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De um ponto de vista, este deveria ter sido o primeiro capítulo de nosso livro, e não o último, pois foi da consideração de tema que lhe serve de título que tudo o mais surgiu. Devo minha introdução à Teosofia nesta encarnação ao nosso então Vice–Presidente da Sociedade Teosófica, o Sr. A. P. Sinnett, que sempre foi excepcionalmente gentil para comigo, e com quem eu usava encontrar-me todo domingo de manhã, em sua biblioteca, para discutirmos assuntos teosóficos. Numa dessas ocasiões ele casualmente comentou que pensava que os ensinos teosóficos até então transmitidos a nós não abrangiam ou não computavam muitos dos fenômenos espíritas que ambos havíamos presenciado repetidamente. Um tanto surpreendido por esta hipótese, eu sustentei vigorosamente a opinião de que eram satisfatoriamente abrangidos, e passei a dar exemplos. O Sr. Sinnett pareceu-me favoravelmente impressionado, e pediu-me que fizesse uma conferência na Loja de Londres, expondo meus pontos de vista. Concordei em fazê-lo, mas quando comecei a preparar essa conferência, logo notei que para me tornar inteligível deveria principiar por uma descrição geral do mundo astral como um todo, com suas condições e os poderes e possibilidades de seus habitantes. Compreendi que havia assumido um compromisso maior do que o intentava; mas claramente era uma tarefa que tinha de ser feita, e assim pude prosseguir e levá-la a cabo com a melhor de minhas habilidades. O resultado foi uma conferência nessa Loja, que apareceu em sua Ata n.o 24. A Dr.ª Besant, que então estava publicando uma série de Manuais Teosóficos, foi bastante gentil para incluir este ensaio como um desses manuais; daí o seu aparecimento na forma presente.
Embora no decurso deste manual tenhamos mencionado, e até certo ponto explicado, vários fenômenos superfísicos, não queremos terminá-lo sem fazer, quanto mais não seja, uma enumeração dos fenômenos que frequentemente se apresentam ao investigador, e mostrar quais são, das que descrevemos, as entidades que mais geralmente os originam. E dizemos “mais geralmente”, porque os recursos do mundo astral são tão variados e complexos que quase todos os fenômenos a que vamos referir podem ser produzidos de muitas maneiras. Esta peculiaridade torna impossível a apresentação de regras fixas sobre tal assunto. As aparições ou fantasmas fornecem uma esplêndida confirmação do que acabamos de afirmar, visto que, atendendo à maneira vaga e lata como esses termos têm sido usados, eles se podem aplicar indistintamente a qualquer habitante do plano astral. Escusado será dizer que as pessoas psiquicamente desenvolvidas vêem esses fantasmas constantemente; mas para que a uma criatura vulgar possa “aparecer um fantasma”, segundo a expressão corrente, é necessário ou que esse fantasma se materialize ou que essa criatura tenha momentaneamente um relâmpago de percepção psíquica. É apenas devido ao fato de nenhum destes dois casos ser vulgar que nós todos não estamos constantemente a encontrar espectros nas ruas, com a mesma freqüência com que encontramos gente de carne e osso.
Espectros no Cemitério.
O espectro que paira sobre uma sepultura é geralmente o invólucro etérico de um recém-enterrado, mas pode também ser o corpo astral de um vivo que, durante o sono, vá para junto de um amigo morto; ou ainda uma formapensamento materializada —• isto é, um elemental artificial criado pela energia com que um homem pensa de si mesmo como presente num determinado lugar. Para qualquer pessoa habituada a servir-se da visão astral, é facílimo distinguir a qual das três espécies pertence o espectro; porém, para quem é pouco prático, à aparição chamará vagamente “um espectro”.
Aparições de Moribundos.
As aparições no momento da morte não são de todo raras, e muitas vezes são verdadeiras visitas feitas pelo corpo astral do moribundo no momento que precede imediatamente à morte, e que nós chamamos o momento da dissolução. Também neste caso podem ser formaspensamentos chamadas à vida pelo desejo ardente do moribundo em ver um ente querido, antes de ingressar num mundo desconhecido. Há exemplos dessa visita ser feita logo depois da morte, e não imediatamente antes, e neste caso o visitante é realmente um espectro; mas, devido a causas várias, esta forma de aparição é muitíssimo menos freqüente que a outra. Lugares Assombrados. — As aparições num local onde se cometeu um crime são geralmente formas-pensamentos projetadas pelo criminoso, que, vivo ou morto, mas especialmente depois de morto, revolve constantemente na mente as circunstâncias do delito. Como é, em geral, nos aniversários do crime que esses pensamentos são mais vívidos, é muitas vezes nesses dias apenas que os dementais artificiais que ele cria têm a força suficiente para se materializar à vista ordinária — fato que explica a periodicidade das aparições em certos lugares. Os criminosos inveterados estão frequentemente demasiado endurecidos para se comoverem ante um crime particular, mas nesse caso outros fatores poderiam intervir. Ainda a respeito de aparições em certos pontos, observa-se que em qualquer parte onde uma comoção mental de grande violência, medo, dor, ódio, ou qualquer paixão intensa, se fez sentir, grava-se na luz astral uma impressão tão forte que qualquer pessoa, mesmo fracamente dotada sob o ponto de vista psíquico, não pode deixar de se sentir fortemente impressionada ao visitar esse lugar. Bastaria um pequeno aumento de sensibilidade para que toda a cena se desenvolvesse — para se ver o acontecimento apresentar-se em todos os seus detalhes como se realmente estivesse se dando naquele momento — e nesse caso não faltaria quem dissesse que aquele local estava assombrado,e que tinha visto uma “alma do outro mundo”. É certo que há pessoas que não têm a visão psíquica desenvolvida, porém que, no entanto, se sentem fortee dolorosamente impressionadas quando passam por locais deste gênero gente, por exemplo, que se sente pouco à vontade ao passar por lugares onde se fizeram execuções capitais, como a Tyburn Trec, ou ao entrar na Sala dos Horrores de Madame Tussaud, e que não imagina que esse mal-estar é devido às cenas trágicas impressas na luz astral, em volta de locais e de objetos impregnados de crime ou de horror, e também à presença das repugnante entidades astrais que povoam em multidão esses locais.
Espectros de família.
O espectro de família, personagem certo nas histórias tradicionais dos castelos feudais, pode ser ou uma formapensamento, ou uma impressão de rara vividez na luz astral, ou mesmo o espectro de um antepassado que, ainda ligado às coisas terrestres, se compraz em ver reviver as cenas em que em vida centralizou os seus pensamentos e esperanças. Soar de campainhas, remessa de pedras, etc. — Ouvir de repente o ruído de uma pedra arremessada, não se sabe donde, ou o soar súbito e inexplicável de campainhas, é um outro fenômeno, a que já nos referimos, e que é quase invariavelmente obra das forças elementais, quer postas em ação cegamente pelos esforços mal orientados de qualquer ignorante tentando atrair a atenção dos amigos que lhe sobreviveram, ou ainda intencionalmente pela malícia infantil de qualquer espírito natural.
Fadas.
São também os espíritos naturais os responsáveis pelo que pode haver de verdadeiro nessas estranhas histórias de fadas, tão comuns em certas regiões. Umas vezes, um acesso temporário de clarividência, que não é nada raro entre os habitantes das regiões montanhosas, permite a um viandante retardado presenciar as alegres brincadeiras das fadas. Outras vezes são verdadeiras partidas feitas a qualquer vítima, cheia de terror, como por exemplo, quando, por efeito de um encanto, a fazem ver casas e gente em locais onde se sabe nada disso existir. Por vezes, isto ultrapassa a simples ilusão de um instante, porque um homem passa freqüentemente por uma longa série de aventuras, tão imaginárias como singulares e flagrantes para de repente ver que todo o brilhante cenário das suas aventuras se esvai num instante, e encontrar-se sozinho, em qualquer vale solitário ou numa planície batida pelo vento. Mas não devemos dar crédito a todas as lendas populares a este respeito, porque na maior parte dos casos há a juntar aos preconceitos da gente do campo a mais grosseira superstição, como às vezes tem acontecido com terríveis casos de assassinato. São estas mesmas entidades a origem dos chamados fenômenos das sessões espíritas — e realmente muitas sessões têm sido inteiramente dadas pela malícia destas criaturas. As habilidades realizadas nestas sessões são muito variadas: respostas a perguntas, entrega de pseudo-mensagens por meio de pancadas ou de oscilações de uma mesa, exibição de clarões e de luzes, remessas de objetos de longe, leituras de pensamentos dos circunstantes, precipitação de escritos ou desenhos e até materializações. Tudo isto pode ser feito por um espírito natural, sem o mínimo auxílio; bastaria que um deles se quisesse dar a esse trabalho para nos dar uma sessão que excederia as mais notáveis que se conhecem. Porque, embora alguns dos fenômenos fossem para ele de difícil execução, em compensação, o seu poder de ilusão é tal que lhe permitiria fazer crer sem dificuldade aos assistentes na realidade desses fenômenos, a não ser que entre estes houvesse algum observador competente, conhecedor dos processos dos espíritos naturais e capaz de os confundir. Como regra geral, podemos inferir que sempre que numa sessão espiritista aparecem esses truques tolos e essas travessuras, é certa a intervenção ou de um espírito natural de categoria inferior, ou então de seres humanos cuja degradação chegou a tal ponto que, durante a vida, se sentiam felizes nesses espetáculos ridículos.
Comunicações por meio de entidades astrais.
Quanto às entidades que podem “comunicar-se” numa sessão ou obsedar e falar através de um médium em êxtase, pode dizer-se que constituem erdadeira legião. Dificilmente se achará uma classe de entidades astrais que não possa fornecê-las, mas, pelo que já se disse, compreende-se bem que raras vezes essas entidades pertencem às categorias elevadas. Um “espírito” que se manifesta, é algumas vezes o que se julga ser, mas outras vezes não é nada disso; e não é qualquer assistente que pode distinguir o trigo do joio, porque são tantos e tão variados os recursos para iludir de que dispõem os habitantes do plano astral, que nem sequer se pode confiar naquilo que por vezes parece uma prova irrefutável. Se aparece qualquer coisa que se anuncia, por exemplo, como o irmão há muito tempo morto de um indivíduo, este nunca pode ter a certeza de que assim seja. Pode o espírito contar um fato apenas conhecido dos dois irmãos, mas isto nãoe convincente, porque a informação pode ter sido lida em sua própria mente ou na luz astral circundante. Se o pseudo-irmão vai ainda mais longe e conta qualquer pormenor da sua vida, desconhecido do outro, mas cuja exatidão este pode em seguida verificar, também lhe é lícito duvidar, porque todos os fatos de todas as vidas estão gravados nos arquivos astrais, ou pode ser a sombra do irmão, e portanto, possui a sua memória, e não ele próprio. Ninguém nega que em muitas sessões espiritistas têm sido feitas comunicações por pessoas que são realmente as próprias. Mas o que quisemos afirmar foi que para qualquer pessoa inexperiente que assiste a uma dessas sessões, nunca é possível saber quantas vezes está realmente sendo cruelmente enganada ou não, e por que maneiras é posta à prova a sua boa fé. Em um número limitado de casos, alguns membros da Loja oculta a que nos referimos deram, por intermédio de um médium, uma série de ensinamentos preciosos sobre interessantíssimos assuntos, mas sempre cm sessões estritamente particulares e nunca em reuniões públicas e muito menos pagas.
Recursos astrais.
Para se fazer uma idéia dos processos pelos quais se produz a maior parte dos fenômenos físicos, é necessário conhecer os variados recursos mencionados acima, que estão à disposição de um indivíduo que opere no plano astral. É, no entanto, um ramo do assunto que não é fácil esclarecer completamente, tanto mais que há a este respeito certas restrições, cuja necessidade é evidente. Servir-nos-á de auxílio recordar que o plano astral pode ser considerado, sob muitos pontos de vista, uma extensão do plano físico, e a idéia de que a matéria pode passar ao estado etérico — que, apesar de invisível e intangível não deixa de ser puramente física — pode fazer-nos compreender como um plano se funde no outro. Segundo a maneira como os hindus concebem Jâgrat, “o estado de vigília”, os planos físicos e astral estão combinados, correspondendo as sete subdivisões deste aos quatro estados da matéria física e às três grandes divisões da matéria astral, a que já nos referimos. Assente isto, podemos avançar mais um passo e compreender que se pode definir a visão astral, ou antes, a percepção astral, como “a faculdade de receber um número muito mais considerável de diferentes espécies de vibrações”. Fisicamente, somos sensíveis a certo número de vibrações que nos afetam como som e a outro grupo de vibrações muitíssimo mais rápidas que nos afetam como luz,e ainda há a espécie de vibrações elétricas. Mas existem ainda vibrações intermediárias que em nada nos afetam os sentidos e de que nem sequer temos conhecimento. Compreende-se bem que se todas estas vibrações intermediárias, ou mesmo apenas algumas delas, com todas as complicações resultantes das diferenças possíveis dos respectivos comprimentos de onda, são perceptíveis no plano astral, a nossa compreensão da natureza deve aumentar consideravelmente nesse meio, e por isso nos serão reveladas muitas noções que no plano físico nos são inacessíveis.
Clarividência.
Admite-se que algumas dessas vibrações atravessem facilmente a matéria sólida, o que permite explicar cientificamente as particularidades da visão etérica; mas para a visão astral, a melhor explicação é fornecida pela teoria da quarta dimensão. É claro que basta possuir a faculdade da visão astral para se poder realizar coisas que parecerão verdadeiros milagres, como, por exemplo, a leitura de um trecho de um livro fechado. Se a isto acrescentamos que esta faculdade inclui o poder de ler os pensamentos, e ainda, quando combinada com o conhecimento de projeção de correntes na luz astral, o de observar um objeto desejado em quase qualquer parte do mundo, compreendese bem que é extremamente fácil a explicação de muitos dos fenômenos de clarividência. Quem deseje mais pormenores acerca deste assunto, encontrá-los-á no meu livro sobre Clarividência, em que, a par de muitos exemplos, se encontram catalogadas todas as suas variedades. Previsão e segunda vista. — A clarividência verdadeira, treinada e absolutamente segura, inclui a atividade de uma série de faculdades totalmente diferentes; mas como estas pertencem a um plano mais elevado do que o astral, estão fora do nosso assunto. A faculdade da previsão rigorosa pertence também a esse plano superior; contudo, aparecem às vezes à pura vista astral alguns reflexos ou relâmpagos seus, principalmente entre gente de espírito simples, que vive em condições apropriadas, constituindo o que se chama “segunda vista”, que, como é notório, se encontra muito entre os habitantes das montanhas da Escócia.
Outro fato que não deve esquecer-se é que qualquer habitante do plano astral, dotado de inteligência, pode perceber estas vibrações etéricas, e além disso — se aprendeu a fazê-lo — adaptá-las aos seus fins ou pô-las em ação. Forças astrais. — Compreende-se claramente que no tempo presente não se possa escrever muito acerca destas forças superfísicas e dos processos da sua utilização, embora haja razão para supor que não tardará o tempo em que muitas das suas aplicações se tornem do domínio público. Podemos, no entanto, sem transpor os limites do que é permitido, dar delas uma idéia geral suficiente para que, a traços largos, se possa compreender a gênese de certos fenômenos. Todos aqueles que têm assistido com freqüência a sessões espiritistas têm, decerto, notado uma vez ou outra o emprego de forças verdadeiramente irresistíveis, como, por exemplo, no levantamento instantâneo de pesos enormes. Muitos, principalmente aqueles cujas mentes raciocinam e buscam nos fenômenos uma razão cientificamente plausível, hão-de dar tratos à imaginação para saber donde veio essa força, agindo como poderosa alavanca. Dentre os vários meios pelos quais estes fenômenos de caráter astral podem ser obtidos, parece-nos suficiente citar quatro:
1.º — Correntes etéricas. — Percorrendo o mundo, em grandes ondas, varrendo-o de pólo a pólo, em grandes massas, o que as torna tão irresistíveis como as marés montantes, existem grandes correntes etéricas, cuja irresistível força pode ser utilizada sem perigo, embora as tentativas inábeis, em que não se consiga dominá-las completamente, possam redundar em verdadeiras catástrofes.
2.º — Pressões etéricas. — Correspondente em parte, mas de intensidade imensamente superior, à pressão atmosférica, existe também uma pressão etérica. Ordinariamente ninguém dá por ela, pelo mesmo motivo de que ninguém se apercebe da existência da pressão atmosférica; e se fosse possível fazer o vácuo completo, isto é, extrair também o éter de um determinado espaço, como é possível fazer-se ao ar, a existência dessa pressão etérica se tornaria tão evidente como a da outra. Esse isolamento do éter têm sido impossível até hoje aos físicos, atendendo à faculdade que ele tem de interpenetrar toda a matéria num estado de menor rarefação que o seu. Mas o Ocultismo sabe fazê-lo, e é graças aos seus processos que a pressão etérica pode ser vista em ação,
3.º — Energia latente. — Há vastas reservas de energia potencial que, durante a evolução do sutil para o grosseiro, se acumularam na matéria no estado latente. Essa energia pode ser liberada e utilizada, à semelhança do que se faz com a matéria física, a cujas mudanças de estado corresponde uma liberação de energia latente, sob a forma de calor. 4.° — Vibração simpática. — Há casos flagrantes que se produzem por uma extensão do princípio a que se pode chamar “vibração simpática”. Mais uma vez vamos apresentar um exemplo elucidativo, tirado do mundo físico, embora muito amiúde tais exemplos sirvam mais para dar uma idéia falsa dos fenômenos astrais do que verdadeira. Contudo, alguns fatos extremamente simples podem ajudar-nos a compreender esta ação importantíssima, contanto que não levemos a analogia demasiado longe. É sabido que, fazendo vibrar uma corda de uma harpa, as cordas correspondentes de quantas harpas estejam junto da primeira vibrarão também, se estiverem na mesma afinação. Igualmente, é fato conhecido que é sempre de passo trocado que uma grande corporação do exercite atravessa uma ponte suspensa, porque, do contrário, a regularidade da marcha ordinária comunicaria à ponte uma vibração oscilatória que iria aumentando a cada passo, até vencer a resistência do ferro e fazer rebentar a estrutura metálica. Com estas duas analogias bem em mente (sem esquecer que não passam de analogias parciais), compreende-se que aquele que saiba bem qual a espécie de vibrações a produzir — que, por assim dizer, conheça a totalidade da matéria sobre a qual quer agir — pode, ferindo a nota justa, despertar uma grande quantidade de vibrações simpáticas. Quando isto se faz no plano físico, não se desenvolvem energias suplementares; mas no plano astral, visto a matéria que o compõe ser muito menos inerte, e assim, quando ativada por estas vibrações simpáticas, adiciona sua força viva ao impulso original, que assim pode ser multicentuplicado. E por uma repetição rítmica deste primeiro impulso — como na passagem da ponte — as vibrações podem tomar uma intensidade verdadeiramente desproporcional à causa inicial. Pode mesmo dizer-se que, nas mãos de um grande Adepto, que lhe conheça plenamente os recursos, esta força não tem limites, visto que a própria construção do Universo não é mais do que o resultado das vibrações despertadas pelo Verbo Falado.
Mantras.
A classe de mantras, ou fórmulas mágicas, que produzem efeito sem auxílio de um elemental, mas apenas pela repetição de certos sons, deve a sua eficácia a esta ação das vibrações simpáticas.
Desintegração.
Este fenômeno pode ser obtido também pela aplicação de vibrações extremamente rápidas, que destroem a coesão das moléculas do objeto que sofre a desagregação. A decomposição das moléculas em átomos é devida a vibrações de um tipo diferente, de velocidade ainda maior. Um corpo reduzido por este meio ao estado etérico, pode ser deslocado de um ponto para outro, com incrível velocidade, pelas correntes astrais, e logo que cessa de atuar a forma que o eterizou, a pressão etérica recondú-lo ao estado primitivo. Muitos principiantes têm dificuldade em perceber como é que se consegue, nestas experiências, que o objeto retome, cessada a força desintegradora, a forma primitiva. Realmente, observa-se com razão que, quando um objeto metálico — uma chave por exemplo — é fundida pelo calor, um abaixamento conveniente de temperatura fá-la voltar, é certo, ao estado sólido, mas reduzida à massa informe, em que nada existe da primitiva chave. A objeção parece de valor, mas a analogia é que não é completa. A energia elemental, que anima a chave, dissipa-se realmente nessa mudança de estado, não porque sofra diretamente a influência do calor, mas porque, destruído o seu corpo sólido temporário, volta ao grande reservatório comum, donde sai toda a essência elemental. Tal é o que acontece aos princípios superiores do homem, que, apesar de insensíveis aos efeitos do frio e do calor, se libertam do corpo quando o fogo o destrói. Por conseqüência, quando aquilo que era uma chave passa de novo, por um resfriamento, ao estado sólido, a essência elemental (da “terra”, ou da espécie sólida), que reflui para ela, não é a mesma que a chave continha, e portanto, não há razão para que a massa metálica solidificada retome a forma que tinha. Mas um operador que queira desintegrar a chave com o fim de a fazer transportar por uma corrente astral, terá o cuidado de manter na sua forma a essência elemental, até que se realize o transporte. E ao suspender o esforço da sua vontade, essa essência elemental constituirá uma espécie de molde em que fluirão as partículas em via de solidificação, ou antes, em volta do qual elas se reagregarão. E assim se conservará a forma primitiva sempre que o poder de concentração do operador se mantenha firme. É deste modo que se consegue o transporte quase instantâneo dos objetos de grandes distâncias, nas sessões espíritas, e é evidente que, uma vez desintegrados, passam perfeitamente através de qualquer substância sólida como, por exemplo, uma parede ou uma caixa fechada à chave. De forma que a chamada “passagem da matéria através da matéria” é tão simples de compreender como a passagem da água através de um filtro, ou, como se vê em muitas experiências químicas, a passagem de um gás através de um líquido.
Materialização.
Tal como é possível, por uma alteração de vibrações, fazer passar um corpo do estado sólido ao estado etérico, igualmente é possível o inverso. O primeiro processo explica o fenômeno de desintegração, e o segundo o de materialização. Assim como no primeiro caso é necessário um esforço continuando de vontade para evitar que objeto retome o estado primitivo, também no segundo fenômeno é necessário um esforço contínuo para evitar que a matéria materializada recaia no estado etérico. Nas materializações espiritistas, a matéria necessária ao fenômeno é fornecida pelo duplo etérico do médium, com grave prejuízo à sua saúde e outros inconvenientes ainda mais perigosos. É por isso que a figura materializada se mantém sempre nas proximidades do médium, e está sujeita a uma atração tendente a afastá-la dele para o corpo donde veio. De sorte que, se permanecer muito tempo longe do médium, a figura esvaise e a matéria que a compunha, voltando ao estado etérico, precipita-se instantaneamente para a sua origem. Em alguns casos não há dúvida de que esta materialização temporária se faz à custa da matéria densa e visível do corpo do médium, transferência de matéria de explicação e de compreensão realmente difíceis. Eu próprio já vi este fenômeno, em condições tais que não me era lícito duvidar, comprovado por uma diminuição considerável de peso do corpo físico do médium. Exemplos semelhantes podem ver-se no trabalho do Coronel Olcott People from the Other World (1)e em Um Cãs de Dé-matérialisation (2) de M. A. Aksakow.
Vantagens da escuridão.
Compreende-se a razão por que os seres que dirigem uma sessão preferem operar na escuridão, ou pelo menos, sob uma luz extremamente tênue. Efetivamente, não teriam o poder suficiente para manter materializada uma figura, ou mesmo “a mão de um espírito”, mais do que durante alguns segundos, se se operasse sob a ação das vibrações intensas de uma luz brilhante.
Fotografias de espíritos.
Os freqüentadores das sessões espíritas hão de ter notado que há três espécies de materialização: 1.ª, as quais são tangíveis, mas invisíveis; 2.ª, as visíveis, mas intangíveis; 3.a, as tangíveis e visíveis. À primeira, que é a mais numerosa, pertencem as mãos invisíveis, que tantas vezes acariciam os assistentes ou transportam objetos de pequenas dimensões de um lugar para outro da sala e os órgãos vocais que produzem a “voz direta”. Neste último caso, emprega-se uma modalidade da matéria que não intercepta, nem reflete a luz, mas é suscetível de despertar na atmosfera vibrações que afetam como som. Uma variante desta classe é a espécie de materialização parcial que, não podendo refletir nenhuma luz visível, afeta, contudo, os raios ultravioletas e pode sensibilizar uma chapa, dando–nos as chamadas “fotografias de espíritos”. Quando o poder é insuficiente para produzir uma materialização perfeita, obtêm-se formas vaporosas que constituem a classe dos visíveis mas não tangíveis, e neste caso os “espíritos” previnem sempre os circunstantes de que não devem tocar nas aparições. Quando, o que é mais raro, a materialização é completa, é que a força é suficiente para manter, pelo menos durante instantes, formas que podem ser ao mesmo tempo visíveis e tangíveis. Se um Adepto ou um discípulo tem necessidade de materializar o seu veículo astral ou mental, não precisa recorrer à matéria do seu duplo etérico, nem ao de ninguém, porque sabe como extrair a matéria de que necessita do éter circundante.
Reduplicação.
É outro fenômeno que tem íntimas relações com esta parte do nosso assunto. Resume-se em formar uma imagem mental perfeita do objeto a copiar e a. reunir em volta deste molde a matéria astral e física necessárias. Naturalmente, para se chegar a isto, é necessário que todas as partículas interiores e exteriores estejam sempre simultaneamente presentes na mente, o que exige um poder de concentração considerável. Criaturas ignorantes da maneira como se pode extrair diretamente a matéria do éter circundante, tem-na ido buscar muitas vezes ao objeto primitivo, que neste caso sofre a diminuição de peso correspondente.
Precipitação.
Em muitas obras teosóficas fala-se em precipitação de cartas e de imagens, (3) que se pode obter por vários processos. Um Adepto que deseje comunicar-se com alguém, limita-se a colocar diante de si uma folha de papel em branco e formar uma forte imagem mental do que deseja que lá apareça escrito, e depois extrair do éter a matéria necessária com que materializar essa imagem. Ou se o prefere, pode, com a mesma facilidade, obter resultado idêntico sobre uma folha de papel colocada em frente do seu correspondente, seja qual for a distância que os separe. Um terceiro processo, que por sua simplicidade é o mais usado, consiste em imprimir todo o conteúdo da carta na mente de um discípulo, e deixá-la fazer o trabalho puramente mecânico de precipitação. O discípulo tomará a folha de papel e imaginando que vê a carta nas mãos do Mestre, procederá à materialização das palavras, tal como se disse. E se achar difícil realizar simultaneamente as duas operações — extração da matéria., do éter e precipitação da escrita — poderá pôr junto dele, em cima da mesa, uma pequena quantidade de tinta ou de pó colorido, que serão de mais fácil emprego, visto estarem já no estado de matéria densa. Um tal poder se tornaria, evidentemente, muitíssimo perigoso nas mãos de uma criatura sem escrúpulos, visto que é tão fácil imitar a caligrafia de um indivíduo como a de outro qualquer, e seria impossível pelos meios comuns descobrir uma falsificação cometida desta forma. Um discípulo que trabalhe definitiva e regularmente com um Mestre, possui sempre um sinal infalível para reconhecer se uma mensagem vem deste ou não, mas ou outros não têm outras provas além das fornecidas pelo conteúdo da carta e pelo espírito que a anima, porque a caligrafia, por mais parecida que seja, não têm o menor valor como prova. Quanto à rapidez da precipitação, um discípulo pouco treinado apenas poderia mentalizar algumas palavras por vez, de sorte que levaria o mesmo tempo a mentalizar a carta que se a escrevesse com pena e tinta, mas um indivíduo mais experimentado formaria simultaneamente a imagem de uma página inteira e desempenhar-se-ia da sua tarefa com grande facilidade e rapidez. É desta maneira que às vezes numa sessão espiritista se produz uma carta em apenas alguns segundos. Se se tratasse da precipitação de um quadro qualquer, o processo seria o mesmo, com a diferença que, neste caso, é necessário um poder de visão que abranja simultaneamente toda a cena. E caso haja a empregar muitas cores, o trabalho complica-se com o acréscimo da sua composição, separação e da reprodução exata dos tons. Evidentemente, num trabalho desta ordem entra a bossa artística do operador e não se julgue que qualquer habitante do plano astral pode igualmente fazer um trabalho perfeito. Um indivíduo que na vida terrena tivesse sido artista, tem, evidentemente, faculdades mais desenvolvidas neste ponto, e está, portanto, em condições de ser muito mais feliz num trabalho deste gênero do que qualquer outro que, nunca se tendo dedicado a questões artísticas no plano físico, tentasse, quando no astral, fazer uma destas precipitações.
Escrita em ardósias.
A escrita em ardósias, executada com garantias que excluíam qualquer idéia de fraude tem feito a fama de muitos médiuns e pode também ser executada por este processo de precipitação. Mas o método mais seguido consiste em fazer guiar o lápis pela mão de um espírito, da qual estão materializadas apenas as pontas dos dedos, estritamente necessárias para o segurar.
Levitação
A levitação, isto é, suspensão de um corpo no ar, sem qualquer apoio aparente, é muito freqüente nas sessões espíritas, e mais ainda entre os yogues orientais. Quando realizada por um médium, o seu corpo é muitas vezes seguro por “mãos de espíritos”, mas há um processo mais científico que também é usado no Oriente e ocasionalmente entre nós. Consiste apenas no emprego da faculdade que a ciência oculta descobriu, de neutralizar, e por assim dizer, mudar o sentido da atração da gravidade, o que permite a execução simplicíssima de todos os fenômenos de levitação. Foi sem dúvida o conhecimento deste segredo que permitiu que as naves aéreas do antigo Egito e da Atlântida se elevassem da terra e adquirissem aquela leveza que as tornava facílimas de manejar e dirigir. É provável também que fosse o conhecimento das forças sutis da natureza o que facilitou o trabalho daqueles que elevaram os enormes blocos de pedra empregados na arquitetura ciclópica ou na construção das majestosas pirâmides do Egito. Luzes de espíritos. — Com o conhecimento das forças da natureza que os recursos do plano astral colocam à disposição de seus habitantes, é facílima e a produção das chamadas “luzes de espíritos”, quer se trate de uma simples luz fosforescente ou da deslumbrante variedade elétrica, ou ainda desses curiosos glóbulos luminosos, dançantes, em que certas classes de dementais se transformam facilmente. Visto que a luz, seja ela qual for, é o resultado de vibrações do éter, é evidente que quem quer que saiba produzir essas vibrações, obtém a espécie de luz que deseja. Manejo do fogo. — É com a ajuda da essência elemental etérica que também se produz esse notável fenômeno de manejar o fogo sem se queimar, embora haja outros meios de o conseguir. Uma camada de éter, por mais sutil que seja, pode ser preparada de maneira a tornar insensível ao calor a mão coberta por ela, não sendo, pois, para admirar que qualquer indivíduo assim protegido possa pegar num carvão ardente ou num ferro ao rubro sem o menor risco. Em adição às forças especiais acima mencionadas, usa-se frequentemente a alavanca comum para produzir fenômenos menores, tais como inclinação de mesas ou batidas sobre elas. Neste caso o fulcro é o corpo do médiume a alavanca uma barra de ectoplasma projetada do corpo. (Ver Psychic Structures, pelo Dr. W. J. Crawford).
Transmutação.
Temos citado quase todos os fenômenos espiritistas, mas além deles há mais um ou, melhor, dois, que, apesar de muitíssimo mais raros, não devem deixar de ser mencionados. A transmutação dos metais é geralmente considerada um puro sonho dos alquimistas da Idade Média, e realmente, na maior parte dos casos, a descrição do fenômeno não passa de um símbolo da purificação da alma. Todavia, parece estar suficientemente provado que o fenômeno foi produzido algumas vezes por eles. E ainda hoje há na índia feiticeiros que pretendem fazê-lo em condições que seriam concludentes. Seja como for, é evidente que, visto o átomo original ser o mesmo em todas as substâncias, diferindo estas apenas segundo’ as diferentes combinações desse átomo, quem quer que saiba reduzir um pedaço de metal ao estado atômico e em seguida combinar os átomos de diferentes maneiras, pode,, a seu bel-prazer e sem dificuldade maior, proceder quantas transmutações quiser. Repercussão. — O princípio das vibrações simpáticas, já citado, dá-nos a explicação do fenômeno estranho, não muito conhecido, da repercussão, pela qual qualquer ferimento infligido ou qualquer sinal feito na entidade materializada se reproduz no corpo físico. Temos exemplos disso nas provas recolhidas nos processos por feitiçaria da Idade Média, em que se vê que qualquer lesão feita na feitiçaria quando sob a forma de cão ou de lobo, se reproduzia na parte correspondente do seu corpo físico. A mesma estranha lei motivou, por vezes, injustas acusações de fraude a médiuns, quando, por exemplo, se lhes encontrava na mão matéria corante igual àquela com que se tinha esfregado a mão da entidade materializada. A explicação, neste caso, como em muitos outros, é que a “entidade” era apenas o duplo etérico do médium, forçado pelas influências diretoras a tomar uma forma diferente. Na verdade, estas duas partes do corpo físico estão tão intimamente ligadas que é impossível fazer soar numa delas a nota tônica sem despertar na outra as vibrações exatamente correspondentes. (1) “Gente do Outro Mundo”. (2) “Um caso de Desmaterialização” (3) Vide O Mundo Oculto, de A. P. SINNETT.
C. W. Leadbeater
Alimente sua alma com mais:
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