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Dion Fortune
excerto de ‘Preparação e Trabalho do Iniciado’
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Todos os sistemas esotéricos utilizam um método simbólico de notação em seus ensinamentos. Cada um dos símbolos empregados indica uma potência espiritual, e as ideias associadas a eles indicam seu método de funcionamento; suas inter-relações representam a interação dessas forças. Se possuímos a chave de um sistema simbólico, podemos prontamente equipará-lo a todos os outros, pois, fundamentalmente, eles são os mesmos.
Todos os deuses e deusas em um panteão, com uma exceção, representam forças da Natureza e princípios espirituais fundamentais, pois um é apenas o reverso do outro. Esse sistema de simbologia pode ser traduzido em termos de cada plano do universo manifestado. No plano físico, eles se equivalem ao que chamaremos, tomando emprestado um termo do Oriente, de chakras mundanos; ou seja, os pontos no plano físico onde ocorre o contato entre o Invisível e o Visível. Diferentes tipos de força possuem diferentes pontos de contato. Estes são representados pelos doze signos do Zodíaco, pelos sete planetas e pelos quatro Elementos, e têm sua correspondência nos diferentes planos de existência com os diferentes graus da hierarquia celestial. O conhecimento desses elementos é sempre um dos segredos cuidadosamente guardados dos Mistérios, e nunca é revelado fora de seus portais.
Esses símbolos cósmicos são ainda representados pelas letras de uma língua sagrada, que, na Tradição Ocidental, é o hebraico. Destas letras são formados os Nomes Sagrados e Palavras de Poder, que são simplesmente fórmulas algébricas resumindo potências.
Assim é representado o universo para o iniciado, e ele é capaz de traçar a correlação entre suas partes e ver quais realidades invisíveis estão projetando suas sombras sobre o mundo de Maya, a ilusão. Empregando esse princípio, são construídos rituais que são projetados para trazer a alma do homem em contato com as potências representadas, e sistemas divinatórios são elaborados para revelar as combinações e movimentos dessas forças invisíveis. Não se deve esquecer que a divinação, que é o discernimento do Invisível, é algo muito diferente da adivinhação, à qual ela se relaciona da mesma forma que a medicina científica se relaciona com as curas milagrosas vendidas em feiras.
Ao falar dos panteões dos deuses, notou-se que cada deus representava um princípio espiritual ou uma força natural — com uma exceção, o Deus Sacrificado, e Ele representa a alma do iniciado, para quem Ele também é o Grande Iniciador.
O panteão pode, então, ser abordado a partir de dois aspectos: o externo e o interno. Pode ser discernido na Natureza ou na alma do homem. Em seu aspecto final, os dois se tornam um. Esse é o objetivo do trabalho dos Mistérios.
Não há tal coisa como o politeísmo no sentido em que o termo é geralmente entendido. Um Pai dos Deuses é sempre reconhecido como a Grande Causa Primordial do universo, de quem todas as coisas emanam. Podemos, no entanto, distinguir entre as religiões que veem Deus como artesão, bem como criador, e aquelas que reconhecem a delegação de funções para deidades menores.
Mas mesmo em uma fé rigidamente monoteísta como o Judaísmo, reconhece-se que a ação direta de Deus em todas as questões é inconcebível, e assim obtemos o conceito das emanações Divinas, ou Sephiroth, e sua manifestação nos quatro mundos dos cabalistas por meio de hostes angelicais. Nesse conceito, não há diferença fundamental daquilo que subjaz aos panteões egípcio ou hindu, exceto que os anjos das manifestações são distintamente reconhecidos como servos de Deus, não como Seus iguais. As correspondências podem ser claramente traçadas entre todas as três cosmogonias com a ajuda do simbolismo astrológico.
O estudante dos Mistérios, portanto, precisa conhecer seu simbolismo cósmico, conforme apresentado nesses panteões; e, embora ele deva tomar um desses sistemas como seu sistema-chave e torná-lo seu, será sensato familiarizar-se com outros, pois cada um tem seu próprio desenvolvimento e aplicação especial, e pode lançar muita luz adicional sobre o sistema de sua escolha. Por exemplo, a magia natural mais profunda é encontrada no Egito, e a metafísica mais elevada, na Índia.
Mas se ele deseja fazer uma aplicação prática de seus estudos, o iniciado deve investigar a alma do homem, bem como a natureza do universo, e o progresso da alma através de suas iniciações ele encontra simbolizado na história de vida do Redentor ou Guia, que é para ele o Grão-Mestre e Grande Iniciador. Ele encontrará aqui um resumo do curso da alma desde a consciência sensorial até a União Divina.
Na interação entre os diferentes níveis de consciência e os planos correspondentes de manifestação reside a essência do ocultismo. O psíquico é aquele que funciona negativamente nessa interação; ele reage às condições que contacta, e assim as percebe, mas exerce pouca ou nenhuma influência sobre elas. O adepto, por outro lado, ao perceber, não reage, e, portanto, funciona positivamente em suas relações com os mundos sutis, enviando sua influência sobre eles, em vez de receber sua influência em si mesmo. O mago pode ser distinguido de qualquer um desses dois como aquele que sabe como influenciar os mundos sutis, mas, sendo incapaz de percebê-los, é incapaz de operar diretamente sobre eles, sendo obrigado a depender de intermediários que evoca para servir à sua vontade. O verdadeiro adepto não depende da intervenção de espíritos, sejam divinos ou diabólicos, mas trabalha diretamente sobre o plano de sua escolha; e, como é na evocação de espíritos e seu banimento subsequente que residem os principais riscos do ocultismo, verá que o mago está em uma posição muito diferente do mágico em suas relações com os planos sutis.
Mas além de seus estudos de assuntos que são essencialmente ocultos, há outras ciências com as quais o estudante deve se familiarizar se quiser fazer justiça à sua tarefa, pois, a menos que tenha um conhecimento prático delas, ele será incapaz de apreciar o significado de uma grande parte de suas pesquisas ocultas. Em primeiro lugar, entre essas ciências, está a psicologia, pois sem um conhecimento profundo da natureza da consciência, ele estará totalmente inapto para lidar com os intricados problemas de consciência que se apresentam constantemente no curso de seus estudos, onde, de fato, tudo depende da natureza da consciência e de sua relação com o ego e os diferentes níveis de manifestação.
A psicologia escolar tradicional, tal como a aprenderia se estivesse se preparando para ser professor, terá pouco interesse para ele; e, após aprender suas lições mais simples em relação aos modos de apreensão e à classificação da consciência, ele poderá deixar para trás a escola behaviorista e seguir para a investigação das escolas analíticas, especialmente a junguiana, pois elas lhe trarão resultados muito mais ricos; após algum conhecimento de seus métodos e conceitos, ele deve investigar os fenômenos da hipnose e da sugestão e dos estados hipernormais em geral. Ele descobrirá que tanto os espiritualistas quanto os místicos católicos têm muito a lhe dizer sobre esses assuntos que valerá a pena sua atenção.
Assim, equipado com dados que lhe permitirão formar julgamentos, ele estará em uma posição muito melhor para investigar o Invisível do que se se aventurasse apenas com a armadura da fé. A consciência do vidente e os poderes do mágico não são coisas à parte das leis naturais, cujas operações podem ser vistas e estudadas em outras esferas, bem como nas do ocultismo prático, e é por meio deste estudo comparativo que mais luz é lançada sobre sua operação.
Um conhecimento prático de antropologia, arqueologia e folclore também é extremamente valioso; pois diferentes sistemas, especialmente aqueles que existem entre povos primitivos na atualidade, lançam muita luz sobre as culturas antigas e nos permitem compreender melhor seu significado metafísico. Um conhecimento geral de fisiologia também é essencial se a relação entre mente e corpo deve ser compreendida, e o novo trabalho na física é de especial interesse para o estudante de ocultismo, explicando, como faz, a natureza do substrato etérico do universo manifestado. Finalmente, deve haver algum treinamento, pelo menos, nos métodos e conceitos da filosofia e nos achados da religião comparada. Assim equipado, o iniciado terá a bagagem cultural necessária para abordar seu assunto escolhido com um espírito científico e produzir resultados dignos de consideração séria.
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