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C. W. Leadbeater,
CONCENTRAÇÃO
A concentração consiste em um exercício da nossa vontade sobre o nosso mental. Poucas pessoas conhecem o que seja o mental, e mesmo para muitas essa palavra é completamente desconhecida. Isso é natural, pois que a filosofia que atualmente tem por intuito fazer conhecer ao homem a sua verdadeira natureza, entre nós apenas agora começa a ser conhecida.
O mental é a parte da nossa constituição encarregada de elaborar o nosso pensamento. Em qualquer ocasião da vossa vida diurna, quando em passeio pela rua, por exemplo, suspendei por um instante a corrente de vossos pensamentos e meditai a fim de poderdes rememorar os pensamentos que nos últimos cinco minutos atravessaram vossa mente, sem aí deixar nenhuma impressão. Acabareis por compreender que todos esses pensamentos não eram vossos, e, se pareciam ser, não tinham um fim determinado e em nada cooperaram para o vosso adiantamento moral ou intelectual.
Quando em uma reunião de duas ou três pessoas, que conversam ao acaso, sem fim determinado, para matar o tempo, observai o motivo que dá princípio à conversa, e ao cabo de meia hora, de quinze minutos mesmo, vereis que a palestra depois de ter versado sobre muitos assuntos sem importância, termina do mesmo modo, despedindo-se as pessoas que faziam parte do grupo, umas das outras, sem aproveitamento.
Se desejais adquirir uma faculdade superior qualquer, a verdadeira clarividência, por exemplo, deveis começar por adquirir o governo sobre o vosso mental, fugindo às conversações vagas, entretidas por pessoas ociosas.
É necessário criar uma ocupação para o mental, em lugar de o deixar vagabundar à vontade. O pensamento é uma função constante. Quer estejamos trabalhando, quer passeando, quer isentos de qualquer preocupação séria, o mental está sempre trabalhando. Pensar em nada ou não pensar, é impossível. O pensamento é uma coisa constante e uma faculdade que nos pode prestar grandes serviços, se sabemos dela aproveitar com sabedoria. Quando não impomos ao nosso mental uma tarefa determinada, ele devaneia infrutiferamente, atraindo a si
pensamentos que não são nossos e dos quais não temos necessidade. O mental deve ser nosso servidor e não nosso patrão. A sua educação é o primeiro passo no caminho que nos pode conduzir à verdadeira clarividência, pois ele é o primeiro instrumento de que nos devemos servir para o exercício dessa faculdade superior, sendo assim necessário que se submeta às nossas ordens e que fique inteiramente sob o governo e vigilância da nossa vontade.
A importância da educação do mental, por muito que aqui disséssemos sobre ela, não ficaria demonstrada suficientemente. Só um esforço, um raciocínio próprio vos levará a compreender perfeitamente. Quando ouvimos falar em pessoas que gozam de faculdades extraordinárias, como os magnetizadores, que podem adormecer um indivíduo com um simples olhar, fazendo-o ver e sentir tudo quanto desejam; quando lemos narrações acerca de proesas praticadas por hipnotizadores e ilusionistas, que fazem às vezes um enorme auditório de pessoas ilustradas ver e acreditar em coisas maravilhosas, momentaneamente embora, mas de modo tal que ninguém se pode furtar à ilusão; quando nos dizem existir indivíduos que descrevem as particularidades da vida de pessoa que vêm pela primeira vez, com toda exatidão, ou desenvolvem com proficiência uma descrição das suas enfermidades — quando sabemos da existência dessas faculdades, dizíamos, a nossa primeira idéia que se trata de faculdades sobrenaturais, maravilhosas, não se apresentando ao nosso cérebro nenhuma outra explicação, mais abalizada.
A impressão que esses indivíduos extraordinários nos causa é de respeito admirativo, misturado de receio, pois os julgamos sempre capazes de penetrar no nosso íntimo e de lá arrancar o que julgamos segredo de nossa propriedade. Muitas pessoas julgam que esses indivíduos possuem dons sobrenaturais, com os quais já nasceram e com os quais foram dotados pelo Criador, sem um motivo apreciável.
No entanto, os fatos são todos naturais, pois o sobrenatural e o maravilhoso não existem senão para os olhos dos que não podem ver e para os cérebros que não podem entender.
Não há efeito sem causa e as causas são sempre naturais. As faculdades que nos parecem maravilhosas têm a sua causa no desenvolvimento de certos princípios, latentes na natureza humana, e que um dia hão de fazer parte do estado normal de todos.
Sabemos que as sementes contidas em um mesmo fruto ou provenientes de uma mesma árvore, geram plantas que atingem desenvolvimento desigual. Se tomardes as sementes existentes em uma flor, na baunilha, por exemplo, e as entregardes a uma porção de ter- ra preparada, observareis que grande parte não consegue germinar; outra parte germinará, dando produtos raquíticos, inferiores ao tipo de que provém; outra parte ainda, maior, atingirá um desenvolvimento normal, obtendo vós espécimes tão belos como aquele de que vos servistes para tomar a semente; entre esses produtos bem desenvolvidos é possível, é provável mesmo que algum ultrapasse em vigor, crescimento e beleza da flor, o tipo de que teve origem.
Podereis então compreender que a evolução é um fato. Aplicai por analogia o resultado desse ensino ao gênero humano, e sabereis porque, ensinando a tradição e a ciência Secreta que todos temos a mesma origem e somos filhos do mesmo Criador, podemos apresentar, em uma determinada época, diferenças enormes na nossa evolução, inteligência a graus diferentes, assim como explicar o desenvolvimento de certas faculdades desabrochadas em uns, enquanto outros estejam ainda em estado de nem mesmo as poder compreender.
O fato observado no exemplo acima dado, o poderá ser também no reino vegetal, no reino animal e em outros. As faculdades que nos parecem maravilhosas não são mais do que um grau de evolução, atingido por alguns indivíduos, mas não só todos nós chegaremos a possuí-las e ultrapassá-las, como é de grande aproveitamento o conhecê-las, estudá-las e preparamo-nos para os esforços da natureza.
Todos os que conhecem a lei da reencarnação podem fazer idéia do que seja a evolução humana. A nossa inteligência não poderá imaginar os seus limites.
Como ajudar a natureza na evolução e provocar o desenvolvimento dessas faculdades? — perguntará o leitor. A resposta já tem sido dada, implicitamente, no decorrer destas páginas. Meditai sobre as leis morais ensinadas pela vossa religião, qualquer que ela seja, e aí encontrareis a chave do verdadeiro progresso, assegurando-vos de que o conforto material e a fortuna de bens terrenos não cooperam em nada para isso, se o essencial nos falta. Às religiões, entretanto, falta o senso da adaptação. Como que organizadas para uma só medida de inteligência, as suas leis, os seus ritos e o seu modo de manifestação exterior parecem não ter sabido prever muitas lacunas que o futuro criaria, e por isso atualmente começam a não estar em condições de satisfazer as necessidades de alguns espíritos que se adiantaram em evolução intelectual-material. A esses, só os métodos ensinados pela Teosofia poderão dar o que necessitam. É necessário demonstrar as verdades que encerram as religiões sob um aspecto intelectual, dar-lhes um cunho científico, e é esse o intuito em vista.
Por meios que alcança a inteligência e a razão, sem fazer apelo à fé cega, é que o homem chegará a compreender que até agora fez uma idéia mesquinha e raquítica de si próprio e da natureza maravilhosa colocando a flor dos seus ideais a uma altura irrisória, e isso por desconhecer as vastidões incomensuráveis que abraça uma mais verdadeira e grandiosa concepção da obra de Deus.
A Concentração, a Meditação, e a Contemplação são as três divisões da escala a observar para a boa realização de um progresso raciocinado, no terreno das verdades divinas, como no terreno, conseqüente, de todas as demais verdades. Para as pessoas pouco ilustradas e pouco acostumadas ao exercício do mental, a concentração é uma das coisas mais difíceis. Para aquelas, porém, que tem o hábito de pensar, grande parte do trabalho já está feito.
Concentrar-se é dirigir a corrente dos nossos pensamentos para o assunto especial que nos ocupa ou o trabalho que executamos, sendo dessa forma possível executar a concentração em qualquer momento em todos os nossos trabalhos. Seja qual for a ocupação à qual vos apliqueis, no vosso meio de vida, ofício, negócios, etc, executai-a com toda a atenção e empregai nela todas as forças do vosso espírito, sem vos incomodar com o que se passa em redor. Fazei como se nada existisse, além do vosso trabalho, e começareis a compreender o que é a concentração e que auxílio poderoso ela encerra para o desenvolvimento das vossas habilitações pessoais e da vossa inteligência.
Se escreveis uma carta, não penseis em outra coisa, até que ela esteja terminada, e ela será mais bem redigida. Se lerdes um livro, fixai vosso espírito sobre o seu conteúdo, e ponde todo o esforço para compreender o pensamento do autor. Compreendida desta forma, a concentração, embora fácil na execução, é dificílima se se trata de pessoas cuja vontade é fraca. Qualquer conhecimento, todos nós o sabemos, não pode ser adquirido de um dia para outro. O hábito de concentrar-se não foge à mesma regra. Como tudo, depende de um esforço da vontade, esforço esse que será cada vez menor, à medida que se for sendo mestre na sua execução.
Sabei sempre dirigir o pensamento vosso sobre o assunto escolhido pela vossa vontade, pois que a vontade o dirigirá depois, como mecanicamente, para trabalhos de maior valor, inteligentemente.
É recomendável um exercício preliminar, se julgardes impossível executar a concentração em qualquer lugar e a qualquer momento. Nesse caso encerrai-vos em um quarto ou ide para um ermo silencioso, onde tenhais a certeza de que ninguém vos interromperá. Se puderdes obter um local onde nenhum ruído vos atinja e ninguém vos interrompa, não havendo também objetos ou animais que vos possam atrair, melhor podereis concentrar o espírito sobre o assunto que escolherdes.
O que deveis fazer fica a vosso cuidado. O resultado do exercício não está no gênero da ocupação, mas sim no exercício vigilante da vontade, obrigando o mental a ocupar-se com tenacidade no mesmo assunto.
O jogo de damas, de xadrez, ou de cartas também pode concorrer para a educação do mental. Pouco a pouco ireis percebendo que sois capaz de deter-vos em um pensamento, na solução de um problema, sem distração. Mais tarde, vosso espírito adquirirá o poder de se absorver tão completamente, que mal podereis escutar o que disserem ou fizerem em torno de você, uma vez que não queirais a isso ligar atenção.
Quando puderdes atingir a esse grau de concentração pela influência da vontade e em estado de perfeita calma, devereis então experimentar a prática da meditação.
MEDITAÇÃO
Embora não seja das coisas mais fáceis, pode ser classificada a meditação entre as coisas possíveis. Muitas são as pessoas que a realizam a todo o momento que o desejam: O vosso mental, tendo chegado a tornar-se um instrumento dócil à vontade, escolhei para a meditação uma hora fixa e um local onde tenhais a certeza de não ser incomodado. A manhã, ao levantar-se da cama, é a melhor hora; entretanto, se não vos for possível de manhã, isso não será de prejuízo considerável.
Escolhei, em todo caso, a hora mais conveniente, mas que seja invariavelmente sempre a mesma e que nenhum dia se passe sem realizar o vosso esforço regular. Todos nós sabemos que quando desejamos progredir em exercícios físicos, ginásticos ou de força, é por uma prática regular e fazendo esforços metódicos que se chega a um resultado positivo, e não fazendo um dia um exercício violento, para depois esquecê-lo durante toda a semana. O mais importante é, pois, para ter êxito, no assunto de que tratamos, a regularidade.
Assentai-vos confortavelmente e aplicai o poder de concentração de que já gozais sobre um assunto escolhido, um pensamento útil e elevado. Os motivos para a meditação não são escassos, felizmente. Se preferirdes, escolhei uma qualidade moral, como o aconselha a Igreja Católica. Se assim o escolherdes, procurai analisar em vosso espírito tudo o que comporta essa qualidade; compreender e apreender o seu valor como uma virtude essencialmente divina; analisar como ela se manifesta na natureza como tem sido praticada pelos grandes homens da antigüidade, como pode ser posta em ação na nossa vida de todos os dias, e, enfim, como e por que vos haveis talvez, esquecido de praticá-la, etc. A meditação sobre uma virtude altamente moral é sempre um excelente exercício, pois não somente fortifica o mental, mais ainda concorre para que um bom pensamento esteja constantemente presente a nosso espírito.
A princípio deveis escolher para assunto da meditação problemas concretos. Quando estes tenham-se vos tornado familiares, podereis então passar para as idéias abstratas e tirar delas grande proveito. Com a continuação e o hábito, quando puderdes praticar a meditação sem sentir cansaço ou dificuldade, sem que um pensamento importuno se venha introduzir no vosso mental, podereis então passar à contemplação. Não vos esqueçais, porém, que para poder ter resultado nesse sentido é absolutamente necessário que tenhais já aprendido a dominar o vosso mental. Durante muito tempo ainda verificareis, experimentando a meditação, que vossos pensamentos tendem a fugir, procurando outros substituí-los, e de repente apercebereis que pensais, embora em lances rápidos, em assuntos diferentes do objeto principal da meditação. Isso, entretanto, não vos deve diminuir a coragem: a todos sucede semelhantemente. Apressai-vos simplesmente em chamar ao seu dever o mental indisciplinado ainda, cem vezes, mil vezes, se for necessário, pois o único meio de conseguir uma completa vitória é nunca admitir a possibilidade de uma derrota.
Quando, nesse combate silencioso, enfim, chega a vitória, quando o vosso mental estiver definitivamente dominado, esperai com confiança chegar ao fim já próximo da vossa preocupação, fim para o qual todo o resto não tem sido mais que uma preparação necessária.
CONTEMPLAÇÃO
Na contemplação, em lugar de procurar aprofundar-vos sobre a natureza de uma alta qualidade moral, representai em vossa mente, formulai o ideal mais elevado que conhecerdes. Pouco importa qual seja ele ou qual o nome que lhe deu. Um teósofo escolherá provavelmente como ideal um dos grandes Seres, — um membro dessa grande Fraternidde de Adeptos a que chamamos Mestres — sobretudo se ele, teósofo, tiver a ventura de gozar o privilégio de poder entrar em comu- nicação com um deles. Um católico escolherá certamente a Virgem Maria ou um Santo qualquer; um cristão escolherá sem dúvida Jesus Cristo; um Hindu escolherá Khishna; um Budista, Buda, etc. Os nomes pouco importam, pois trata-se aqui de realidades. Mas para vós este ideal deve ser o mais elevado, aquele que vos desperte o mais intenso sentimento de veneração, de amor e de devoção.
Em lugar da vossa meditação habitual, deveis criar em vosso coração uma imagem mental desse ideal, tão viva e perfeita como puderdes, e, esforçando-vos em dirigir para Ele vossas aspirações mais ferventes, desejar, com toda a vossa força, elevar-vos até Ele, tornar- vos um com Ele, em uma palavra, enfim, fundir-vos em sua glória e sua magnificência.
Se assim o fizerdes, se desejardes verdadeiramente elevar vossa consciência, um momento virá em que sereis verdadeiramente um com esse ideal, um momento em que o podereis compreender melhor do que jamais o haveis compreendido, pois uma nova e maravilhosa luz se espalhará sobre o vosso ser, transformando o mundo a vossos olhos. Sabereis, então, pela primeira vez, o que é viver, e toda a vossa vida até então vos parecerá, comparativamente, obscuridade e morte.
Depois esse deslumbramento cessará. De novo voltareis à luz terrena, de todos os dias, que vos parecerá bem turva. Mas a recordação da vossa contemplação vos seguirá, e aquele glorioso momento se repetirá, tornando-se sua duração cada vez mais longa, até o dia em que essa vida superior torne-se para vós, definitivamente, não mais uma faiscação fugitiva, um luar celeste, mas uma possessão permanente, uma coisa maravilhosa, e incessante, para todos os dias da vossa existência. Desde esse dia, então, o dia e a noite não serão mais que uma consciência contínua, uma magnífica vida, empregada a trabalhar para ajudar vossos semelhantes, e ainda essa situação, por mais inconcebível e indescritível que seja, não será senão uma preparação, para entrardes em pleno gozo da herança que vos deve caber, assim como a todos os filhos dos homens.
Olhando então em torno vosso, vereis e compreinuai vossos esforços, e sereis elevado mais alto ainda. A vossos olhos maravilhados se abrirá a revelação de uma vida cuja grandeza ultrapassa tanto a vida no plano astral, como esta ultrapassa a vida física. Uma vez mais, ainda, compreendereis o que é a verdadeira vida, pois vos aproximareis mais e mais da Vida Una, que, somente, é a verdade perfeita, a Beleza perfeita.
* * *
Entretanto, é este um mhavíeis suspeitado a existência, salvo se já estiverdes previamente étendereis muitas coisas de que até então nem familiarizado com as investigações de vossos predecessores nesse caminho. Contodo de desenvolvimento que exige anos, pois, praticando-o, procurareis, em uma vida, atingir um grau de evolução que, normalmente, não pode ser conseguido senão no curso de diversas vidas; mas o resultado e a recompensa vale bem a pena de consagrar vosso tempo e vossos esforços. Ninguém poderá ao certo dizer qual o tempo necessário para cada caso individual, pois ele dependerá da quantidade de energia e de decisão postas em atividade para vos arrancar às influências terrestres. Não será possível afirmar que chegareis a esse resultado em tantos ou tantos anos; o que vos poderei dizer é que muitas pessoas têm experimentado e conseguido. Todos os grandes Mestres da Sabedoria passaram pelo nosso período, como homens, no mesmo nível do nosso, e assim como eles se elevaram também podemos nos elevar. Muitos de entre nós, mais humildemente, têm experimentado também e têm chegado mais ou menos a um sucesso, e nenhum ainda se arrependeu dos esforços feitos, pois tudo o que ganharam ficou para toda a eternidade.
Seja qual for o resultado obtido, mesmo que não seja o ideal imaginado, vós o possuireis desde então em plena atividade e em plena consciência.
As faculdades adquiridas pelos métodos indicados pela teosofia são as únicas que apresentam, sob o ponto de vista de uma verdadeira evolução, um valor real, pois permanecerão como parte integrante da alma.
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