram o vento, o dilúvio e a tempestade.
“No sétimo dia, a tempestade se acalmou, e cessou o dilúvio,
“que a tudo havia destruído como um terremoto,
“Ele fez o oceano secar-se, e pôs fim ao vento e ao dilúvio. (…)
“Eu percebi a costa no limite do mar. (…)
“Ao país de Nizir veio a nau [argha, a Lua].
“a montanha de Nizir deteve a nau. (…)
“O primeiro dia, e o segundo dia, a montanha de Nizir fez o mesmo. (…)
“O quinto, o sexto, a montanha de Nizir fez o mesmo.
“No curso do sétimo dia
“Enviei uma pomba e ela foi. A pomba foi e voltou, e (…) o corvo foi (…) e não voltou. (…)
“Ergui um altar no topo da montanha.
“cortei sete ervas, e em sua base depus bambus, pinhos e especiarias. (…)
“os deuses acudiram como moscas para o sacrifício.
“Da antigüidade também o grande Deus em seu curso.
“o grande fulgor [o Sol] de Anu criou. Quando a glória desses deuses sobre o amuleto em torno do meu pescoço eu não deixaria (…), etc.
Tudo isso tem uma relação puramente astronômica, mágica e esotérica. Quem quer que leia essas tábuas reconhecerá de pronto o conteúdo bíblico, e julgará, ao mesmo tempo, quando foi desfigurado o grande poema babilônico por personagens eveméricas – degradadas de suas elevadas posições de deuses em simples patriarcas. O espaço nos impede de entrar profundamente nessa caricatura bíblica das alegorias caldaicas. Lembraremos apenas ao leitor que pela confissão das testemunhas mais insuspeitas – como Lenormant, primeiro o inventor e depois o campeão dos acádios – a tríada caldaixo-babilônica colocada sob Ibon, a divindade não revelada, é composta de Anu, Nuab e Bel. Anu é o caos primordial, o deus, simultaneamente, do tempo e do mundo, a matéria incriada do princípio fundamental de todas as coisas. Quando a Nuah, ele é, de acordo com o mesmo orientalista:
“(…) a inteligência, diremos de bom grado o verbum, que anima e fecunda a matéria, que penetra o universo, que o dirige e o faz viver; e Nuah é ao mesmo tempo o rei do princípio úmido; o Espírito que se move sobre as águas”.
Não é isto evidente? Nuah é Noé, que flutua sobre as águas, em sua arca, sendo esta o emblema de argha, a Luz, o princípio feminino; Noé é o “espírito” que cai na matéria. Assim que desce à Terra, ele planta uma vinha, bebe do vinho e se embebeda; i. e., o espírito puro fica intoxicado na medida em que é finalmente aprisionado na matéria. O sétimo capítulo do Gênese não passa de outra versão do primeiro. Assim, enquanto este diz: “(…) e as trevas cobriam o abismo. E o espírito de Deus pairava sobre as águas”, no sétimo capítulo lê-se : “(…) e as águas subiram (…) e a arca [com Noé – o espírito] flutuava sobre as águas”. Assim, Noé, se [identificado com] o Nuah caldeu, é o espírito que vivifica a matéria, que ademais é o caos representado pelo Abismo ou as Águas do Dilúvio. Na lenda babilônica, é Ishtar (Astoreth, a Luz) que é encerrada na arca e que envia uma pomba (emblema de Vênus e de outras deusas lunares) em busca de terra seca. E enquanto nas tábuas semitias é Xisuthros ou Hasisadra que é “levado à companhia dos deuses por sua piedade”, na Bíblia é Enoch que caminha com os deuses e é por eles levado “para sempre”.
A existência sucessiva de um incalculável número antes da subseqüente evolução do nosso próprio planeta, constitui uma crença de todos os povos antigos. A punição dos cristãos, por terem despojado os judeus de seus registros e recusado a verdadeira chave para a sua interpretação, teve início nos primeiros séculos. E assim é que encontramos os santos padres da Igreja trabalhando com uma cronologia impossível e com os absurdos da interpretação literal, ao passo que os rabinos eruditos estavam a par do significado real de suas alegorias. Não apenas no Zohar, mas também em muitas outras obras cabalísticas aceitas pelos talmudistas, tal como Midrash Berêhîth Rabbah, ou o Gênese universal, que, com o Merkabah (o carro de Ezequiel), compõem a Cabala, pode-se encontrar a doutrina segundo a qual toda uma série de mundos evolui do caos, e é sucessivamente destruída.
AS ALEGORIAS DA “QUEDA DO HOMEM”.
As doutrinas hindus falam de dois Pralayas, ou dissoluções; uma universal, o Mahâ-Pralaya, a outra parcial, ou Pralaya menor. Isto não diz respeito à dissolução universal que ocorre ao fim de todo “Dia de Brahmâ”, mas aos cataclismos geológicos ao fim de todo ciclo menor de nosso globo. Esse dilúvio histórico e local da Ásia Central, cujas tradições podem ser traçadas em todos os países, e que, de acordo com Bunsen, ocorreu por volta do ano 10.000, nada tem a ver com o Noé, ou Nuah, mítico. Um cataclismo parcial ocorre ao término de toda “idade” do mundo, dizem elas, e não destrói a este, mas apenas lhe modifica a aparência geral. Novas raças de homens e animais e uma nova flora têm origem na dissolução das precedentes.
As alegorias da “queda do homem” e do “dilúvio” são as caraterísticas mais importantes do Pentateuco. Elas são, por assim dizer, o Alfa e o Ômega, as chaves superiores e inferiores da escala de harmonia na qual ressoa o majestoso hino da criação da Humanidade, pois revelam àquele que interroga a Zura (figurado, Gematria), o processo da evolução humana desde a entidade espiritual mais elevada até o homem pós-diluviano mais inferior; como nos hieróglifos egípcios, em que cada signo da escrita pictográfica que não pode ser relacionado a uma determinada figura geométrica circunscrita deve ser rejeitado, por se tratar de um véu erguido deliberadamente sagrado, muitos dos detalhes da Bíblia podem ser tratados com base no mesmo princípio, aceitando-se uma parte apenas quando responde aos métodos numéricos ensinados na Cabala.
O dilúvio figura nos livros hindus apenas como uma tradição. Não tem nenhum caráter sagrado, e o encontramos no Mahâbrârata, nos Purânas, e ainda antes no Satapatha, um dos últimos Brâhmanas. É mais do que provável que Moisés, ou quem quer que tenha escrito por ele, utilizou esses relatos como base de sua própria alegoria propositadamente desfigurada, acrescentando-lhe ademais a narrativa caldaico-berosiana. No Mahâbrârata, reconhecemos Nimrod sob o nome do King Daitya. A origem da fábula grega dos Titãs escalando o Olimpo, e a da outra sobre os construtores da Torre de Babel que procuram alcançar o céu, acha-se no ímpio Daitya, que lança imprecações contra o relâmpago do céu, e tenta conquistar o próprio céu com seus poderoso guerreiros, trazendo dessa forma para a Humanidade a ira de Brahmâ. “O Senhor então resolveu”, diz o texto, “castigar as suas criaturas com uma terrível punição que serviria como uma advertência para os sobreviventes, e os seus descendentes.”
Vaivasvata (que na Bíblia torna-se Noé) salva um pequeno peixe, que vem a ser um avatâra de Vishnu. O peixe avisa ao justo homem que o bloco está prestes a ser submerso, que tudo que o habita deve perecer, e ordena-lhe que construa um barco no qual embarcará, com toda a sua família. Quando o barco está pronto, e Vaivasvata encerrado nele com sua família, com as sementes das plantas e com os pares de todos os animais, e a chuva começa a cair, um gigantesco peixe, armado com um corno, se coloca à testa da arca. O santo homem, seguindo suas ordens, amarra uma corda ao seu corno, e o peixe guia o navio com segurança através dos elementos em revolta. Na tradição hindu, o número de dias durante os quais durou o dilúvio concorda exatamente com o relato mosaico. Quando os elementos se acalmaram, o peixe depôs a arca no topo do Himâlaya.
Muitos comentadores ortodoxos afirmam que essa fábula foi emprestada das Escrituras mosaicas. Mas, se um cataclismo universal como esse tivesse ocorrido à memória humana, alguns dos monumentos egípcios, dos quais muitos são de uma tremula antigüidade, teriam com certeza registrado essa ocorrência, justamente com a da desgraça de Cão, Canaã e Mizraim, seus pretensos ancestrais. Mas até o presente não se encontrou a menor alusão a tal calamidade, embora Mizraim certamente pertença à primeira geração pós-diluviana, se é que ele próprio não seja pré-diluviano. Por outro lado, os caldeus preservaram a tradição, como o testemunha Berosus, e hindus antigos possuem a lenda tal como dada acima. Ora, há apenas uma explicação para o extraordinário fato de que de duas nações civilizadas e contemporâneas como Egito e Caldéia, uma não tenha preservado nenhuma tradição a respeito, embora tivesse um interesse direto a ocorrência – se acreditamos na Bíblia -, e a outra sim. O dilúvio relatado na Bíblia, em um dos Brâhmanas, e nos Fragmentos de Berosus, dá notícia do dilúvio parcial que, por volta do ano 10.000, segundo Busen, e de acordo também com as computações Bramânicas do Zodíaco, mudou toda a face da Ásia Central. Portanto, os babilônios e os caldeus poderiam ter tido dele conhecimento através de seus misteriosos convidados, batizados por alguns assiriólogos de acádios, ou, o que é ainda mais provável, eles próprios talvez tenham sido os descendentes daqueles que haviam habitado as localidades submersas. Os Judeus tornaram a narrativa dos caldeus, assim como tudo o mais; os brâmanes podem ter registrado as tradições das terras que invadiram, e que eram talvez habitadas antes de eles terem dominado o Puñjâb. Mas os egípcios, cujos primeiros colonos vieram evidentemente da Índia setentrional, tinham menos razões para registrar o cataclismo, visto que ele talvez jamais os tenha afetado, exceto indiretamente, pois o dilúvio se limitou à Ásia Central.
Burnouf, comentando o fato de que a história do dilúvio se acha apenas em um dos Brâhmanas mais modernos, pensa também que ela deve ter sido tomado pelos hindus das nações semitas. Contra tal suposição, enfileiram-se todas as tradições e costumes dos hindus. Os Âryas, e especialmente os brâmanes, jamais tomaram o que quer que seja dos semitas, e aqui somos apoiados por uma dessas “testemunhas involuntárias”, como chama Higgins aos partidários de Jeová e da Bíblia. “Jamais vi coisa alguma na história dos egípcios e dos judeus”, escreve o Abade Dubois, após quarenta anos residindo na Índia, “que me induzisse a acreditar que uma das nações ou qualquer outra na face da Terra se tenha estabelecido mais cedo do que os hindus e particularmente os brâmanes; portanto, não posso acreditar que estes últimos tomado seus ritos de nações estrangeiras. Pelo contrário, deduzo que eles os extraíram de uma fonte original e própria. Quem quer que conheça algo do espírito e do caráter dos brâmanes, e sua majestade, o seu orgulho e extrema vaidade, a sua distância e seu soberano desrespeito por tudo o que é estrangeiro e pelo que eles não podem orgulhar-se de ser os inventores, concordará comigo em que tal povo não pode ter consentido em tomar seus costumes e regras de conduta de um país alienígena.”
A fábula que menciona o primeiro avatâra – Matsya – diz respeito a outro yuga, diferente do nosso, o primeiro aparecimento da vida animal; talvez, quem sabe, ao período devoniano de nossos geólogos. Ela com certeza corresponde melhor a esse período do que o ano 2348 a.C.! Além disso, a própria ausência de qualquer menção ao dilúvio nos livros mais antigos dos hindus sugere um poderoso argumento quando só podemos nos haver com inferências, como neste caso. “Os Vedas e Manu”, diz Jacolliot, “esses monumentos do antigo pensamento asiático, existiam muito tempo antes do período diluviano; esse é um fato indiscutível, e tem todo o valor de uma verdade histórica, pois, além da tradição que mostra o próprio Vishnu salvando os Vedas do dilúvio – tradição que, não obstante a sua forma lendária, deve certamente repousar num fato real -, é bem evidente que nenhum desses livros sagrados faz menção ao cataclisma, ao passo que os Purânas e o Mahâbhârata, e um grande número de outras obras mais recentes, o descrevem com profusão de detalhes, o que é uma prova da anterioridade dos primeiros textos. Os Vedas não deixaram certamente de conter uns poucos hinos sobre o terrível desastre que, mais do que todas as outras manifestações naturais, deve ter impressionado a imaginação das pessoas que o testemunharam.
“Nem teria Manu, que nos dá uma completa narrativa da criação, com uma cronologia das eras divinas e heróicas, até o aparecimento do homem sobre a Terra – deixando passar em silêncio um evento de tal importância. (…) Manu (livro I, sloka 35) dá os nomes de dez eminentes santos a quem chama de prajâpatis, em quem os teólogos bramânicos vêem profetas, ancestrais da raça humana, e os pânditas simplesmente consideram como os dez reis poderosos que viveram no Krita-yuga, ou a idade do bem (a “era de ouro” dos gregos).”
O último desses prajâpatis é Nârada.
“Enumerando a sucessão desses seres eminentes que, de acordo com Manu, governaram o mundo, o velho legislador bramânico os designa como descendentes de Bhrigu: Svârochisha, Auttami, Tâmasa, Raivata, o glorioso Châkshusha, e o filho de Vivasvat, cada um dos quais se tornou digno do título de Manu (legislador divino), título que pertencia igualmente aos Prajâpatis e a todo grande personagem da Índia primitiva. A genealogia detém-se nesse nome.
“Ora, segundo os Purânas e o Mahâbhârata, foi sob um descendente desse filho de Vivasvat, de nome Vaivasvata, que ocorreu o grande cataclismo; cuja lembrança, como se verá, passou à tradição, e foi trazida pela emigração a todos os países do Oriente que a Índia colonizou desde então.(…)
“Visto que a genealogia dada por Manu pára, como vimos, em Vivasvat, segue-se que essa obra [a de Manu] nada sabia, seja de Vaivasvata, seja do dilúvio.”
A História fala-nos da corrente de imigração ao longo do Indo, e da sua posterior invasão do Ocidente, como populações de origem hindu abandonando a Ásia Menor para colonizar a Grécia. Mas a História não diz uma única palavra sobre o “povo eleito” ou sobre as colônias gregas que teriam penetrado a Índia antes dos séculos V e IV a.C., época em que encontramos as primeiras e vagas tradições que fazem algumas das problemáticas tribos perdidas de Israel tomar, na Babilônia, a rota para a Índia. Mas mesmo se a história das dez tribos fosse digna de crédito, e, se provasse que as tribos existiram tanto na história sagrada como na profana, isso não ajudaria na solução do problema. Colebrooke, Wilson e outros eminentes indianistas mostram que o Mahâbhârata, se não o Satapatha-Brâhmana, em que a história também figura, é anterior à época de Ciro – e, por conseguinte, anterior à época possível do surgimento de qualquer das tribos de Israel na Índia.
A ANTIGÜIDADE DOS LIVROS SAGRADOS DO EGITO.
Lendas, mitos, alegorias, símbolos, se pertencem à tradição hindu, caldaica ou egípcia, são lançados à pilha como ficção. Dificilmente são eles honrados com uma pesquisa superficial sobre suas relações possíveis com a astronomia ou os emblemas sexuais. Os mesmos mitos – quando e por que mutilados – são aceitos como Escrituras Sagradas, mais – como Palavra de Deus! É isso História imparcial? É isso justiça para com o passado, o presente ou o futuro? “Não poderemos servir a Deus e a Mammon”, disse o Reformador, há dezenove séculos. “Não podemos servir à verdade e ao preconceito público”, deveríamos dizer com mais propriedade ao nosso próprio século. Contudo, nossas autoridades pretendem estar a serviço da primeira.
Há poucos mitos em qualquer sistema religioso que não tenham um fundamento histórico e científico. Os mitos, como afirma corretamente Pococke, “revelam-se agora como fábulas, apenas na medida em que não os compreendemos; e como verdades, na medida em que eram outrora entendidos. Nossa ignorância consiste em ter feito da história um mito; e esta ignorância é uma herança helênica, conseqüência da vaidade helênica.
Bunsen e Champollion já demonstraram que os livros sagrados do Egito são muito mais antigos do que a parte mais antiga do Livro Gênese. E uma pesquisa mais cuidadosa parece agora corroborar a suspeita – que para nós é uma certeza – de que as leis de Moisés são cópias do código do Manu bramânico. Portanto, segundo todas as probabilidades, o Egito deve sua civilização, suas instituições civis e suas artes, à Índia.
Sabido é que os orientalistas não se puseram de acordo quanto à época de Zoroastro, e, enquanto a questão não ficar estabelecida, será talvez mais seguro acreditar implicitamente nos cálculos bramânicos pelo Zodíaco, do que nas opiniões dos cientistas. Há a de Bunsen, que situa Zoroastro na Bactriana, e a emigração dos bactrianos ao Indo em 3794 (a.C.), e o nascimento de Moisés em 1392 (a.C.). Mas é difícil situar Zoroastro antes dos Vedas, considerando que toda a sua doutrina já se acha nos Vedas. Na verdade, ele demorou no Afeganistão por um período mais ou menos problemático antes de cruzar o Puñjâb; mas os Vedas foram iniciados neste último país. Eles indicam o progresso dos hindus, assim como o Avesta o dos iranianos. E há a de Haug, que atribui o Aitareya-Brâhmanam – um comentário especulativo bramânico sobre o Rig-Veda, muito mais recente do que o Veda – ao período entre 1400 e 1200 a.C., ao passo que os Vedas são por ele situados entre os anos 2000 e 2400 a.C. Max Müller sugere cautelosamente certas dificuldades nessa computação cronológica, mas não a nega em absoluto. Seja como for, e supondo que o Pentateuco foi escrito pelo próprio Moisés – embora dessa forma ele teria por duas vezes registrado sua morte -, se Moisés nasceu como acredita Bunsen, em 1392 a.C., o Pentateuco não poderia ter sido escrito antes dos Vedas. Especialmente se Zoroastro nasceu em 3784 a.C. Se, como afirma o Dr. Haug, alguns dos hinos do Rig-Veda foram escritos antes de Zoroastro ter realizado seu cisma, por volta de 3700 a.C., e Max Müller diz que “os zoroastristas e os seus ancestrais partiram da Índia durante o período védico”, como podem algumas partes do Antigo Testamento remontar à mesma data, “ou até antes dos hinos mais antigos do Veda”?
Concordam em geral os orientalistas em que os âryas, em 3000 a.C., ainda estavam nas estepes a leste do Cáspio, e unidos. Rawlinson conjectura que eles “migraram para leste” oriundos da Armênia como centro comum, ao passo que duas correntes congêneres a migrar, uma para norte, além do Cáucaso, e outra para oeste, além da Ásia Menor e da Europa. Ele acredita que os âryas, num período anterior ao século XV antes de nossa era, estavam “sediados na região banhada pelo Indo Superior”. Daí os âryas védicos migraram para o Puñjâb, e os âryas zêndicos para oeste, estabelecendo os países históricos. Mas essa, como as demais, é uma hipótese, e como tal é dada.
Ademais, diz Rawlinson, seguindo evidentemente a Max Müller: “A história primitiva dos âryas constitui por muitos séculos uma lacuna absoluta.” Mas muitos brâmanes eruditos declararam ter encontrado traços da existência dos Vedas já em 2100 a.C.; e Sir William Jones, tomando como guia os dados astrológicos, situa o Yajur-Veda em 1580 a.C. Isso seria ainda “antes de Moisés.” É na suposição de que os âryas não deixaram o Afeganistão pelo Puñjâb antes de 1500 a.C. que Max Müller e outros sábios de Oxford puderam estimar que partes do Velho Testamento remontam à mesma data, ou até antes, dos hinos mais antigos do Veda. Por conseguinte, enquanto os orientalistas não nos puderem indicar a data correta em que Zoroastro, nenhuma autoridade será mais bem considerada no que respeita à época dos Vedas do que os próprios brâmanes.
Sendo por demais sabido o fato de que os judeus tomaram muitas de suas leis dos egípcios, examinemos quem eram os egípcios. Em nossa opinião – que é, naturalmente, a de uma pobre autoridade -, eles eram os indianos antigos, e em nosso primeiro volume citamos passagens do historiador Kullûka-Bhatta que corroboram tal teoria. É o seguinte o que entendemos por Índia antiga:
Nenhuma região no mapa – exceto talvez a antiga Cítia – é mais incertamente definida do que a que leva a designação da Índia. A Etiópia é talvez o único paralelo. Ela era a pátria das raças cuchitas e camítas, e situava-se a leste da Babilônia. Tinha outra o nome de Indostão, quando as raças negras, adoradoras de Bala-Mahâdeva e Bhavânî-Mahâdevî, dominavam esses país. A Índia dos primeiros sábios parece ter sido a região localizada nas nascentes do Oxus e do Jaxartes. Apolônio de Tiana cruzou o Cáucaso ou o Hindus Kush, onde encontrou um rei que o dirigiu à morada dos sábios – descendentes talvez daqueles a quem Amiano chama de “Brachmanas da Índia Superior”, e a quem Hystaspes, o pai de Dario (ou, mais provavelmente, o próprio Darius Hystaspes), visitou; e, tendo sido instruído por eles, infundiu seus ritos e idéias nas observações mágicas. Essa narrativa sobre Apolônio parece indicar Caxemira como a região que ele visitou, e os Nâgas – após a sua conversão ao Budismo – como seus mestres. Nessa ocasião, a Índia ariana não se estendia além do Punñjâb.
A nosso ver, o maior obstáculo que se antepõe no caminho do progresso da etnologia sempre foi a tríplice progênie de Noé. Na tentativa de reconciliar as raças pós-diluvianas com a descendência genealogia de Sem, Cam e Jafé, os orientalistas cristianóides se lançaram a uma tarefa impossível de cumprir. A arca de Noé da Bíblia tem sido um leito de Procusto no qual eles procuram a tudo amolar. A atenção foi desastre desviada das verdadeiras fontes de informações no que respeita à origem do homem, e uma alegoria meramente local foi erroneamente tomada como um relato histórico emanado de uma fonte inspirada. Estranha e infeliz escolha! Dentre todos os escritos sagrados das nações básicas, oriundas do berço primitivo da Humanidade, o Cristianismo escolheu para seu guia os registros e as escrituras nacionais do povo menos espiritual talvez da família humana – o semita. Um ramo que nunca foi capaz de desenvolver, a partir de seus numerosos idiomas, uma língua capaz de encarnar as idéias do mundo moral e intelectual; cuja forma de expressão e cuja inclinação mental jamais conseguiu se elevar mais alto do que as figuras de linguagem puramente sensuais e terrestres; cuja literatura nada deixou de original, nada que não foi tomado do pensamento ariano; e cuja ciência e filosofia carecem totalmente das nobres caraterísticas que caracterizam os sistemas altamente espirituais e metafísicos das raças indo-européias (jaféticas).
Busen mostra que o camita (a língua do Egito) era um depósito da Ásia ocidental, que continha os germes do semítico e que, portanto, “testemunhavam a primitiva unidade das raças semiticas e arianas”. Devemos lembrar, a esse respeito, que os povos da Ásia sudoeste e ocidental, incluindo os medas, eram todos âryas. No entanto, ainda não se provou quem foram os mestres originais e primitivos da Índia. O fato de que esse período está agora fora do alcance da história documentaria não exclui a probabilidade de nossa teoria de que esses mestres pertencia à poderosa raça de construtores, chamada etíopes orientais ou âryas de pele negra (a palavra Ârya significa simplesmente “guerreiro nobre”, um “bravo”). Eles governaram de modo supremo toda a Índia antiga, enumerada mais tarde como possessão daqueles que os nossos cientistas chamam de povos de fala sânscrita.
Esses hindus, ao que se supõe, teriam entrado no país oriundos do noroeste; conjectura-se que alguns deles teriam trazidos consigo a religião bramânica, e a língua dos conquistadores era provavelmente o sânscrito. Nossos filósofos trabalharam com esses três magos dados desde que a imensa literatura sânscrita foi anunciada por Sir William Jones – e sempre com os três filhos de Noé torcendo o pescoço. Tal é a ciência exata, livre de preconceitos religiosos! Na verdade, a etnologia teria sido a maior ganhadora, se esse trio noético tivesse sido posto ao mar antes de a arca alcançar a terra firme!
Os etíopes são geralmente classificados no grupo semita; mas veremos em seguida que essa classificação não se lhes enquadra bem. Consideraremos também a sua possível vinculação à civilização egípcia, que, como assinala um autor, parece ser dotada da mesma perfeição desde os tempos primitivos, não tendo experimentado a evolução e o progresso, como no caso dos outros povos. Por razões que agora aduziremos, estamos preparados para afirmar que o Egito deve a sua civilização, sua comunidade e suas artes – mormente a arte da construção – à Índia pré-védica, e que foi uma colônia dos âryas de pele escura, ou aqueles que Homero e Heródoto chamam de etíopes orientais, i. e., os habitantes da Índia setentrional, que trouxe ao Egito sua já adiantada civilização nas eras pré-cronológicas que Bunsen chama de pré-menitas, mas que corresponde aos tempos históricos.
Em Índia in Greece de Pococke, encontramos o seguinte sugestivo parágrafo: “O relato completo das guerras travadas entre o chefe solar, Oosras (Osíris), o Príncipe dos Guclas, e `TU-PHOO’, corresponde na verdade ao simples fato histórico das guerras entre os apianos, ou tribos do Sol de Oudh, e o povo de `TU-PHOO’, ou TIBETE, que era, de fato, de raça lunar, e budista, e inimigos de Râma, e dos `AITYO-PIAS’, ou povo de Oudh, posteriormente os `AITH-IO-PIAS’ da África”.
Lembramos ao leitor a esse respeito que Râvana, o gigante, que, no Râmâyana, trava uma batalha com Râma Chandra, é mostrado como Rei de Lanka, o antigo nome do Ceilão; e que o Ceilão, naqueles dias, formava parte talvez do continente da Índia setentrional, e era povoado pelos “etíopes orientais”. Conquistada por Râma, o filho de Dasaratha, o Rei Solar do antigo Oudh, uma colônia desse povo migrou para o norte da África. Se, como muitos supõem, a Ilíada de Homero e muito do seu relato da guerra de Tróia foi plagiada do Râmâyana, então as tradições que surgiram como base a esta última obra devem datar de uma tremenda antigüidade. Deixa-se assim uma ampla margem à história pré-cronológica por um período durante o qual os “etíopes orientais” podem ter estabelecido a hipotética colônia de Mizra, como a sua alta civilização indiana.
Que há mais consangüinidade entre os etíopes e as raças arianas de pele escura, e entre estas e os egípcios, eis algo que ainda está para ser provado. Descobriu-se recentemente que os antigos egípcios eram de tipo caucasianos, e que a forma de seus crânios é puramente asiática. Se sua pele era de cor menos escura do que a dos etíopes modernos, os próprios etíopes devem ter tido outrora uma tez mais clara. Ofato de que, para os reis etíopes, a ordem da sucessão dava a coroa ao sobrinho do rei, ao filho de sua irmã, e não ao seu próprio filho, é extremamente sugestivo. É esse um velho costume que prevalece até hoje na Índia setentrional. O Râjâ não é sucedido por seus próprios filhos, mas pelos filhos de sua irmã.
De todos os dialetos e idiomas que se acredita serem semitas, só o etíope é escrito da esquerda para a direita, como o sânscrito e o indo-ariano.
Assim, contra a teoria que atribui a origem dos egípcios a uma antiga colônia indiana, não há nenhum impedimento mais grave do que o desrespeitoso filho de Noé, Cam – ele próprio um mito. Mas a forma primitiva do culto religioso egípcio, de seu governo, de sua teocracia e de seu clero, seus usos e costumes, tudo indica uma origem indiana.
LENDAS ANTIGAS DA HISTÓRIA DA ÍNDIA.
As lendas mais antigas da história da Índia mencionam duas dinastias, atualmente perdidas na noite do tempo; a primeira era a dinastia dos reis, da “raça do Sol”, que reinou em Ayôdhyâ (atual Oudh); a segunda, a da “raça da Lua”, que reinou em Prayâga (Allâhâbad). Quem quer que desejar informações sobre o culto religioso desses reis primitivos deverá ler o Livro dos mortos, e todos as peculiaridades que dizem respeito ao culto do Sol e aos deuses do Sol. Nunca se faz qualquer menção a Hórus ou Osíris sem os relacionar com o Sol. Eles são os “Filhos do Sol”; “Senhor e Adoradores do Sol” é o seu nome. “O Sol é o criador do corpo, o genitor dos deuses que são os sucessores do Sol”. Pococke, em sua engenhosa obra, advoga com firmeza a mesma idéia, e tenta estabelecer ainda mais firmemente a identidade entre as mitologias egípcia, grega e indiana. Ele mostra que o chefe da raça solar de Râjpur – na verdade, o grande Cuclo-pos (Cíclope, ou construtor) – recebia o nome de “O Grande Sol”, na mais antiga tradição hindu. Esse Príncipe Gok’la, o patriarca das vastas fileiras de inaquienses, diz ele, “esse `Grande Sol’, foi deificado em sua morte, e de acordo com a doutrina indiana da metempsicose, supôs-se que duas alma transmigrou para o touro `APIS’, o `SERA-PIS’ dos gregos, e o `SOORA-PAS’, ou `Chefe do SOL’, dos egípcios (…) Osíris, mais propriamente Oosras, significa tanto “um touro”, quanto `um raio de luz’. Soora-pas (SERA-PIS), o CHEFE DO SOL”, pois o Sol em sânscrito é Sûrya. A obra La Manifestation à la Lumière, de Champollion, fala em todos os seus capítulos, das duas Dinastias dos Reis do Sol e da Lua. Mais tarde, esses reis foram deificados e transformados, após a morte, em divindades solares e lunares. Seu culto foi a primeira corrupção da grande fé primitiva que considerava justamente o Sol e os seus ígneos raios dadores de vida como o símbolo mais apropriado para nos lembrar da presença universal daquEle que é mestre da Vida e da Morte. Tal fé pode ser rastreada atualmente em todo o globo. Tratava-se da religião dos antigos brâmanes védicos, que chamam, nos hinos mais antigos do Rig-Veda, a Sûrya (o Sol) e a Agni (o fogo), de “regente do universo”, “senhor dos homens”, e “rei sábio”. Era o culto dos magos, dos zoroastristas, dos egípcios e dos gregos, chamassem-no eles de Mithra, ou Ahura-Mazda, ou Osíris, ou Zeus, mantendo-o em honra de seu parente mais próximo, Vesta, o puro fogo celestial. E essa religião acha-se também no culto solar peruano; no sabeanismo e na heliolatria dos caldeus, na “pira ardente” mosaica, na reverência dos chefes dos povos para com o Senhor, o “Sol”, e mesmo na ereção abrâmica dos altares de fogo e nos sacrifícios dos judeus monoteístas a Astarte, a Rainha do Céu.
Até o presente, com todas as controvérsia e pesquisas, a História e a Ciência permanecem como sempre nas trevas, no que respeita à origem dos judeus. Eles podem muito bem ser os Chandâlas ou Pariahs, exilados da Índia antiga, os “pedreiros” mencionados por Vina-Snati, Veda-Vyâsa e Manu, ou os fenícios de Heródoto, ou os Hyksôs de Josefo, ou os descendentes dos pastores pâli, ou uma mistura de todos esses. A Bíblia denomina os tirianos de povo consangüíneo, e vindica o domínio sobre eles.
Há na Bíblia mais de um personagem importante cuja biografia lhe aponta o caráter de herói mítico. Samuel é o personagem da Comunidade Hebraica. Ele é o doppel de Sansão, do Livro dos juízes, como se verá – sendo ele o filho de Ana e EL-KAINA, como Sansão o foi de Manua ou Manoah. Ambos eram caracteres fictícios, como agora o indica o livro revelado; um era o Hércules hebreu, e o outro Ganesa. Credita-se a Samuel a façanha de ter estabelecido uma república, destruindo o culto cananita de Baal e Astarte, ou Adónis e Vênus, e estabelecendo o de Jeová. Como o povo pedia um rei, ele ungiu a Saul, e, depois dele, a Davi de Belém.
Davi é o rei Arthur israelita. Realizou grandes façanhas e estabeleceu um governo na Síria e um Induméia. Seu domínio se estendeu à Armênia e à Assíria, a norte e nordeste, ao Deserto sírio e ao Golfo Pérsico, a leste, à Arábia, ao sul e ao Egito e ao Levante, a oeste. Somente a Fenícia não estava incluída.
Sua amizade com Hirão parece que ele fez sua primeira expedição à Judéia partindo desse país. E sua longa permanência em Hebron, a cidade dos Cabiri (Arba, ou quatro), parece implicar igualmente que ele estabeleceu uma nova religião no país.
Depois de Davi, veio Salomão, poderoso e luxuriento, que procurou consolidar o domínio que Davi havia obtido. Como Davi era um adorador de Jeová, um templo a Jeová (Tukht-i-Sulaiman) foi edificado em Jerusalém, ao passo que os santuários a Maloch-Hércules, Chemosh e Astarte foram erguidos no Monte das
Oliveiras. Tais santuários perduraram até Josias.
Em seguida, armaram-se conspirações. Revoltas estalaram em Iduméia e Damasco; e Ahijah, o profeta, liderou o movimento popular que resultou na deposição da casa de Davi e na coroação de Jeroboão. Desde então predominaram os profetas em Israel e prevaleceu o culto do bezerro em todo o país; os sacerdotes dominaram a frágil dinastia de Davi, e o lascivo culto local se estendeu a todo o país. Após a destruição da casa de Ahab, e do fracasso de Jehu e seus descendentes em unir o país sob um único comando, tentativa foi feita em Judá. Isaías havia posto fim à linha direta na pessoa de Ahaz (Isaías, VII,9), colocado no trono um príncipe de Belém (Miquéias, V, 2, 5). Era este Ezequiel. Ao subir ao trono, convidou ele os chefes de Israel a unirem-se numa aliança contra a Assíria (2 Crônicas, XXX, 1, 21; XXXI, 1, 5; 2 Reis, XVIII, 7). Estabeleceu, a que parece, um colégio sagrado (Provérbios, XXV, 1), e, posteriormente, modificou o culto (A referência às Crônicas parece estar errada e a referência aos Provérbios não é coroborada pelo texto em si
mesmo.
Isto demonstra que são míticas as histórias de Samuel e Davi e Salomão. Foi por essa época que muitos dos profetas que também eram letrados começaram a escrever.
O país foi finalmente dominado pelos assírios, que encontraram o mesmo povo e as mesmas instituições que os da Fenícia e de outras nações.
Ezequiel não era filho natural, mas adotivo de Ahaz. Isaías, o profeta, pertencia à família real, e acreditava-se que Ezequiel era seu genro. Ahaz recusou aliar-se ao profeta e ao seu partido, dizendo: “Não tentarei ao Senhor” (Isaías, VII, 12). Declarou o profeta: “Se não acreditardes, não permanecereis” – prenunciando a deposição de sua linhagem direta. “Aborreceis a meu Deus”, replicou o profeta, predizendo o nascimento de uma criança por uma almeh, ou mulher do templo, antevendo ainda que, antes de ela atingir a maturidade (Hebreus, V, 14; Isaías, VII,16; VIII, 4), o rei da Assíria dominaria a Síria e Israel. Essa é a profecia que Irineu procurou relacionar a Maria e Jesus, e a razão por que a mãe do profeta nazareno é representada como pertencente ao templo e consagrada a Deus desde a sua infância.
Numa segunda canção, Isaías, celebrou o novo chefe, sentado no trono de Davi (IX, 6, 7; 1), que deveria fazer voltarem às casas os judeus que a aliança havia mantido cativos (Isaías, VII, 2-12; Joel, III, 1-7; Abdias, 7,11, 14). Miquéias – seu contemporâneo enunciou o mesmo evento (IV, 7-13; V, 1-7). O Redentor também deveria vir de Belém; em outras palavras, seria da casa de Davi; e deveria resistir à Assíria com a qual Acaz se aliara, e também reformar a religião (2 Reis, XVIII 408). Isso Ezequias fez. Ele era neto de Zacarias, o vidente (2 Crônicas, XXVI, 5), o conselheiro de Usías; e assim que subiu ao trono, restaurou a religião de Davi, e destruiu os últimos vestígios da de Moisés, i. e., a doutrina esotérica, declarando “nossos pais caíram sob a espada” (2 Crôn., XXIX, 6-9). Ele tentou em seguida uma união com a monarquia do Norte, havendo então um interregno em Israel (2 Crôn, XXX, 1,2,6; XXXI, 1,6, 7). Ele teve sucesso mas isso resultou numa invasão do rei da Assíria. E houve então um novo régime. Tudo isso mostra o curso de duas correntes paralelas no culto religioso dos israelitas; uma que pertence à religião do Estado e que adota exigências políticas; e outra, que é pura idolatria, resultante da ignorância da verdadeira doutrina esotérica pregada por Moisés. Pela primeira vez, desde que Salomão as construíra, “os planos foram tomados”. Foi Ezequias o esperado Messias da religião exotérica do Estado. Ele foi o rebento do tronco de Jessé, que libertaria os judeus de um deplorável cativeiro, sobre o qual os historiadores hebreus parecem fazer silêncio, evitando cuidadosamente qualquer menção a esse fato particular, porém que os irascíveis profetas imprudentemente revelam. Se Ezequias esmagou o culto exotérico de Baal, ele também arrancou violentamente o povo de Israel da religião de seus pais, e dos ritos secretos instituídos por Moisés.
Foi Dario Hystaspes quem pela primeira vez estabeleceu uma colônia persa na Judéia, cujo chefe foi talvez Zoro-Babel. “O nome Zoro-Babel significa “a semente ou o filho da Babilônia” – como Zoro-astro, é a semente, filho ou príncipe de Ishtar”. O próprio Sião recebia o nome de Judéia, e havia uma Ayôdhyâ, na Índia. Os templos de Shalom, Paz, eram numerosos. Por toda a Pércia e o Afeganistão os nomes de Saul e Davi eram comuns. A “Lei” é atribuída por sua vez a Ezequiel, a Esdras, a Simão o Justo, e ao período asmoniano. Nada definitivo, por toda parte contradições. Quando o período asmoniano teve início, os principais defensores da Lei foram chamados de asidues ou kasdim (caldeus), e posteriormente de fariseus ou pharsi (parsis). Isso indica que as colônias persas foram estabelecidas na Judéia e governaram o país, ao passo que todos os povos mencionados nos livros Gênese e de Josué aí viveram como uma comunidade (ver Esdras, IX,1).
Não há nenhuma história real no Velho Testamento, e as únicas informações históricas que se podem recolher são aquelas que se acham nas indiscretas revelações dos profetas. O livro, como um todo, deve ter sido escrito em diversas épocas, ou antes inventado como uma autorização para algum culto posterior, cuja origem pode ser traçada com facilidade em parte dos mistérios órficos, e em parte dos antigos ritos egípcios com os quais Moisés estava familiarizado desde a sua infância.
O SIMBOLISMO DA ARCA DE NOÉ.
Noé, ou Nuah, como todas as manifestações evemerizadas do Irrevelado – Svâyambhuva (de Svayanbhû) -, era andrógino. Por isso, em algumas passagens, ele pertencia à Tríada puramente feminina dos caldeus, conhecida como “Nuah, a Mãe universal”. Já mostramos em outro capítulo que toda Tríada masculina tem a sua contraparte feminina, um em três, como a anterior. Ela era o complemento passivo do princípio ativo, o seu reflexo. Na Índia, a Trimûrti é reproduzida na Sakti-trimûrti, feminina; e na Caldéia, Ana, Belita e Davkina corresponde a Anu, Bel, Nuah. As três primeiras resumindo-se numa só – Belita.
“Deusa soberana, senhora do abismo inferior, mãe dos deuses, rainha da fecundidade.”
Enquanto umidade primordial, donde tudo provém, belita é Tiamat, o mar, a mãe da cidade de Erch (a grande necrópole caldaica), portanto, uma deusa infernal. No mundo dos astros e dos planetas, ela é conhecida como Ishtar ou Astoreth. Portando, ela é idêntica a Vênus, e a todas as outras Rainhas do Céu, às quais bolos e pães são ofertados em sacrifício, e, como sabem todos os arqueólogos, à Eva a mãe de tudo o que vive, e a Maria.
A Arca, na qual se preservam os germes de todas as coisas necessárias para repovoar a Terra, representa a sobrevivência da vida, e a supremacia do espírito sobre a matéria, através do conflito das forças opostas da Natureza. Na carta Astro-Teosófica do Rito Ocidental, a Arca corresponde ao umbigo, e é colocada no lado esquerdo, o lado da mulher (a Lua), um de cujos símbolos é a coluna esquerda do templo de Salomão – Boaz. O umbigo está relacionado com o receptáculo no qual se frutificam os germes da raça. A Arca é a Argha sagrada dos hindus, e, portanto, pedemos perceber com facilidade a sua relação com a arca de Noé, quando aprendemos que a Argha era um vaso oblongo, utilizado pelos sumo-sacertotes como cálice sacrificial no culto de Ísis, Astarte e Vênus-Afrodite, todas as quais eram deusas dos poderes gerativos da Natureza, ou da matéria – representando simbolicamente, portanto, a Arca que contém os germes de todas as coisas vivas.
Admitamos que os pagãos tinham e têm agora – como na Índia – símbolos estranhos, que, aos olhos dos hipócritas e dos puritanos, parecem escandalosamente imorais.
Ao descrever o culto dos egípcios, diz a Sra. Lydia Maria Child: “Essa reverência pela produção da Vida introduziu no culto de Osíris o emblema sexual, tão comum no Industão. Um colossal imagem dessa espécie foi apresentada ao seu templo em Alexandria, pelo Rei Ptolomeu Philadelphus. (…) A reverência pelo mistério da vida organizada levou ao reconhecimento de um princípio masculino e feminino em todas as coisas espirituais ou materiais. (…) Os emblemas sexuais presentes em todas as esculturas de seus templos pareceriam impuros se descritos, mas nenhuma mente limpa e séria poderá comtemplá-la sem testemunhara óbvia simplicidade e solenidade com que o assunto é tratado.
A água do dilúvio, que na alegoria representa o “mar’ simbólico, Tiamat, simboliza o caos turbulento, a matéria, chamado “o grande dragão”. De acordo com a doutrina gnóstica e Rosa-cruz medieval, a mulher não estava incluída no plano inicial da criação. Ela resultou da fantasia impura do homem, e, como dizem os hermetistas, é “uma intrusa”. Gerada por um pensamento impuro, ela veio à existência na demoníaca “sétima hora”, quando os verdadeiros mundos “sobrenaturais” já haviam passado, e os mundos “naturais” ou ilusórios começavam a evoluir no “microcosmo descendente”, ou, em termos mais claros, no arco do grande ciclo. Originalmente “Virgo”, a Virgem Celestial do Zodíaco, se tornou “Virgo-Scorpio”. Mas, ao desenvolver sua companheira, o homem a dotou involuntariamente de seu próprio quinhão de espiritualidade, e o novo ser a quem sua “imaginação” havia trazido à vida tornou-se o seu “Salvador” dos laços de Eva-Lilith, a primeira Eva, que tinha um quinhão maior de matéria em sua composição do que o primitivo homem “espiritual”.
Portando, a mulher figura na cosmogonia relacionada com a “matéria”, ou o grande abismo, como a “Virgem do Mar”, que esmaga o “Dragão” sob seus pés. O “Diluvio” recebe também amiúde, na fraseologia simbólica, o nome de “o grande Dragão”. Para quem está familiarizado com essas doutrinas, fica mais do que sugestivo saber que para os católico a Virgem Maria é não só a padroeira dos marinheiros cristãos, mas também a “Virgem do Mar”. Assim era Dito, a padroeira dos marinheiros fenícios, e, juntamente com Vênus e outras divindades lunares – tendo a Lua uma forte influência sobre as marés – a “Virgem do Mar”. Mar, o “Mar”, é a raiz do nome Maria. A cor azul, que simbolizava para os antigos o “Grande Abismo” ou o mundo material, e portanto o mal, tornou-se sagrada para a nossa “abençoada Senhora”. É a cor da “Notre Dame de Pais”. Devido à sua relação com a serpente simbólica, tinham aversão por essa cor os ex-nazarenos discípulos de João Batista, os atuais mandeus de Basra.
Entre as belas gravuras de Maurício, há uma que representa Krishna esmagando a cabeça da serpente Uma mitra de três pontas lhe cobre a cabeça (simbolizando a Trindade), e o vencido reptil envolve o corpo do deus hindu. Essa gravura mostra de onde proveio a inspiração para a caracterização de uma história posterior extraída de uma pretensa profecia. “Porei uma hostilidade entre ti a mulher, e entre a tua linhagem e a dela; e ela te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
A primeira figura representa Krishna esmagando a cabeça da Serpente; e, na segunda a Serpente ferindo o calcanhar de Krishna. ( O arant egípcio também é representado com os braços estendidos na forma de um crucifixo, e esmagando a “Serpente”; e Hórus (o Logos) é representado cortando a cabeça do dragão, Tífon ou Apófis. (O termo orant confundiu um grande número de estudiosos teosóficos e parece ter sido um tropeço para um ou dois editores anteriores de Ísis sem véu. Alguns especulavam sobre ter sido o nome de algum deus ou alguma divindade. A palavra deriva do latim orans, – antis, part. Pres. De orare, orar. Na arte grega antiga, é usado para uma figura feminina em postura de prece. Na arte cristã primitiva, era uma figura, geralmente feminina, que tinha as mãos reunidas como que em oração. Essa figuras são muito comuns em catacumbas e a postura era vista como especialmente significava, porque lembrava a posição de Cristo na cruz. Essas figuras também podem ser encontradas no simbolismo egípcio. N. Org.).
Mas quão estranhamente elástico e quão adaptável a tudo se revelou essa filosofia mística depois da era cristã! Quando foram os fatos, irrefutáveis, irrefragáveis, e inquestionáveis, tão pouco capazes de restabelecer a verdade do que em nosso século de casuísmo e de velharia cristã? Se prova que Krishna era conhecido como “Bom Pastor”, séculos antes do ano 1 d.C., que ele esmagou a Serpente Kâlîanâga, e que foi crucificado – tudo isso não é senão uma antecipação profética do futuro! Se mostram o escandinavo Thor, que esmagou a cabeça da Serpente com sua maça em forma de cruz, e Apolo, que matou Píton, as mais impressionantes semelhanças com os heróis das fábulas cristãs – tornam-se eles apenas concepções originais de mentes “pagãs”, “trabalhando sobre as antigas profecias dos Patriarcas relativas ao Cristo, pois estavam integradas na única Revelação universal.”
O dilúvio é portanto, a “Velha Serpente”, ou o grande abismo da matéria, o “dragão do mar” de Isaías (XXVII, 1), o mar que a arca cruza em segurança em seu caminho ao monte da Salvação. Mas, se ouvimos falar da arca de Noé, e da Bíblia em suma, é porque a mitologia dos egípcios estava à disposição de Moisés (se é que Moisés escreveu qualquer coisa da Bíblia), e porque ele estava familiarizado com a história de Hórus, que navegava em seu barco de forma serpentina, e que mata a Serpente com sua lança, e com o sentido oculto dessas fábulas, e sua origem real. É por essa razão também que encontramos no Levítico, e em outras partes de seus livros, páginas inteiras de leis idênticas às de Manu.
Os animais embarcados na arca são as paixões humanas. Eles simbolizam certas provas de iniciação, e os mistérios que foram instituídos em muitas nações em homenagem a essa alegoria. A arca de Noé deteve-se no décimo sétimo dia do sétimo mês. Temos aqui novamente o número, assim como nas “feras limpas” que ele colocou em número de sete na arca. Falando sobre os mistérios aquáticos de Biblos, diz Luciano: “No topo de um das duas colunas edificadas por Baco, fica um homem por sete dias”. Ele supões que tal era feito em honra de Deucalião. Elias, quando orava no topo do Monte Carmelo, enviou um servo para observar uma nuvem no mar, e repete “Retorna sete vezes, Na sétima vez, o servo lhe diz: “Eis que sobre do mar uma nuvem pequena com a mão de um homem’”
“Noé é uma revolutio de Adão, assim como Moisés é uma revolutio de Abel e Seth”, diz a Kabala; vale dizer, uma repetição ou outra versão da mesma história. A grande prova disso é a distribuição dos caracteres na Bíblia. Por exemplo, a começar de Caim, o primeiro assassino, todo quinto homem em sua linha de descendência é um assassino. Assim, vieram Enoch, Irad, Mehujael, Mathusalém, e o quinto é Lemech, o segundo assassino, e ele é o pai de Noé. Desenhando-se a estrela de cinco pontas de Lúcifer (que tem seu ponto coronal voltado para baixo), e escrevendo o nome de Caim sob a ponta inferior, descobrir-se-á que todo quinto nome – que será desenhado sob o de Caim – é o de um assassino. No Talmude, essa genealogia é dada por inteiro, e treze assassinos se enfileiram na linha sob o nome de Caim, Isso não é uma coincidência. Siva é o Destruidor, mas é também o Regenerador. Caim é um assassino, mas é também o criador de nações, o inventor. Essa estrela de Lúcifer é a mesma que João vê cair na Terra em se Apocalipse.
Em Tebas, ou Theba, que significa arca – Sendo TH-ABA sinônimo de Kartha ou Tiro, Ástu ou Atenas, e Urbs ou Roma, e significando também “cidade”-, encontam-se as mesmas folheações descritas nas colunas do templo de Salomão. A folha de oliva bicolorida, a folha de figueira de três lobados, e a folha de louro lanceolada tinham todas sentido tanto esotérico, como populares ou vulgares, para os antigos. As pesquisas dos egiptólogos apresentam outra corroboração da identidade entre as alegorias da Bíblia e as terras dos Faraós e dos caldeus. A cronologia dinástica dos egípcios, registrada por Heródoto, Manetho, Eratosthenes, Diodorus Siculus, e aceita por nosso arqueólogos, dividia os períodos da história egípcia sob quatro cabeçalhos gerais: O domínio dos deuses, dos semideuses, dos heróis e dos homens mortais. Combinando os semideuses e os heróis numa única classe, Bunsem reduz os períodos a três: Os deuses regentes, os semideuses ou heróis – filhos de deuses, mas nascidos de mães mortais – e os manes, que foram os ancestrais das tribos humanas. Essas subdivisões, como todos podem perceber, correspondem perfeitamente aos Elohim bíblicos, filhos de Deus, gigantes e homens noéticos mortais.
Diodorus de Sicília e Berosus dão-nos os nomes dos doze grandes deuses que governam os doze meses do ano e os doze significados do zodíaco. Esses nomes, que incluem Nuah, são por demais conhecidos para merecerem um repetição. O Jano de duas faces estava também à testa dos doze deuses, e nas figuras que o representam ele segura as chaves dos domínios celestes. Depois de todos esses terem servido como modelos para os patriarcas bíblicos, ainda prestaram um outro serviço – especialmente Jano – ao fornecerem uma cópia a São Pedro e aos seus doze apóstolos, o primeiro do qual também tinha duas faces em sua negação, e igualmente era representado segurando as chaves do Paraíso.
OS PATRIARCAS DA BÍBLIA.
A afirmação de que a história de Noé não passa de uma outra versão, em seu sentido oculto, da história de Adão e seus três filhos, pode ser comprovada em todas as páginas do livro Gênese Adão é o protótipo de Noé. Adão cai porque come o fruto proibido do conhecimento celeste; Noé porque experimenta o fruto terrestre, representando o suco da uva o abuso do conhecimento numa mente não equilibrada, Adão é privado de seu envoltório espiritual; Noé, de suas vestes terrestres; e a nudez de ambos os faz sentirem-se envergonhados. A iniqüidade de Caim é repetida por Cam. Mas os descendentes de ambos são mostrados como sendo os mais sábios das raças da Terra, e recebem por essa razão os nomes de “serpentes” e “filhos de serpente”, o que significa filhos da sabedoria, e não de Satã, como alguns sacerdotes gostariam de entender a palavra. A inimizade entre a “serpente” e a “mulher” só foi estabelecida na medida em que este “mundo do homem” mortal e fenomênico “nasceu da mulher”. Antes da queda carnal, a “serpente” era Ophis, a sabedoria divina, que não precisa de matéria para procriar os homens, sendo a Humanidade totalmente espiritual. Daí a guerra entre a serpente e a mulher, ou entre o espírito e a matéria. Se, em aspeto material, a “velha serpente” é matéria, e representa Ophiomorphos, em seu sentido espiritual ela se torna Ophis-Christos. Na magia dos antigos sírios-caldeus, ambos estão reunidos no signo zodiacal do andrógino de Virgo-Scorpio, e podem ser devididos ou separados sempre que necessário. Assim como a origem do “bem e do mal”, o sentido dos S.S. e Z.Z. sempre foi intercambiável, e se em algumas ocasiões os S.S. sobre os selos e os talismã sugerem a má influencia serpentina e denotam um desígnio de magia negra para com os outros, noutras ocasiões eles podem ser encontrados sobre as taças sacramentais da Igreja e indicam a presença do Espírito Santo ou da sabedoria pura.
Os madianitas eram tidos como homens sábios, ou filhos de serpentes, assim como os cananitas e os camitas, e tal era o seu renome que vemos Moisés, o profeta, guiado e inspirado pelo “Senhor”, curvando-se diante de Hobab, o filho de Raguel, o madianita, e implorando-lhe para ficar com o povo de Israel; “Não nos abandones, eu te peço, pois conheces os lugares onde devemos acampar NO DESERTO, e tu serás os nossos olhos”. Além disso, quando Moisés envia espiões para explorar a terra de Canaã, eles trazem como uma prova da sabedoria (cabalisticamente falando) e da excelência da terra um ramo com um cacho de uvas, cujo peso tornou necessário que dois homens o transportassem pendente de um vara. Além disso, acreditam: “Lá, vimos os filhos de ANAC”. Estes são os gigantes, os filhos de Anac, “que são descendentes dos gigantes, e tinham a impressão de sermos gafanhoto diante deles e assim também lhes parecíamos”.
Anace é Henoc, o patriarca, que não morre, e que é o primeiro possuidor do “nome mirífico”, segundo a Cabala e o ritual da franco-maçonaria.
Comparando os patriarcas bíblicos com os descendentes de Vaisvasvata, o Noé hindu, e as antigas tradições sânscristas sobre o dilúvio, no Mahâbhârata bramânico, descobrimo-los espelhados nos patriarcas védicos que são os tipos primitivos com base nos quais todos os outros foram modelados. Mas antes de fazer a comparação, é preciso compreender os mitos hindus em seu verdadeiro significado. Cada uma dessas personagens míticas tem, além de um significado astronômico, um sentido espiritual ou moral, e antropológico ou físico. Os patriarcas não são apenas deuses evemerizados – os pré-diluvianos correspondendo aos grandes doze deuses de Berosus, e aos dez Prajâpatis, e, os pós-diluvianos, aos sete deuses da famosa tábua da Biblioteca de Nínive, – mas representam também os eões gregos, as Sephiroth cabalísticas, e os signos zodiacais, enquanto tipos de raças humanas. Explicaremos agora essa variação do dez ao doze, provando-a com a própria autoridade da Bíblia. Eles não são os primeiros deuses descritos por Cícero, que pertencem à hierarquia dos poderes superiores, os Elohim – mas se enfileiram antes na segunda classe dos “doze deuses”, os Dii minores, e que são os reflexos terrestres dos primeiros, entre os quais Heródoto coloca Hércules. Mas, por causa do grupo dos doze, Noé graças à sua posição no ponto de transição, pertence à Tríade babilônica superior, Nuah, o espírito das águas. Os demais são idênticos aos deuses inferiores da Assíria e da Babilônia, os quais representam a ordem inferior de emanações, que, sob a direção de Bel, o Demiurgo, o ajudavam em sua obra, tal como os patriarcas que assistiam a Jeová – o “Senhor Deus”.
Além desses, muitos dos quais eram deuses locais, as divindades protetoras dos rios e das cidades, havia quatro classes de genii. Ezequiel, em sua visão, fá-los amparar o trono de Jeová. Esse fato, se identifica o “Senhor Deus” judeu com um dos deuses da trindade babilônica, relaciona, ao mesmo tempo, o atual Deus cristão com a mesma Tríade, visto que são esses quatro querubins, se o leitor estiver lembrado, que Irineu faz Jesus cavalgar, e que são mostrados como os companheiros dos evangelistas.
Percebe-se com grade clareza a influência cabalística hindu sobre o livro de Ezequiel e sobre o Apocalipse na descrição das quatro bestas, que simbolizam os quatro reinos elementares – terra, ar, fogo, e água. Como é sabido, elas são as esfinges assírias, mas essas figuras também estão gravadas nas paredes de quase todos os pagodes hindus. O autor do Apocalipse copia fielmente em seu texto (ver cap. IV, vers. 7) o pentagrama de Pitágoras, do qual o admirável esboço de Éliphas Lévi é reproduzido adiante.
Adeusa Indu Ardhanârî (ou, como se poderia grafar com mais propriedade, Ardhonârî, visto que o segundo a é pronunciado quase como o inglês o) é representada tendo à sua volta as mesmas figuras. Elas se assemelha exatamente à “roda do Adonai” de Ezequiel, conhecida como “Os Querubins de Ezequiel”, que indica, sem nenhuma dúvida, a fonte de onde o profeta hebreu tirou suas alegorias. Por conveniência da comparação, colocamos a figura no pentagrama. * ( ARDHA-NÂRÎ (Sânc.) – Literalmente: “meio mulher”. Shiva representado como andrógino, metade macho e metade fêmea; um tipo de energias masculinas e femininas combinada.)
Acima dessas feras estão os anjos ou espíritos, divididos em dois grupos: os Igili, ou seres celestiais, e os Am-anaki, ou espíritos terrestres, os gigantes, filhos de Anac, de quem se queixaram os espiões a Moisés.
A Kabbala Denudata dá aos cabalistas um relato muito claro – embora confuso aos profanos – das permutações ou substituições de uma pessoa a outra. Assim, por exemplo, diz que “as centelhas” (a centelha ou alma espiritual) de Abarão foram tomadas de Miguel, o chefe dos Eões e emanações superior da Divindade – tão superior de fato que, aos olhos dos gnósticos, Miguel é idêntico a Cristo. E no entanto Miguel e Henoc são a mesma pessoa. Ambos ocupam o ponto de junção da cruz do Zodíaco como “homem”. A centelha de Issac era a de Gabriel, o chefe da hoste angélica, e a centelha de Jacó foi tomada de Uriel, o chamado “fogo de Deus”, o espírito de penetração mais aguda em todo o Céu. Adão não é o Cadmo, mas Adão Primus, o Microprosopos (Palavra grega, significa a “Face Menor”.). Num de seus aspectos, ele é Enoque, o patriarca terrestre e pai de Mathusalém. Ele que “caminha com Deus” e “não morreu”, é o Henoc espiritual, que simboliza a Humanidade, eterna em espírito e eterna na carne, embora esta morra. Morte, mas apenas como um novo nascimento, pois o espírito é imortal; portanto, a Humanidade não pode morrer, já que o Destruidor se tornou o Criador, sendo Henoc o símbolo do homem dual, espiritual e terrestre. Daí seu lugar no centro da cruz astronômica.
Mas foram os hebreus o criadores dessa idéia? Acreditamos que não. Toda nação que possuía um sistema astronômico, e especialmente a Índia, tinha pela cruz a mais alta reverência, pois ela era a base geométrica do simbolismo religioso dos seus avatâras; da manifestação da Divindade, ou do Criador, em sua criatura, o HOMEM; de Deus na Humanidade e da Humanidade em Deus, como espíritos. Os monumentos mais antigos da Caldéia, da Pérsia e da Índia exibem a cruz dupla ou de oito pontos. Esse símbolo, que se encontra com facilidade, como todas as outras figuras geométricas da natureza, tanto nas plantas quanto nos flocos de neve, levou o Dr. Lundy, em seu misticismo supercristão, a chamar essas flores cruciformes que formam uma estrela de oito pontas pela junção das duas cruzes de – “Estrela Profética da Encarnação, que une céu e terra, Deus e homem”. Tal frase está muito bem expressa; mas o velho axioma cabalístico, “Em cima, como embaixo”, seria mais apropriado, pois revela o mesmo Deus para toda a Humanidade, e não apenas para um punhado de cristãos. Trata-se da cruz Cósmica do Céu, reproduzida na Terra pelas plantas e pelo homem dual: o homem físico que suplanta o “espiritual” no ponto de junção do qual está o mítico Libra-Hermes-Enoch. O gesto de uma mão que aponta para o Céu é contrabalançado pelo de outra que aponta para a terra; gerações incontáveis abaixo, regenerações incontáveis acima; o visível apenas como manifestação do invisível; o homem de pó abandonado ao pó, o homem de espírito renascido no espírito; tal é a humanidade finita que é o Filho do Deus Infinito. Abba, o Pai; Amona, a Mãe; o Filho, o Universo. Essa Tríada primitiva se repete em todas as teogonias. Adão-Cadmo, Hermes, Henoc, Osíris, Krishna, Ormasde ou Christos são todos uma mesma personalidade. Eles ficam como Metatrons entre o corpos e a alma – espíritos eternos que redimem a carne pela regeneração da carne abaixo, e da alma pela regeneração acima, em que a Humanidade caminha uma vez mais com Deus.
O símbolo da cruz ou do Tao egípcio (Símbolo antigo da imortalidade e da vida), é muito anterior à época atribuída a Abarão, o pretenso antepassado dos israelitas, pois, do contrário, Moisés não poderia tê-lo aprendido dos sacerdotes. E que o Tao era tido como sagrado pelos judeus, assim como por outras nações “pagãs”, prova-o um fato admitido tanto pelos sacerdotes cristãos como pelos arqueólogos infiéis. Moisés, em Êxodos, XII, 22, ordena a seu povo que marque as ombreiras e os lintéis das casas com sangue, para que o “Senhor Deus” não se engane e castigue alguns do povo eleito, no lugar dos condenados egípcios. E essa marca é um Tao! A mesma cruz manual egípcia, com a metade de cujo talismã Hórus desperta os mortos, tal como vê na ruína de uma escultura em Dendera. Quão gratuita é a idéia de que todas essas cruzes e símbolos foram proferidos inconsciente de Cristo, prova-o plenamente o caso dos judeus graças a cuja acusação Jesus foi condenado à morte. Assinala, por exemplo, o mesmo erudito autor em Monumental Cheistianity que “os próprios judeus conheciam esse signo de salvação antes de rejeitarem ao Cristo”; e em outro lugar afirma que “a vara de Moisés, utilizada em seus milagres diante do Faraó, era, sem dúvida, essa crux ansata, ou algo semelhante, empregada também pelos sacerdotes egípcios”. Portanto, cabe inferir logicamente que 1a., se os judeus cultuavam os mesmos símbolos que os pagãos, não eram melhores do que estes; e 2a., que, tão versados como eram no simbolismo oculto da cruz, em face de sua espera por séculos do Messias, eles no entanto rejeitaram tanto o Messias cristão, quanto a Cruz cristã, então deve ter havido algo de errado com ambos.
Aqueles que “rejeitam” a Jesus como “Filho de Deus” não eram pessoas que ignoravam os símbolos religiosos, nem os poucos saduceus ateístas que o condenaram à morte, mas sim, homens instruídos na sabedoria secreta, que conheciam tanto a origem quanto o sentido do símbolismo cruciforme, e que rejeitaram tanto o emblema cristão quanto o Salvador nele suspenso, porque não queriam ser partidários dessa blasfema imposição sobre o povo comum.
Quase todas as profecias sobre Cristo são creditadas aos patriarcas e aos profetas. Se uns poucos destes últimos podem ter existido como personagens reais, todos os primeiros não passam de mito. Tentaremos prova-lo por meio da interpretação oculta do Zodíaco, e da relação de seus signos com esses homens antediluvianos.
Se o leitor tiver em mente as idéias hindus sobre a cosmogonia, dadas no Capítulo IV (do Livro Ísis Sem Véu, volume III), melhor compreenderá a relação entre os patriarcas bíblicos antediluvianos e esse enigma dos comentadores – “a roda de Ezequiel”. Assim, recorda-se: 1a., que o universo não é uma criação espontânea, mas uma evolução da matéria preexistente; 2a., que ele não é senão uma dentre as infinitas séries de universos; 3a., que a eternidade é recortada em grandes ciclos, em cada um dos quais ocorrem doze transformações de nosso mundo, causadas alternadamente pelo fogo e pela água. De sorte que quando um novo período menor se inicia, a Terra se modifica de tal forma, mesmo geologicamente, que quase se transforma praticamente num novo mundo; 4a., que no curso dessas doze transformações, a Terra se torna mais grosseira a cada passagem das seis primeiras, ficando tudo que há sobre ela – o homem inclusive – mais material, ao passo que nas seis últimas transformações ocorre o contrário, tornando-se tanto a Terra, como o homem, cada vez mais refinados e espirituais a cada mudança; 5a., que quando o ápice do ciclo é atingido, ocorre uma dissolução gradual, e toda forma viva e objetiva é destruída. Mas quando esse ponto é alcançado, a Humanidade está apta a viver tanto subjetivamente, como objetivamente. E não só a Humanidade, mas também os animais, as plantas e os átomos. Após um período de descanso, dizem os budistas, por ocasião da autoformação de um novo mundo, as almas dos animais, e de todos os seres, exceto os que alcançaram o Nirvana supremo, retornarão à Terra novamente para concluir seus ciclos de transformação, e converter-se, por sua vez em homens.
Essa estupenda concepção, os antigos a sintetizaram para a instrução do povo comum, num simples plano pictórico – o Zodíaco, ou cinto celeste. Ao invés dos doze signos agora utilizados, havia originalmente apenas dez, conhecidos do público em geral, a saber: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem-Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Estes signos eram exotéricos. Mas além desses havia dois signos místicos, inseridos, o que só os iniciados sabiam, no meio ou no ponto de junção em que agora está Libra, e no signo agora chamado Escorpião, que segue a Virgem. Quando era necessário torná-los exotéricos, esses dois signos secretos eram acrescidos sob seus nomes atuais como véus para ocultar os verdadeiros nomes que davam a chave de todo o segredo da criação e divulgava a origem do “bem e do mal”.
A verdadeira doutrina astrológica sabéia ensinava secretamente que nesse duplo signo estava a explicação da gradual transformação do mundo, de seu estado espiritual e subjetivo para o estado “bissexuado” e sublunar. Os doze signos eram dessa forma divididos em dois grupos. Os seis primeiros chamavam-se de linha ascendente, ou linha do macrocosmo (o grande mundo espiritual); os seis últimos, de linha descendente, ou linha do microcosmo (o pequeno mundo secundário) – mero reflexo do primeiro, por assim dizer. Essa divisão chamava-se de roda de Ezequiel, e era completa da seguinte maneira: Primeiro vinham os cinco signos ascendentes (evemerizados nos patriarcas), Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, e o grupo se fechava com Virgem-Escorpião. Vinha então o ponto crucial, Libra, após o que a primeira metade do signo Virgem-Escorpião era duplicada e transferida para liderar o grupo inferior ou descendente do microcosmo que termina em Peixe, ou Noé (dilúvio). Para torna-lo mais claro, o signo de Virgem-Escorpião, que aparecia originalmente como, tornou-se simplesmente Virgem, e a duplicação, M, ou Escorpião, foi colocada depois de Libra, o sétimo signo (que é Henoc, ou anjo de Metron, ou Mediador entre o espírito e a matéria, ou Deus e homem). Ela se tornou Escorpião (ou Caim), signo ou patriarca que levou a Humanidade à destruição, segundo a teologia exotérica; mas, de acordo com a verdadeira doutrina da religião da sabedoria, ele indicou a degradação de todo o universo em seu curso de evolução descendente do subjetivo ao objetivo.
A invenção do signo de Libra é acreditada aos gregos, mas não se diz geralmente que foram apenas os iniciados dentre eles que fizeram uma alteração nos nomes comunicando a idéia e o nome secreto àquele “que sabiam”, e deixando as massas em sua habitual ignorância. Não obstante, foi essa uma bela idéia, a e Libra, ou balança, que expressa, na medida do possível, sem desvenda-lo, a verdade total e última. Eles pretendiam com esse signo indicar que, quando o curso da evolução havia levado os mundos ao ponto máximo de materialidade, em que as terras e os seus frutos era mais toscos, e seus habitantes mais brutos, o ponto crucial havia sido alcançado – as forças estavam em equilíbrio. No ponto mais baixo, a centelha divina ainda cintilante do espírito começa a transferir o impulso ascendente. Os pratos da balança simbolizam esse equilíbrio eterno necessário a um universo de harmonia, de justiça exata, de equilíbrio entre as forças centrípetas e centrífugas, entre trevas e luz, espírito e matéria.
AS LENDAS BÍBLICAS REFEREM-SE À HISTÓRIA UNIVERSAL.
Esses signos adicionais do Zodíaco corroboram a nossa afirmação de que o Livro Gênese tal como agora o temos é muito posterior à invenção de Libra pelos gregos, pois observamos que os capítulos das genealogias foram remodelados para se adaptarem ao novo Zodíaco, e não o contrário. E foi esse acréscimo e a necessidade de ocultar a verdadeira chave que levou os compiladores rabínicos a repetirem os nomes de Henoc e de Lamech por duas vezes, como podemos agora observar na tábua quenita. Dentre todos os livros da Bíblia, apenas Gênese remonta a uma imensa antigüidade. Os demais são adições posteriores, a mais antiga das quais surgiu com Hilkiah, evidentemente a planejou com o auxílio de Huldah, a profetiza.
Como há mais de um sentido vinculado às histórias da criação e do dilúvio, não é possível compreender o relato bíblico sem a referência à história babilônica correspondente, ao passo que nenhuma delas será totalmente clara sem a interpretação bramânica e esotérica do dilúvio, tal como se encontra no Mahâbhârata e no Satapatha-Brâhmana. Foram os babilônicos que aprenderam os “mistérios”, a língua sacerdotal e a sua religião dos problemáticos acadianos, que, segundo Rawlinson, vieram da Armêmia – mas não foram os primeiros a migrar para a Índia. A evidência torna-se clara aqui. O Xisuthros babilônico, segundo mostra Movers, representava o “sol” no Zodíaco, no signo de Aquário, e Oannes, o homem-peixe, o semidemônio, é Vishnu em seu primeiro avatâra, o que dá assim a chave para a fonte dupla da revelação bíblica.
Oannes é o emblema da sabedoria esotérica e sacerdotal; ele vem do mar, visto que o “grande abismo”, a água, simboliza, como há mostramos, a doutrina secreta. Foi por essa mesma razão que os egípcios deificaram o Nilo, à parte de o considerarem como o “Salvador” do país, devido às suas periódicas enchentes. Eles consideravam até mesmo os crocodilos como sagrados, por habitarem eles no “abismo”. Os chamados “camitas” sempre preferiram ter as suas moradas perto dos rios e dos oceanos. A água foi o primeiro elemento a ser criado, de acordo com algumas antigas cosmogonias. O nome de Oannes era grandemente reverenciados nos relatos caldeus. Os sacerdotes caldeus trajavam chapéus semelhantes a cabeças de peixes, e capas de pele de savelha que representavam o corpo de um peixe.
“Tales”, diz Cícero, “assegura-nos que a água é princípio de todas as coisas; e que Deus é essa Mente que formou e criou todas as coisas da água.”
“No Início, o Espírito anima Céu e Terra,
Os campos aquáticos, e o brilhante globo de Luna, e
As estrelas de Titã. A mente instilada nos membros
Agita toda a massa, e se funde com a GRANDE MATÉRIA.”
Assim, a água representa a dualidade do macrocosmo e do microcosmo, em conjunto com o ESPÍRITO vivificante, e a evolução a partir do cosmo universal do pequeno mundo. O dilúvio assinala, portanto, nesse sentido, a batalha final entre os elementos em conflito, que leva o primeiro grande ciclo de nosso planeta à sua conclusão. Essas períodos fundiram-se gradualmente uns nos outros, com a ordem provindo do caos, a desordem, e os tipos subseqüentes de organismo evoluindo apenas quando as condições físicas da natureza estavam preparadas para o seu aparecimento, pois a nossa atual raça não poderia ter respirado na terra durante esse período intermediário, não tendo ainda as alegóricas túnicas de pele. (O termo “túnicas de pele” torna-se mais sugestivo quando sabemos que a palavra hebraica “pele” utilizada no texto original significa pele humana).
Nos capítulos IV e V do Gênese encontramos as chamadas gerações de Caim e Seth. Observemo-las na ordem em que figuram:
Linhas de Gerações
De Seth De Cain
Princípio do bem Princípio do mal
1. Adão 1. Adão
2. Seth 2. Caim
3. Enós 3. Henoc
4. Cainã 4. Irad
5. Mahalalil 5. Mehujael
6. Jared 6. Mathusael
7. Henoc 7. Lamech
8. Mathuslém 8. Jubal
9. Lamech 9. Jabal
10. Noé 10. Tabalcain
Tais são os dez patriarcas da Bíblia, idênticos aos parjâpatis hindus, e às Sephiroth da Cabala. Dizemos dez patriarcas, não vinte, pois a linhagem de Caim foi urgida apenas no propósito de 1a., pôr em prática a idéia do dualismo, sobre a qual se funda a filosofia de todas as religiões, pois essas duas tabelas geneológicas representam simplesmente os poderes ou princípios opostos do bem e do mal; e 2a., lançar um véu sobre as massas não iniciadas. Acreditamos tê-las restaurado à sua forma primitiva, afastando esses véus premeditados.
Se nos livrarmos, por conseguinte, dos nomes da linhagem de Caim que são apenas duplicações dos da linhagem de Seth, ou de qualquer outra, livramo-nos de Adão; de Henoc – que, numa genealogia, figura como pai de Irad, e, na outra, como filho de Jared; de Lemech, filho Metusael, ao passo que ele, Lamech, é filho de Mathusalém, na linhagem de Seth; de Irad (Jered), Jubal e Jabal, que, com Tibalcain, formam um trindade em um, e esse um, o duplo de Caim; de Mehujael (que não é senão outra grafia de Mahalalil), e Metusael (Mathusalém). Resta assim, na genealogia de Caim do capítulo IV, apenas um nome, o de Caim, que – como primeiro assassino e fratricida – permanece em sua linhagem como pai de Henoc, o mais virtuoso dos homens, que não morre e é levado com vida. Voltamos à tábua de Seth, e descobrimos que Enós, ou Henoc, é o segundo depois de Adão, e pai de Caim (Cainam). Isto não é um acidente. Há uma razão evidente para essa inversão de paternidade, um desígnio palpável – o de criar confusão e dificultar a investigação.
Dizemos, portanto, que os patriarcas são simplesmente os signos do Zodíaco, emblemas, em seus múltiplos aspectos, da evolução espiritual e física das raças humanas, das era e das divisões do tempo. Na astrologia, as primeiras quartas “Casas”, nos diagramas das “Doze Casas do Céu” – a saber, a primeira, a décima, a sétima e a quarta, ou o segundo quadrante interno com seus ângulos superiores e inferiores, chamam-se ângulos, por estarem dotados de grande força. Eles correspondem a Adão, Noé, Cain-am, e Henoc, Alfa, Ômega, mal e bem, que governam o todo. Além disso, quando divididos ( incluindo os dois nomes secretos) em quatro trígonos ou tríadas, a saber: a ígnea, a aérea, a terrestre e a aquática, encontramos que a última corresponde a Noé.
Enoch e Lamech são duplicados na tábua de Caim para perfazer o número dez nas duas “gerações” da Bíblia, sem o emprego do “Nome Secreto”; e para que os patriarcas correspondem às dez Sephîrôth cabalísticas, quadrando-se ao mesmo tempo com os dez, e posteriormente doze, signos do Zodíaco, de modo compreensível apenas aos cabalistas.
Tendo Abel desaparecido dessa linhagem, ele é substituído por Seth, que foi claramente uma idéia posterior sugerida pela necessidade de não fazer a raça humana descender inteiramente de um assassino. Esse dilema só foi percebido, ao que parece, quando a tabela de Caim estava completa, e assim se fez que Adão (depois do aparecimento de todas as gerações) gerasse esse filho, Seth. É sugestivo o fato de que, ao passo que o Adão bissexuado do capítulo V é feito à imagem e semelhança dos Elohim (ver Gênese, I, 27, e V, 1), Seth (V, 3) é gerado à “semelhança” de Adão, significando assim que havia homens de raças diferentes. É notável também que nenhum dado figure, na tabela de Caim, relativo à época ou a outros detalhes dos patriarcas, ao passo que o contrário é verdadeiro nas linhagens de Seth.
É claro que ninguém deveria descobrir, numa obra aberta ao público, os mistérios finais daquilo que foi preservado por incontáveis séculos como o maior segredo do santuário. Mas, sem divulgar a chave ao profano, ou sem ser tachado de indevida indiscrição, pode muito bem o autor erguer uma ponta do véu que oculta as majestosas doutrinas da Antigüidade. Descrevemos então os patriarcas tais como deveriam estar em sua relação com o Zodíaco, e observaremos a sua correspondência com os signos. O seguinte diagrama representa a Roda de Ezequiel, conforme é dada em muitas obras, entre outras em The Rosicrucians, de
Hargrave Jenning:
A figura representa a Roda de Ezequiel (EXOTÉRICA).
Esses signos são (acompanhe os números):
1, Áires; 2, Touro; 3, Gêmeos, 4. Câncer; 5, Leão; 6, Virgem; ou linha ascendente do grande ciclo de criação. Vêm, em seguida, 7, Libra – o “homem”, que, embora se ache exatamente no ponto de interseção, conduz aos números 8, Escorpião; 9, Sagitário; 10, Capricórnio; 11, Aquário; e 12, Peixes.
Ao discutir os signos duplos de Virgem-Escorpião, observa Hargrave Jennings:
“Tudo isso é incompreensível, exceto no estranho misticismo dos gnósticos e dos cabalistas; e toda a teoria requer uma chave de explicação que a torne inteligível , mas os ocultista negam absolutamente a existência de tal chave, visto que não lhes é permitido divulgá-la”.
Essa dita chave deve ser girada sete vezes antes que todo o sistema possa ser divulgado. Dar-lhe-emos apenas um giro, e dessa forma permitiremos ao profano um relance no mistério. Feliz aquele que puder compreendê-lo todo!
A figura representa a Roda de Ezequiel (ESOTÉRICA).
Para explicar a presença de Yod-‘heva, ou do que é geralmente chamado de Tetragrama, e de Adão e Eva, bastará remeter o leitor aos seguintes versos do Gênese, com o seu sentido correto inserido nos colchetes.
1. “E Deus [os Elohim] criou o homem à sua [deles] imagem (…) macho e fêmea os [o] criou” – (cap. I, 27).
2. “Macho e fêmea os [o] criou (…) e deu-lhes [lhe] o nome de ADÃO” – (V, 2).
Quando a Trindade é tomada no início do Tetragrama, ela expressa a criação divina espiritual, i. e., sem qualquer pecado carnal: tomada em seu termo oposto, ela expressa a esse último; é feminina. O nome de Eva compõe-se de três letras, o do Adão primitivo ou celestial é escrito com uma única letra, Jod ou Yode; por conseguinte, não se deve ler Jeová, mas Ieva, ou Eva. O Adão do primeiro capítulo é espiritual, portanto puro, andrógino, Adão-Cadmo. Quando a mulher sai da costela esquerda do segundo Adão (do pó), a Virgem pura se separa, e, caindo “na geração”, ou no ciclo inferior, torna-se Escorpião, emblema do pecado e da matéria. Ao passo que o ciclo ascendente assinala as raças puramente espirituais, ou os dez patriarcas antediluvianos, os Prajâpatis e a
Sephîrôth são conduzidos pela própria Divindade criadora, que é Adão-Cadmo, ou Yod-‘heva. [Espiritualmente], o inferior [Jeova] é o das raças terrestres, conduzidas por Enoque ou Libra, o sétimo, que, por ser metade divino, metade terrestre, teria sido tomado com vida por Deus. Enoque, Hermes e Libra são uma mesma coisa. Todos representam as escalas da harmonia universal; a justiça e o equilíbrio estão colocados no ponto central do Zodíaco. O grande círculo dos céus, de que tão bem fala Platão no Timeu, simboliza o desconhecido como uma unidade; e os círculos menores que formam a cruz, por sua divisão no plano do anel zodiacal, representam, no ponto de sua interseção, a vida. As forças centrípetas e centrífugas, como símbolos do Bem e do Mal, do Espírito e da Matéria, da Vida e da Morte, o são também do Criador e do Destruidor – Adão e Eva, ou Deus e o Demônio. Nos mundos subjetivos, assim como no objetivo, elas são as duas forças que através de seu eterno conflito mantêm o espírito e a matéria em harmonia. Elas forçam os planetas a buscar seus caminhos, e os mantêm em suas órbitas elípticas, traçando assim a cruz astronômica em sua revolução através do Zodíaco. Em seu conflito, a força centrípeta, se prevalecesse, dirigiria os planetas e as almas vivas ao sol, protótipo do Sol Espiritual invisível, o Paramâtman ou grande Alma universal, seu pai, ao passo que a força centrífuga enxotaria os planetas e as almas para o espaço árido, muito longe do luminar do universo objetivo, fora do reino espiritual da salvação e da vida eterna, e para o caos da destruição cósmica final, e da aniquilação individual. Ela regula a ação das duas combatentes, e o esforço de ambas faz os planetas e as “almas vivas” traçarem um dupla linha diagonal em sua revolução através do Zodíaco e da Vida; e assim, preservando a rigorosa harmonia, no céu e na Terra visíveis e invisíveis, a forçada unidade de ambas reconcilia o espírito e a matéria, e Henoc permanece como um “Metratron” diante de Deus. Desde Henoc até Noé e seus três filhos, cada um representa um novo “mundo” (i.e., nossa Terra, a sétima) que após cada período de transformação geológica dá nascimento á outra raça distinta de homens e seres. Caim conduz a linha ascendente, ou Macrocosmo, pois ele é o Filho do “Senhor”, não de Adão (Gênese, VI, 1). O “Senhor” é Adão-Cadmo, Caim, o Filho de mente pecadora, não a progênie de carne e sangue. Seth, por outro lado, é o guia das raças da Terra, pois ele é o Filho de Adão, e gerado “à sua imagem e semelhança” (Gênese, V, 3). Caim é Kenu, assírio, palavra que significa “primôgenito”, ao passo que a palavra em hebraico, indica “ferreiro”, um “artífice”.
Nossa ciência mostra que o globo passou por cinco fases geológicas distintas, cada qual caracterizada por um estado diferente, e estas são na ordem inversa, a começar do último: 1a., o período Quaternário, em que o homem aparece como uma certeza; 2a. o período Terciário, no qual o homem pode ter aparecido; 3a., o período Secundário, o dos sáurios gigantes, os megalossauros, os ictiossauros e os plessiossauros – sem nenhum vestígio do homem; 4a. o período Paleozóico, o dos crustáceos gigantes; 5a. (ou primeiro): o período Azóico, durante o qual a vida orgânica ainda não havia aparecido.
E não há a possibilidade de ter havido um período (ou vários períodos) em que o homem existia, mas não como ser orgânico – não deixando por conseguinte nenhum vestígio para a ciência exata? O espírito não deixa esqueletos ou fosseis, e, no entanto, pouco são os homens na Terra que duvidam de que o homem possa viver tanto objetiva como subjetivamente. Para todos os efeitos, a teologia dos brâmanes, de venerável antigüidade, que divide os períodos formadores da terra em quatro eras e coloca, entre cada um deles, um lapso de 1.728.000 anos, harmoniza-se muito mais com a ciência oficial e as descobertas modernas do que as absurdas noções cronológicas promulgadas pelos Concílios de Nicéia (Ano de 325.) e Treto (Anos de 1545 a 1563.).
Os nomes dos patriarcas não eram hebraicos, embora eles possam ter sido hebraizados mais tarde; são evidentemente de origem assíria ou ária.
Assim, Adão, por exemplo, conforme explica a Cabala, é um termo conversível, e aplica-se a quase todo os outros patriarcas, assim como cada uma das Sephîrôth às demais, e vice-versa. Adão, Caim e Abel formam a primeira Tríada dos doze. Eles correspondem, na árvore sephirótica, à Coroa, à Sabedoria e à Inteligência ; e na astrologia, aos três trígonos – o ígneo, o terrestre e o aéreo, fato esse que, se dispuséssemos de mais espaço para elucidá-lo, mostraria talvez que a astrologia merece tanto o nome de ciência como qualquer outra. Adão (Cadmo) ou Áries (carneiro) é idêntico a Amun, o deus egípcio de cabeça de carneiro, que fabrica o homem na roda de oleiro. Sua duplicação, por conseguinte – ou o Adão de pó – é também Áries, Amon, quando permanece à testa de suas gerações, pois ele fabrica mortais também “à sua semelhança”. Na astrologia, o planeta Júpter está relacionado com a “primeira casa” (Áries). A cor de Júpter, tal como se vê nos “estágios das sete esferas”, na torre de Borsippa, ou Birs Numrud, era vermelha; e no hebraico Adão, significa “vermelho”, assim como “homem”. O deus hindu Agni, que governa o signo de Peixes, próximo do de Áries, em sua relação com os doze meses (fevereiro e março), é pintado com um intenso vermelho, com duas faces (masculina e feminina), três pernas, e sete braços, perfazendo o todo o número doze. Assim, Noé (Peixes), que aparece nas genealogias como o décimo segundo patriarca, incluindo Caim e Abel, é novamente Adão sob outro nome, pois ele é o ancestral de uma nova raça da Humanidade; e os seus três filhos, um mau, um bom e um que partilha de ambas as qualidades, constituem o reflexo terrestre do superterrestre Adão e de seus três filhos. Agni figura nas imagens montado num carneiro, com uma tiara encimada por uma cruz.
Caim, que governa o Touro do Zodíaco, é também muito sugestivo. Touro pertence ao trígono terrestre, e a propósito desse signo não será demais lembrar ao leitor uma alegoria do Avesta persa. Reza a história que Ormasde produziu um ser fonte e protótipo de todos os seres do universo – chamado VIDA, ou Touro no Zend. Ahriman (Caim) mata esse ser (Abel), da semente do qual (Seth) novos seres são produzidos. Abel, no assírio, significa filho, mas em hebraico, significa algo efêmero, sem valor, e também um “ídolo pagão”, pois Caim significa uma estátua de herma (um pilar, o símbolo da geração). Assim também, Abel é a contraparte feminina de Caim (masculino), pois eles são gêmeos e provavelmente andróginos, correspondendo o último à Sabedoria e o primeiro à Inteligência.
Ocorre o mesmo com todos os outros patriarcas. Enosh, é Homo novamente – um homem, ou o mesmo Adão, e Enoque, no acordo; e Kain-an, é idêntico a Caim. Seth, é Teth, ou Thorth, ou Hermes; e essa é a razão, sem dúvida, por que Josefo afirma que Seth era tão proficiente em astrologia, geometria e outras ciências ocultas. Antevendo o dilúvio, diz ele, ele gravou os princípios fundamentais de sua arte em dois pilares de tijolo e pedra, o mais recente dos quais “ele próprio [Josefo] viu na Síria em seu tempo”. Por isso, está Seth identificado também com Enoque, a quem os cabalistas e os maçons atribuem o mesmo feito, e ao mesmo tempo com Hermes, ou Cadmo, pois Enoque, é idêntico ao primeiro; He-NOCH, significa um mestre, um indicador, ou um iniciado; na mitologia grega, Inachus. Já vimos o papel que ele exerce no Zodíaco.
Mahalalel, se dividirmos a palavra e escrevermos ma-ha-lah, significa terno, misericordioso, e corresponde, por conseguinte, à quarta Sephirah, Amor ou Misericórdia, emanada da primeira tríada. Irad, ou Iared, é (menos as vogais) exatamente a mesma coisa. Se deriva do verso, significa descida; se de arad, significa prole, e corresponde assim perfeitamente às emanações cabalísticas.
Lamech, não é hebraico, mas grego. Lam-ach significa Lam – o pai -, e Olam-Ach é o pai da era; ou o pai daquele (Noé) que inaugura uma nova era ou período de criação após o pralaya do dilúvio, sendo Noé o símbolo de um novo mundo, o Reino (Malkhuth) das Sephiroth; é por isso que seu pai, que corresponde à nona Sephîrôth, é a Fundação. Além disso, o pai e seu filho correspondem a Aquário e Peixes no Zodíaco, pertencendo o primeiro ao trígono aéreo e o segundo, ao aquático, e fechando dessa forma a lista dos mitos bíblicos.
Mas se cada patriarca representa, como já vimos, num sentido, como cada um dos Prajâpatis, uma nova raça de seres humanos ante-diluvianos; e se, como se pode provar facilmente, eles são as cópias dos Saros, ou eras, babilônicos, sendo estes, por sua vez, cópias das dez dinastiashindus dos “Senhores dos Seres”, como quer que os consederemos, eles figuram entre as alegorias mais profundas jamais concebidas pelos espíritos filosóficos.
No Nychthêmeron, a evolução do universo e os seus sucessivos períodos de formação, juntamente com o desenvolvimento gradual das raças humanas, são ilustrados com perfeição nas doze “horas” em que se divide a alegoria. Cada “hora” simboliza a evolução de um novo homem, e é por sua vez dividida em quatro quartos ou eras. Essa obra mostra quão profundamente imbuída estava a filosofia antiga das doutrinas dos primeiros âryas, que foram os primeiros a dividir a vida em nosso planeta em quatro eras. Se remontarmos essa doutrina de sua fonte na noite do período tradicional até o Profeta de Patmos, não precisaremos nos desviar entre os sistemas religiosos de outras nações. Descobriremos que os babilónicos ensinavam que em quatro diferentes períodos surgiram quatro Oannes (ou sóis); que os hindus propunham quatro Yugas; que os gregos, os romanos e outros acreditavam firmemente nas idades do ouro, da prata, do bronze e do ferro, sendo, cada uma das épocas anunciada pelo surgimento de um salvador. Os quatro Buddhas dos hindus e os três profetas dos zoroastristas – Oshedâr-Bâmî, Oshedâr-Mâh e Saoshyant – precedidos por Zaratustra, são os símbolos dessas idades.
Na Bíblia, o próprio livro inicial nos diz que antes que os filhos de Deus vissem as filhas dos homens, eles viviam de 365 a 969 anos. Mas quando o “Senhor Deus” viu as iniquidades da Humanidade, decidiu conceder-lhes no máximo 120 anos de vida (Gênese, VI, 3). Para se explicar tal violenta oscilação na tabela da mortalidade humana, é necessário remontar essa decisão do “Senhor Deus” à sua origem. Essas incongruências que encontramos a cada passo na Bíblia só podem ser atribuídas ao fato de que o livro Gênese e os outros livros de Moisés foram alterados e remodelados por mais de um autor; e de que em seu estado original eles eram, com exceção da forma externa das alegorias, cópias fieis dos livros sagrados hindus. Em Manu, Livro I, 81 et seq., lê-se o seguinte:
“Na primeira era, não havia doença ou sofrimento. Os homens viviam por quatro séculos”.
Isto foi no Krita ou Satya-yuga.
“O Krita-yuga é o símbolo da justiça. O touro que se assenta firmemente sobre as patas é a sua imagem; o homem se mantém fiel à verdade, e o mal ainda não lhe dirige as ações.” Mas em cada uma das eras seguintes a primeira vida humana perde um quarto da sua duração, vale dizer, no Tretâ-yuga o homem vive 300 anos, no Davâpara-yuga 200, e no Kali-yuga, a nossa era, apenas 100 anos, no máximo. Noé, filho de Lamech – Olam-ach, ou pai da era – é a cópia destorcida de Manu, filho de Savayambhû, e os seis manus ou rishis oriundos dos “primeiros homens” hindus são os originais de Terah, Abarão, Isaac, Jacó, José e Moisés, os sábios hebreus que, a começar de Terah, teriam sido todos astrólogos, alquimistas, profetas inspirados e adivinhos, ou em termos mais profanos, porém mais claros, mágicos.
Se consultarmos o Mishnah talmúdico, descobriremos que o primeiro par divino emanado, o Demiurgo andrógino Hkhmah (ou Hokhma-Akhamôth) e Binah, construiu uma casa com sete colunas. Eles são os arquitetos de Deus – Sabedoria e Inteligência – e Seu “compasso e esquadro”. As sete colunas são os futuros sete mundos, ou os sete “dias” primordiais da criação.
“Hokhmah imola suas vítimas”. Essas vítimas são as incontáveis forças da natureza que precisam “morrer” (consumir-se) para que possam viver, quando uma força morre, é apenas para dar nascimento a outra força, sua prole. Ela morre mas vive em sua criação, e ressuscita a cada sétima geração. Os servos de Hokhmah, ou sabedoria, são as almas de ha-Adão, pois nele estão todas as almas de Israel.
Há doze horas no dia, diz o Mishnah, e é durante essas horas que se realiza a criação do homem. Essa frase seria incompreensível se não tivéssemos Manu para nos ensinar que esse “dia” abrange as quatro eras do mundo e tem a duração de doze mil anos divinos dos Devas.
“Os Criadores (Elohim) moldaram na segunda” hora “o contorno de uma forma mais corpórea do homem. Eles o separaram em duas partes e deram formas distintas a cada um dos sexos. Foi assim que os Elohim procederam em relação a toda coisa criada.” Todo peixe, ave, planta, animal e homem era andrógino
nessa primeira hora.”
Isis Sem Véu – VOLUME IV – TEOLOGIA II
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