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*Éter ou Ether: Os estudantes são muito propensos a confundir o Éter com o Akâza e com a Luz Astral. O Éter é um agente material, embora nenhum aparelho físico o tenha, até agora, descoberto, o Akâsa é um agente distintamente espiritual, idêntico em certo sentido a Anima Mundi, e a Luz Astral é apenas o sétimo e mais elevado princípio da atmosfera terrestre, tão impossível de descobrir como o Akâsa Cósmica e o verdadeiro Éter, por ser algo que se encontra completamente em outro plano. O sétimo princípio da atmosfera terrestre, ou seja a Luz Astral, é apenas o segundo da escala cósmica. A Escala de Forças, Princípios, e Planos cósmicos, de Emanações (no plano metafísico) e Evoluções (no físico), é a Serpente Cósmica que morde sua própria cauda, a Serpente que reflete a Serpente superior e que é refletida, por sua vez, pela inferior. O Caduceu explica este mistério e o quádruplo dodecaedro sobre cujo modelo, diz Platão, o Universo foi construído pelo Logos manifestado – sintetizado pelo Primeiro-Nascido não-manifestado -, dá geometricamente, a chave da Cosmogonia e seu reflexo microcósmico, ou seja, a nossa Terra. [O Éter, verdadeiro Proteu hipotético, uma das “ficções representativas” da ciência moderna, é um dos princípios inferiores do que chamamos “Substância Primordial” (Akâza em sânscrito), um dos sonhos da Antiguidade e que agora tornou a ser o sonho da ciência de nossos dias. Segundo o Dicionário de Webster, o Éter “é um meio hipotético de grande elasticidade e extrema sutileza, que se supõe preencha todo o espaço, sem executar o interior dos corpos sólidos, e seja o meio de transmissão da luz e do calor”. Para os ocultistas, contudo, tanto o Éter como a Substância Primordial não são coisas hipotéticas, mas verdadeiras realidades. Acredita-se geralmente que o Akâza, da mesma forma que a Luz Astral dos cabalistas, são o Éter, confundindo-se este com o Éter hipotético da ciência. Grave erro. O Akâza é a síntese do Éter, é o Éter Superior. O Éter é o “revestimento” ou um dos aspectos do Akâza; é sua forma ou seu corpo mais grosseiro; ocupa toda a vacuidade do Espaço (ou melhor, todo o conteúdo do Espaço) e sua propriedade é o som (a Palavra). É o quinto dos sete Princípios ou Elementos cósmicos, que por sua vez tem sete estados, aspectos ou princípios. Este elemento semimaterial será visível no ar no final da quarta Ronda e se manifestará plenamente na quinta. E Éter, como o Akâza, tem por origem o Elemento único. O Éter dos físicos, o Éter inferior, é apenas uma de suas subdivisões em nosso plano, a Luz Astral dos cabalistas, com todos os seus efeitos, tanto bons quanto maus. O Éter positivo, fenomenal, sempre ativo, é uma força-substância , enquanto o onipresente e onipenetrante Æther é o número do primeiro, ou seja o Akâza. (Glossário Teosófico).
A FORÇA PRIMORDIAL, E, SUAS CORRELAÇÕES.
Tem havido uma infinita confusão de nomes para expressar uma única e mesma coisa.
O caos dos antigos; o sagrado fogo zoroastrino, ou o Âtas-Behrâm dos pârsis o fogo de Hermes; o fogo de Elmes dos antigos alemães; o relâmpago de Cibele; a tocha ardente de Apolo; a chama sobre o altar de Pan; o fogo inextinguível do tempo de Acrópolis, e do de Vesta; a chama ígnea do elmo de Plutão; as chispas brilhantes sobre os capacetes dos Dióscuros, sobre a cabeça de Górgona, o elmo de Palas, e o caduceu de Mercúrio; o Ptah egípcio, ou Râ; o Zeus Kataibates (o que desce); as línguas de fogo pentecostais; a sarça ardente de Moisés; a coluna de fogo do Êxodo, e a “lâmpada ardente” de Abrão; o fogo eterno do “poço sem fundo”; os vapores do oráculo de Delfos; a luz sideral dos Rosa-cruzes; o ÂKÂSA dos adeptos hindus; a luz astral de Éliphas Lévi; a aura nervosa e o fluído dos magnetizadores; o od de Reichenbach; o globo ígneo, ou o gato meteoro de Babinet; o Psicode e a força ectênica de Thuri; a força psíquica de Sergeant E.W. Cox e do Sr. Crookes; o magnetismo atmosférico de alguns naturalistas; galvanismo; e, finalmente, eletricidade, são apenas nomes diversos para inúmeras manifestações diferentes, ou efeitos da mesma misteriosa causa que a tudo penetra – o grego Archaeus.
Sir E. Bulwer-Lytton, em seu coming Race [cap. VII], descreve-a como o VRIL; utilizada pelas populações subterrâneas, e permitiu aos seus leitores entendê-la como ficção. “Esse povo”, diz ele, “considerava que no vril eles chegaram à unidade dos agentes naturais da energia”; e prossegue para mostrar que Faraday os designou “sob o nome mais cauteloso de correlação”, pois:
“Sustentei durante muito tempo a opinião, quase a convicção, partilhada, acredito, por muitos outros amantes do conhecimento da Natureza, de que as várias formas sob as quais as forças da matéria se manifestam TÊM UMA ORIGEM COMUM; ou, em outras palavras, têm uma correlação tão direta, dependem tão naturalmente uma das outras, que são intercambiáveis e possuem, em sua ação, poderes equivalentes”.
Absurda e acientífica como possa parecer a nossa comparação do vril inventado pelo grande romancista, e da força primordial do igualmente grande empirista, com a luz astral cabalística, ela é, não obstante, a verdadeira definição dessa força. Desde que começamos a escrever esta parte de nosso livro, numerosos jornais têm anunciado a suposta descoberta pelo Sr. Edson, o eletricista de Newark, Nova Jersey, de uma força, a qual parece ser pouco em comum com a eletricidade, ou o galvanismo, exceto o princípio da condutividade. Se demonstrada, ela permanecerá por longo tempo sob alguns nomes científicos pseudônimos; mas, não obstante, ela será apenas das numerosas famílias de crianças paridas, desde o começo dos tempos, por nossa mãe cabalística, a Virgem Astral. De fato, o descobridor diz que “ela é tão diferente e tem regras tão regulares quanto o calor, o magnetismo ou a eletricidade”. O jornal que contém o primeiro relato da descoberta acrescenta que “o Sr. Édison pensa que ela existe em conexão com o calor, e que ela pode ser gerada por meios independentes mas ainda ignorados”.
A possibilidade de suprimir a distância entre as vozes humanas por meio do telefone (falar a distância), um instrumento inventado pelo Prof. A. Grahm Bell – é outra das mais recentes e surpreendentes descobertas.
Em relação a essas descobertas podemos, talvez, lembrar utilmente aos nosso leitores as numerosas alusões que se podem encontrar nas antigas histórias a respeito de certo segredo detido pelo clero egípcio, que podia comunicar-se instantaneamente, durante a celebração dos mistérios, de um templo a outro, mesmo se o primeiro estivesse em Tebas e o segundo em outra extremidade do país; as lendas atribuem-no, naturalmente, às “tribos invisíveis” do ar, que levam mensagens aos mortais. O autor de Pre-Adamite Man cita uma passagem que, dada simplesmente por sua própria autoridade, e ele parece não saber ao certo se a história provêm de Macrino ou de qualquer outro escritor, deve ser tomada pelo que vale. Ele encontrou boas evidências, segundo diz, durante sua estada no Egito, de que “uma das Cleópatas [?] enviou notícias por um fio a toda as cidades, de Helópolis a Elefantina, no Alto Nilo”.
O ÉTER UNIVERSAL, E A NATUREZA DA SUBSTÂNCIA PRIMORDIAL.
Aqueles que não prestaram atenção ao assunto podem surpreender-se ao ver quanto já se sabia, nos tempos antigos, a respeito do princípio sutil que a tudo penetra e que foi recentemente batizado de ÉTER UNIVERSAL.
Antes de prosseguir, desejamos uma vez mais enumerar em duas proposições categóricas o que foi sugerido até aqui. Esta proposições eram leis demonstradas para os antigos teurgistas.
1. Os chamados milagres, a começar de Moisés e finalizando em Cagliosto, quando genuínos, estavam, como de Gasparin insinua muito corretamente em sua obra sobre os fenômenos, “perfeitamente de acordo com a lei natural”; portanto – nada de milagres. Eletricidade e magnetismo foram inquestionavelmente utilizados na produção de alguns prodígios, mas agora, como então, eles eram requisitados por todos os sensitivos que se servem inconscientemente desses poderes pela natureza peculiar de sua organização, a qual funciona como um condutor para alguns desses fluidos imponderáveis, ainda tão ignorados pelos físicos modernos.
2. Os fenômenos de magia natural testemunhados em Sião, Índia, Egito e outros países orientais não têm qualquer relação com a prestidigitação; aquela é um efeito físico absoluto, devido à ação das forças naturais ocultas, esta um resultado ilusório obtido por hábeis manipulações suplementares por comparsas.
Os taumaturgos de todos os períodos, escolas e países operavam suas maravilhas porque estavam perfeitamente familiarizados com as imponderáveis – em seus efeitos – mas outro lado perfeitamente tangíveis ondas da luz astral. Eles controlavam as correntes guiando-as com a sua força de vontade. As maravilhas eram de caráter físico e psicológico; as primeiras enfeixavam os efeitos produzidos sobre objetos materiais; as últimas, os fenômenos mentais de Mesmer e seus sucessores. O Mesmerismo é o ramo mais importante da Magia; e seus fenômenos são os efeitos do agente universal que sustenta toda a magia e que produziu em todos os tempos os chamados milagres.
Os antigos chamaram-no Caos; Platão e os pitagóricos designaram-no como a Alma do Mundo. De acordo com os hindus, a Divindade em forma de éter invade todas as coisas. É o fluído invisível, mas, como dissemos antes, tangível. Entre outros nomes, Proteu universal – ou “o nebuloso Onipotente”, como o chama sarcasticamente De Mirville – foi designado pelos teurgistas como “o fogo vivo”, o “Espírito de Luz”, e Magnés. Este último nome indica as suas propriedades magnéticas e revela sua natureza mágica. Pois, como acertadamente disse um de seus inimigos – µáyos e µáyvns são dois ramos que crescem do mesmo tronco, e que produzem os mesmos resultados.
Magnetismo é uma palavra cuja origem cumpre remontar a uma época incrivelmente antiga. A pedra chamada magnete derivaria seu nome, como muitos acreditam, de Magnésia, uma cidade ou distrito da Tessália, onde essas pedras eram encontradas em abundância. Acreditamos, contudo, que a opinião dos hermetistas é correta. A palavra magh, magus, deriva do sânscrito mahat, o grande ou o sábio (o ungido pela sabedoria divina). “Eumolpo é o fundador mítico dos eumolpidae (sacerdotes); os sacerdotes remontavam sua própria sabedoria à Inteligência Divina”. As várias cosmogonias mostravam que a Alma Universal era considerada por todas as nações como a “mente” do Criador Demiurgo, a Sophia dos gnósticos, ou o Espírito Santo como um princípio feminino. Como os magi derivaram seu nome daí, a pedra magnética, ou imã, foi assim chamada em sua honra, pois eles foram os primeiros a descobrir as suas maravilhosas propriedades. Seus templos espalhavam-se pelo país em todas as direções, e entre eles havia alguns templos de Hércules – daí a pedra, quando se divulgou que os sacerdotes a utilizavam para seus propósitos curativos e mágicos, ter recebido o nome de pedra magnética ou hercúlea. Sócrates, falando a seu respeito, assinala: “Eurípedes chama-a pedra magnética, mas o povo comum, pedra hercúlea.” A terra e a pedra é que foram designadas de acordo com os magi, não os magi de acordo com ambos. Plínio informa-nos que o anel nupcial dos romanos era magnetizado pelos sacerdotes antes da cerimônia. Os antigos historiadores pagãos mantiveram cuidadosamente o silêncio sobre certos mistérios do “sábio” (magi), e Pausânias foi advertido por um sonho, diz ele, a não revelar os ritos sagrados do tempo de Deméter e Perséfone em Atenas.
A ciência moderna, depois de ter inutilmente negado o magnetismo animal, viu-se obrigada a aceitá-lo como um fato. Hoje ele é uma propriedade reconhecida da organização humana ou animal; quanto à sua influencia oculta, psicológica, as Academias lutam contra ela, em nosso século, mais ferozmente do que nunca. Isto é mais lamentável do que surpreendente, pois os representantes da “ciência exata” são incapazes de nos explicar, ou mesmo de nos oferecer algo como um hipótese razoável para a inegável potência misteriosa contida num simples imã. Começamos a ter diariamente provas de que esta potências sustentam os mistérios teúrgicos e, portanto, poderiam talvez explicar as faculdades ocultas que os antigos e os modernos teurgistas possuíam como um de seus mais extraordinários efeitos. Tais foram os dons transmitidos por Jesus a alguns de seus discípulos. No momento de suas curas miraculosas, o Nazareno sentia que um poder saía de si. Sócrates, em seu diálogo com Theages, falando-lhe de seu deus familiar (demônio), e de seu poder de comunicar a sua (de Sócrates) sabedoria aos discípulos ou de impedi-lo de reparti-la com as pessoas com quem se associava, aduz a seguinte passagem em corroboração às suas palavras: “Eu te contarei, Sócrates”, diz Aristides, “uma coisa incrível, mas, pelos deuses, uma verdade. Beneficiei-me quando me associei a ti, mesmo se eu apenas estava na mesma casa, embora não na mesma sala; porém mais ainda, quando eu estava na mesma sala (…) e muito mais quando eu te olhava (…). Mas eu me beneficiei muito mais quando eu me sentava próximo de ti e te tocava”.
Tal é o Magnetismo e o Mesmerismo moderno de Du Potet e outros mestres, que, quando submetem uma pessoa à sua influência fluídica, podem comunicar-lhe todos os seus pensamentos, ainda que à distância, e com um poder irresistível forçar seus pacientes a obedecerem suas ordens mentais. Mas como essa força psíquica era mais bem conhecida entre os antigos filósofos! Podemos vislumbrar alguma informação sobre esse assunto desde as mais antigas fontes. Pitágoras ensinava a seus discípulos que Deus é a mente Universal difundida através de todas as coisas, e que esta mente, apenas pela virtude de sua identidade
universal, poderia comunicar-se de um objeto a outro e criar as coisas apenas pela força de vontade do homem. Para os antigos gregos, Kurios era a Mente de Deus (Nous). “Ora, Koros [Kurios] significa a natureza pura e imaculada do intelecto – a sabedoria”, diz Platão. Kurios é Mercúrio, a Sabedoria Divina, e “Mercúrio é o Sol”, do qual Thor-Hermes recebeu esta sabedoria divina, a qual, por sua vez, ele comunicou ao mundo em seus livros. Hércules é também o Sol – o celeiro celestial do magnetismo universal: ou antes, Hércules é a luz magnética que, tendo feito seu caminho através do “olho aberto do céu”, penetra as regiões do nosso planeta e assim se torna o Criador. Hércules executa os doze trabalhos, valente Titã! Chamam-no “Pai de Tudo” e “autonascido” (autophuês). Hércules, o Sol, é morto pelo Demônio. Tífon como Osíris, que é o pai e o irmão de Hòrus, e ao mesmo tempo é idêntico a ele; e não devemos esquecer que o imã chamava-se o “osso de Hórus”, e o ferro, o “osso de Tífon”. Chamam-no “Hércules Invictus apenas quando ele desce ao Hades (o jardim subterrâneo), e, colhendo as “maçãs douradas” da “árvore da vida”, mata o dragão. O poder titânico bruto, o “revestimento” de todo deus solar, opões a força da matéria cega ao espírito divino, que tenta harmonizar todas as coisas da Natureza.
O SOL OCULTO
Todos os deuses solares, com seu símbolo, o Sol Visível, são os criadores da natureza física, apenas. A espiritual é obra do Deus Superior – o SOL Oculto, Central e Espiritual, e de seu Demiurgo – a Mente Divina de Platão, e a Sabedoria Divina de Hermes Trimegistro – a sabedoria emanada de Olam ou Cronos.
“Após a distribuição do fogo puro, nos mistérios samotrácios, uma nova vida começava”. Era esse o “novo nascimento” a que alude Jesus em seu diálogo noturno com Nicodemos. “Iniciados nos mais sagrados de todos os mistérios, purificando-nos (…) tornamo-nos justo e santos com sabedoria.” “Soprou sobre eles e lhes disse: ‘Recebi o Santo Pneuma’ (Alento; vento; ar, alma, espírito; voz; a síntese dos sete sentidos.) E este simples ato de força de vontade era suficiente para comunicar o dom da profecia em sua forma mais nobre e mais perfeita se o instrutor e o iniciado fossem dignos dele. Ridicularizar este dom, mesmo em seu atual aspeto, “como a oferenda corrupta e os restos prolongados de uma antiga época de superstição, e apressadamente condená-lo como indigno de uma sóbria investigação, seria tão errado quanto poucos filosófico”, assinala o Rev. J.B. Gross. “Remover o véu que oculta nossa visão do futuro, sempre se tentou em todas as idades do mundo; e daí a propensão para investigar os arcanos do tempo, considerada como uma faculdades da mente humana, vir recomendada até nós sob a sanção de Deus. (…) Zuínglio, o reformado suíço, atribuía compreensão de sua fé na providência de um Ser Supremo à doutrina cosmopolita de que o Espírito Santo não foi inteiramente excluído da parte mais digna do mundo pagão. Admitindo que isso seja verdade, não podemos conceber facilmente uma razão válida para que um pagão, uma vez favorecido, não fosse capaz da verdadeira profecia.”
A SUBSTÂNCIA PRIMORDIAL QUE TUDO CONTÉM.
Pois bem, o que é essa substância mística, primordial? No livro Gênese, no começo do primeiro capítulo, ela é designada como a “face das águas”, sobre a qual, se fiz, flutuava o “Espírito de Deus”. Jó menciona, no cap. XXVI, 5, que “a alma dos mortos tremem debaixo das águas com seus habitantes”. No texto original, em lugar de “almas mortas”, está escrito Rephaim (gigantes, ou homens primitivos poderosos) mortos, de cuja “Evolução” se poderá um dia traçar a nossa presente raça. Na mitologia egípcia, Kneph, o Deus Eterno não-relado, é representado por um emblema serpentino da eternidade que circunda uma urna aquática, com sua cabeça que plana sobre as águas, que ele incuba com o seu hábito. Neste caso, a serpente é o Agathodaemôn, o espírito bom; em seu caráter oposto é Kakodaimôn – o espírito mau. No Eddas escandinavo, o maná – o alimento dos deuses e das ativas e criativas Yggdrasill (abelhas) – corre durante as horas da noite, quando a atmosfera está impregnada de umidade; e nas mitologias do Norte, como o princípio passivo da criação, ela simboliza a criação do universo a partir da água; este maná é a luz astral em uma de suas combinações e possui propriedades tanto criativas como destrutivas. Na lenda caldaica de Berosus, Oannes ou Dagon, o homem-peixe, ao instruir o povo, mostra o mundo incipiente criado das águas e todos os seres que se originaram dessa prima matéria. Moisés ensina que apenas a terra e a água podem produzir uma alma viva; e lemos nas Escrituras que as ervas não podiam crescer antes que o Eterno fizesse chover sobre a Terra. No Popol-Vuh quíchua, o homem é criado do mud, argila (terra glaise), retirado de sob as águas. Brahmâ cria Lomasa, o grande muni (ou primeiro homem), sentado sobre lótus, apenas depois de ter chamado à vida os espíritos, que estão gozando entre os mortais de uma prioridade de existência, e ele o cria da água, do ar e da terra. Os alquimistas afirmam que a Terra primordial ou pré-adâmica, quando reduzida à sua substância primeira, é em seu segundo estágio de transformação como a água límpida, sendo o primeiro degrau o alkahest propriamente dito. Afirma-se que esta substância primordial contém em si a essência de tudo o que contribui para a formação do homem; ela tem não apenas todos os elementos de seu ser físico, mas também o próprio “sopro de vida” num estado latente, pronto para ser despertado. Isto ela recebe da “incubação” do Espírito de Deus sobre a face das águas – o caos; de fato, esta substância é o próprio caos. Paracelso afirmou ser capaz de com ela criar os seus homunculi; e eis por que Tales, o grande filósofo natural, sustentava que a água era o princípio de todas as coisas da Natureza. O que é esse caos primordial senão o éter. O moderno éter; não tal como é conhecido por nossos cientistas, mas tal como era conhecido pelos antigos filósofos, muito tempo antes de Moisés; éter, como todas as suas propriedades misteriosas e ocultas, que contém em si os germes da criação universal; Éter, a virgem celeste, a mãe espiritual de toda forma e ser existentes, de cujo seio, assim que são “incubadas” pelo Espírito Divino, nascem a matéria e a vida, a força e a ação. Eletricidade, magnetismo, calor, luz e ação química são tão pouco conhecidos, mesmo agora que fatos recentes estão constantemente alargando o círculo de nosso conhecimento! Quem sabe onde termina o poder desse gigante protéico – éter; ou onde está a sua misteriosa origem? Quem, queremos saber, nega o espírito que age nele e dele extrai todas as formas visíveis?
É uma tarefa fácil mostrar que as lendas cosmogônicas espalhadas por todo o mundo baseiam-se nos conhecimentos que os antigos possuíam a respeito das ciências que hoje se aliaram para apoiar a doutrina da evolução; e que pesquisas posteriores poderão demonstrar que eles estavam mais familiarizados com o fato da própria evolução, nos seus dois aspectos, físico e espiritual, do que nós hoje. Para os filósofos antigos, a evolução era um teorema universal, uma doutrina que abrangia o todo, e um princípio estabelecido; enquanto os nossos modernos evolucionistas são capazes de apresentar apenas teorias especulativas; teoremas particulares, senão totalmente negativos.
A UNIFORMIDADE DA ALEGORIA DA ÁGUA E DO ESPÍRITO.
Um fato, pelo menos, está provado: não existe um único fragmento cosmogônico, pertença à nação que for, que não sustente por sua alegoria universal da água e do espírito que plana sobre ela, do mesmo modo que os nossos físicos modernos que o universo se originou do nada; pois todas as suas lendas começam com aquele período em que os vapores nascentes e a obscuridade cimeriana planavam sobre a massa fluida preste a começar a sua jornada de atividade ao primeiro sopor DELE, que é o PRINCÍPIO NÃO REVELADO. Elas O sentem, se não O vêem. Suas intuições espirituais ainda estavam tão obscurecidas por sutis sofismas dos séculos precedentes como o está o nosso próprio agora. Se elas falavam menos da época siluriana que se desenvolveu lentamente no mamaliano, e se o tempo cenozóico foi lembrado apenas pelas várias alegorias do homem primitivo – o Adão de nossa raça -, isso é apenas uma prova negativa de que esses “sábios” e mestres não conheciam tão bem quanto nós esses períodos sucessivos. Nos dias de Demócrito e Aristóteles o ciclo já tinha começado a entrar em seu caminho descendente de progresso. E se esses dois filósofos pudessem discutir tão bem a teoria atômica e remontar o átomo ao ponto material ou físico, seus ancestrais devem ter ido mais longe.
Não é apenas dos livros mosaicos que pretendemos retirar as provas para os nossos argumentos ulteriores. Os antigos judeus tiraram todo o seu conhecimento – tanto religiosos quanto profano – das nações com as quais se tinham mesclado nos períodos mais remotos. Mesmo a mais antiga de todas as ciências, a sua “doutrina secreta” cabalística, pode ser acompanhada em todos os detalhes até a sua fonte primeira, a Índia Superior, ou o Turquestão, muito antes da época da separação distinta entre as nações arianas e semitas. O rei Salomão, tão celebrado pela posteridade, como diz Josefo, o historiador, por suas habilidades mágicas, recolheu o seu conhecimento secreto da Índia, através de Hirão, o rei de Ofir, e talvez de Sabá. Seu anel, conhecido comumente como o “selo de Salomão”, tão celebrado pelo poder de sua influência sobre as várias espécies de gênios e demônios, é igualmente de origem hindu. Escrevendo sobre as pretensas e abomináveis habilidades dos “adoradores de demônios” de Travancore, o Rev. Samuel Mateer, da Sociedade das Missões de Londres, afirma, ao mesmo tempo, estar de posse de um antiquíssimo volume manuscrito de encantamentos mágicos e de sortilégios em língua malayâlam, que dá instruções para realizar uma grande variedade de fenômenos. Ele acrescenta, naturalmente, que “muitos deles são terríveis em sua malignidade e obscuridade”, e dá em sua obra o fac-símile de alguns amuletos que trazem figuras e desenhos mágicos. Encontramos entre eles um com a seguinte legenda: “Para remover o tremor resultante da possessão demoníaca – desenhe esta figura sobre uma planta que tem seiva leitosa, e atravesse um prego nela; o tremor cessará”. A figura é o próprio selo de Salomão, ou o duplo triângulo dos cabalistas.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A VONTADE.
Éliphas Lévi, o mago moderno, descreve a luz astral na seguinte frase: “Dissemos que para adquirir o poder mágico duas coisas são necessárias: libertar a vontade de toda servidão, e prática-la sob controle”.
“A vontade soberana é representada em nossos símbolos pela mulher que esmaga a cabeça da serpente, e pelo anjo resplandecente que domina o dragão, e o mantém sob os seus pés e sob a lança; o grande agente mágico, a corrente dual de luz, o fogo vivo e astral da Terra, foi representado nas teogonias antigas pela serpente com a cabeça de um touro, de um carneiro ou de um cão. É a serpente dupla do caduceu, é a antiga serpente do Gênese, mas é também a serpente bronzeada de Moisés enrolada em torno do tau, vale dizer, do lingam gerador. É também o bode do sabá das feiticeiras, e o Baphomet dos Templários; é o Hylé dos Gnósticos; é a cauda dupla da serpente que forma as pernas do galo solar de Abraxas; finalmente, é o Demônio de Eudes de Mirville. Mas na verdade é a força cega que as almas devem vencer para libertar a si mesma dos limites da Terra, pois se a sua vontade não as liberta “de sua fatal atração, elas serão absolvidas na corrente pela força que as produziu, e retornarão ao fogo central e eterno.”
Esta figura de linguagem cabalista, não obstante a sua estranha fraseologia, é precisamente a mesma que Jesus utilizava; e em sua mente ela não poderia ter outro significado que não aquele atribuído pelo gnósticos e pelos cabalistas. Mais tarde os teólogos cristão interpletaram-nas de modo diferente, e para eles ela se tornou a doutrina do inferno. Literalmente, contudo, ela significa simplesmente o que diz – a luz astral, ou o gerador e o destruidor de todas as formas.
“Todas as operações mágicas”, prossegue Lévi, “consistem em libertar-se dos laços da antiga serpente; portanto, em colocar o pé sobre sua cabeça e conduzi-la de acordo com a vontade do operador. ‘Eu te direi’, diz a serpente, no mito evangélico, ‘todo os reinos da Terra, se te prosternares e me adorares.’ O iniciado deveria replicar-lhe: ‘Eu não me prosternarei, mas tu cairás aos meus pés; tu nada me darás, mas eu te usarei e obterei tudo que desejar. Pois eu sou o Senhor e Mestre!’. Este é o sentido verdadeiro da resposta ambígua dada por Jesus ao tentador. (…) Portanto, o Demônio não é uma entidade. É uma força errante, como o próprio nome indica. Uma corrente ódica ou magnética formada por uma cadeia (um círculo) de desejos perniciosos, criadora deste espírito demoníaco que o Evangelho chama de legião, e que força uma horda de porcos a se jogar no mar – outra alegoria evangélica mostrando como as naturezas baixas podem ser conduzidas temerariamente pelas forças cegas postas em movimento pelo erro e pelo pecado.”
EXPERIÊNCIAS DOS FAQUIRES.
Em sua extensa obra sobre as manifestações místicas da natureza humana, o naturalista e filósofo Maximilian Pertv dedicou todo um capítulo às Formas modernas de magia. “As manifestações da vida mágica”, diz ele no Prefácio, ” repousam em parte numa ordem de coisas diferente da natureza com a qual estamos familiarizados, com tempo, espaço e causalidade; esta manifestações só escassamente são experimentadas; elas podem ser evocadas a nosso convite, mas devem ser observadas e cuidadosamente seguidas sempre que ocorrem em nossa presença; podemos apenas agrupá-la analogicamente sob certas divisões, e deduzi-las dos princípios e leis gerais.” Portanto, para o Prof. Perty, que pertence evidentemente à escola de Schopenhauer, a possibilidade e a naturalidade dos fenômenos que tiveram lugar na presença de Govinda Svâmin, o faquir, e que foram descritos por Louis Jacolliot, o orientalista, são totalmente demonstrados de acordo com esse princípio. O faquir era um homem que, através da completa sujeição da matéria de seu sistema corporal, atingia o estado de purificação no qual o espírito se torna quase inteiramente livre de sua prisão, e pode produzir maravilhas. Sua vontade, não, um simples desejo seu torna-se uma força criadora, e ele pode comandar os elementos e os poderes da Natureza. Seu corpo não é mais um entrave; por isso ele pode conversar “espírito a espírito, sopro a sopro”. Sob suas palmas estendidas, uma semente, desconhecida para ele (pois Jacolliot a recolheu ao acaso, entre uma variedades de sementes, de um saco, e a plantou ele próprio, depois marcá-la, num vaso de flores), germinará instantaneamente, e abrirá seu caminho através do solo. Desenvolvendo em menos de duas horas um tamanho e um peso que, talvez, sob circunstâncias comuns, requereriam vários dias ou semanas, ela cresce miraculosamente sob os próprios olhos do experimentador perplexo, e confundindo todas as fórmulas aceita da Botânica. Trata-se de um milagre? De modo algum; pode sê-lo, talvez, se tornarmos a definição de Webster, segundo a qual o milagre é “todo evento contrário à constituição estabelecida e ao curso das coisas – um desvio das leis conhecidas da Natureza”. Mas estarão os nossos naturalistas preparados para defender a afirmação de que o que eles estabeleceram uma vez pela observação é infalível? Ou que todas as leis da Natureza lhes são conhecidas? Neste caso, o “milagre” é de uma ordem um pouco mais elevada que as atuais experiências bem conhecidas do Gen. Pleasontom, da Filadélfia. Enquanto a vegetação e os frutos de suas vinhas foram estimulados a uma incrível atividade pela luz violeta, o fluído magnético que emanava das mãos do faquir efetuava mudanças mais intensas e rápidas na função vital das plantas indianas. Ele atraiu e concentrou o Âkasa, ou princípio vital, no germe. Seu magnetismo, obedecendo à sua vontade, dirigiu o Âkasa numa corrente concentrada através da planta em direção às suas mãos, e, mantendo um fluxo ininterrupto pelo espaço de tempo necessário, o princípio vital da planta construiu célula após célula, camada após camada, com extraordinária atividade, até que a obra se completasse. O princípio vital é apenas uma força cega que obedece a uma influência controladora. No curso ordinário da Natureza, o protoplasma da planta a teria concentrado e dirigido numa certa velocidade estabelecida. Esta velocidade poderia ter sido controlada pelas condições atmosféricas predominantes, sendo o seu crescimento rápido ou lento, e, na haste e na ponta, na proporção do grau de luz, calor e umidade da estação. Mas o faquir, vindo em auxílio da Natureza com sua vontade poderosa e o espírito purificado do contato com a matéria, condensada, por assim dizer, a essência da vida da planta em seus germes, e força-a a amadurecer antes do tempo. Ao ser totalmente submetida à sua vontade, esta força cega obedece-a servilmente. Se ele escolhe imaginar a planta como um monstro, ela seguramente se tornara um, como cresceria ordinariamente em sua forma natural, pois a imagem concreta – escrava do modelo subjetivo desenhado na imaginação do faquir – é forçada a seguir o original em seus mínimos detalhes, como a mão e o pincel do pintor seguem a imagem que copiam de sua mente. A vontade do faquir mágico forma uma invisível mas, para ele perfeitamente objetiva matriz, na qual a matéria vegetal é forçada a se depositar e a assumir a forma fixada. A vontade cria, pois a vontade em movimento é força, e a força produz matéria.
Se algumas pessoas objetarem à explicação alegando que o faquir não poderia, de modo algum, criar o modelo em sua imaginação, uma vez que Jacolliot não o informou sobre a espécie de semente que havia selecionado para a experiência, a elas respondemos que o espírito do homem é como o do seu Criador – onisciente em sua essência. Enquanto em seu estado natural o faquir não conhecia e não poderia conhecer se era a semente de um melão ou de qualquer outra planta, uma vez em transe, consequentemente, morto corporalmente a toda percepção exterior, o espírito, para o qual não existem distância, obstáculos materiais, nem espaço ou tempo, não experimentou dificuldade alguma para perceber a semente de melão, estivesse ela profundamente enterrada na terra do vaso ou refletida na mente de Jacolliot. Nossas visões, presságios e outros fenômenos psicológicos, todos os quais existem na Natureza, corroboram o fato acima mencionado.
Faríamos bem talvez em responder agora a uma outra objeção pendente. Os prestidigitadores indianos, dir-nos-ão, fazem o mesmo, e tão bem quanto o faquir, se podemos acrescentar nos jornais e nas narrativas dos viajantes. Sem dúvida; no entanto, esses prestidigitadores ambulantes não são nem puros em seus modos de vida nem considerados santos por ninguém; nem pelos estrangeiros nem pelo seu próprio povo, pois são feiticeiros; homens que praticam a arte negra. Enquanto um homem santo como Govinda Svâmin requer apenas a ajuda de sua própria alma divina, estritamente unida ao espírito astral, e a ajuda de alguns poucos pitris familiares – seres puros, etéreos, que se agrupam em trono de seu irmão eleito em carne -, o feiticeiro só pode invocar para a sua ajuda aquela espécie de espíritos que conhecemos como elementais. Os semelhantes se atraem; e a ambição por dinheiro, propósitos impuros e desígnios egoístas não podem atrair outros espíritos senão os espíritos que os cabalistas judeus conhecem com klippoth, habitantes de Asiah, o quarto mundo, e os mágicos orientais como afrits, ou espíritos elementais do erro, ou daêvas (Ou Devas, Demônio ou mau gênio dotado de grande poder).-
O QUE É A VONTADE?
O que é a VONTADE? A “ciência exata” pode dizê-lo? Qual é a natureza desse algo inteligente, intangível e poderoso que reina soberanamente sobre toda matéria inerte? A grande Idéia Universal desejou, e o Cosmo veio à existência. Eu quero, e meus membros obedecem. Eu quero, e meu pensamento, ao atravessar o espaço, que não existe para ele, abarca o corpo de um outro indivíduo que não é uma parte de mim, penetra por seus poros, e substituindo suas próprias faculdades, se são mais fracas, força-o a uma ação predeterminada. Age como o fluído de uma bateria galvânica sobre os membros de um cadáver. Os misteriosos efeitos de atração e repulsão são os agentes inconscientes dessa vontade; a fascinação, tal como a que vemos exercida por alguns animais, tal qual as serpentes sobre pássaros, é uma ação consciente dela, e o resultado do pensamento. Cera, vidro, âmbar, quando esfregado, e, quando o calor latente que existe em toda substância é despertado, atraem corpos luminosos; eles exercem inconscientemente a vontade pois a matéria inorgânica, assim como a orgânica, possui uma partícula da essência divina em si, por mais infinitesimalmente pequena que seja. E como poderia sê-lo de outro modo? Ainda que no curso de sua evolução tenha passado do princípio ao fim por milhões de formas diversas, ela deve sempre reter o germe inicial da matéria preexistente, que é a primeira manifestação e emanação da própria Divindade. O que é então esse poder inexplicável da atração, a não ser uma porção atômica daquela essência que os cientistas e os cabalista reconhecem igualmente como o “princípio da vida” – o Âkasa. Admite-se que a atração exercida por tais corpos seja cega; mas, se acendermos mais e mais na escala dos seres orgânicos da Natureza, encontramos este princípio de vida desenvolvendo atributos e faculdades que se tornam mais determinados e mais característicos a cada degrau dessa escala sem fim. O homem, o mais perfeito dos seres organizados sobre a Terra, em quem a matéria e o espírito – a vontade – são mais desenvolvidos e poderosos, é o único ao qual se concedeu um impulso consciente para aquele princípio que emana dele. Apenas ele pode comunicar ao fluído magnético impulsos opostos e diversos em limites quanto à direção. “Ele quer”, diz Du Petet, “e a matéria organizada obedece. Ela não tem pólos.”
Diz Cabanis, a razão se desenvolve exclusivamente às expensas do instinto natural, tornando-se uma espécie de muralha chinesa que se ergue lentamente no solo dos sofismas e, finalmente, exclui as percepções espirituais do homem, de que o instinto é um dos mais importantes exemplos. Chegando a certos estágios de prostração física, quando a mente e as faculdades raciocinantes parecem paralisadas pela fraqueza e pela exaustão física, o instinto – a unidade espiritual dos cincos sentidos – vê, ouve, toca e cheira, inalterado pelo tempo ou pelo espaço. Que sabemos dos limites exatos da ação mental? Como pode um médico pretender distinguir os sentidos reais dos imaginários em um homem cujo corpo, já exaurido de sua vitalidade habitual, deseja viver espiritualmente e se sente verdadeiramente incapaz de impedir a alma de evolar-se de sua prisão?
A LUZ DIVINA.
A luz divina através da qual, desimpedida pela matéria, a lama percebe coisas passadas, presentes e futuras, como se os seus raios se refletissem num espelho; o golpe mortal desferido num instante de violenta raiva ou clímax de um ódio longamente inflamado; a bênção enviada por um coração reconhecido ou benévolo; e a maldição lançada contra um objeto – ofensor ou vítima -, tudo deve passar através desse agente universal, que, sob um impulso, é o sopro de Deus, e sob outro – o veneno do demônio. Ele foi descoberto (?) pelo Barão Reichenbach e chamado de OD, não podemos dizer se intencionalmente ou não, mas é singular que se tenha escolhido um nome que é mencionado nos livros mais antigos da Cabala.
Emepht o Princípio Primeiro e Supremo, engendrou o Ovo e depois de incuta-lo impregnando-o de sua própria essência, desenvolveu-se o germe do qual nasceu Ptah o ativo e criador princípio que iniciou sua obra. Da expansão infinita da matéria cósmica, que se formara sob seu alento, ou de sua vontade, esta matéria cósmica, luz astral, éter, bruma ígnea, princípio de vida – pouco importa o nome que lhe dermos -, este princípio criador, ou, como a nossa moderna filosofia o designa, lei da evolução, colocando em movimento as potências nele latentes, formou sóis e estrelas, e satélites; controlou sua localização pela lei imutável da harmonia, e povoou-os “com todas as formas e qualidades de vida”. Nas antigas mitologias orientais, o mito cosmogônico diz que não havia senão água (O Pai) e o Limo Prolífero (A Mãe, Ilus ou Hylê), do qual proveio a serpente cósmica – a matéria. Era o deus Phanes, o deus revelado, a Palavra ou Logos. A boa vontade com que este mito foi aceito, até mesmo pelos cristãos que compilaram o Novo Testamento, pode ser inferida pelo seguinte fato: Phanes, o deus revelado, é representado neste símbolo da serpente como um Protogonos, um ser provido das cabeças respectivas de um homem, um falcão ou águia, um touro – taurus – e um leão, com asas em ambos os lados. As cabeças referem-se ao zodíaco, e representam as quatro estações do ano, pois a serpente Cósmica é o ano Cósmico, ao passo que a própria serpente é o símbolo de Kneph, o Deus imanifestado, o Pai. O tempo é alado, por isso a serpente é representada com asas. Se lembrarmos que cada um dos quatro evangelistas é representado tendo próximo de si um dos animais mencionados – agrupados em conjunto ao selo de Salomão e no pentagrama de Ezequiel, e reencontrados nos quatro querubins ou esfinges da Arca da Aliança -, compreenderemos talvez o significado secreto assim como a razão por que os primeiros cristão dotaram este símbolo; e por que os atuais católicos romanos e os gregos da Igreja oriental costumam representar os quatro evangelistas com os respectivos animais simbólicos. Compreenderemos também por Irineu, bispo de Lyon, insistia tanto na necessidade de haver um quarto evangelho, explicando que quatro são as zonas do mundo, e quatro os ventos principais provindos dos quatro pontos cardiais, etc. Segundo um dos mitos egípcios, a forma-fantasma da ilha de Chemmis (Chemi, Antigo Egito), que flutua sobre as ondas etéreas da esfera empírea, foi chamada à vida por Hórus-Apolo, o deus do Sol, que a fez evoluir do ovo cósmico.
No poema cosmológico do Voluspâ (a canção da profetiza), que contém as lendas escandinavas sobre a aurora mesma das idades, o germe-fantasma do universo é representado a repousar no Ginnugagap – ou a taça da ilusão, um abismo sem fim e vazio. Nessa matriz do mundo, inicialmente uma região de noite e desolação, Nifelheim (a região das nuvens), cai um raio de luz (éter), que se derramou sobre a taça e nela se congelou. Então, o Invisível assoprou um vento abrasador que dissolveu as águas congeladas e dissipou as nuvens. Estas águas, chamadas de correntes de Elivâgar, destiladas em gotas vivificantes, criaram, ao cair, a terra e o gigante Ymir, que tinha apenas “a aparência humana” (o princípio masculino). Com ele foi criada a vaca, Aydhumla (princípio feminino), de cujo úbere fluíram quatro correntes de leite, que se difundiram pelo espaço (a luz astral é a sua emanação mais pura). A vaca Audhumla produz um ser superior, chamado Buri, belo e poderoso, lambendo as pedras que estavam cobertas de sal mineral.
Ora, se levarmos em consideração que este mineral era universalmente considerado pelos antigos filósofos como um dos princípios formativos essenciais da criação orgânica; pelos alquimistas como o dissolvente universal, que, dizem eles, devia ser retirado da água; e por todo mundo, mesmo como é visto atualmente tanto pela ciência como pelas idéias populares, como um ingrediente indispensável para o homem e os animais – podemos compreender facilmente a sabedoria oculta desta alegoria sobre a criação do homem. Paracelso chama o sal “o centro da água, em que os metais devem morrer”, etc.; e Van Helmont chama o alkahest, “summum et felicissimum ommium salium”, o mais bem logrado de todos os sais.
No Evangelho segundo São Mateus, diz Jesus: “Vós sois o sal da terra: mas se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos?” e, prosseguindo a parábola, acrescenta: “Vós sois a luz do mundo” (V, 14). Isto é mais do que uma alegoria; essas palavras chamam a atenção para um sentido direto e inequívoco relativamente aos organismos espirituais e físicos do homem em sua natureza dupla, e mostram, ademais, um conhecimento da “doutrina secreta”, de que encontramos traços diretos igualmente nas mais antigas e comuns tradições populares do Antigo e do Novo Testamento, e nos escritos dos místicos e dos filósofos antigos e medievais.
INTERPRETAÇÕES DE CERTOS MITOS ANTIGOS.
Mas voltemos à nossa lenda do Edda. Ymir, o gigante, adormece, e transpira abundantemente. Essa transpiração força a axila de seu braço esquerdo a gerar desse lugar um homem e uma mulher, enquanto o seu pé produz um filho para eles. Assim, enquanto a “vaca” mítica dá o ser a uma raça de homens espirituais superiores, o gigante Ymir engendra uma raça de homens maus e depravados, os Hrimthussar, ou gigantes de gelo. Comparando esta notas com os Vedas hindus, encontramos, com ligeiras modificações, a mesma lenda cosmogônica em substância e detalhes. Brahmâ, assim que Bhagavat, o Deus Supremo, lhe concede poderes criativos, produz seres animados, inteiramente espirituais no princípio. Os Devatâs, habitantes da região do Svarga (celestial), são incapazes de viver na Terra; então Brahmâ cria os Daityas (gigantes, que se tornaram os habitantes do Pâtâla, as regiões inferiores do espaço), que também são capazes de habitar Mrityuloka (a Terra). Para remediar o mal, o poder criativo faz sair de sua boca o primeiro Brahaman, que então se torna o progenitor de nossa raça; de seu braço direito, Brahmâ cria Kshatriya, o guerreiro, e do esquerdo, Kshatriyâni, a consorte de Kshatriya. O filho de ambos, Vaisya, emana do pé direito do criador, e a sua esposa, Vaisya, do esquerdo. Enquanto na lenda escandinava Burr (o neto da Vaca Audhumla), um ser superior, desposa Beisla, uma filha da raça depravada de gigantes, na tradição hindu o primeiro Brahaman desposa Daiteyi, filha também da raça de gigantes; e no Gênese vemos os filhos de Deus tomando por esposas as filhas dos homens, e produzindo igualmente os poderosos homens da Antiguidade; todo o conjunto estabelece uma inquestionável identidade de origem entre o livro inspirado dos cristão, e as “fábulas” pagãs da Escandinávia e do Hindustão. As tradições de qualquer outra nação vizinha, se examinadas, apresentariam um resultado semelhante.
Qual o moderno cosmogonista que poderia condenar, num símbolo tão simples como o da serpente egípcia um círculo, um tal mundo de significados? Aqui temos, nesta criatura, toda a filosofia do universo: a matéria vivificada pelo espírito, e os dois produzindo conjuntamente do caos (Força) todas as coisas existentes. Para indicar que os elementos estão firmemente unidos nesta matéria cósmica, que a serpente simboliza, os egípcios dão um nó à sua causa.
Há um outro emblema, mais importante, relacionado à mudança de pele da serpente, que, se não nos enganamos, jamais foi anteriormente mencionado pelos nossos simbologistas. Como o réptil, depois de deixar sua pele, se torna livre do invólucro de matéria grosseira que o estorvava com um corpo grande demais, e retorna a sua existência com uma atividade renovada, assim o homem, rejeitando o corpo material grosseiro, entra no próximo estágio de sua existência com poderes maiores e com vitalidade mais intensa. Inversamente, os cabalistas caldeus relatam-nos que o homem primordial – que, ao contrário da teoria darwiniana, era mais puro, mais sábio e muito mais espiritual, como o mostram os mitos do Buri escandinavo, os Devatâs hindus, e os “filhos de Deus” mosaicos, numa palavra, de uma natureza muito superior à do homem da presente raça adâmica – tornou-se desespiritualizado ou contaminou-se com a matéria e, assim, pela primeira vez, recebeu o corpo carnal, que é caracterizado no Gênese no versículo profundamente significativo: “O Senhor Deus fez para o homem e sua mulher túnicas de pele, e os vestiu”. A menos que os comentadores quisessem fazer da Causa Primeira um alfaiate celestial, o que poderiam estas palavras aparentemente absurdas significar, a não ser que o homem espiritual atingiu, através do progresso da involução, aquele ponto em que a matéria, predominando sobre o espírito e conquistando-o, transformou tal homem no homem físico, ou no segundo Adão, do segundo capítulo do Gênese?
Essa doutrina cabalística é elaborada mais amplamente no Livro de Jasher No cap. VII, estas vestes de pelo são colocadas por Noé na arca, depois de tê-las obtido por herança de Matusalém e Henoc, que as receberam de Adão e de sua mulher. Cam rouba-as de Noé, seu pai; dá-as “em segredo” a Cuch, que as esconde de seus filhos e irmãos e as passa a Nemrod.
Embora alguns cabalistas e mesmo alguns arqueólogos digam que “Adão, Henoc e Noé poderiam ser, na aparência externa, homens diferentes, eles eram na verdade a mesmíssima pessoa divina”. Outros explicam que entre Adão e Noé intervieram muitos ciclos. Isto quer dizer que cada um dos patriarcas antediluvianos figurava como representante de uma raça que teve seu lugar numa sucessão de ciclos; e que cada uma dessas raças era menos espiritual do que a precedente. Assim, Noé embora um homem bom, não poderia sustentar a comparação com seu ancestral, Henoc, que “caminhou com Deus e não morreu”. Daí a interpretação alegórica que faz Noé receber sua túnica de pele por herança do segundo Adão e de Henoc, mas não vesti-la ele próprio, pois, de outro modo, Cam não poderia roubá-la. Mas Noé e seus filhos atravessaram o dilúvio; e enquanto o primeiro pertencia à antiga e ainda espiritual geração antediluviana, já que ele foi selecionado entre toda a Humanidade por sua pureza, os seus filhos eram pós-diluvianos. A túnica de pele recebida “em segredo” -, quando a sua natureza espiritual começou a ser maculada pela matéria – por Cuch passou a Nemrod o mais poderoso e forte dos homens físicos posteriores ao dilúvio – o último remanescente dos gigantes antediluvianos.
Na lenda escandinava, Ymir, o gigante, é morto pelos filhos de Burr, e as correntes de sangue que fluíram de suas feridas eram tão copiosas que afogaram toda a raça de gigantes de gelo e neblina, e só Bergelmir que pertencia a esta raça, se salvou com sua mulher, refugiando-se num barco, o que lhes permitiu perpetuar um novo ramo de gigantes do velho tronco. Mas todos os filhos de Burr escaparam ilesos da inundação.
Quando se decifra o simbologismo dessa lenda diluviana, percebe-se imediatamente o verdadeiro sentido da alegoria. O gigante Ymir simboliza a primitiva matéria orgânica bruta, as forças cósmicas cegas, em seu estado caótico, antes de receberam o impulso inteligente do Espírito Divino que as pôs em movimento regular e dependente das leis imutáveis. A progênie de Buri são os “filhos de Deus”, ou os deuses menores mencionados por Platão no Timeu, que foram incumbidos, como diz, da criação dos homens, pois vemo-los tomando os restos dilacerados de Ymir do Ginnungagap, o abismo caótico, e empregando-os na criação de nosso mundo. Seu sangue vai formar os oceanos e os rios; seus ossos, as montanhas; seus dentes, as rochas e os penhascos; seus cabelos, as árvores, etc., ao passo que seu crânio forma a abóbada celeste, mantida por quatro colunas que representam os quatro pontos cardiais. Das sobrancelhas de Ymir originou-se a futura morada do homem – Midgard. Esta morada (a Terra), diz o Edda, deve, para ser corretamente descrita em todas as menores particularidades, ser concebida redonda como um anel, ou um disco, flutuando no meio do Oceano Celestial (Éter). É circundada por Joumungand, a gigante Midgard – ou a Serpente da Terra, que mantém a cauda em sua boca. É a serpente cósmica, matéria e espírito produto combinado e emanação de Ymir, a grosseira matéria rudimentar, e do espírito dos “filhos de Deus”, que moldou e criou todas as formas. Esta emanação é a luz astral dos cabalistas, e o ainda problemático e pouco conhecido éter, ou o “agente hipotético de grande elasticidade” de nosso físico.
Graças à mesma lenda escandinava da criação da Humanidade, pode-se inferir o quanto estavam os antigos seguros da doutrina da trina natureza humana. Segundo o Voluspâ, Odin, Honer e Lodur, que são os progenitores de nossa raça, encontraram em um de seus passeios nas praias do oceano dois bastões flutuando sobre as ondas, “impotentes e sem destino”. Odin soprou-lhes o alento da vida; Honer concedeu- lhes alma e movimento; e ‘Lodur, beleza, linguagem, inteligência e audição. Deram ao homem o nome de Askr – o freixo – e à mulher o de Embla – o amieiro. Estes primeiros homens foram colocados em midgard (jardim do meio, ou Éden) e herdaram, de seus criadores, a matéria ou vida inorgânica; a mente, ou a alma; e o espírito puro; a primeira correspondendo àquela parte de seu organismo que nasceu dos restos de Ymir, o gigante-matéria; a segunda, de Aesir, ou deuses, descendentes de Buri; de o terceiro, de Vaner, ou representante do espírito puro.
Quem é capaz de estudar cuidadosamente as religiões antigas e os mitos cosmogônicos sem perceber que esta semelhança marcante de concepções, em sua forma exotérica e espírito esotérico, não resulta de uma simples coincidência, mas manifesta um propósito convergente? Isto mostra que já naquelas épocas, que foram excluídas de nossos olhos pela névoa impenetrável da tradição, o pensamento religioso se desenvolveu com uma simpatia uniforme em todas as porções do globo. Os cristãos chamam essa adoração da natureza em suas verdades mais ocultas de Panteísmo. Mas se este, que reverência e nos revela Deus no espaço em sua única forma objetiva possível – a da natureza visível -, lembra perfeitamente a Humanidade daquele que a criou, e uma religião de dogmatismo religioso apenas serve para ocultá-lo mais e mais de nossos olhos, qual dentre ambos está mais bem-adaptado às necessidades da Humanidade?
A ciência moderna insiste na doutrina da evolução; a razão e a “doutrina secreta” fazem o mesmo, e a idéia é corroborada pelas lendas e mitos antigos, e mesmo pela própria Bíblia que se lê nas entrelinhas. Vemos uma flor desenvolver-se lentamente de um bastão e o bastão da sua semente. Mas de onde provêm esta, com todo o seu programa predeterminado de transformação física, e suas forças invisíveis, portanto espirituais, que desenvolvem gradualmente sua forma, cor e odor? A palavra evolução fala por si. O germe da atual raça humana deve ter preexistido na origem desta raça, como a semente, na qual repousa oculta a flor do próprio verão, desenvolveu-se na cápsula de sua flor-mãe; a mãe pode não diferir senão ligeiramente, mas eles ainda difere de sua futura progênie. Os ancestrais antediluvianos dos elefantes e dos lagartos atuais foram, o mamute e o plesiossáurio; por que os progenitores de nossa raça humana não poderiam ter sido os “gigantes” dos Vedas, do Voluspâ e do livro Gênese? Se é positivamente absurdo acreditar que a “transformação das espécies” tenha ocorrido de acordo com alguns dos pontos de vista mais materialista dos evolucionistas, é simplesmente natural pensar que cada gênero, a começar dos moluscos e terminando com o homem-macaco, se modificou a partir de sua própria forma primordial e distinta. Supondo-se que concordemos em que “os animais descenderam no máximo de apenas quatro ou cinco progenitores”; e que mesmo à la rigueur “todos os seres orgânicos que já viveram sobre esta Terra descenderam de alguma forma primordial única”; ainda assim, somente um materialista cego com uma pedra, ou completamente desprovido de intuição, pode seriamente esperar ver “no distante futuro (…) a psicologia estabelecida sobre uma nova base, a da aquisição necessária e por degraus de todos os poderes e capacidades mentais”.
O homem físico, enquanto produto da evolução, pode ser deixado nas mãos do homem da ciência exata. Ninguém, não ser ele, pode esclarecer a origem física da raça. Mas devemos positivamente negar ao materialista o mesmo privilégio no que respeita à evolução psíquica e espiritual do homem, pois nenhuma evidência conclusiva pode demonstrar que ele e suas faculdades superiores são “produtos da evolução, tal como a planta mais humilde e o verme mais ínfimo”.
A EVOLUÇÃO DA TEORIA HINDU.
Isto posto, mostraremos agora a hipótese da evolução dos antigos brâmanes, tal como eles lhe deram corpo na alegoria da árvore cósmica. Os hindus representam a sua árvore mítica, que chamam Asvattha, de uma forma que difere da dos escandinavos. Figura extraída do Livro O Homem, Deus e o Universo. Os hindus a descrevem crescendo ao contrário, os ramos estendendo-se para baixo e as raízes para cima; aqueles caracterizam o mundo externo dos sentidos, o universo cósmico visível, e estas, o mundo invisível do espírito, porque as raízes têm sua gênese nas regiões celestes, onde a Humanidade, desde a criação do mundo, colocou a sua divindade invisível. Como a energia criativa se originou nesse ponto primordial, os símbolos religiosos de todos os povos são igualmente ilustrações dessa hipótese metafísica exposta por Pitágoras, Platão e outros filósofos. “Estes caldeus,” diz Fílon, “opinavam que o Cosmos, entre as coisas que existem, é um simples ponto, que é ele próprio ou Deus (Theos) ou o que nele é Deus, e compreende a alma de toda as coisas.”
A Pirâmide egípcia também representa simbolicamente esta idéia da árvore cósmica. Seu ápice é o elo místico entre o céu e a terra, e sustenta a raiz, ao passo que a base representa os ramos espalhados que se estendem pelos quatro pontos cardiais do universo da matéria. Ela comporta a idéia de que todas as coisas tiveram origem no espírito – pois a evolução começou originalmente por cima e prosseguiu para baixo, e não ao contrário, como ensina a teoria darwiniana. Em outras palavras, houve uma materialização gradual de formas até que se atingisse o derradeiro rebaixamento fixo. Este ponto é aquele no qual a doutrina da evolução moderna adentra a área das hipóteses especulativas. Chegando a este período, acharemos mais fácil de entender a Antropogênese de Haeckel, que traça a genealogia do homem “desde a sua raiz protoplasmática, fermentada no vaso dos mares que existiram antes que as mais antigas rochas fossilíferas fossem depositadas”, de acordo com a exposição do Professor Huxley. Poderemos acreditar que o homem evoluiu “pela evolução gradual de um mamífero semelhante organicamente ao macaco”, e é mais fácil ainda fazê-lo quando lembramos que (embora numa fraseologia mais condensada e menos elegante, mais ainda compreensível) a mesma teoria foi ensinada, segundo Berosus, muitos milhares de anos antes de seu século, pelo Homem-peixe Oannes, ou Dragão, o semidemonio da Babilônia. Podemos acrescentar, como um fato de interesse, que esta antiga teoria da evolução foi conservada em alegoria e lenda, mas também retratada nos muros de certos templos da Índia, e, numa forma fragmentária, foi encontrada nos do Egito e nas lousas de Nemrod e Nineve, escavadas por Layard.
Mas o que está no fundo da teoria darwiniana sobre a origem das espécies? No que lhe concerne, nada senão “hipóteses inverificáveis”. Pois, como assinala, ele considerava todos os seres “como os descendentes direto de alguns poucos seres que viveram muito antes que a primeira camada do sistema siluriano fosse depositada”. Ele não procurava mostrar-nos quem eram esses “poucos seres”. Mas isto responde completamente ao nosso propósito, pois, na admissão de sua existência, recorre aos antigos para corroborar a idéia e recebe o selo da aprovação científica. Com todas as modificações por que passou o nosso globo no que respeita a temperatura, clima, solo e – se merecermos perdão, em face dos progressos recentes – a sua condição eletromagnética, seria muito temerário afirmar que qualquer coisa da ciência atual contradiz a antiga hipótese do homem ante-siluriano. Os machados de sílex encontrados inicialmente por Baucher de Perthes, no vale do Somme, provam que homens devem ter existido numa época tão antiga que desafia os cálculos. Se acreditarmos em Buchner, o homem deve ter existido mesmo durante e antes da época glacial, uma subdivisão do período quaternário ou diluviano que provavelmente se estendeu muito além daquela. Mas quem pode dizer-nos qual a próxima descoberta que nos aguarda?
Ora, se temos provas irrefutáveis de que o homem existiu tá tanto tempo assim, devem ter ocorrido modificações extraordinárias em seu sistema físico, correspondentes às modificações de clima e atmosfera. Isto não parece provar, por analogia, que remontando para trás, deve ter havido outras modificações que indicam que os progenitores mais remotos dos “gelados gigantes” foram coevos dos peixes devonianos ou dos moluscos silurianos? É verdade que eles não deixaram machadinhas de sílex atrás de si, nem ossos ou depósitos nas cavernas; mas, se os antigos estão certos, as raças daquele tempo eram compostas não apenas de gigantes, ou “poderosos homens de renome”, mas também de “filhos de Deus”. Se aqueles que acreditam na evolução do espírito tão firmemente como os materialistas acreditam na da matéria são acusados de ensinar “hipóteses inverificáveis”, como podem eles facilmente retorquir aos seus acusadores dizendo que, por sua própria confusão, a evolução física é ainda “uma hipótese inverificada, senão realmente inverificável”! Os primeiros têm aos mesmo a prova indutiva dos mitos legendários, cuja imensa antiguidade é admitida por filósofos e arqueólogos; ao passo que os seus antagonistas nada têm de semelhante, a menos que eles se socorram de uma parte dos antigos hieróglifos e suprimam o resto.
Podemos agora retornar ainda mais uma vez à simbologia dos tempos antigos, e aos seus mitos psico-religiosos. Sob as figuras emblemáticas e da fraseologia peculiar do clero da Antiguidade repousam indicações ainda não descobertas no ciclo atual.
Mas há mitos que falam por si. Podemos incluir nesta classe os primeiros criadores de ambos os sexos de todas as cosmogonias. Os gregos Zeus-Zen (éter), e Ctônia (a terra caótica) e Métis (a água), suas esposas; Osíris e Ísis-latona – o primeiro representando também o éter -, a primeira emanação da Divindade Suprema, Amun, a fonte primordial de luz; a deusa terra e água também; Mithras, o deus nascido da rocha, símbolo do fogo cósmico masculino, ou a luz primordial personificada, e Mithra, a deusa do fogo, simultaneamente sua mãe e esposa; o elemento puro do fogo (o princípio ativo ou masculino) visto como luz e calor, em conjunção com, a terra e a água, ou como matéria (elementos femininos ou passivos da geração cósmica). Mithras é o filho de Bordj, a montanha cósmica persa, da qual ele reluz como um raio brilhante. Brahmâ, o deus do fogo, e sua prolífica consorte; e o Agni hindu, a divindade refulgente, de cujo corpo saem milhares de correntes de glória e sete línguas de fogo, e em cuja honra os brâmanes Sangika preservam até hoje o fogo perpétuo; Sivã, personificado pela montanha cósmica dos hindus – o Meru (Himalaia). Este terrível deus do fogo, que, segundo consta a lenda, desceu do céu, como o Jehovah judeu, numa coluna de fogo, e uma dúzia de outras divindades arcaicas de ambos os sexos, todos proclamam o seu significado oculto. E o que podem estes mitos duais significar senão o princípio psicoquímico da criação primordial? A primeira revelação da Causa Suprema em sua tripla manifestação de espírito, força e matéria; a correlação divina, no seu ponto de partida de evolução, alegorizado como casamento do fogo e da água, produtos do espírito eletrizante, união do princípio masculino ativo com o elemento feminino passivo, que se tornam os pais de sua criança telúrica, a matéria cósmica, a prima matéria, cujo espírito é o éter [e cuja sombra é] a LUZ ASTRAL!
Assim, todas as montanhas mundiais e ovos cósmicos, as árvores cósmicas e as serpentes e colunas cósmicas podem ser consideradas como incorporação de verdades da Filosofia Natural, cientificamente demonstradas. Todas essas montanhas contêm, com suas variações insignificantes, a descrição alegoricamente expressa da cosmogonia primordial; a árvore cósmica, a da evolução posterior do espírito e da matéria; as serpentes e colunas cósmicas, exposições simbólicas dos vários atributos dessa dupla evolução em sua correlação infindável de forças cósmicas. Nos misteriosos recessos da montanha – a matriz do universo -, os deuses (poderes) preparam os Vermes atômicos da vida orgânica, e ao mesmo tempo a bebida da vida, que, quando ingerida, desperta no homem-matéria o homem-espírito. O soma, a bebida sacrificial dos hindus, é essa bebida sagrada. Pois, quando da criação da prima matéria, enquanto as suas porções grosseiras eram utilizadas para o mundo físico embrionário, a sua essência mais divina penetra o universo, permanecendo invisivelmente e encerrando nas suas ondas a criança recém-nascida, desenvolvendo e estimulando a sua atividade à medida que ela lentamente saía do caos eterno.
Da poesia de concepção abstrata, estes mitos cósmicos passaram gradualmente às imagens concretas dos símbolos cósmicos, como a arqueologia agora os tem encontrado. A serpente, que exerce um papel proeminente nas imagens dos antigos, foi degradas por uma absurda interpretação da serpente do livro Gênese num sinônimo de Satã, o Príncipe das Trevas, quando ela é o mais engenhoso de todos os mitos em seus diversos simbolismos. Num deles, como agathodaimon, é o emblema da arte de curar e de imortalidade do homem. Ela enfeita as imagens da maior parte dos deuses sanitários e higiênicos. A taça da saúde, nos mistérios egípcios, era enlaçada por serpentes. Como o mal só pode originar-se de um extremo do bem, a serpente, em outros aspetos, torna-se símbolo da matéria; que, quanto mais se distancia de sua fonte espiritual primeira, mais se torna sujeita ao mal. Nas mais antigas imagens do Egito, assim como nas alegorias cosmogônicas de Kneph, a serpente cósmica, quando simboliza a matéria, é usualmente representada encerrada num círculo; ela repousa estendida ao longo do equador, indicando assim que o universo da luz astral, a partir do qual o mundo físico proveio, enquanto limita este último, é ele próprio limitado por Emepht, ou a Causa primeira Suprema. Ptah, que produz Râ, e as miríades de formas às quais dá vida, são reapresentados deslizando para fora do ovo cósmico, porque esta é a forma mais familiar daquilo em que se deposita e se desenvolve o germe de todo o ser vivo. Quando a serpente representa a eternidade e a imortalidade, ela abarca o mundo, mordendo a cauda, não oferecendo assim nenhuma solução de continuidade. Ela se torna então a luz astral. Os discípulos de escola de Feredides ensinavam que o éter (Zeus ou Zen) é o céu empíreo superior, que encerra o mundo superno e sua luz (a astral) é o elemento primordial concentrado.
Tal é a origem da serpente, metamorfoseada nos séculos cristãos em Satã. Ela é o Od, o Ob e o Or de Moisés e dos cabalistas. Quando em seu estado passivo, quando age naqueles que são inadvertidamente arremessados em sua corrente, a luz astral é Ob, ou Python. Moisés estava determinado a exterminar todos os que, sensíveis à sua influência, se deixavam cair sob o fácil controle dos seres vivos que se movem nas ondas astrais na água; seres que nos cercam e que Bulwe-Lytton chama no Zanoni de “os guardiões do limiar”. Ela se torna o Od assim que é vivificada pelo efluxo consciente de uma alma imortal, pois então as correntes astrais estão agindo sob a tutela seja de um adepto, um espírito puro, seja de um hábil mesmerizador, que é ele próprio puro e sabe como dirigir as forças cegas. Em tais casos, mesmo um espírito planetário superior, um da classe de seres que nunca se encarnaram (embora existam muitos entre estas hierarquias que viveram em nossa terra), desce ocasionalmente à nossa esfera, e purificando a atmosfera circundante torna o paciente capaz de ver e abre nele as fontes da genuína profecia divina. Quanto ao termo Or, a palavra é utilizada para designar certa propriedades ocultas do agente universal. Pertence mais diretamente ao domínio do alquimista, e não oferece nenhum interesse ao público geral.
O autor do sistema filosófico Homoiomeriano, Anaxágoras de Clezemenae, acreditava firmemente que os protótipos espirituais de todas as coisas, assim como os seus elementos, podiam ser encontrados no Éter infinito, onde eram geradas, de onde provinham e para onde retornavam oriundos da Terra. Como os hindus, que personificam seu Âkasa (céu ou éter) e dele fizeram uma entidade deifica, os gregos e os latinos deificaram o Éter. Virgílio chama Zeus de pater omnipotens aether, Magnus, o grande deus Éter.
Uma vez admitida a existência de um tal Universo Invisível – como parece ser igualmente o fato se as especulações dos autores do Unseen Universe forem aceitas pelos seus colegas -, muitos fenômenos, até aqui misteriosos e inexplicáveis, tornar-se-ão claros. Ele age sobre o organismo dos médiuns magnetizados, penetra-os e satura-os de lado a lado, dirigido pela vontade poderosa de um mesmerizador ou pelos seres invisíveis que produzem o mesmo resultado. Assim que a operação silenciosa é realizada, o fantasmas astral ou sideral do paciente mesmerizado deixa paralisada sua envoltura de carne, e, depois de ter vagado pelo espaço infinito, se detêm no limiar da misteriosa “fronteira”. Para ele, a entrada do portal que marca o acesso à “terra do silêncio” está agora apenas parcialmente entreaberta; ela só escancarará à frente do sonâmbulo em transe no dia em que, unido com a sua essência imortal superior, ele tiver abandonado para sempre o seu corpo mortal. Até então, o vidente só pode ver através de uma fenda; dependerá de sua agudeza perceptiva a extensão do campo visual.
A trindade na unidade é uma idéia que todas as nações antigas sustentaram em conjunto. As Três Devatâs, a Trimúrti hindu, as Três Cabeças da Cabala judia. “Três cabeças foram esculpidas, uma na outra e esta sobre outra”. A trindade dos egípcios e a da mitologia grega eram igualmente representações da primeira emanação tripla que contém dois princípios: o masculino e o feminino. É a união do Logos masculino, ou sabedoria, a Divindade revelada, com a Aura ou Anima Mundi feminina – “o Pneuma sagrado”, a Sephira dos cabalistas e a Sophia dos gnósticos refinados – que produziu todas as coisas visíveis e invisíveis. Enquanto a verdadeira interpretação metafísica desse dogma universal permaneceu nos santuários, os gregos, com seus instintos poéticos, a personificação em inúmeros mitos encantados. Nas Dionisíacas de Nono, o deus Baco, entre outras alegorias, é representado como um amante da brisa suave e benigna (o Pneuma Sagrado), sob o nome de Aura Plácida.
Isis Sem Véu – VOLUME I – CIÊNCIA I
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