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Alta Magia

O Campo Oculto nos Dias Atuais (Magia Aplicada)

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Por Dion Fortune,
tradução por Ícaro Aron Soares.

A publicação de dois livros muito importantes sobre magia, A Árvore da Vida, escrito por Israel Regardie, e o Liber Aba, escrito pelo “Mestre Therion” (Aleister Crowley), faz com que seja aconselhável a Fraternidade da Luz Interior definir a sua posição nesses assuntos. Para qualquer um que compare estes dois livros, um com o outro e ambos com o método que é explanado no meu livro A Cabala Mística, tomar-se-á óbvio que o mesmo sistema é usado em todos os três. Portanto, é bom que sejam dadas algumas explicações para que ninguém seja acusado de plágio ou de roubar as revelações sensacionais de outra pessoa; ou, também, para que nenhum deles seja considerado um associado ou um representante de um dos outros dois.

A explicação é muito simples; todos os três estão se servindo da mesma fonte à qual eu já me referi como sendo a Tradição Esotérica Ocidental. Tradição essa reorganizada e colocada ao alcance dos estudiosos ingleses pelo falecido S. L. MacGregor Mathers, em cujas mãos veio cair um certo número de manuscritos em código – e ele tinha o conhecimento oculto necessário para fazer uso deles. Mathers alegou ter entrado em contato com as fontes de onde emanaram estes manuscritos, e existe uma certa quantidade de evidências objetivas que apoiam a sua alegação; mas o assunto todo está envolto em mistério por causa do extremo segredo que ele observou e pelos drásticos juramentos de iniciação a que eram obrigados todos aqueles a quem ele ensinou o que tinha aprendido; e mesmo com estes, mostrou-se extremamente reservado a respeito de muitos pontos vitais.

Mas, se assim foi, que assim fique; e se ele obteve o seu sistema da maneira como disse que obteve, ou se tirou tudo isso da própria cabeça, na prática real a coisa toda funcionou como um sistema de ocultismo prático altamente eficiente e satisfatório e como um Caminho de Iniciação. Em assuntos ocultos, a prova do pudim se faz comendo o pudim; títulos pomposos e alegações ilimitadas – tais como as que certas organizações americanas nos habituaram a ouvir com respeito a este assunto não têm qualquer importância para aqueles que possuem algum conhecimento sobre o assunto e sobre a sua história, ou que possuem qualquer experiência prática do seu trabalho. Um dos pontos a favor da legitimidade das afirmações de MacGregor Mathers é que ele se envolveu no mais impenetrável segredo e não pode ser induzido a sair da sua concha, nem mesmo para defender-se.

Pelo menos até onde eu pude averiguar, as evidências referentes às fontes das quais MacGregor Mathers obteve os seus MSS são inconclusivas e conflitantes, e muitas coisas foram ditas, sobre estes MSS, que não puderam ser substanciadas. Todavia, que estes MSS existem isso eu posso garantir que é um fato, pois conheço pessoas dignas de confiança que realmente os viram, mas, como eles estavam em código, nem por isso os meus informantes entenderam qualquer coisa e nem por isso puderam dizer quanto MacGregor Mathers tirou deles e quanto ele colocou de seu, na forma de trabalho original.

Não foi fácil conseguir informações exatas sobre o assunto, especialmente porque entrei em cena já bem tarde, depois da morte de MacGregor Mathers, e foi quase o mesmo que tentar arranjar evidências concernentes à natureza do pano com que foram feitas as vestes do Rei Que Estava Despido. Todos juraram, por suas almas imortais, que eram verdadeiras as lendas que corriam na Ordem que ele fundou; à medida que circulavam em forma verbal e adquiriam autoridade firmada em tantas repetições, essas lendas eram aceitas sem críticas.

Até onde pude perceber por meio daquilo que pude saber sobre o assunto e por aquilo que vi das pessoas envolvidas, MacGregor Mathers tinha um vasto grau de conhecimento, muito incomum, porém não muito acurado ou não muito profundo, no qual os estudiosos profissionais podiam encontrar furos; contudo, as raízes do assunto estavam dentro dele, pois vira a significação mística e filosófica por trás daquilo que colheu nos estranhos campos da Alquimia, da Cabala e da Egiptologia. Por uma curiosa concatenação de forças invisíveis, que são chamadas de acaso, os famosos manuscritos em código vieram a cair-lhe nas mãos e neles Mathers encontrou as fórmulas que compõem a base dos seus rituais. Estas lhe deram as chaves para a estranha massa de louca ferragem metafísica que ele já tinha descoberto ser uma fechadura. Apenas inseriu a chave psíquica na fechadura metafísica e pronto! a chave deu a volta e a porta da consciência supernormal foi aberta de repente.

Com referência aos rituais, não saberia dizer quanto deles foi dado textualmente, nos manuscritos em código, e quanto foi uma contribuição de Mathers, tirada do seu conhecimento com a ajuda das chaves que lhe haviam sido fornecidas pelos mesmos manuscritos; mas, pela experiência que adquire através dele, estou absolutamente convencida de que o sistema por ele criado contém fatores totalmente fora do comum, e não foram frutos de uma simples erudição, por mais secreta que fosse. Se MacGregor Mathers foi o único autor original desse sistema, então ele foi um dos maiores homens do mundo; mas por aquilo que presenciei da sua Ordem, não acredito que ele fosse.

O efeito das cerimônias e dos métodos ensinados por MacGregor Mathers foi o de produzir as mais extraordinárias experiências psíquicas e extensões de consciência naqueles que não tinham qualquer capacidade psíquica; os métodos e objetivos destes processos foram inteligentemente ensinados nos graus mais elevados e em certas divisões desta Ordem, e aqueles que foram assim instruídos puderam produzir resultados à sua vontade e o efeitos dos experimentos repetidos foi cumulativo. De fato, por métodos psíquicos eles obtiveram os mesmos resultados que outras pessoas alcançaram por meio de drogas, tais como o haxixe e o mescal, e sem os desastrosos efeitos posteriores que resultam do “desatar os laços da mente” usando meios físicos.

Na luz da experiência assim obtida, os antigos Mistérios tornaram-se compreensíveis e as possibilidades de trabalho psíquico, desse modo reveladas, tornaram-se simplesmente ilimitadas. Considerados individualmente, os estudantes apresentaram uma imensa variação na sua capacidade de utilizar-se dos meios colocados a seu dispor; alguns foram simplesmente fúteis; alguns foram estudantes áridos e insípidos, apavorados com a possibilidade de obter quaisquer resultados práticos por meio das fórmulas; e alguns tornaram-se adeptos genuínos, e deixaram provas disso. Entre estes últimos estava Aleister Crowley, que escreveu sobre ocultismo usando o seu próprio nome e vários pseudónimos, entre outros Mestre Therion, Frater P., Perdurabo e mais uma coleção variada.

Cerca de dez anos antes do meu contato com a organização de Mathers, ocorreram guerras e rumores de guerras. A verdade sobre o assunto é difícil de ser averiguada, mas quando ambos os lados declaram que são anjos combatendo demónios provavelmente trata-se de um caso de seis de um lado e meia dúzia do outro. De qualquer modo, em consequência destas brigas Crowley publicou a maior parte dos segredos de MacGregor Mathers na sua revista O Equinócio, e Mathers amaldiçoou Crowley com sino, missa e vela.

A Ordem passou por severos sofrimentos durante a primeira Grande Guerra e o próprio Mathers faleceu vitimado pela gripe, em Paris, durante a epidemia. Quando entrei em contato com a organização, os membros que a compunham eram principalmente viúvas e anciãos de barbas grisalhas, e aquele não parecia ser um campo de trabalho oculto muito promissor.

Contudo, antes de conhecer a Ordem eu já tivera uma considerável experiência de ocultismo prático, e imediatamente reconheci uma força de um grau e de um tipo que jamais encontrara antes e não tive a menor dúvida de estar na trilha da verdadeira tradição, a despeito de sua exposição inadequada. Por algumas razões que só eles mesmos conheciam, as elucidações e as interpretações tinham sido escondidas no mais recôndito Interior, pelos chefes secretos, que simplesmente deixavam-se ficar sentados em cima delas como galinhas cismarentas sobre ovos de porcelana. A organização tinha se dividido num certo número de disjecta membra e todos se encaravam com suspeita, como se não pertencessem à verdadeira ortodoxia.

No que me toca, não tomei parte na mesquinharia humana do plano mundano, porém trabalhei no sistema e o sistema produziu frutos. Penso que outras pessoas fizeram o mesmo, entre elas Regardie. De qualquer modo, nos dois livros que escreveu, Um Jardim de Romãs e A Árvore da Vida, ele ensina o sistema da Golden Dawn conforme eu o aprendi nos vários ramos da Ordem da qual fui membra.

O Sr. Regardie reconhece o quanto deve a MacGregor Mathers e Wynn Westcott, mas somente apresenta citações tiradas dos livros que eles publicaram. Faz muitas referências a Crowley, principalmente de sua obra em quatro volumes, o Liber Aba – na qual foram inseridos os melhores artigos do Equinócio e mais algum material adicional. O ponto de vista do autor expressa tão exatamente os melhores aspectos dos ensinamentos de Crowley que eu concluo que a sua fonte é a Ordem de Crowley, a “A. A.” e não a “G.D.” de Mathers. A “A.A”, porém, retirou o seu sistema mágico da “G.D.”, portanto, para todos os propósitos práticos Regardie está usando o sistema de Mathers, assim como eu também estou.

Recomendo, sem hesitação, os dois livros de Regardie; A Árvore da Vida em particular, é um trabalho magnífico, na minha opinião, o melhor livro sobre magia já publicado. O livro Liber Aba, de Crowley, do qual Regardie faz grande uso e ao qual reconhece dever tanto, também é de grande valor para o estudante, mas só o estudante adiantado poderá usá-lo com proveito. Como obra literária apresenta muitas vulgaridades e grosserias, como acontece em todos os escritos de Crowley, e grande parte dele é deliberadamente obscura e indireta. Além disso, as fórmulas de que se utiliza seriam consideradas adversas e maléficas pelos ocultistas habituados à tradição cabalística, pois ele usa 11 em vez de 10 como base dos seus grupos de batidas nas cerimônias mágicas, e 11 é o número das Qliphoth, ou as Sephirot Demoníacas; portanto, um grupo de 11 batidas é uma invocação das Qliphoth. No texto não há qualquer indicação a respeito e esta é uma armadilha perigosa para o estudante despreparado.

Crowley também dá o Norte como ponto sagrado para o qual o operador se volta para a invocação, em vez de dar o Oriente, “onde nasce a luz”, conforme a prática tradicional. Ora, o Norte é chamado de “o lugar da mais profunda escuridão simbólica”, e é o ponto sagrado de apenas uma seita, os Yezidis, ou adoradores do demônio. É evidente, portanto, que o estudante que tiver audácia suficiente para fazer uma experiência com um grupo de 11 batidas e uma invocação dirigida para o Norte, não irá entrar em contato com aquilo que a maioria das pessoas consideraria como forças desejáveis.

Crowley, porém, tem uma notável penetração na filosofia do ocultismo e quando trata deste assunto ele se revela um escritor dos mais esclarecidos, e eu, pelo menos, não desejaria minimizar a minha dívida para com os seus escritos. Quanto a seus métodos práticos, porém, é um outro assunto e, na minha opinião, por demais perigoso para ser utilizado de qualquer forma ou maneira.

Se eu li os sinais corretamente, MacGregor Mathers, Crowley, Regardie e eu mesma estamos trabalhando todos com base na mesma fórmula  a fórmula contida nos misteriosos manuscritos em código, descobertos por Mathers; via Crowley, Regardie recebeu informações de Mathers; suponho, porém, que ele desconhecia as alterações que Crowley introduziu nas fórmulas, pois tais alterações não aparecem nos seus livros e as fórmulas que ele apresenta são aquelas com as quais eu me familiarizei nos trabalhos da Golden Dawn. Estas eu mesma comprovei que são seguras e eficientes; considero a versão delas, dada por Crowley, adversa e destrutiva, embora não possa falar com base em qualquer experiência pessoal do assunto porque jamais me envolvi com qualquer dos seus métodos. Contudo, falei com muitas pessoas que se envolveram e depois delas terem tido um tempo suficiente para verificação dos resultados finais  parece não haver duas opiniões sobre este ponto.

Todavia, embora eu tenha me separado completamente dos métodos de Crowley, não desejaria minimizar a sua contribuição para a literatura oculta, uma contribuição que é do mais alto valor. O estudante que sabe ler nas entrelinhas e sabe separar o ouro da escória pode aprender muito através dos seus livros, e se o nosso interesse está limitado às obras de um autor, não precisamos investigar-lhe o caráter pessoal ou a vida privada.

Um dos problemas mais difíceis, no ocultismo de hoje, relaciona-se com a questão de autoridade. O que constitui uma iniciação genuína? Em que consiste uma Ordem oculta genuína? Quem são e onde estão os Mestres? Antes de podermos por um pé adiante do outro na Senda, precisamos responder inequivocamente a estas três perguntas. Nestas páginas eu não me proponho a discuti-las pormenorizadamente porque já o fiz em outro lugar, mas devo tentar, decididamente, definir um padrão de julgamento, em questões ocultas, que possibilite a formação de uma opinião em casos específicos.

A autoridade que se apresenta envolvida em mistério é uma coisa que está singularmente propensa ao abuso e, na ausência de perseguições, é muito difícil entender como isso possa ter qualquer justificativa. Quando o ocultismo tinha que ser seguido com risco para a vida e para a liberdade, a questão era diferente, mas por que, em nome do bom senso, qualquer organização oculta deveria esconder-se em baixo da terra nos dias atuais? Por motivos sociais ou profissionais os indivíduos poderão achar que é prudente esconder o seu interesse, mas é difícil entender por que qualquer pretenso mestre deve manter suas atividades em segredo, a não ser pela simples razão de que a natureza humana ama o mistério e um pouquinho de teatralidade aumenta o prestígio. O iniciador dedicado, porém, – e nenhum outro merece consideração  olha para a ciência esotérica como uma filosofia e uma religião, e não a emprega em banalidades, deixando-as para os impostores que encontram no tráfico do mistério uma forma eficaz de publicidade.

Podemos, então, pegar uma esponja e apagar completamente da lista de candidatos qualquer indivíduo ou organização que não possa ou não queira colocar as cartas na mesa e revelar os seus antecedentes.

É uma infelicidade que o paladar do povo tenha sido alimentado com maravilhas ocultas até um ponto tal, que a ração saudável de fatos reais tenha se tornado repugnante para ele. A menos que a ancestralidade espiritual de uma ordem ou de um iniciador seja remota, tanto em tempo quanto em espaço, não existe prestígio. O charlatão tira vantagem disto e colhe a safra de alegações que para nós são tão impossíveis de examinar quanto são para ele difíceis de substanciar. Qualquer que seja a situação no Oriente, no Ocidente as Unhas de contato no plano físico foram tão absolutamente quebradas e destruídas dentro do tempo histórico que os seus cacos têm que ser colados como cerâmica antiga. A experiência prova, porém, que uma certa quantidade de colagem tem sido feita e o desenho está aparecendo, sendo possível, para o psíquico, apanhar os contatos do plano interior e refazer o elo. É isto que está sendo realmente feito nos Mistérios modernos.

Porque um iniciador, ou uma organização, alega descender da Fraternidade do Himalaia ou dos Rosacruzes, ou de qualquer outra das muito divulgadas Ordens secretas, isso não quer dizer que essa descendência seja por uma Unha ininterrupta de tradição no plano físico; e também não quer dizer que a alegação seja inválida mesmo que não exista uma tal linha de descendência. Para um ocultista, que tenha um certo grau de desenvolvimento, é possível apanhar os contatos psíquicos destas grandes organizações do plano interior e trabalhar sob a influência delas. Quando isto acontece, coisas muito curiosas sucedem no plano físico e o operador descobre que está colhendo, continuamente, os fragmentos da tradição à qual está dedicado.

Olhando para trás posso ver, por experiência própria, que já estava operando os contatos da Ordem na qual fui finalmente recebida, pelo menos três anos antes de entrar em contato com ela no plano físico. Também apanhei estes contatos em pontos diferentes e em duas ocasiões, quando eles tinham sido totalmente cortados no plano físico. Tão logo são apanhados os contatos de uma das grandes Fraternidades, a impressão que se tem é de estar correndo sobre trilhos invisíveis. Há um grande número de testemunhas que podem atestar este fato.

Uma ordem oculta poderia ser comparada a um iceberg, do qual uma sétima parte flutua acima da superfície da água e o resto está submerso. O equivalente a seis sétimos do trabalho oculto é realizado nos planos interiores e, deste trabalho, cinco sextos consistem de experiências subjetivas. Então, o fator essencial para qualquer estudante ou iniciado é ter os contatos do plano interior de uma Ordem válida; obtidos estes contatos, o aspecto exterior começará a cristalizar-se ao redor deles, do mesmo modo como a pérola é formada, camada por camada, ao redor do grão de areia que está dentro da concha da ostra.

Todavia, embora o contato com o plano interior seja o núcleo vital, qualquer situação estará numa situação muito medíocre se não tiver algum corpo de conhecimento mundano de onde possa retirar informações. Os sistemas ocultos são demasiadamente complexos e demasiadamente detalhados para que o seu discernimento psíquico seja uma questão prática.

Muito embora disperso e escondido, existe um grande corpo de tradição, e o estudante, cujo olho interior está aberto, pode penetrar a sua significação enquanto o estuda. Se ele tem por objetivo ser um iniciador e treinar estudantes, é necessário que possa sistematizar este conhecimento e reduzi-lo a um sistema inteligível; o valor de uma escola oculta depende, em grande parte, da maneira pela qual é realizado este trabalho puramente mundano. A Sabedoria Antiga deve ser correlacionada com o pensamento moderno, caso se pretende colocar a sua significação ao alcance do estudante.

Uma escola oculta, então, precisa ter, em seu meio, psíquicos que estejam de posse dos contatos, e eruditos que tenham relevantes conhecimentos. Mediante estas duas coisas, as escrituras antigas têm pouca significação, pois, a menos que existam contatos vivos e a menos que o sistema tenha sido mantido nesta condição de atualização de geração para geração, elas poderão ser apenas lápides marcando o lugar de sepultamento de uma fé morta.

As organizações místicas não são coisas que tenham vida longa; elas raramente sobrevivem à geração que teve contato pessoal com o fundador. Tão logo o impulso original perde força, a senilidade se instala, e o seu renascimento tem que ser realizado em meio a indizíveis dores de parto. Velhas garrafas raramente conterão vinho novo, e a reforma normalmente se efetiva mais por meio da divisão, do que por meio da expansão e da restauração.

Se procuramos as raízes de uma experiência pessoal viva, não demonstramos sabedoria procurando por elas ao longo das linhas de uma tradição organizada no plano físico. O vento sopra onde lhe agrada, e não de acordo com o roteiro traçado pela autoridade estabelecida. A verdadeira linha de contato é uma Unha pessoal e funciona de uma maneira muito peculiar, porém muito definida. O fio de ligação é dos mais delgados, mas não obstante está ali. É como o grão de levedo que foi trabalhado e transformado em sete porções de comida  diminutas, indispensáveis e eficientes. Este indispensável elo do plano físico parece consistir num encontro pessoal entre aquele que procura e alguém que possui os contatos dos planos interiores. Em todos os registros de fundação de uma Ordem nós lemos a respeito de um encontro entre o seu fundador e um mestre iluminado, que lhe deu os seus contatos graças ao seu magnetismo pessoal.

Abraão, o pai de Israel espiritual, encontrou aquela figura misteriosa, Melquisedeque, que veio a ele trazendo o pão e o vinho para a primeira Eucaristia. Na véspera do seu sacerdócio, Jesus procurou São João, o Batista, o último dos profetas de Israel. Christian Rosencreutz viajou para Damcar, ou Damasco, à procura de um iniciador. Abramelin encontrou o instrutor prometido entre os eremitas do deserto egípcio. Rudolph Steiner encontrou o seu mestre na Floresta Negra. Mme. Blavatsky encontrou um certo Adepto indiano em Kesington Gardens, durante a celebração do Jubileu. MacGregor Mathers encontrou os misteriosos manuscritos em código e se comunicou com um endereço nele contido.

Deixemos, porém, que fique claramente apontado que o contato pessoal com um adepto iniciado, embora fosse o ponto crítico da carreira de cada um deles, não foi mais do que uma pista que tinha que ser deslindada. Mme. Blavatsky teve que escrever os seus livros e construir a sua organização. MacGregor Mathers usou a sua erudição ímpar para dar corpo e forma visíveis ao sistema do qual ele não recebeu nada mais além das chaves. Em cada um dos casos, a grandeza do trabalho dependeu do calibre do trabalhador. Deve haver muitos outros que também entraram em contato com os mesmos mestres destes grandes pioneiros e que receberam, sem dúvida, uma iluminação de acordo com a sua capacidade, mas que nada construíram no sentido de uma organização e não deixaram marcas no mundo.

Que também seja notado que cada um dos sistemas fundados desse modo trouxe, em sua estrutura, as fraquezas inerentes dos seus fundadores, e estas fraquezas formaram a linha de fissura ao longo da qual eles finalmente ruíram. Mme. Blavatsky tinha muito pouco discernimento no que se refere ao caráter humano e, embora sua devoção aos seus ideais fosse inquestionável, ela foi singularmente imprudente na sua política e inescrupulosa em seus métodos. O movimento “De Volta para Blavatsky”, em sua condenação da Teosofia moderna, faria muito melhor se se lembrasse de que as ervas daninhas nas quais eles estão passando a foice representam apenas o crescimento pleno das sementes que ela semeou na sua imprudência e falta de princípios. MacGregor Mathers, também, que não teve outra fonte de renda além da sua escola esotérica, enfraqueceu-a pouco a pouco e finalmente a destruiu por meio da sua desconfiança e do seu exclusivismo.

Através destes fatos observados, aprendemos vários itens que consideramos relevantes na formação de um padrão de julgamento. Aprendemos, primeiramente, que a doutrina física – exceto até onde ela consiste da palavra escrita, que pode ser estudada – não tem qualquer importância decisiva porque o valor real de uma longa linha de estirpe espiritual está na mente-grupo existente nos planos interiores, e esta pode ser apanhada, por meio de contatos psíquicos, até mesmo por aqueles que não são os herdeiros da linha mundana de herança. Além disso, os herdeiros legais poderão fracassar lamentavelmente na tarefa de manter os canais abertos e, desse modo, serão guias cegos orientando cegos. Somente a função, e não o privilégio, é que dá o direito de operar os Mistérios.

Em segundo lugar, aprendemos que não basta gritar Senhor, Senhor, alto e persistentemente; é preciso haver um equipamento adequado, de conhecimento e de organização no plano físico, para que as forças espirituais possam encontrar um canal. Foi dito, com muita verdade, que o poder de duração de uma fé depende inteiramente da sua literatura. Todas as grandes crenças têm como seu núcleo um livro, uma Bíblia, um Corão ou os Upanixades. Qualquer instrutor espiritual que se apoia apenas em ensinamentos orais não deixa um registro permanente atrás de si. Deve haver um livro, e um livro místico ou sagrado, que fale não para a razão e para a inteligência, mas para a intuição e para a fé. As declarações específicas da literatura Neo-Teosófica da escola Besant-Leadbeater, que tenta esclarecer e convencer a mente consciente, não é o núcleo ao redor do qual o movimento fundado por Mme. Blavatsky está reagrupando as suas forças destroçadas; A Doutrina Secreta é que é o livro sagrado que manterá o movimento unido muito tempo depois que o livro As Vidas de Alcyone já tenha sido piedosamente esquecido.

Deve haver um livro, escrito sob a influência de uma poderosa inspiração espiritual, que forme o núcleo permanente de qualquer movimento que deve sobreviver ao seu fundador. Um tal livro exalta a consciência daqueles que o leem e os coloca em contato psíquico com as fontes de onde veio a inspiração; então, eles poderão trabalhar independentemente. As pessoas nunca se satisfazem em ser alimentadas às colheradas, indefinidamente, e a menos que o sistema adotado possa proporcionar a elas os contatos vivos, um tal sistema não conseguirá prender ninguém exceto as almas jovens, e um movimento desse tipo não pode ser construído.

Será interessante verificar se a massa dos escritos de Rudolph Steiner poderá corresponder a um tal livro para os seus estudantes. Sinto-me inclinada a duvidar que eles possuam essa qualidade. MacGregor Mathers deixou atrás de si os soberbos rituais a sua Golden Dawn e estes, com sua massa de simbolismos e eficiência mágica, formam uma inexaurível mina de inspiração para os iniciados da sua doutrina, os quais, em consequência, reacendem suas fogueiras onde quer que haja olhos para ver.

Na Doutrina Cósmica temos um núcleo de inspiração. Também estamos Ligados com os contatos da Golden Dawn. Desde o princípio, fizemos todos os esforços para tornar o nosso sistema automático e independente do ensino pessoal. No momento atual ele é mais ou menos como uma estrada arterial em curso de construção  há longas extensões de ampla rodovia e há passagens e pontes estreitas, onde o trabalho de construção ainda está em andamento. Acreditamos, porém, possuir o necessário núcleo de permanência em nosso sistema, acreditamos que ele sobreviverá à geração que o viu nascer, e permitirá a expansão indispensável para adaptar-se às necessidades das gerações futuras, uma vez que depende mais de métodos do que de doutrinas.

ELEMENTOS SUBVERSIVOS NO MOVIMENTO OCULTO:

O movimento oculto sempre tem sido um objeto de suspeita para os poderes em exercício, e não sem razão, pois o segredo com o qual ele trata de se envolver naturalmente mais atrai do que evita a atenção; além disso, justamente este sistema de segredo pode ser convenientemente usado como uma cobertura para outras coisas que não o ocultismo, e foi isso mesmo que sucedeu em muitas ocasiões no passado. O ocultista, portanto, não tem razão para se ofender com as suspeitas que tem despertado, mas deve procurar, por todos os meios ao seu alcance, esclarecer a situação, dar provas da sua bona fides e conduzir suas atividades de uma maneira tal que não possam servir de cobertura para malfeitores.

As influências que estão ativas no mundo de hoje alinham-se sob duas bandeiras, como sempre fizeram. A escolha de uma bandeira é uma questão de temperamento; foi dito, com muito acerto, que todas as pessoas são Radicais na sua juventude e Conservadores na sua velhice. Sempre iremos verificar que os tímidos, e também aqueles aos quais o deus deste mundo abençoou, estão do lado do conservantismo, ou da manutenção do estado de coisas do momento. Também iremos verificar que os espíritos anojados, e mesmo aqueles sobre quem o sistema social reinante exerce forte pressão, desejam realizar mudanças na ordem das coisas, e, às vezes, mudanças radicais. De ambos os lados serão encontrados homens moderados e homens extremistas, o que não deixa de ser uma questão de temperamento.

Estes dois tipos contrastantes de temperamento têm dificuldade em entender o ponto de vista um do outro, e os exemplos mais extremos normalmente carecem de um tipo de imaginação que os habilite a conceber que pode haver um outro ponto de vista razoável, além do seu; consequentemente, as relações tendem a se tornar acrimoniosas e cada partido atribui ao outro vícios que ele não possui, ou é dirigido por apenas uma diminuta e insignificante minoria. O interesse pessoal também exacerba a situação, pois qualquer vitória do lado de um partido só pode ser conquistada a custo de derrotas do outro. Os dois campos tendem a tornar-se campos armados, havendo entre eles um perpétuo estado de guerrilha que ocasionalmente se transforma numa campanha em grande escala.

Dentro de limites, ambos os aspectos são essenciais para o bem-estar do corpo político; a experiência tem provado isso com tanta clareza que uma oposição bem organizada é considerada essencial para a boa realização da administração nacional.

Contudo, embora a polaridade normal do ponto de vista seja um controle saudável sobre os extremos de qualquer tipo, e seja um desenvolvimento normal e inevitável neste universo que se manifesta através de pares de opostos, em ambos os campos podem ser encontrados pontos de vista extremistas que ultrapassam todos os limites do equilíbrio e que, para usar a linguagem dos cabalistas, são Qliphóticos porque tendem para o caos. O Conservador procurará manter, em sua mão morta, os benefícios adquiridos, sem se importar com as condições que vão se modificando ou com o bem-estar do mundo como um todo; o anarquista, em sua revolta contra as condições existentes, procurará destruí-las desde os alicerces até o topo, fazendo assim a casa da vida cair sobre a sua própria cabeça e condenando-se a ficar sem um abrigo enquanto o processo de reconstrução está em andamento. Os homens razoáveis, de ambos os partidos, encaram com desconfiança os seus extremistas e são capazes de oferecer tanto gestos de simpatia quanto o de respeito a seus oponentes.

Como já observamos, a escolha de um partido é, normalmente, ditada pelo temperamento, melhor do que pela convicção intelectual. Aqueles que podem ser encontrados no partido da mudança geralmente têm um temperamento mais imaginativo e impressionável do que aquele dos que encontram o seu lar espiritual no conservantismo, usando a palavra no seu sentido léxico e não no sentido político. É o mesmo tipo de pessoa que tem os ouvidos abertos para todas as coisas novas em qualquer setor de atividades mundanas; geralmente essa pessoa é inconvencional nos seus trajes e na sua alimentação; usa o cabelo comprido quando outras pessoas o usam curto, como nos tempos modernos; e curto quando as outras pessoas os estão usando compridos, como entre os puritanos ingleses; e reage violentamente aos seus próprios complexos em geral, não somente nas coisas em que tem convicção especial mas em todos os caminhos da vida, quer nos fúteis costumes sociais, quer nas coisas mais profundas e fundamentais do espírito.

Sendo o ocultismo, mais do que a maioria das coisas, um ponto de vista inconvencional, nós encontramos, entre seus partidários, uma elevada porcentagem de pessoas de mente liberal, e uma porcentagem comparativamente pequena daquelas que têm um ponto de vista convencional ou conservador. Não devemos, porém, cometer o engano lógico de confundir post hoc com propter hoc. As pessoas não se tornam radicais em seus pontos de vista porque qualquer doutrina as ensinou sob o véu do segredo, em lojas ocultas, mas tornam-se ocultistas porque são do tipo receptivo e aventureiro.

Além disso, há um certo tipo de reformador mais filosófico que, na procura de uma explicação que possa conduzi-lo às causas-raiz do descontentamento social, descobre que os ensinamentos esotéricos oferecem essa explicação, especialmente naquelas doutrinas referentes às mentes-grupo, às influências sutis e aos ciclos evolucionários. Um reformador social deste tipo estuda o ocultismo não com o propósito de aplicar o ritual mágico aos seus inimigos, como supõe a imaginação popular, mas para poder compreender as causas-raiz.

É raro encontrar o fanático de qualquer partido em círculos ocultos ou, diga-se de passagem, em quaisquer círculos que não concordem inteiramente com as suas ideias; ele tem uma mente tão orientada numa única direção e está tão concentrado no seu preconceito especial que não se interessa e nem tem tempo para gastar com qualquer outra coisa.

Com isso se poderá ver então, que, embora aquelas pessoas dotadas de pontos de vista avançados e inconvencionais predominem, inquestionavelmente, nos círculos ocultos, elas os procuram incidentalmente e por uma questão de temperamento, e não porque as doutrinas ocultas estejam imediatamente ligadas à política.

O OCULTISMO E O SUBMUNDO:

À parte aquilo que poderia ser chamado de uma genuína e sincera associação do ocultismo com pessoas e ideias subversivas – uma coisa que é puramente acidental e que depende do fato de que o mesmo tipo de temperamento se inclina para ambas as linhas de interesse – não se pode negar que, inextricavelmente misturada com o movimento oculto, existe uma perigosa linha subterrânea de atividades subversivas e as autoridades agiriam bem se ficassem de olho nela. O peculiar e absolutamente desnecessário sigilo observado pelos ocultistas transforma o movimento oculto numa capa muito conveniente para várias atividades que não resistiriam a uma inspeção.

A Scotland Yard está bastante alerta para este fato e, em consequência, mantém uma estreita vigilância sobre todas as organizações ocultas. A natureza semipública, semiprivada, dos procedimentos prestam-se singularmente bem aos propósitos de pessoas cujas atividades, nos seus esconderijos habituais, estão sob vigilância. Qualquer organização esotérica à qual seja solicitado permissão para que cartas sejam enviadas aos seus cuidados, que sejam recebidos pacotes de impressos, que depois serão apanhados por um carro particular, ou mesmo que permita o uso de telefones por estranhos, deve ficar em guarda. É um segredo mais do que conhecido que as cartas dos suspeitos são examinadas e que seus chamados telefônicos são ouvidos; consequentemente, é de grande importância, para tais pessoas, encontrar lugares livres de suspeitas onde possam receber comunicações. Raramente alguém pode apresentar uma boa razão para ter suas cartas enviadas para um endereço arranjado, e as organizações esotéricas, que são complacentes nessa questão, estão criando dificuldades para os próprios adeptos do movimento.

É uma grande infelicidade que a Sociedade Teosófica tenha ficado tão intimamente associada às atividades políticas da índia, embora deva ser dito, por justiça, que provavelmente não houve qualquer percepção dos extremos aos quais estas atividades finalmente levariam. Em razão disso, muitas pessoas olham para o movimento oculto como se ele fosse farinha do mesmo saco e têm medo de se meter em todos os tipos de complicação caso se liguem a ele, portanto, limitam os seus estudos à teoria da ciência esotérica e não encontram nenhuma oportunidade para experimentá-la na prática.

As organizações com inclinações fascistas, da Grã-Bretanha, parecem levar muito a sério a ameaça do ocultismo subversivo e parecem considerar que uma sociedade oculta é, ipso facto, subversiva, e como tal deve ser espionada. Nenhuma pessoa sensata faria objeção a ser inspecionada por representantes autorizados da lei e da ordem, porque, consentindo, elas estariam protegendo os seus próprios interesses; mas o detetive amador é uma amolação ofensiva e, como tal, deve esperar uma execução tão sumária quanto a do bolchevista.

Sob o aspecto menos apresentável do ocultismo, a parte representada pelo uso habitual de drogas foi grandemente exagerada. As drogas usadas são do tipo que produzem visões, tais como o analônio e o haxixe, e estas não são consideradas drogas viciantes no Ocidente. Nas doses em que são usadas para as experiências ocultas, elas não tem qualquer probabilidade de provocar um dano permanente.

As drogas que levam as pessoas ao vício são aquelas que produzem estimulação e imunidade ao cansaço, ou então são aquelas que amortecem a consciência e tornam suportável uma vida atormentada; as drogas que produzem visões não são encontradas em nenhum destes cabeçalhos. Ninguém tem possibilidade de provocar visões por meio do seu uso frequente, o bastante para poder correr o risco de tornar-se um viciado; e de qualquer maneira, o analônio não forma hábito.

O risco ao qual estas drogas expõem aqueles que as usam é psíquico, não físico; se o experimentador não é um ocultista perito, que tenha uma competência absoluta na questão de simbolismos e banimentos, elas podem deixar aquele que as utilizou aberto para a invasão psíquica e até mesmo para a obsessão, pois abrem as portas do astral para a consciência despreparada – e, como todo o nadador sabe, uma coisa é nadar para longe e outra coisa é nadar de volta. Não estou preparada para negar que elas têm um lugar na pesquisa oculta, mas tal pesquisa só poderá ser empreendida por aqueles que estão adequadamente equipados, no que diz respeito aos seus conhecimentos tanto ocultos quanto científicos, e são indesejáveis sob todos os pontos de vista quando realizadas por aqueles que estão simplesmente procurando uma emoção nova.

Muito tem sido feito pelos escritores de ficção que tratam da Missa Negra, que consiste em profanar, por todos os meios e modos que uma imaginação superexcitada possa sugerir, os símbolos sagrados da fé Católica. Para todos os propósitos práticos, esse é um processo que está limitado aos Católicos Romanos porque, como apontou Éliphas Lévi, ninguém que não acredite fervorosamente numa Missa Branca poderá participar eficazmente de uma Missa Negra. Para o dissidente, as operações de uma Missa Negra não teriam sentido.

As orgias sexuais têm desempenhado uma parte nos Mistérios, e no caso de povos primitivos não devemos nos apressar em condená-las indiscriminadamente, sem levar em consideração o tipo de sociedade na qual elas têm lugar. Não podem ser usados padrões civilizados para julgar tribos primitivas, vivendo sob condições e normas inteiramente diferentes das nossas. Estas orgias não produzem, absolutamente, a degeneração que os missionários querem nos fazer acreditar. Elas não são, de modo algum, a mesma coisa que a promiscuidade sexual generalizada, mas estão estritamente limitadas a certos períodos. Um povo vivendo sob condições naturais, no mais íntimo contato com a natureza e competindo com as plantas e os animais pela posse do solo, tem outras necessidades sociais e, consequentemente, padrões morais muito diferentes daquele que teria uma população organizada e densa, cujo problema é alimentar-se com recursos retirados de uma área limitada. Para o primeiro, as orgias que estimulam a fecundidade podem ser tão necessárias e virtuosas quanto as restrições morais de outros tipos de sociedade.

E também não devemos cometer o erro de pensar que só porque uma raça tem, entre os seus símbolos sagrados, representações simbólicas dos órgãos de reprodução, ela seria necessariamente licenciosa, tanto quanto o fato de uma freira ser admitida numa Ordem religiosa com uma cerimônia de casamento poderia nos levar a suspeitar a mesma coisa. A reserva nas questões sexuais é uma questão de educação, não de moral.

Nestas coisas há verdades que não podemos ignorar, e por ignorá-las a civilização se torna mais pobre, mas nem por isso se torna mais limpa ou mais saudável. O problema, porém, tem início quando as pessoas que têm inclinações licenciosas começam a usá-las como uma justificativa e como uma cobertura. Alguma coisa neste estilo tem sido feita em nome do ocultismo, especialmente no Continente. Em sua maior parte, porém, a vida licenciosa nos círculos ocultos consiste numa coleção de “companheiros-de-alma” circulando livremente, e não tem maior significação oculta do que têm as condições similares em círculos artísticos. Não é feito nenhum uso mágico desses relacionamentos; o único contato oculto que eles têm reside no achado, em vidas passadas, de uma justificativa para os seus atos, uma justificativa que ninguém, a não ser as pessoas diretamente implicadas, leva muito a sério.

Em diferentes ocasiões, vários ocultistas tentaram pôr em prática as doutrinas freudianas. Ninguém que tenha qualquer percepção da vida poderá negar que há uma grande parcela de verdade nessas doutrinas e que, teoricamente, podem ser encontradas muitas justificativas para os atos de tais iniciadores. As consequências sociais, a tensão e a revolução geral de tais métodos são, todavia, tão graves que – seja o que for que possamos pensar a respeito deles do ponto de vista da ciência pura – na prática real é melhor deixá-los de lado. Em primeiro lugar, as forças utilizadas fogem ao controle com extrema facilidade e quando tais práticas são realizadas em grupo, a mente-grupo, assim formada, assume uma atmosfera demasiadamente elemental para ser tolerada por pessoas civilizadas. As orgias e a magia sexual grosseira já desapareceram do nível de consciência no qual as raças civilizadas funcionam, assim como também desapareceram o infanticídio e a eliminação dos idosos.

Há outros métodos para abordar os níveis elementais de consciência mais eficientes do que estes que não pertencem ao Caminho da Mão Direita. Através de métodos puramente psicológicos, o psicanalista alcança os mesmos resultados; contudo, quando a experiência por ele realizada está unida ao conhecimento do esoterista é que são alcançadas as consequências mais profundas e as alturas mais supremas.

Certa vez tornou-se muito comum o uso de vícios anormais para propósitos mágicos; os fatos são bem conhecidos e deram origem a escândalos repetidos. Não há nada para ser dito no sentido de amenizar tais práticas; elas são antinaturais e destrutivas em todos os planos. Todavia, há razões para se acreditar que esta fase de Ocultismo Negro teve a sua época e agora está desaparecendo. O principal expoente tornou-se inapelavelmente insano e o seu exemplo parece ter ensinado um pouco de prudência para aqueles dos seus seguidores que não precisaram aprender a lição por meio da experiência. Não obstante, em certos círculos ainda resta um grande número de ensinamentos e de práticas corruptas que produzem uma rica colheita de psicopatologias. Mentes-grupo ficaram contaminadas e, através de ligações com elas, os indivíduos sensíveis estão sujeitos a experiências muito desagradáveis, a inúmeras perturbações psíquicas e até mesmo a doenças reais. Os líderes destes grupos não são, de modo algum, devotados ao mal, mas têm uma compreensão muito pequena das forças com as quais foram postos em contato. As repetidas erupções de problemas psíquicos que ocorrem entre eles são atribuídas ao ataque oculto vindo de fora, ou à desforra das forças do mal contra as quais estão lutando, e eles não percebem que são como pessoas que construíram suas casas na encosta de um vulcão. Contudo, é provável que a atmosfera venha a clarear gradualmente com o colapso do líder e que aquilo que é de valor seja desembaraçado dos inúmeros elementos infelizes que se reuniram ao seu redor.

O “PERIGO JUDAICO”:

Sempre existiu um forte sentimento antissemita entre as nações continentais, embora nestas ilhas ele seja de um tipo muito modificado. Tem havido livros, publicados recentemente, que se determinaram a mostrar que a revolução na Rússia é um trabalho dos judeus e que a raça judaica, como uma unidade organizada, está decidida a destruir a civilização. Entre estes livros há alguns que tentam provar especificamente que o iniciado judeu é uma pessoa particularmente perigosa e que qualquer movimento oculto, no qual uma generosa proporção de judeus encontra acolhida, deve ser um movimento particularmente perigoso.

A fim de examinarmos os erros e os acertos desta proposição, primeiro devemos examinar a base onde ela repousa. Qual a causa do antagonismo geral contra os judeus? A maioria das pessoas diriam que é porque eles mataram Nosso Senhor, mas a verdadeira resposta para esta pergunta provavelmente é encontrada no fato de que há uma porcentagem mais alta de habilidade e de sagacidade intelectual – e uma porcentagem mais baixa das virtudes marciais – entre o povo judeu do que entre a maioria das outras raças. Isto, orgulho e o seu exclusivismo racial, irrita os gentios; e como raramente o judeu é uma pessoa belicosa, essa irritação pode ser livremente extravasada, com segurança. Além disso, por causa do seu dom peculiar para as finanças, o judeu é o agiota universal; e um sistema muito conveniente de botar um “pago” nas dívidas inconvenientes é providenciar um “pogrom” de vez em quando. Ambos os lados têm forças e fraquezas que fazem com que um tenha medo do outro e que, ao mesmo tempo, fazem com que um seja a presa do outro; um tal estado de coisas não pode produzir boa impressão e confiança mútua.

É perfeitamente certo que no Bolchevismo e, diga-se de passagem, nos círculos anarquistas em geral, há uma alta porcentagem de judeus. A razão para isso não precisa ser procurada muito longe. O judeu é uma exceção para a regra geral de que um idealista nunca é prático. Quando um movimento idealístico deseja um organizador eficiente, geralmente não consegue encontrá-lo entre os gentios que estão em suas fileiras. Os judeus foram a espinha dorsal do movimento bolchevista pela simples razão de que o russo, entregue a si mesmo, não sabe organizar e carece, irremediavelmente, de senso prático. Portanto, o elemento judeu teve que vir para a linha de frente. Esta não é uma peculiaridade do movimento bolchevista. Quando estava reformando a administração russa e alicerçando o Estado sobre linhas modernas, Pedro, o Grande, achou necessário importar administradores alemães pela simples razão de que naquela época, como agora, os russos não podiam organizar ou administrar.

O judeu vem para a linha de frente nos círculos revolucionários, do mesmo modo que nos círculos literários e científicos, por causa da elevada porcentagem de habilidade e poder de impulso encontrada em sua raça. Mais uma vez, post hoc não é propter hoc.

O judeu é atraído para a Tradição Esotérica Ocidental porque ela está baseada na Cabala, a sabedoria mística de Israel, e porque o seu intelecto é de um tipo que aceita agradavelmente a filosofia esotérica. Parece haver uma ausência completa do elemento místico no judaísmo dos dias atuais, exceto no que concerne ao nacionalismo judaico. Isto, de fato, é especialmente marcante no caso das mulheres, pois elas não têm lugar na religião judaica a não ser como encarregadas dos costumes levíticos que se aplicam ao lar. Esta ausência parece ser agudamente sentida pelos judeus mais ponderados, que sentem necessidade do tipo de misticismo que o Cristianismo ensina, mas não podem aceitar o Cristo. Eles, e especialmente elas, acham este misticismo no ocultismo, sem qualquer tendência religiosa exclusiva, e podem adaptá-lo àquilo que honram na tradição de Israel. Em consequência disso, há muitos judeus no ocultismo ocidental e, como sempre, se eles aparecem na vanguarda é pela sua capacidade intelectual e pelo seu arrojo.

Para qualquer um que observe o assunto sob a luz da história e da psicologia racial, não pode deixar de ser óbvio que a raça judaica, como raça, é a que tem mais a perder, em relação a qualquer outra, por meio da revolução social e da desordem, pois os judeus são os prestamistas do mundo e a primeira coisa que se faz, depois de uma revolução, é apagar as dívidas passadas, tanto privadas quanto nacionais. Além disso, a raça judaica não é militarista; não que inexistam casos de lutadores entre os judeus, conforme mostra a história do pugilismo, mas seus dogmas religiosos peculiares, conforme aplicados aos costumes sociais, fazem com que se torne muito difícil, senão impossível, organizar um exército. Certa vez Jerusalém foi tomada de assalto porque os judeus não queriam operar suas defesas no Sabat.

Todavia, não resta dúvida que os homens da raça judaica têm desempenhado um papel importante na determinação do curso da História, dando ou negando o seu apoio financeiro a governos e monarcas belicosos. Isto, porém, não tem sido uma questão de política nacional organizada, mas sim de aventura e especulação pessoal, pelo menos desde que os governos deixaram de obrigar o judeu a emprestar dinheiro dando como garantia a sua própria dentadura. Vale a pena notar que a ficha do homem de Estado judeu é singularmente limpa; ele serve à sua nação adotiva com uma integridade sincera e uma habilidade conspícua.

O judeu sempre tem sido proeminente no ocultismo ocidental; de fato, durante séculos ele foi o seu único guardião, pois a Igreja, com mão firme, acabou com todas as especulações e experiências ligadas a coisas espirituais. A Cabala tem sido a principal válvula de escape para o judeu espiritualmente inclinado, que achou que as ostentações de religiosidade são coisas estéreis; e a Cabala tem magia cerimonial, tem um psiquismo altamente técnico e tem suas aplicações práticas. Em Israel é que pode ser encontrado o manancial da Tradição Ocidental; de fato, os ocultistas ocidentais precisam ter um conhecimento ativo dos elementos da língua hebraica a fim de poder desemaranhar o jargão inculto do hebreu bárbaro, que é a herança de lojas sem instrução.

O fanático que tem firmemente fixada em sua cabeça a ideia de que a raça judaica está empenhada na destruição de toda a ordem social, encara a presença do elemento e da influência judaica como sendo uma das provas mais evidentes da culpa do ocultismo. Nós podemos fazê-lo lembrar que o mesmo pode ser dito do Cristianismo, que tem suas raízes culturais no Judaísmo. Do ponto de vista histórico, Abraão, melhor do que Pedro, é que segura as chaves do céu para o mundo ocidental.

A Tradição esotérica não aceita exclusivismos; a própria essência do seu espírito é que ela não blasfema contra nenhum Deus que tenha sido consagrado pela devoção do homem. Ela vê todas as religiões como expressões do espírito do homem, melhor do que como a revelação pessoal de um Deus ciumento para o Seu povo eleito. Ela não padece de temor supersticioso e nem de temor fanático. Quando solicitada a tomar partido em qualquer disputa acrimoniosa, referente aos erros e acertos fundamentais, ela diz – Maldição sobre a casa de uma e de outra! O Caminho de Deus é o Caminho da Luz do relâmpago ziguezagueando entre os Pilares, e o lugar de equilíbrio fica no ponto central do Pilar do Meio.

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