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Shirlei Massapust
Feiticeiros também possuem sentimentos. Eles ficam ofendidos quando abrem análises criticas nos velhos moldes acadêmicos onde alguns dos seus pares acabaram retratados como homens primitivos, ignorantes, desprovidos de bom senso ou foram reduzidos a simples objetos de estudo após receberem antropólogos e etnólogos com cordialidade e hospitalidade.
Embora os espíritas do século XIX apreciassem todos os tipos de testes da metodologia científica, gato escaldado tem medo de água fria. Hoje em dia filosofia demais, cálculos estatísticos, ensaio clínico duplo-cego e placebo são comumente interpretados como produto espúrio de corrupção literária.
Este é um dos motivos que levaram os feiticeiros a desenvolver um estilo editorial próprio. Os manuais de magia do ocidente possuem formatação padronizada. São capítulos miúdos contendo nada além de receitas de feitiços ou estórias. Contudo, apesar da decantada aversão à cultura mainstream, não é raro percebermos a influência das belas artes no processo ritual.
N. A. Molina não hesitou em usar uma adaptação disfarçada do poema O Aprendiz de Feiticeiro, de Goethe, como prefácio do Livro de São Cipriano[1], nem em publicar uma tradução das Litanias de Satã, de Charles Baudelaire, poema extraído da coletânea Les Fleurs du Mal (1857), sob o argumento de que isto foi “utilizado em rituais por um grupo de bruxos parisienses”.[2] Então não fiquei surpresa ao constatar a inocorrência da magia de envoûtement atribuída por Molina às páginas da polêmica edição conjunta de Le Véritable Dragon Rouge[3] e Le Poule Noire, – donde Jimmy Page extraiu o signo de sua alcunha no quarto álbum do Led Zeppelin.[4] – Isso é uma pegadinha.
O atrapalhado aprendiz de feiticeiro acreditará que o mestre traduziu a fórmula do manual francês enquanto o filósofo alquimista (é assim que Molina chama aos leitores que compreendem suas analogias) será capaz de identificar e interpretar as entrelinhas do conto tcheco homônimo, U červeného draka (1889), de Josef Jiří Kolář, onde um feiticeiro suicida encerra a própria vida diante dum manequim criado à sua imagem e semelhança, deixando o objeto carregado pela energia da morte. A representação do homem se torna o próprio homem e afeta aos que se aproximam propagando tendências suicidas, fazendo-os repetir o sacrifício de si mesmos encenando a primeira fatalidade.
Assim como o Inferno era uma região pouco explorada antes da fictícia visita de Dante Alighieri, apenas o nome do feiticeiro Cipriano fora citado antes da elaboração da peça de teatro El Mágico Prodigioso (1637), encomendada a Pedro Calderón de la Barca pelo município de Yepes, na província de Toledo, para a celebração do feriado de Corpus Christi. No enredo o personagem faz um pacto com o demônio assinando um contrato com seu próprio sangue e passa um ano recluso numa caverna estudando feitiços. Com tudo isso ele não consegue suprimir o livre arbítrio de terceiros, mas pode inculcar imagens nos pensamentos alheios, fazer aflorar sentimentos e conjurar uma entidade definida como esqueleto, estátua, imagem e simulacro da morte.[5]
A platéia efetivamente via a boneca parecida com o cadáver de Justina. No fim deste inusitado ano letivo Cipriano agradece ao demônio instrutor:
Viendo que ya yo puedo
al infierno poner asombro y miedo,
pues com tanto cuidado
la mágica he estudiado,
que aun tú mismo no puedes
decir, si es que me igualas, que me excedes;
viendo que ya no hay parte
della, que com fatiga, estúdio y arte
yo no la haya alcanzado;
pues la nigromancia He penetrado,
cuyas líneas oscuras
me abrirán las funestas sepultures,
haciendo que su centro
aborte los cadáveres, que dentro
tiranamente encierra
la avarienta codicia de la tierra,
respondiendo por puntos
a mis vocês los pálidos difuntos;
y viendo, em fin, cumplida
la edad del sol que fue plazo a mi vida.[6]
Mais tarde Cipriano se arrepende e morre como mártir na Antioquia, literalmente amarrado ao cadáver da verdadeira Justina. É neste último ato que o ritual se inspira para mimetizar a conseqüência da magia aprendida na “cova de dois vivos”, que se resume a suportar um sofrimento inimaginável enquanto não houver abdicação da castidade. A coletânea lusitana de O Grande Livro de S. Cypriano ou Thesouro do Feiticeiro (1885) apresentou a seguinte receita de feitiçaria com um casal de bonecos amarrados um no outro com linha branca até gastar o carretel, enquanto se pragueja nove vezes, ao meio dia, depois de rezar a oração das horas abertas em honra à Virgem Maria:
Eu te prendo e te amarro em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Padre, Filho e Espírito Santo, para que debaixo deste santo poder não possas comer nem beber, nem estar em parte alguma do mundo sem que estejas na minha companhia. Eu (fulano), aqui te prendo e amarro, assim como prenderam a Nosso Senhor Jesus Cristo no madeiro da Cruz; e o descanso que tu terás enquanto para mim te não virares, será o que terão as almas no fogo do purgatório penando continuamente pelos pecados deste mundo, e como o que tem o vento no ar, as ondas no mar, sempre em contínuo movimento, a maré a subir e a descer, o sol que nasce na serra e que vai pôr-se no mar. Será esse o descanso que eu te dou enquanto para mim te não virares com todo o teu coração, corpo, alma e vida; debaixo da santa pena de obediência e preceitos superiores, ficas preso e amarrado a mim, assim como ficam estes dois bonecos amarrados um ao outro.[7]
A regra geral aponta que não importa o dogma teológico relacionado ao nome de poder. Numa tradição adaptada de cancioneiros e peças de teatro a rima se sobrepõe à lógica e personalidades só precisam de fama. Por exemplo, sabemos que Maria Padilha foi amante e segunda esposa do Rei Pedro I de Castela. Nunca foi santa nem mártir. Contudo velhos feitiços de Cipriano rogam “pelo sangue derramado de Jesus Cristo” em nome de “Satanaz, Barrabaz e Caifaz”, pelo poder de “Maria Padilha e de toda a sua família”, etc., enquanto o feiticeiro martela pregos extraídos dos restos de caixões exumados.[8]
Se produzir bonecos de pano e decorar orações paradoxais não parecer difícil o bastante, saiba que uma variante paralela do envoûtement requer o uso de linha e agulha especialíssimas. O posicionamento majoritário informa que a agulha equipada com linho galego passa três vezes entre a pele e a carne de um defunto até ficar tão cheia de sangue e gordura quanto uma linha de pipa que enche de cerol quando untada em cola e pó de vidro.[9] O posicionamento minoritário de Murzim Gemwy sugere que a imantação é feita sem furar o cadáver. “Para fazer esta mágica deve-se oferecer para ajudar a costurar a mortalha ou a roupa de um defunto”. Ele afirma possuir o folclórico manuscrito grego em cujo capítulo XXI o feiticeiro Cipriano teria dito que a agulha apenas toca a epiderme (επιδερμίδα) do cadáver, que é seu dæmon (δαίμων) auxiliar:
São Cipriano, propositalmente, tornava suas mágicas bem difíceis de preparar, a fim de evitar que caísse na mão de pessoas ignorantes ou mal intencionadas. Hoje, que o povo está mais evoluído, há mais instrução, pode-se publicar as fórmulas mágicas sem aqueles obstáculos propositais.[10]
Quando objetos de cera substituem os de pano, a reciclagem da cera derretida das velas que crepitam à volta do caixão num velório é igualmente útil para o feiticeiro que “deve derreter novamente a cera em fogo de lenha de ciprestes”.[11] No tempo em que ainda não existia parafina industrial (um derivado do petróleo) todas as velas eram feitas de sabão e cera de abelhas. Hoje a transformação da gordura animal em sabão é feita fervendo-a em água com soda cáustica (hidróxido de sódio), mas quando isso também não existia era preciso improvisar com salmoura (cloreto de sódio) e o povo fazia velas usando a imaginação. Um feitiço para multiplicar a cera mandava bater uma dúzia de ovos de ema, misturar com uma arroba de sebo de bode e mexer até que tudo virasse cera amarela “para se fazer dela toda a obra que quiserem”.[12]
Na época em que existia pena de morte por enforcamento na Europa alguns feiticeiros recolhiam os cadáveres dos criminosos executados para fazer velas. A carne era transformada em sabão enriquecido com favos de colméia e óleo de gergelim (Sesamum indicum) importado de Sápmi. Somente as mãos eram tratadas com um preparado de sal grosso, levedo de cerveja em pó, nitrato de sódio derivado da decomposição do esterco de cavalo, etc. Mãos mumificadas eram usadas como candelabro, com os cinco dedos acesos.
Confesso que na primeira vez que li a respeito pensei que fosse lenda, mas o Whitby Museum possui uma “Main de Gloire” em exposição. Isto foi doado ao museu em 1935 por Joseph Ford, que encontrou ao abrir a parte oca da parede duma casa em Castleton, no distrito de Derbyshine, Inglaterra[13]. Um manuscrito do séc. XVIII ensina a “imobilizar inimigos” usando duas mãos acesas dentro dum círculo mágico rodeado por um morcego, uma cabeça de gato preto, um par de chifres de touro e o crânio do enforcado sobre um par de tíbias cruzadas.[14] Outro feitiço, relatado no Petit Albert, possivelmente surtia o efeito desejado quando alguém via o objeto medonho:
Assisti três vezes ao julgamento definitivo de certos celerados que confessaram, na tortura, terem usado a mão de glória nos roubos que haviam cometido, e como, durante o interrogatório, se lhes perguntou o que isso era e como a tinham conseguido, eles responderam, em primeiro lugar, que a mão de glória tornava estupefatos e imóveis todos aqueles a que era apresentada, de modo que se mexiam tanto como se estivessem mortos. Em segundo lugar, que era a mão de um enforcado.[15]
Evocando espíritos
Em 1860 a ficção de Calderón ainda passava por obra hagiográfica e era confundida com a legenda aurea, conforme atestado pelo feiticeiro francês e ex-diácono Alphonse Louis Constant.[16] Uma caverna semelhante à mencionada na peça de teatro existe até hoje. No século XVI tinha uma sacristia ali debaixo da Igreja de São Cipriano, na Costa de Carvajal, em Salamanca, onde o pároco Clemente Potosí lecionava artes divinatórias.
Potosí era um possível partidário da causa de Johannes Trithemius, que aconselhava o estudo comedido dos livros de magia por religiosos seletos acompanhado da censura perante o público leigo. Este último fez uma lista dos títulos de livros secretos no catálogo Antipalus Maleficiorum (1508); entre os quais consta a mais antiga referência historiográfica ao tratado latino Item est liber alius pestifer quatuor regum ex daemonum numero praenotatus, cuius inicium est varium. Et nunc quidem íncipit sic: Quicumque magicae artis. Apud alios vero aliter inchoatur. Et hoc maledictum opus Sancto Martyri Cipriano Mendaciter audet ascribere, quod ultimo esset suplicio vetandum.[17]
“Grande Cipriano, famoso mágico”: Ilustração na capa do Heptameron, editado em 1810 por Vincio Bocatorti.
Pessoas da região começaram a inventar estórias sobre diabos em forma humana que ensinavam arte das trevas a um pequeno número de estudantes na caverna. No fim do curso um estudante era sorteado para pagar as mensalidades de todos. Miguel de Cervantes adaptou a lenda na peça La Cueva de Salamanca (1515), onde sarcasticamente questiona se existem diabos batizados, capazes de se fazer ver “na figura do sacristão da paróquia” ao passo que este e outros seriam vistos “convertidos em diabo”! A Rainha Isabel ficou tão escandalizada com a repercussão da lenda que ordenou o fechamento da caverna. A própria igreja foi destruída em 1580.
Em algum momento no tempo uma lenda idêntica nasceu em Sibiu, na Romênia. A estória fala sobre os solomonári que estudam o livro de capa preta da escola de magia Șolomanţie[18], situada nas montanhas à margem do lago Cindrelu. Ali somente o șolomonar sorteado para trabalhar como aide-de-camp após o término do ano letivo pode montar no dragão vermelho (em romeno zmeu; termo derivado de zmeură, o fruto da roseira).[19]
O caso concreto mais impressionante foi o de Christian Hahnemann, admitido como aprendiz em 1779 numa “loja maçônica”, em Sibiu. Mesmo desconhecendo o idioma local ele conseguiu aprender lições que o levaram a formular o primeiro princípio da homeopatia e da magia simpática: Similia similibus curantur.[20] O problema é que a Maçonaria não reconhece a existência de nenhuma loja maçônica na Romênia antes de 1879![21]
No século XIX apareceram vários livros de São Cipriano em Portugal e Espanha. A ilustração do frontispício da Oracío dels gloriosos y martírs, San Cipriá y Santa Justina (1846), impressa por Viuda Solá, introduziu um elemento inexistente na estória anterior ao mostrar Cipriano queimando seus antigos livros de feitiçaria. Isto teria acontecido depois da conversão do personagem ao catolicismo e antes dele escrever o livro de orações da Cruz de Caravaca.
Anos mais tarde a versão de El Abanico (identidade secreta da Sociedad Editorial Manresana) foi dividida em duas partes vendidas separadamente: Um cancioneiro de quatro páginas intitulado Vida Y Martirio de los Gloriosos San Cipriano y Santa Justina e um livreto de orações que dava uma bela Cruz de Caravaca adornada com anjos como souvenir.[22] O cancioneiro é uma adaptação da peça de Calderón. Ele abraça a inovação onde o personagem não morre no mesmo dia em que aceita a conversão. Ao invés disso queima os livros de feitiçaria, é batizado, catequizado, faz penitência e progride na igreja até se tornar Bispo da Antioquia.
Abominando su ciência,
el nuevo converso luego
llevó al Obispo sus libros,
y él mismo les puso fuego.
Isto gerou um problema logístico para o próximo contador de estórias. Se os papéis originais foram queimados, o que suas cópias estavam fazendo nas livrarias? Acredite se quiser: Tudo que é jogado ao fogo cai diretamente no Inferno. O diabo pegou o livro e apagou as chamas nas águas do lago dos dragões vermelhos! Durante séculos ele procurou pessoas dignas de serem os novos proprietários dos manuscritos. Um livro foi dado ao bibliotecário do monastério de Brooken, o monge alemão Jonás Sulfurino, que subiu uma montanha num dia escuro de tempestade. “Em meio a rajadas de raios e trovões” este opulento apóstata fez um pacto e recebeu o tomo que ensina a confeccionar as vestes do feiticeiro, a varinha de aveleira, talismãs, bonecos de feitiço, etc.[23] Ato contínuo, um lavrador parisiense chamado Victor Siderol resgatou outro volume dos Inguerimaços de S. Cypriano, depositado pelo diabo debaixo da tábua dum quarto alugado na Rua de Saint Honore para que ele o encontrasse.[24] Finalmente o último tomo foi psicografado por um médium espírita inglês, Dr Edward, incorporado pelo espírito de São Cipriano.[25] Esse é o conto que os mandingueiros conhecem e repetem entre si, mas infelizmente não vivemos em Passárgada e a história real de um livro nunca é tão divertida.
Bordas: Gravuras espanholas de 1846 onde um anjo entrega coroas de louros e penas de escrever a Cipriano e Justina. Centro: Uma repetição do mesmo motivo iconográfico publicada em Manresa. A tradição informa que o feiticeiro escreveu o livro de orações da Cruz de Caravaca depois de queimar suas obras antigas.
Não tem nenhum feitiço com figuras humanas em dois dos livros do séc. XIX cujos autores anônimos adotaram o codinome do mítico São Cipriano: O Heptameron ó Elementos Magicos (1810) foi impresso em Brussels por Vincio Bocatorti e reeditado em Barcelona pela Parsifal Ediciones, em 1989.[26] O Gran Gregeria (1845) foi produzido ou compilado por Antonio Venetiana del Rabina e circulou na forma de manuscritos até o historiador Bernardo Barreiro localizar algumas cópias e publicar em anexo ao livro acadêmico Brujos Y Astrólogos de la Inquisición de Galicia y el Famoso Libro de San Cipriano (1885).[27] Embora atribuído a São Cipriano, muito provavelmente o autor pretendeu que este livro fosse o segundo tomo desconhecido da Pseudomonarchia Daemonum (1563), publicada primeiro por Johann Wierus e depois por Antonio Venetiana del Rabina sob o título Gran Grimorio (1820). O segundo tomo segue a hierarquia demonológica do primeiro e continua apresentando tópicos com pertinência temática, sempre misturando magia cerimonial de inspiração judaica com o cristianismo sincrético e humorístico da ficção de Johann Wierus.
Não consegui encontrar o Livro de São Cipriano (1849) da Typographia de D. Antonio Moldes, cuja existência foi citada no periódico O Archeologo Português (Vol. XXIII. Lisboa, Imprensa Nacional, 1918, p 223). É dito, com indícios de verossimilhança, que os direitos de publicação da estória de Victor Siderol e outras partes específicas da antologia O Grande Livro de S. Cypriano ou Thesouro do Feiticeiro (1885) foram vendidos pelo bibliófilo e bibliotecário espanhol D. Gumerzindo Ruiz Castillejo y Moreno ao editor português Domingos M. Fernández e depois a Frederico Napoleão de Victória, de mesma profissão, sendo a última negociação firmada em 25/03/1885. Esse time de bibliófilos reuniu diversos opúsculos numa edição dividida em três tomos com encadernação única, incluindo mais de uma mandinga com bonecos.
Esta antologia foi parcialmente traduzida e comentada com explicações abundantes, em 1907, pelo ocultista francês Enediel Shaiah (Alfredo Rodríguez de Aldao). A mesma antologia se tornou a obra de referência que forneceu a maior parte do conteúdo das variantes brasileiras. Entre os títulos que citam ou parafraseiam este ancestral português, dois são tremendamente famosos: A adaptação de Murzim Gemwy e a robusta compilação de N. A. Molina.
A editora Quaresma publicou uma variante anônima do livro de São Cipriano no Brasil de 1939 até 1965. Certamente surgida em 1967 ou 1968, a versão de Murzim Gemwy substituiu sua antecessora.[28] A campanha de divulgação buscou mídias alternativas para atingir um público jovem, leitor de histórias em quadrinhos e fãs do cinema de terror. Na verdade tal livro foi o produto duma franquia de editoras de quadrinhos nacionais: Impressa pela Edrel, era adquirida através de pedido de reembolso postal remetido à editora Tróia e, logo depois, à gloriosa Taika – então instalada no número 70 da Rua Espírita, no bairro do Cambuci, em São Paulo – que anunciou repetitivamente em HQs para jovens rapazes, tais como Seleções de Terror e Drácula. Dizem os envolvidos que com este livro se pretendia vender sonhos e desmistificá-los.
Isso deve ter funcionado, pois naquela época fãs chegavam a citar Casanova ao explicar o modo de pensar dum cordeiro em pele de lobo:
Rireis quando freqüentemente virdes que não tive escrúpulo em enganar distraídos. (…) Felicito-me sempre que me recordo de os ter feito cair em minhas armadilhas, pois eles são insolentes e presunçosos a ponto de desafiarem o espírito. Vingamo-lo quando enganamos um tolo, e a vitória vale a pena, pois um tolo tem couraça, e de ordinário não se sabe por onde pegá-lo. Creio finalmente que ludibriar um tolo é expediente digno de um homem de espírito.[29] • Eles acharão que sempre amei a verdade com tanta paixão que não raro comecei mentindo a fim de conseguir fazê-la entrar em espíritos que desconheciam os encantos dela. Não me quererão mal quando me virem esvaziar a bolsa de meus amigos para atender aos meus caprichos, pois esses amigos tinham projetos quiméricos, e, fazendo-os esperar o êxito, esperava eu mesmo curá-los desenganando-os. Enganava-os para torná-los prudentes, e não me considerava culpado. (…) Para custear meus prazeres, empregava somas destinadas à obtenção de posses que a natureza não possibilita. Se hoje estivesse rico, sentir-me-ia culpado; mas nada possuo, tudo esbanjei, e isto me consola e me justifica. Era um dinheiro destinado a loucuras: Pondo-o a serviço das minhas, não desviei absolutamente seu emprego.[30]
A influência dos romances gráficos no estilo das ilustrações surgiu mais forte em Portugal, onde Martim Avillez fez uma entrada triunfal no catálogo de chancela ilustrando a primeira edição do Grande livro de S. Cipriano ou Tesouros do Feiticeiro (1971), com texto adaptado pelo editor Fernando Ribeiro De Mello. Trata-se de um catálogo de bizarrias às quais Avillez empresta humor com uso de vinhetas e onomatopéias próprios das revistas em quadrinhos, num estilo que varia do traço minucioso, pleno de detalhes e meios-tons em hachuras delicadas, até ao quase esboço. O que torna esta primeira edição da coleção Afrodite notável é o fato de ser impressa na sua quase totalidade – capa e miolo – com cores diretas, incluindo dourados e prateados, e num efeito de gradiente (técnica “split fountain”). O certo é que o resultado final eleva a edição a um nível visual que nenhuma outra atingiu ou procurou fazê-lo, acentuando o caráter mágico e alucinante que Ribeiro de Mello tão astutamente explorou na campanha de promoção e na sessão da “banheira”, fazendo-se acompanhar por figurantes vestidos de Diabo.
As primeiras edições da obra de N. A. Molina, com 512 páginas, não tem a ficha obrigatória com data de publicação impressa nos volumes, mas possui registro na agência International Standard Book Number (ISBN) efetivado em 1973 pela editora Espiritualista, do Rio de Janeiro. Foi, portanto, naquele ano que o compilador N. A. Molina publicou o Antigo Livro de São Cipriano: O Gigante e Verdadeiro Capa de Aço, que não tem e nunca teve capa de metal. Houve censura parcial do conteúdo no Brasil e a obra completa em edição de luxo saiu em Portugal, sendo vendida até hoje pela distribuidora lisbonense licenciada, Dinalivro. A edição portuguesa tem capa dura, preta, com letras gravadas em folha de ouro. Essa edição é procurada no Brasil graças ao design diferenciado de algumas páginas impressas em tinta vermelha e verde e à encadernação rústica semelhante à duma tese de doutorado.
Imagens publicadas entre 1820 e 1920: 1) Livro com falso ano de publicação. 2) A cena do “delicioso banho de fogo que não queima”, no cancioneiro de El Abanico, é uma alegoria alquímica cujo significado oculto ou corolário nas entrelinhas remete à dúvida: Teria o criado Clarín transformado os corpos de Cipriano e Justina em estátuas de cera? 3) Fantasma ou estátua de Justina.
Nem os livros modernos copiam fielmente uns aos outros nem os antigos mantém a redação dos exemplares mais remotos (exceto pela lista de tesouros da Galícia que circulava clandestinamente em Toledo desde o século XVII[31]). Para atender à demanda dum crescente mercado de bruxos do bem as compilações vem se tornando cada vez mais suaves. Ao contrário dos fãs de cinema de terror, os atuais consumidores não apreciam a leitura de receitas onde um gato seja cozido como um caranguejo ou onde um galo de briga seja servido com farofa, como um peru bêbado sacrificado para a ceia de natal.
Livros temáticos falam em “feitiços e receitas que não vamos publicar” porque “é melhor deixá-los nas trevas[32]”. Então o mandingueiro precisa virar arqueólogo colhendo pedaços censurados. A maioria impaciente inventa ritos tão únicos quanto uma fórmula revelada à imprensa em 1898 pelo “satanista” carioca Dr. Justino, que “dormia com uma navalha debaixo do travesseiro, a navalha de Cambucá, um assassino que morrera de um tiro”. Ele adaptou o malefício do boneco de cera com amostras de DNA e outras exigências impares ensinadas pelo diácono apóstata Alphonse Louis Constant, no Dogme et Rituel de la Haute Magie (1856).
Antes de furar e queimar, Dr. Justino enforcava o boneco do odiado exclamando: “Arator, Lepidator, Tentator, Soniator, Ductor, Comestos, Devorator, Seductor, companheiros da destruição e do ódio, semeadores da discórdia que agitam livremente os malefícios, peço-vos e conjuro-vos que admitais e consagreis esta imagem”.[33]
Substituição de um ser vivo por outro
Os interessados no tema do sacrifício humano fariam bem em ler o livro O Altar Supremo, do jornalista Patrick Tierney, traduzido por Dilson Bento e editado pela Bertrand Brasil. Como nosso foco neste trabalho é a execução de figuras humanas (não de humanos propriamente ditos), basta dizer que alguns manuais de magia e revistas temáticas falam da substituição de figuras inanimadas por sapos ou outros animais tratados de forma violenta e cruel.
Em dezembro de 2009 a equipe médica do Hospital do Oeste, em Barreiras, Bahia, coordenada pelo diretor Luiz César Soltoski, descobriu quarenta e duas agulhas espalhadas pelo corpo dum menino de dois anos. Duas perfuraram o pulmão, uma entrou no fígado, outras fincaram na garganta, barriga, pernas, etc. Ele foi tratado como um verdadeiro boneco de feitiço.
O fato foi relatado à Polícia Civil que deu início às investigações. A mãe do menor, residente em Ibotirama, Bahia, informou que o garoto apresentava comportamento estranho e ficava nervoso sempre que o padrasto o convidava para sair. O próprio padrasto, Carlos Magalhães, 30 anos, auxiliar de serviços gerais, confessou que o menino era levado à casa de uma mulher chamada Angelina que praticava rituais de magia negra. Segundo o depoimento registrado pela escrivã da delegacia de Ibotirama, Angelina teria pedido diversas vezes para que o padrasto inserisse as agulhas no menino.
Detalhe duma chapa de radiografia do menino tirada dia 09/12/2009, no Hospital do Oeste, em Barreiras, mostrando algumas agulhas de costura inseridas em eu corpo durante rituais de magia.[34]
Este menino sobreviveu bastante lesionado, assim como alguns sapos sobrevivem para definhar dolorosa e lentamente em certos rituais. O caso tomou os noticiários jornalísticos da semana – sobretudo porque, de acordo com a polícia, todos teriam “envolvimento com uma seita religiosa”.[35] – Três pessoas foram presas preventivamente: A dona do centro, o padrasto e sua amante que teria sugerido que ele levasse a criança àquele lugar.
O dragão vermelho
No conto U červeného draka (1889) o feitiço só é suplantado quando um pintor combate a mímica pela mímica pintando um quadro do manequim feiticeiro. As mandingas sobre desenhos que anulam magias seguem a mesma lógica: “Aquele que souber pintar ou desenhar poderá ver-se livre, muito facilmente, de algum fantasma que o perseguir” porque “ao desenhar o fantasma, estará fazendo com que ele fique preso na tela ou no papel”.[36] Inclusive “os que se crêem perseguidos por vampiros devem pintar numa tela esses vampiros, ou desenhá-los num papel”.[37]
Por que alguém seria perseguido por fantasmas? Certamente porque um feiticeiro realizou um ritual de envoûtement usando um cadáver como modelo de representação. Em 13/10/2012 o Programa do Pedro Augusto, na Rádio Tupi, noticiou uma ocorrência policial inusitada. Logo depois que a mãe de Jussara faleceu, a filha escreveu dezessete nomes de desafetos num papel e pôs a lista dentro da boca da mãe. Os amaldiçoados ficaram sabendo e tentaram roubar o cadáver durante o velório para retirar o papel. A polícia impediu a perturbação da cerimônia funerária e a falecida foi enterrada com a lista enquanto os supersticiosos tentavam inutilmente explicar as hipotéticas conseqüências do feitiço.
O Livro de São Cipriano de Samuel Stamm ensina o trabalho para matar alguém onde se escreve o nome da vitima numa folha de papel branco e coloca num caixão, aos pés do cadáver. “Pede-se ao defunto que, ao partir para a eternidade, leve com ele a tal pessoa”. O pedido é repedido cochichando no ouvido do falecido e pode ser reforçado no Cruzeiro das Almas acendendo uma vela preta para o Orixá Omulu, deus da morte, se o feiticeiro for devoto desta entidade[38]. Clarival do Prado Valladares encontrou evidências de feitiços análogos durante pesquisa de campo no Brasil:
O achado mais estranho nessas pesquisas ocorreu no velho cemitério, de cripta, no antigo Convento de São Francisco, de Vila Velha de Alagoas, hoje Deodoro. O cemitério em desuso, com entrada de alçapão pela Capela do Sacramento, consta de uma cripta de cerca de 4 X 6 m em correspondência às dimensões da capela. (…) Fizemos a documentação fotográfica com um refletor que providencialmente nos serviu para o exame detalhado das inumeráveis inscrições de nomes de pessoas e datas recentes, até de 1965, em letras de imprensa e de uma mesma caligrafia, enchendo totalmente o forro abobadado da cripta. De maneira alguma aquelas inscrições, feitas a fumo de velas, contra o reboco, poderiam corresponder aos nomes dos sepultados. Praticamente todas as datas já estavam fora do seu uso, e nem há sinais nem notícias de sepultamento nestes últimos decênios. Encontramos urnas de restos mortais trasladados, violadas, com os ossos, cabelos e fragmentos de vestes, espalhados sobre um batente. (…) Em nossa interpretação trata-se de prática de feitiçaria, com uma caligrafia idêntica para várias inscrições, cujos nomes não parecem ser de mortos, mas de indiciados do fetichismo. (…) No velho Cemitério de N. S. do Rosário (1875), das ruínas de Iguaçu Velha, além da prática de macumba em torno do Cruzeiro (…) há os restos da base de uma capela-jazigo cuja entrada foi fechada por parede de alvenaria e na qual, posteriormente, se fez uma abertura de 40 X 50 cm. Examinando o interior desta capela-jazigo, com o foco de uma lanterna, encontramos uma quantidade espantosa de objetos de uso pessoal (roupas, cartas, retratos, vidros, terços, etc.) e todas as paredes preenchidas com nomes e datas de pessoas riscadas a carvão, grafite, tinta, e também a fumo de vela. Há uma certa semelhança entre esta observação e aquela outra de Deodoro, de Alagoas. Nossa cautela está em diferenciar a prática ingênua da macumba, em termos de ação votiva e de apelo, com esta outra (…) capaz de atingir a criminalidade.[39]
Márcia Cristina Neves localizou uma variante onde o feiticeiro batiza um boneco numa cachoeira com o nome da vitima, compra objetos pontudos (alfinetes e agulhas) nunca usados para outra finalidade, vai ao cemitério, espeta a representação mimetizando o aviltamento do representado e enterra o boneco aos pés dum defunto fresco, pedindo a este que o leve com ele.[40] Alternativamente enterra uma amostra de DNA num cemitério, dentro de um pequeno caixão, para que todos os mortos persigam alguém.[41] Foi isto que aconteceu no seguinte caso, investigado pela jornalista Letícia Matheus, conforme testemunho da novelista Glória Perez:
Os ossos da atriz Daniella Peres, assassinada em 28 de dezembro de 1992, foram transferidos pela família para um lugar não revelado, depois que foi constatada a violação do túmulo da atriz, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. (…) O túmulo foi aberto na semana do Natal, e, dentro dele, havia flores do cruzeiro. Ao lado, foram encontrados dois bonecos amarrados e espetados com alfinetes. Na lápide, uma inscrição indicava a data do assassinado. — “Havia um detalhe impressionante, que nos remete à noite do crime: Bem junto ao corpo dela, havia ossos de um animal grande serrados. As pontas da sapatilha que enfeita o túmulo também foram cuidadosamente serradas” — contou Glória, revoltada com o vandalismo.[42]
Praticantes de rituais difíceis só deixam papéis nos caixões quando não conseguem enterrar bonecos aos pés dum defunto pedindo ao fantasma que leve o vaticínio com ele. N. A. Molina repetiu o feitiço para sugar a vida de alguém mediante representação. O feiticeiro faz dois bonecos: Um deles representa a si mesmo e o outro o enfeitiçado. Amarrar e pregar o par de bonecos na cabeça cria uma relação de dependência e subordinação. Um prego no peito absorve a saúde de um para o outro. Um prego no ventre causa intranqüilidade. Pregos nas pernas e pés terminam de trancar os caminhos do enfeitiçado[43]. De acordo com N. A. Molina, um boneco solitário é usado com o propósito de prejudicar sem transferir a vida do enfeitiçado para o feiticeiro. No lugar disso o encargo de vampirizar o alheio será dado a Guland, personagem do folclore europeu associado ao Exu Morcego pela tradição oral brasileira.
Disposta assim a figura, uma noite à hora de Saturno atravessa-a em todos os sentidos, com agulhas ou espinhos envenenados, cobre-a de injúrias e maldições em nome de Guland, imaginando firmemente que tens à tua frente a mesma pessoa de corpo e alma; joga por fim o boneco no fogo. Se tudo isto fizeres como digo, pondo toda tua fé e força de vontade, não duvides de que, como a cera se derreterá e consumirá, assim se consumirá a pessoa sofrendo dores agudas em todas as partes correspondentes às feridas feitas na figura[44].
A exigência do cálculo do horário dedicado ao planeta Saturno por tabelas de almanaques astrológicos é acessória. O cerne abstrato de caráter universal e transcendental do rito independe de horários, da aprovação de deus e da ação de interventores (santos, exus, fantasmas, etc.). O hipnotizador cético faz isto sozinho. O desejo do agente é canalizado pela idealização do fetiche e se realiza plenamente na reação alheia diante da representação.
Nos séculos passados, quando existiam muitas formas de protesto contra a igreja católica, certos autores faziam sua parte elaborando receitas polêmicas. Daí vem os bonecos cheios de pó de hóstia e outros elementos vinculados. Alphonse Louis Constant acusou necromantes ansiosos por cometer sacrilégios misturando a cera liquefeita com óleo batismal e cinzas de hóstias queimadas: “Padres apóstatas sempre se encontravam para lhes dar os tesouros da Igreja”, modelavam imagens de alta qualidade artística, “davam-lhe os sacramentos” e infligiam torturas imaginárias pronunciando “todas as maldições que exprimiam o ódio do feiticeiro”.[45]
Algumas vezes o envoûtement foi usado em protestos políticos e eventos análogos. Essa atitude não mata ninguém, mas incomoda. Achar um boneco morto que te representa é medonho! Em 1447 a esposa do Duque de Gloucester, Roger Brolingbroke e um feiticeiro se juntaram para acender chamas perto duma escultura de Henrique VI, simulando a morte do monarca por insolação.[46] Em algum momento entre quinze de novembro de 1894 e quinze de novembro de 1898 um partido de oposição planejou um ritual de envoûtement que simularia a morte de Prudente de Moraes, o Presidente do Brasil. Seria um ritual verdadeiramente assustador e grandioso com carcaças de animais jorrando sangue para todos os lados, mas os revolucionários desistiram porque o feiticeiro cobrou sessenta contos de réis.[47] Em 1900 um boneco de William McKinley, o Presidente dos Estados Unidos, foi crivado de alfinetes e queimado nas escadas da embaixada norte-americana em Londres.
Notas:
[1] MOLINA, N. A. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro capa de aço. 29ª edição. Rio de Janeiro, Espiritualista, sem data, p 7-8.
[2] N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 111.
[3] De acordo com o perito avalista do acervo do Wierius – o mais importante leilão de livros de alquimia e magia cerimonial da atualidade – a primeira edição, com 107 páginas, mente o ano de publicação (1521) na página de rosto, sendo na verdade uma compilação do século XVII ou XVIII. O título Le Dragon Rouge, ou l’art de Commander les Espritis Celestes, sem autoria nem data, consta no catálogo da biblioteca de Amos Strettell (1720-1780).
[4] N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 122.
[5] COLDERÓN. El Magico Prodigioso. Zaragoza, Ebro, 1971, p 82-83 e 101.
[6] COLDERÓN. El Magico Prodigioso. Zaragoza, Ebro, 1971, p 85.
[7] O GRANDE LIVRO DE SÃO CYPRIANO OU THESOURO DO FEITICEIRO. Lisboa, J. Andrade & Lino de Sousa, 1885, tomo II, p 15-16. || A adaptação brasileira acrescenta uma exigência: “Estas palavras devem ser repetidas por nove dias seguidos, sempre durante as batidas do meio dia dos sinos da igreja mais próxima da casa da pessoa que se deseja enfeitiçar”. (NEGRÃO, Walter. O Livro de São Cipriano. São Paulo, Três, sem data, p 24).
[8] Bernardo Barreiro localizou e publicou o ritual omitido por Gumerzindo e outros, por “receio de que algum estouvado use dele”, no tópico sobre o “poder oculto ou segredo da varinha de aveleira”. A fonte contemporânea ensina a evocar Elohim, Adonay, Jeová, Ariel e um espírito interventor (Lharia-Thai) para produzir uma réplica da vara de Moisés, entalhada em madeira da árvore Corylus avellana. (O GRANDE LIVRO DE SÃO CYPRIANO OU THESOURO DO FEITICEIRO. Lisboa, J. Andrade & Lino de Sousa, 1885, tomo I, p 94, tomo II, p 21-23 e 78-79; BARREIRO, Bernardo. Brujos Y Astrólogos de la Inquisición de Galicia y el Famoso Libro de San Cipriano. Madrid, Akal, 1980, p 270-271).
[9] O GRANDE LIVRO DE SÃO CYPRIANO OU THESOURO DO FEITICEIRO. Lisboa, J. Andrade & Lino de Sousa, sem data, tomo II, p 70-72; O TRADICIONAL LIVRO NEGRO DE SÃO CIPRIANO. Rio de Janeiro, Pallas, 1993, p 34-35; NEGRÃO, Walter. O Livro de São Cipriano. São Paulo, Três, sem data, p 16.
[10] GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 77. || Compare com a corruptela coletada por Mauss onde se exige “passar um de seus cabelos no buraco de uma agulha que costurou três mortalhas…” (MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. Trd. Paulo Neves. São Paulo, Cosac Naify, 2003, p 104).
[11] NEGRÃO, Walter. O Livro de São Cipriano. São Paulo, Três, sem data (certamente editado entre 1970 e 1980), p 28.
[12] VIZEU, Adélio Perdigão. O Antigo e Verdadeiro Livro Gigante de São Cipriano. Rio de Janeiro, Eco Mandarino, p 165.
[13] Hand of Glory. Em: WHITBY MUSEUM: Museum collection – special collections. Publicado em 01/03/2014. URL: http://www.whitbymuseum.org.uk/collections/hogg.htm
[14] HAINING, Peter. O Livro do Feiticeiro. Trd. Luiza Muros da Silveira. RJ, Pallas, 1983, p 110-111.
[15] HUSSON, Bernard. O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 380; PLANCY, Jacques Albin Simon Collin de. Dictionnaire Infernal. Paris, Librairie Universelle de P. Mongié Aîné, 1826, p 482.
[16] LEVI, Eliphas. História da Magia. Trd. Rosabis Camaysar. São Paulo, Pensamento, 1995, p 167-170.
[17] PEUCKERT, Will-Erich. Pansophie: Em versuch zur geschichte dei weissen und schwarzen Magie. Berlín, Erich Schmidt Verlag, 1956, p 47.
[18] Acrônimo de Salamanca com Solomōn (Σολομών), supondo um hipotético livro La Salamántica ou The Solomancie de Clemente Potosí ou outro, baseado na Clavicula Salomonis. Em 1820, A. Beniciana Kabina revelou que São Cipriano era o codinome do autor compilador de La Granguejería ou Gran Gregeria (1820), nome alternativo da então proibida Clavicula Salomonis. Inclusive é verdade que até hoje as edições de São Cipriano tem capítulos intitulados “Chave de Salomão”. O problema é que o conteúdo da clavícula não é estável. O conhecimento enciclopédico que YHWH deu ao Rei Salomão (1 Reis 4:29-34) originou o mito do livro de magia cerimonial que foi visto por Flávio Josefo nas mãos do exorcista Eleazar, nativo de Jerusalém, no primeiro século da era cristã (Antiguidade Judaica 8. 2. 5.). Na versão do Talmude deus da poder e autoridade a Salomão, mas é Ashmedai quem revela segredos sob coação (B. Gittin 68a-b). A primeira edição do Index librorum prohibitorum (1559) censurou o Talmude e a Clavicula Salomonis, juntamente com quaisquer críticas, sátiras e citações. Não se podia falar a favor ou conta os apócrifos do Rei Salomão porque isto era um tabu absoluto. Então certos editores começaram a substituir títulos e nomes proibidos por figuras familiares ao cristianismo. Por exemplo, o título da comédia Liber Belial: De Consolatione Peccatorum (1382), de Jacobus Palladinus de Teramo (1349-1417), mudou para Processus Luciferi contra Iesum coram Iudice Salomone na reedição de 1611.
[19] GERARD, Emily. The Land Beyond the Forest: Facts, figures and fancies from Transylvania. New York, Harper & Brothers, 1888, p 198-199; SENN, Harry A. Were-Wolf and Vampire in Romania. New York, Columbia University Press, 1982, p 8 e 109.
[20] NETO, Hermann Windisch. “Homeopatia: Ciência ou superstição” Em: MONTFORT Associação Cultural. Online, 28/06/2014 às 18:52h. URL: http://www.montfort.org.br
[21] MARQUES, A. H. de Oliveira. Dicionário de Maçonaria Portuguesa. Vol II, J-Z. Lisboa, Editorial Delta, 1986, p 1263.
[22] VIDA Y MARTIRIO DE LOS GLORIOSOS SAN CIPRIANO Y SANTA JUSTINA. Manresa, El Abanico, sem data (c. 1980-1912). 4 p; VERDADERA ORACIÓN DE LOS GLORIOSOS MÁRTIRES S. CIPRIANO Y STA. JUSTINA ACOMPAÑADA DE LA SS. CRUZ DE CARAVACA. Manresa, Sociedad Editorial Manresana, sem data (c. 1980-1912). 16 p.
[23] SCHOLTEN, Max. El Libro de San Cipriano. Barcelona, Dalmau Socías, p 13.
[24] MR ZALOTTE. As Ciências Ocultas. Em: O GRANDE LIVRO DE SÃO CYPRIANO OU THESOURO DO FEITICEIRO. Lisboa, J. Andrade & Lino de Sousa, sem data, Livro III, p 8.
[25] MARIUS, Dorius C. O Livro Revelação de São Cipriano. Rio de Janeiro, Monterrey, 1995, p 17.
[26] HEPTAMERON Ó ELEMENTOS MAGICOS: Compuesto por el gran Cipriano famoso majico, traducido al latin y de este as Frances por Estehhaazy y ultimamente a la lengua castellana, por Fabio Salazar y Quincoces, ascrologo, alquimisla y profundo naturalista. Barcelona, Parsifal Ediciones, 1989. 88 p.
[27] BARREIRO, Bernardo. Brujos Y Astrólogos de la Inquisición de Galicia y el Famoso Libro de San Cipriano. Akal, 1980, p 253-294.
[28] Apesar da capa festivamente colorida, a versão de Murzim Gemwy foi intitulada O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano porque sucedeu a O Grande e Verdadeiro Livro de S. Cypriano da editora Quaresma, que circulou com três capas diferentes de 1939 até 1965 e cuja última edição tinha capa vermelha e negra. Na interessantíssima capa em preto e branco da primeira edição da Quaresma o feiticeiro destila um composto líquido numa retorta aquecida sobre um fogão à lenha feito de tijolos. Da fumaça sai um sátiro. Tem crânio e ossos espalhados pelo chão. Sobre uma mesa existe um esqueleto completo, de pé, montado à semelhança dos modelos das faculdades de medicina. Em todas as capas da Quaresma o feiticeiro tem cartas de pôquer na mesa, para adivinhação, mas a arte das edições coloridas é comparativamente pobre e infantilizada.
[29] CASANOVA, Giacomo. Memórias de Casanova. Trd. Caio Jardim. Rio de Janeiro, José Olympio, vol 1, p 132.
[30] CASANOVA, Giacomo. Op cit, p 142.
[31] Em 1610 a inquisição de Toledo apreendeu e destruiu El Libro de San Cipriano, cujas cópias eram feitas e comercializadas pelo médico mouro Juan de Toledo, 25 anos. As pinturas para desencantar tesouros não expuseram nenhuma riqueza aos clientes de Juan. (SIERRA, Julio. Procesos en la Inquisición de Toledo (1575-1610): Manuscrito de Halle. Madrid, Trotta, 2005, p 574-575).
[32] O LIVRO DE OURO DE SÃO CIPRIANO: Magias positivas para o bem. São Paulo, Escala, p 10.
[33] BARRETO, Paulo. As Religiões do Rio. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1976, p 118.
[34] GTERRA (redação e edição). “Polícia apura se bebê com agulhas no corpo foi vítima de ritual de magia negra”. Em: Portal G Terra. Publicado em 16/12/2009 às 20:14h. URL: http://www.gterra.com.br/policia/policia-apura-se-bebe-com-agulhas-no-corpo-foi-vitima-de-ritual-de-magia-negra-veja-imagem-23460.html
[35] PADRASTO CONFESSA TER INSERIDO AGULHAS EM MENINO EM BA. Em: IG: Último Segundo. Agência Estado, 16/12/2009, publicado às 20:49h. (Url atualmente removida).
[36] BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 76.
[37] LIANO JR, Nelson e COELHO, Paulo. Manual Prático do Vampirismo. Rio de Janeiro, ECO, 1986, 97.
[38] STAMM, Samuel. O Livro de São Cipriano. Rio de Janeiro, Rede Carioca, 2002, p 103.
[39] VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.
[40] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 85.
[41] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, 72.
[42] MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.
[43] N. A.MOLINA. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro Capa de Aço. (29a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 240-241; O GRANDE LIVRO DE SÃO CYPRIANO OU THESOURO DO FEITICEIRO. Lisboa, J. Andrade & Lino de Sousa, sem data, tomo II, p 21-23.
[44] N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 122-124.
[45] LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 355 e 358.
[46] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 58-59.
[47] BARRETO, Paulo. As Religiões do Rio. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1976, p 37.
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