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Os Padrões da Árvore – Cabala Mística (8 de 26)

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1. São várias as maneiras pelas quais se podem agrupar as Dez Sephiroth Sagradas na Árvore da Vida. Não se pode dizer que determinada forma seja mais correta que outra, pois elas servem a diferentes objetivos a lançam muita luz sobre o significado das Sephiroth individuais, revelando-lhes as associações e o equilíbrio.
2. São valiosas também porque permitem relacionar o sistema decimal da Árvore com os sistemas temários, quaternários e setenários.
3. A conformação primária da Árvore consiste em três Pilares. Observaremos nos diagramas que as Sephiroth se prestam facilmente a essa divisão vertical tríplice, visto que estão dispostas em três colunas (Diagrama I), denominadas Pilar da Misericórdia (à direita), Pilar da Severidade (à esquerda) e Pilar da Suavidade ou do Equilíbrio (ao meio).
4. Antes de prosseguirmos, cumpre esclarecer o significado dos lados direito a esquerdo da Árvore. Observando o diagrama, vemos Binah, Geburah a Hod em seu lado esquerdo, a Chokmah, Chesed a Netzach no direito; essa é a maneira pela qual contemplamos a Árvore quando a utilizamos para representar o Macrocosmo. Mas, quando a utilizamos para representar o Microcosmo, isto é, o nosso próprio ser, devemos dar-lhe as costas, de modo que o Pilar Medial se equipare à espinha, o Pilar que contém Binah, Geburah e Hod corresponda ao lado direito do corpo e o Pilar que contém Chokmah, Chesed a Netzach, ao lado esquerdo. Esses três Pilares podem também ser correlacionados com os conceitos Shushumna, Ida a Pingala do sistema iogue. É de extrema importância nos lembrarmos dessa reversão da Árvore quando a utilizamos como um símbolo subjetivo, pois do contrário obteremos resultados confusos. Em sua valiosa obra sobre a literatura da Cabala, The Holy Qabalah [A cabala sagrada], o Sr. Waite, no frontispício, por alguma razão que só ele conhece, inverte a apresentação habitual da Árvore; na maioria das vezes, as apresentações desse símbolo correspondem à Árvore objetiva, não à subjetiva. Quando empregamos a Árvore para indicar as linhas de força na aura, devemos utilizar a Árvore subjetiva, de modo que Geburah corresponda ao braço direito. Em todos os casos, o Pilar Medial permanece, naturalmente, imóvel.
S. 0 Pilar da Severidade é negativo ou feminino, e o Pilar da Misericórdia é positivo ou masculino. Poder-se-ia pensar superficialmente que essas atribuições conduzem a um simbolismo incompatível, mas um estudo dos Pilares à luz do que agora sabemos a respeito das Sephiroth individuais revelará que as incompatibilidades são puramente superficiais a que o significado profundo do simbolismo é inteiramente concorde.
6. Observar-se-á que a linha indicadora dos desenvolvimentos sucessivos das Sephiroth zigue-zagueia de um lado ao outro do hieróglifo, tendo por isso recebido o nome apropriado de Relâmpago Brilhante. Essa imagem indica graficamente que as Sephiroth são sucessivamente positivas, negativas e equilibradas. Essa é uma representação muito mais adequada do processo da criação do que a figurada pela disposição das Esferas numa linha reta, umas sobre as outras, pois indica não só a diferença natural das Emanações Divinas, como também as suas mútuas relações; quando contemplamos o Hieróglifo da Árvore, percebemos facilmente as relações existentes entre as diferentes Sephiroth, a podemos ver como elas se agrupam, refletem-se a reagem mutuamente.
7. No topo do Pilar da Severidade, o Pilar feminino a negativo, está Binah, a Grande Mãe. Esta é atribuída à Esfera de Saturno, a Saturno é o Dador da Forma. No topo do Pilar da Misericórdia está Chokmah, o Pai Supremo, potência masculina. Temos aqui, então, a oposição entre Forma e Força.
8. Na Segunda Trindade, apresenta-se a oposição entre Chesed (Júpiter) a Geburah (Marte). Temos novamente os pares de opostos: da construção, em Júpiter, o legislador a governante benéfico; a da destruição, em Marte, o guerreiro e aniquilador do Mal. Poder-se-á perguntar por que razão uma potência masculina como Geburah está colocada no Pilar feminino. Cabe lembrar, contudo, que Marte é uma potência destrutiva, constituindo um dos planetas maléficos da Astrologia. 0 positivo edifica, o negativo destrói; o positivo é uma força cinética, o negativo é uma força estática.
9. Esses aspectos surgem novamente em Netzach, na base do Pilar da Misericórdia, a em Hod, na base do Pilar da Severidade. Netzach é Vênus, o Raio Verde da Natureza, força elemental, a iniciação das emoções. Hod é Mercúrio, Hermes, a iniciação do conhecimento. Netzach é instinto a emoção, força cinética; Hod é intelecto, pensamento concreto, redução à forma do conhecimento intuitivo.
10. Devemos lembrar, contudo, que cada Sephirah é negativa, ou seja, feminina, em relação à sua predecessora, da qual emana a da. qual recebe a Influência Divina; a positiva, masculina ou estimulante, em relação à sua sucessora, à qual transmite a Influência Divina. Portanto, toda Sephirah é bissexual, como um ímã, cujos pólos devem ser necessariamente um positivo e o outro negativo. Poderíamos explicar melhor o assunto se recorrêssemos a uma analogia astrológica, afirmando que unia Sephirah no Pilar feminino está dignificada quando funciona em seu aspecto negativo, e deprimida quando funciona positivamente, a que no Pilar masculino a posição se apresenta invertida. Portanto, Binah (Saturno) está dignificada quando produz estabilidade a resistência, mas deprimida quando o excesso de resistência toma-se ativamente agressivo, produzindo obstrução a emissão de matéria estéril. Por outro lado, Chesed, Misericórdia, está dignificada quando ordena a preserva harmoniosamente as coisas do mundo, mas deprimida quando a misericórdia se torna sentimentalismo a usurpa a Esfera de Saturno, preservando aquilo que a energia ígnea, a Esfera oposta, a Sephirah Geburah, deveria eliminar da existência.
11. Os dois Pilares representam, portanto, as forças da natureza: as positivas a as negativas, as ativas a as passivas, as destrutivas a as construtivas, a forma que concretiza e a força que libera, que desagrega.
12. As Sephiroth do Pilar Medial podem ser encaradas também como os níveis representativos da consciência ou como os planos sobre os quais eles operam. Malkuth é a consciência sensorial; Yesod é o psiquismo astral; Tiphareth é a consciência iluminada, o aspecto mais elevado da personalidade a que a individualidade pode se unir, a que constitui o estado que possibilita a iniciação; trata-se da consciência do eu superior atraída à personalidade – vislumbre da consciência superior oriunda da parte posterior do véu de Paroketh. É por essa razão que os messias a os salvadores do mundo são referidos a Tiphareth no simbolismo da Árvore, pois são eles que concedem a luz à humanidade; e, como todos os que roubam o fogo do céu devem sofrer, eles morrem a morte sacrificial em benefício da humanidade. É aqui também que morremos para o Eu Inferior, a fim de podermos alcançar o Eu Superior. In Jesu morimur.
13. 0 Pilar Medial eleva-se através de Daath, a Sephirah Invisível, que, como já vimos, é o Conhecimento, de acordo com os rabinos, a percepção ou apreensão consciente, de acordo com a terminologia psicológica. No topo desse Pilar está Kether, a Coroa, a Raiz de Todo Ser. A consciência, portanto, alcança a essência espiritual de Kether por meio da compreensão de Daath, que a faz cruzar o Abismo, levando-a para a consciência transladada de Tiphareth, para onde é conduzida por intermédio do sacrifício de Cristo, que rasga o véu Paroketh; em seguida, para a consciência psíquica de Yesod, a Esfera da Lua e, finalmente, para a consciência cerebral a sensorial de Malkuth.
14. É esse o curso da consciência na marcha da involução, que é o termo aplicado a essa fase de evolução que se dirige para baixo, desde a Primeira Manifestação em meio aos planos sutis de existência até a matéria densa; por essa razão, deveria o esoterista utilizar o termo evolução apenas quando pretende descrever a subida da matéria ao espírito, pois é nessa direção que ocorre a evolução daquilo que involuiu através das fases sutis de desenvolvimento. É óbvio que nada pode evoluir a desenvolver-se se antes não involuiu a não se desenvolveu. 0 curso real da evolução segue a trilha do Relâmpago Brilhante ou da Espada Flamejante, de Kether a Malkuth, na ordem de desenvolvimento das Sephiroth previamente descritas; mas a consciência desce plano por plano, a só começa a manifestar-se quando as Sephiroth polarizantes estão em equilíbrio; por conseguinte, os modos de consciência são atribuídos às Sephiroth Equilibrantes no Pilar Medial, mas os poderes mágicos são atribuídos às Sephiroth opostas, cada uma das quais se encontra na haste da balança dos pares de opostos.
15. 0 Caminho da Iniciação segue as espirais da Serpente da Sabedoria na Árvore; mas o Caminho da Iluminação segue o Caminho da Flecha lançada pelo Arco da Promessa, Qesheth, o arco-íris de cores astrais que se estende como um halo por trás de Yesod. Esse é o caminho do místico, que se distingue do caminho do ocultista; é rápido a direto, e livre do perigo da tentação da força desequilibrada que se encontra nos outros pilares, mas não confere nenhum poder mágico, salvo os do sacrifício em Tiphareth a os do psiquismo em Yesod.
16. Já fizemos menção às Três Trindades da Árvore em nossa discussão preliminar das Dez Sephiroth. Recapitulemo-las novamente para maior clareza. Mathers chama a Primeira Trindade, constituída por Kether, Chokmah a Binah, de Mundo Intelectual; a Segunda Trindade, constituída por Chesed, Geburah a Tiphareth, de Mundo Moral; e a Terceira Trindade, formada por Netzach, Hod a Yesod, de Mundo Material. A meu ver, essa terminologia é equívoca, pois tais palavras não nos comunicam o verdadeiro sentido desses Mundos. 0 intelecto é essencialmente a concretização da intuição a da compreensão e, como tal, é um vocábulo inadequado para o Mundo das Três Supremas. Concordo com o emprego do termo Mundo Moral para Chesed, Geburah a Tiphareth, pois ele é sinônimo do meu termo Triângulo Ético; mas discordo enfaticamente da utilização do termo Mundo Material para a Trindade de Netzach, Hod a Yesod, pois esse vocábulo pertence exclusivamente a Malkuth. Essas três Sephiroth não são materiais e sim astrais, a para essa Trindade eu proponho o termo Mundo Astral ou Mágico; não é conveniente utilizar as palavras fora de seu sentido dicionarizado, ainda que lhes precisemos o sentido, a isso Mathers não se preocupou em fazer.
17. A Esfera Intelectual não é tanto um nível quanto um Pilar, pois o intelecto, sendo o conteúdo da consciência, é essencialmente sintético. Esses termos, contudo, parecem provir de uma tradução algo rude dos nomes hebraicos dados aos quatro níveis em que os cabalistas dividem a manifestação.
18. Esses quatro níveis permitem, ainda, outro agrupamento das Sephiroth. 0 mais elevado deles é Atziluth, o Mundo Arquetípico, composto por Kether. 0 segundo, Briah, chamado de Mundo Criativo, consiste em Chokmah a Binah, Abba a Ama Supremos, o Pai e a Mãe. 0 terceiro nível é o de Yetzirah, o Mundo Formativo, que consiste das seis Sephirot centrais, a saber, Chesed, Geburah, Tiphareth, Netzach, Hod a Yesod. 0 quarto Mundo é Assiah, o Mundo Material, representado por Malkuth.
19. As Dez Sephiroth conformam-se também em Sete Palácios. No Primeiro Palácio estão as Três Supremas; no Sétimo Palácio estão Yesod e
Malkuth; a as demais Sephiroth têm cada uma um Palácio próprio. Esse agrupamento é interessante, pois revela o íntimo relacionamento entre Yesod e MaIkuth, a permite equacionar a escala décupla da Cabala com a escala sétupla da Teosofia.
20. Há também outra divisão tripla das Sephiroth que é muito importante para o simbolismo cabalístico. Nesse sistema, confere-se a Kether o título de Arik Anpin, o Rosto Imenso. Este se manifesta como Abba, o Pai Supremo, Chokmah, a Ama, a Mãe Suprema, Binah, sendo esses os aspectos positivo a negativo do Três em Um. Esses dois aspectos diferenciados, quando unidos, são, de acordo com Mathers, Elohim, esse curioso Nome Divino que é um substantivo feminino flexionado com uma desinência masculina. Essa união ocorre em Daath, a Sephirah invisível.
21. As seis Sephiroth seguintes conformam-se em Zaur Anpin, o Rosto Menor, ou Microprosopos, cuja Sephirah especial é Tiphareth. A Sephirah restante, Malkuth, recebe o nome de Noiva de Microprosopos.
22. Microprosopos recebe também, às vezes, o nome de Rei; Malkuth, em conseqüência, o nome de Rainha. Ela se chama também Mãe Menor ou Eva Terrestre, distinta de Binah, a Mãe Suprema.
23. Esses diferentes métodos de classificar as Sephiroth não são sistemas concorrentes, mas visam permitir adequar o sistema décuplo dos cabalistas com outros sistemas, utilizando uma notação tripla, tal como a cristã, ou, como já observamos, um sistema sétuplo como o da Teosofia; todos esses sistemas são valiosos porque indicam relações funcionais entre as Sephiroth.
24. O sistema final de classificação que devemos considerar encontra-se sob a regência das Três Letras-Mães do alfabeto hebraico: Aleph (A), Mem (M) a Shin (Sh). De acordo com a atribuição Yetzirática do alfabeto hebraico, essas três letras estão relacionadas com os três elementos Ar, Água e Fogo. Sob o governo de Aleph, encontra-se a Tríade Aérea de Kether, na qual está a Raiz do Ar, que se reflete para baixo, através de Tiphareth, o Fogo Solar, em Yesod, a Radiância Lunar. Em Binah encontra-se a Raiz da Água (Marah, o Grande Mar), que se reflete para baixo, através de Chesed, em Hod, sob o governo de Mem, a Mãe da Água. Em Chokmah encontra-se a Raiz do Fogo, que se reflete para baixo, através de Geburah, em Netzach, sob o governo de Shin, a Mãe do Fogo.
25. Cumpre ter sempre em mente esses agrupamentos, visto que eles nos ajudam enormemente a compreender o significado das Sephiroth individualmente; como já salientamos em várias oportunidades, só podemos compreender uma Sephirah através de suas múltiplas relações.

A Cabala Mística – Dion Fortune


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