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O Ocultismo é Mau? Uma Perspectiva Histórica e Moderna

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Por Astennu Sever

O ocultismo deriva da palavra “oculto”, significando “velado” ou “invisível”. Contudo, na imaginação popular, esta palavra assumiu a forma de conceitos como vampiros, necromancia, rituais sexuais sombrios e outros temas tabu. Tais temas frequentemente envolvem sangue, sacrifícios rituais e detalhes macabros. De fato, não é raro encontrar teorias da conspiração que sugerem que indivíduos ricos e poderosos participam do ocultismo, conspirando para escravizar a humanidade.

Assim, não é surpreendente que muitas pessoas acreditem que o ocultismo seja intrinsecamente maligno. A verdadeira resposta para essa questão, no entanto, depende do ocultista ou do grupo ocultista em questão. O conhecimento oculto, assim como qualquer outro tipo de saber, é uma forma de poder. É uma ferramenta capaz de produzir efeitos desejados. Se esse poder for usado para prejudicar outros, então poderá ser classificado como “mal” ou “magia negra”. Por outro lado, se for empregado para fins benevolentes, é considerado “bom” e comumente referido como “magia branca”.

Se você está familiarizado com Star Wars, pode traçar um paralelo com o Lado Claro e o Lado Escuro da Força. A Força é única, mas seu uso depende do usuário, o que determinará se pertence ao Lado Claro ou ao Lado Escuro.

Por que o ocultismo é visto como maligno?

Para compreender essa percepção, é essencial distinguir entre o ocultismo ocidental e o oriental, ou melhor, o esoterismo. No Ocidente, o ocultismo é frequentemente visto como maligno, uma visão contrastante com a de civilizações orientais como Índia, China e Japão, onde o ocultismo nunca foi considerado mal. Essa diferença decorre em grande parte porque essas culturas têm uma profunda relação com a metafísica. Frequentemente, comparamos o hinduísmo e o budismo ao cristianismo e ao islamismo, mas essa comparação é inadequada. O hinduísmo não é uma religião per se, mas uma tradição primordial.

No Ocidente, a Igreja Católica, buscando proteger sua influência sobre as massas, atacou quaisquer movimentos espirituais que lhe fossem concorrentes. Para sobreviver, esses movimentos tiveram que se tornar clandestinos, adotando o ocultismo como uma forma de resistência. Eles usaram símbolos e outros métodos para manter suas práticas.

No Oriente, a ortodoxia nunca se sentiu ameaçada por outras formas de espiritualidade. Da mesma forma, o paganismo europeu, que precedeu o cristianismo e outras religiões monoteístas, era diversificado e inclusivo em relação a diferentes deidades e cultos. O Império Romano pré-cristão tolerava a adoração a múltiplos deuses, desde que as leis romanas fossem obedecidas. Tudo mudou quando o sacerdócio de uma única religião decidiu defender a exclusividade de um “verdadeiro Deus”, transformando cultos pagãos em movimentos ocultistas.

Além disso, a ortodoxia católica também temia movimentos esotéricos internos, como os gnósticos, templários e rosacruzes. Com o tempo, muitos elementos esotéricos do cristianismo se mesclaram com temas pagãos antigos, formando novos ensinamentos ocultos.

Em contraste, no hinduísmo e no budismo, tanto as doutrinas exotéricas quanto as esotéricas são aceitas como parte da ortodoxia. Os ensinamentos exotéricos são destinados às massas, enquanto os esotéricos são reservados para os iniciados, mais inclinados espiritualmente e capazes de compreender o Conhecimento Superior.

No Ocidente, o cristianismo, especialmente o catolicismo, lutou contra qualquer forma de sigilo porque sua mensagem é considerada estritamente universal. Assim, qualquer “ensinamento oculto” foi rapidamente rejeitado e demonizado. A queima de bruxas e hereges ilustra o extremo desprezo da Igreja por práticas secretas.

Essa visão distorcida do ocultismo foi perpetuada pela indústria cinematográfica e musical, principalmente para chocar o público. Não é de se admirar que, com tantas camadas de falsidade, muitas pessoas estejam convencidas de que o ocultismo é maligno por natureza. Se essa imagem distorcida tem diminuído ao longo dos anos, não é porque as pessoas se tornaram mais esclarecidas sobre o que realmente é o ocultismo, mas porque perderam a fé na existência de qualquer ensinamento espiritual credível.

Tabu vs. Mal

Algumas práticas ocultas envolvem atos considerados tabus pela sociedade. Isso pode incluir uma variedade de comportamentos, mas a cultura popular frequentemente sugere que envolvem sacrifício de crianças, jogos sado-masoquistas e profanação de sepulturas.

Em Yoga: Imortalidade e Poder, Mircea Eliade descreve uma seita indiana dedicada a Shiva, o deus da destruição. Os membros dessa seita envolvem-se em práticas extremas como consumir fezes, dormir em cemitérios, praticar necrofilia e comer carne podre, entre outras. Esse tipo de comportamento é adotado para superar medos e apegos, inclusive em relação ao próprio corpo, na esperança de renascer de um estado de caos para uma existência pura e incondicionada.

Como Sheev Palpatine (note Sheev = Shiva) diz a Anakin Skywalker: “Se alguém deseja entender o Grande Mistério, deve estudar todos os seus aspectos, não apenas a visão dogmática e estreita dos Jedi.”

Essas práticas não são necessárias em todos os caminhos ocultos, mas são fundamentais em algumas tradições da mão esquerda. Observadas de fora, podem parecer puramente malignas para quem não compreende suas motivações. No entanto, se nenhum mal é causado a outras pessoas, e se qualquer dano autoinfligido busca um objetivo superior, é difícil considerar tais atividades como intrinsecamente malignas. Seria como afirmar que jogar futebol ou dirigir é maligno porque envolve riscos de lesões.

Por que o ocultismo atrai personagens sombrios?

É devido à imagem distorcida criada no Ocidente que ensinamentos esotéricos legítimos às vezes atraem indivíduos com intenções malévolas. Ou, pelo menos, pessoas insatisfeitas com a ordem mundial atual e desejosas de influenciá-la através de poderes considerados sobrenaturais, adotando a filosofia de que “os fins justificam os meios”. Podemos dizer que a imagem do lado escuro atrai pessoas mal-intencionadas. Os ensinamentos ocultos, por si só, não são intrinsecamente maus e nunca foram.

Existe também uma verdade psicológica de que as pessoas são atraídas ou temem o desconhecido (ou ambos). O desconhecido é percebido como ameaçador às condições atuais devido à sua própria natureza. Aqueles que estão satisfeitos com sua situação atual e não têm ambições de melhoria percebem o desconhecido como ameaçador e desnecessário, enquanto os que estão insatisfeitos ou possuem ambições não realizadas veem isso como uma oportunidade bem-vinda.

Essa dualidade do desconhecido, e do segredo humano em particular, é evidente não apenas em relação à magia, mas em qualquer outro aspecto da vida, sendo sua percepção altamente dependente do observador.

Os ocultistas são maus? Obviamente, não existem pesquisas científicas que possam responder a essa pergunta. No entanto, pelo que posso dizer, a maioria dos ocultistas não é má. Eles são indivíduos que buscam aprofundar seu conhecimento sobre assuntos espirituais.

As religiões mainstream não proporcionam a eles a oportunidade de fazer isso, então eles se aprofundam mais em ensinamentos esotéricos antigos em busca de respostas. Além disso, muitos ocultistas estão interessados em autodesenvolvimento, tornando-se mais poderosos tanto física quanto mentalmente, adquirindo habilidades especiais e melhorando suas vidas. Desde que não prejudiquem ninguém, é difícil rotular qualquer uma dessas atividades como maléficas.

Dito isso, recomendo nunca confiar completamente nas intenções de ninguém, seja realizando aventuras ocultas vestindo túnicas pretas no plano físico ou apenas em suas mentes. E vamos ser francos, é impossível não se envolver neste último. Todos nós estamos jogando nosso próprio jogo oculto, desde que não revelemos nossas verdadeiras ambições e os métodos que estamos dispostos a usar para alcançá-las.

Fonte: Is The Occult Evil? A Historical & Modern Perspective – The Occultist


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