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O Equilíbrio Mágico – Dogma e Ritual da Alta Magia

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O equilíbrio é a resultante de duas forças.

Se as duas forças são absolutamente e sempre iguais, o equilíbrio será a imobilidade, e, por conseguinte, a negação da vida. O movimento é o resultado de uma preponderância alternada.

O impulso dado a um dos pratos de uma balança determina necessariamente o movimento do outro. Os contrários agem, assim, sobre os contrários, em toda a natureza, por correspondência e por conexão analógica.

A vida inteira compõe- se de uma aspiração e de um sopro; a criação é a suposição de uma sombra para servir de limite à luz, de um vácuo para servir de espaço à plenitude do ente, de um princípio passivo fecundado para apoiar e realizar a força do princípio ativo gerador.

Toda a natureza é bissexual, e o movimento que produz as aparências da morte e da vida é uma contínua geração.
Deus ama o vácuo que fez para encher; a ciência ama a ignorância que alumia; a força ama a fraqueza que sustenta; o

bem ama o mal aparente que o glorifica; o dia é apaixonado pela noite e a persegue sem cessar, girando ao redor do mundo; o amor é, ao mesmo tempo, uma sede e uma plenitude que tem necessidade de expansão. Aquele que dá recebe, e aquele que recebe dá; o movimento é uma troca perpétua.

Conhecer a lei desta troca, saber a proporção alternativa ou simultânea destas forças é possuir os primeiros princípios do grande arcano mágico, que constitui a verdadeira divindade humana.

Cientificamente, podemos apreciar as diversas manifestações do movimento universal pelos fenômenos elétricos ou magnéticos. Os aparelhos elétricos revelam principalmente, material e positivamente, as afinidades e antipatias de certas substâncias. A união do cobre com o zinco, a ação de todos os metais na pilha galvânica, são revelações perpétuas e irrecusáveis. Que os físicos procurem e descubram; os cabalistas explicarão as descobertas da ciência.
O corpo humano está submetido, como a terra, a uma dupla lei: atrai e irradia; está imantado com um magnetismo andrógino e reage sobre as duas potências da alma, a intelectual e a sensitiva, em razão inversa, mas proporcional, das preponderâncias alternadas dos dois sexos no seu organismo físico.

A arte do magnetizador está inteiramente no conhecimento e no emprego desta lei. Polarizar a ação e dar ao agente uma força bissexual e alternada é o meio ainda desconhecido e vãmente procurado de dirigir à vontade os fenômenos do magnetismo; mas é preciso um tato muito exercitado e uma grande exatidão nos movimentos interiores para não confundir os sinais de aspiração magnética com os da expiração; é preciso também conhecer perfeitamente a anatomia oculta e o temperamento especial das pessoas sobre as quais se age.

O que traz maior obstáculo à direção do magnetismo é a má fé ou má vontade dos pacientes. As mulheres, principalmente, que são essencialmente e sempre comediantes, as mulheres que gostam de se impressionar, impressionado os outros e que são as primeiras que se enganam, quando representam o seu melodrama nervoso, as mulheres são a verdadeira magia negra do magnetismo. Por isso, será impossível a magnetizadores não iniciados nos supremos arcanos e não assistidos com as luzes da Cabala, dominar este elemento refratário e fugidio. Para ser senhor da mulher é preciso distraí – la e enganá- la habilmente, deixando – lhe supor que é ela que vos engana. Este conselho, que aqui damos especialmente aos médicos magnetizadores, talvez pudesse ter também sua utilidade e sua aplicação na política conjugal.

O homem pode produzir à vontade dois sopros, um quente e outro frio; pode, igualmente, projetar à vontade a luz ativa ou a luz passiva; mas é preciso que adquira a consciência desta força pelo hábito de pensar nela. Um mesmo gesto da mão pode, alternativamente, expirar e aspirar o que, por conveniência, chamamos fluido; e o próprio magnetizador será advertido do resultado da sua intenção por uma sensação alternativa de calor e frio na mão, ou nas duas mãos, se operar com as duas mãos ao mesmo tempo, sensação que o paciente deverá sentir ao mesmo tempo, mas em sentido contrário, isto é, com uma alternativa totalmente oposta.

O pentagrama, ou signo do microcosmo, representa, entre outros mistérios mágicos, a dupla simpatia das extremidades humanas entre si e a circulação da luz astral no corpo humano. Assim, figurando um homem na estrela do pentagrama, como podemos ver na filosofia oculta de Agrippa, deve- se notar que a cabeça corresponde, em simpatia masculina, com o pé direito e em simpatia feminina com o pé esquerdo; que a mão direita corresponde, do mesmo modo, com a mão e o pé esquerdos, e a mão esquerda, reciprocamente: o que é preciso observar nos passes magnéticos, se quisermos chegar a dominar o organismo inteiro e a prender todos os membros pelas suas próprias cadeias de analogia e de simpatia natural.

Este conhecimento é necessário para o uso do pentagrama, nas conjurações dos espíritos e evocações das formas errantes na luz astral, chamadas vulgarmente necromancia, como explicaremos no quinto capítulo deste Ritual ; mas é bom observar, aqui, que toda ação provoca uma reação, e que, magnetizando ou influenciando magicamente os outros, estabelecemos deles para nós uma corrente de influência contrária, mas análoga, que pode submeter -nos a eles em vez de os submeter a nós, como muitas vezes acontece nas operações que têm por objeto a simpatia e o amor. É por isso que é essencial defendermo -nos, ao mesmo tempo em que atacamos, a fim de não aspirarmos com a esquerda, ao mesmo tempo em que sopramos com a direita.

O andrógino mágico traz escrito, no braço direito: solve , e, no braço esquerdo: coagula , o que corresponde à figura simbólica dos trabalhadores do segundo templo, que numa das mãos tinham a espada e na outra a régua. Ao mesmo tempo em que se constrói é preciso defender a sua obra, dispersando os inimigos: a natureza nada mais faz, quando destrói ao mesmo tempo em que regenera. Ora, conforme a alegoria do calendário mágico de Duchenteau, o homem, isto é, o iniciado, é o macaco da natureza, que o conserva preso, mas também o faz agir incessantemente em imitações dos processos e das obras da sua divina senhora e do seu imperecível modelo.

O emprego alternado das forças contrárias, o quente depois do frio, a afabilidade depois da severidade, o amor depois da cólera, etc., é o segredo do movimento perpétuo e do prolongamento do poder; é o que instintivamente sentem as namoradeiras, que fazem passar seus adoradores da esperança ao temor e da alegria à tristeza. Agir sempre no mesmo sentido e do mesmo modo é sobrecarregar um único prato da balança, e disso logo resultará a destruição absoluta do equilíbrio. A perpetuidade das carícias engendra logo a saciedade, o desgosto e a antipatia, do mesmo modo que uma frialdade e uma severidade constante afasta e desanima aos poucos a afeição. Em alquimia, um fogo é sempre o mesmo e continuamente ardente, calcina a matéria – prima e faz, às vezes, rebentar o vaso hermético: é preciso substituir, em intervalos regulados, pelo calor do fogo ou da cal ou do adubo mineral. É assim que é preciso, em magia, temperar as obras de cólera ou de rigor por operações de benevolência e de amor, e que, se o operador conservar a tensão da sua vontade sempre no mesmo sentido e da mesma forma, resultará disso uma grande fadiga para ele e logo uma espécie de impotência moral.

O mago não deve, pois, viver exclusivamente no seu laboratório, entre seu Athanor, seus elixires e seus pantáculos. Por mais devorador que seja o olhar desta Circe, que chamamos a força oculta, é preciso saber apresentar- lhes a propósito a espada de Ulisses e afastar a tempo, dos nossos lábios, o copo que ela nos apresenta. Sempre uma operação mágica deve ser seguida de um repouso igual à sua duração e de uma distração análoga, mas contrária ao seu objeto. Lutar continuamente contra a natureza para dominá- la e vencê – la é expor a sua razão e a sua vida. Paracelso ousou fazê – lo, e, não obstante, até nesta luta, empregava forças equilibradas e substituída a embriaguez pela fadiga corporal, e a fadiga corporal por um novo trabalho da inteligência. Por isso, Paracelso era um homem de inspiração e de milagres; mas gastou a sua vida nesta atividade devoradora, ou antes, fatigou e rasgou rapidamente a sua vestimenta porque os homens semelhantes a Paracelso podem usar e abusar, sem nada temer; sabem muito bem que não poderiam morrer, assim como não devem envelhecer neste mundo.

Nada predispõe mais à alegria do que a dor e nada está mais perto da dor do que a alegria. Por isso, o operador ignorante fica admirado de chegar sempre a resultados contrários aos que se propõe, porque não sabe nem cruzar nem alternar sua ação; quer enfeitiçar seu inimigo, e torna a si próprio infeliz e doente; quer fazer- se amar, e apaixona – se miseravelmente por mulheres que zombam dele; quer fazer ouro, e gasta seus últimos haveres: o seu suplício é eternamente o de Tântalo, a água se retira sempre, quando quer beber.

Os antigos, nos seus símbolos e nas suas operações mágicas multiplicavam os signos do binário, para não esquecerem a sua lei, que é a do equilíbrio. Nas suas evocações, sempre construíram dois altares diferentes e imolavam duas vítimas, uma branca e outra negra; o operador ou a operadora, tendo numa das mãos a espada e na outra a baqueta, devia ter um pé calçado e outro descalço. Todavia, como o binário seria a imobilidade e a morte sem o motor equilibrante, só podiam ser um ou três, nas obras de magia; e quando um homem e uma mulher tomavam parte na cerimônia, o operador devia ser uma virgem, um andrógino ou uma criança.

Perguntar -me -ão se a bizarria destes ritos é arbitrária e se ela tem por fim exercitar a vontade, multiplicando a seu bel – prazer as dificuldades da obra mágica. Responderei que, em magia, nada há de arbitrário, porque tudo é regulado e determinado adiantadamente pelo dogma único e universal de Hermes, o da analogia nos três mundos. Todo signo corresponde a uma idéia e tem a forma especial de uma idéia; todo ato exprime uma vontade correspondente a um pensamento e formula as analogias desse pensamento e dessa vontade. Os ritos são determinados adiantadamente pela própria ciência. O ignorante , que não sabe o seu tríplice poder, sofre a sua fascinação misteriosa; o sábio os entende e faz deles o instrumento da sua vontade; mas, quando são realizados com exatidão e fé, nunca fiam sem efeito.
Todos os instrumentos mágicos devem ser duplos; é preciso ter duas espadas, duas baquetas, dois copos, dois fogareiros, dois pantáculos e duas lâmpadas; trazer duas vestimentas superpostas e de cores contrárias, como ainda o praticam os padres católicos; é preciso não ter consigo nenhum metal ou ter dois. As coroas de loureiro, arruda, artemísia ou verbena devem ser igualmente duplas; nas evocações, guarda – se uma das coroas e queima – se a outra, observando como augúrio o ruído que faz ao queimar e as ondulações da fumaça que produz.

Esta observância não é vã, porque, na obra mágica, todos os instrumentos da arte são magnetizados pelo operador; o ar está carregado dos seus perfumes, o fogo consagrado por ele está submetido à sua vontade, as forças da natureza parecem ouvi – lo e responder- lhe; lê em todas as formas as modificações e os complementos do seu pensamento. É então que vê a água turvar- se e como que ferver por si mesma, o fogo dar grande luz ou se extinguir, as folhas das grinaldas agitarem – se, a baqueta mágica mover – se por si mesma, e que ouve passar, no ar, vozes estranhas e desconhecidas.

Foi em semelhantes evocações que Juliano viu aparecerem os fantasmas muito amados dos seus deuses decaídos e, contra sua vontade, espantou- se da decrepitude e palidez deles.

Sei que o cristianismo suprimiu para sempre a magia cerimonial e proscreve severamente as evocações e os sacrifícios

do mundo antigo: por isso, a nossa intenção não é dar- lhes uma nova razão de ser, vindo revelar, depois de tantos séculos, os seus antigos mistérios. As nossas experiências, até nesta ordem de fatos, foram investigações sábias e nada mais. Constatamos fatos para apreciar causas, e nunca tivemos a pretensão de renovar ritos para sempre destruídos.
A ortodoxia israelita, esta religião tão racional, tão divina e tão pouco conhecida, não reprova menos que o cristianismo os mistérios da magia cerimonial. Até para a tribo de Levi, o exercício da alta magia, devia ser considerado como uma usurpação do sacerdócio, e é a mesma razão que fará proscrever, por todos os meios oficiais, a magia operadora, adivinhatória e milagrosa.

Mostrar o natural do maravilhoso e produzi – lo à vontade é destruir para o vulgo a prova conclusiva dos milagres que cada religião reivindica como sua propriedade exclusiva e seu argumento definitivo.

Respeito às religiões estabelecidas, mas há também lugar para a ciência. Não estamos mais, graças a Deus, no tempo dos inquisidores e das fogueiras; não se assassinam mais infelizes sábios, pela crença de alguns fanáticos alienados ou de algumas moças histéricas. Aliás, seja entendido que fizemos estudos curiosos, e não uma propaganda impossível, insensata. Os que nos criticarem de ousarmos chamar- nos magos, nada têm a temer de um tal exemplo, e é mais que provável que nunca se tornarão feiticeiros.
Eliphas Levi – Dogma e Ritual da Alta Magia


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