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O SENTIDO DA EXPRESSÃO TÚNICAS DE PELES.
Afirmam alguns filósofos antigos que as “túnicas de pele” que, segundo o terceiro capítulo do Gênese, foram dadas a Adão e Eva significam os corpos carnais com que os progenitores da raça humana foram vestidos na evolução dos ciclos. Sustentam eles que a forma física criada à semelhança de Deus tornou-se cada vez mais e mais grosseira, até atingir o fundo do que se pode chamar de último ciclo espiritual, e a Humanidade penetrou no arco ascendente do primeiro ciclo humano. Começou, então, uma série ininterrupta de ciclos ou yugas, permanecendo a duração precisa de cada um deles um mistério inviolável conservado nos recintos dos santuários e revelado unicamente aos iniciados. Assim a Humanidade entrou num novo ciclo, a idade da pedra, com a qual o ciclo precedente teve fim, começou gradualmente a se transformar numa idade superior. A cada sucessiva idade, ou época, os homens se refinaram mais e mais, até que o cume da perfeição possível em cada ciclo particular foi atingido. Então a onda em refluxo do tempo trouxe consigo os vestígios do progresso humano, social e intelectual. Os ciclos se sucedem aos ciclos por transição imperceptíveis; nações florescentes e altamente civilizadas cresceram em poder, atingiram o clímax do desenvolvimento, declinaram e extinguiram-se; e a Humanidade, quando o fim do arco cíclico mais baixo foi atingido, remergulhou na barbárie como no princípio. Reinos desmoronaram e as nações se sucederam às nações, do princípio até os nossos dias, as raças subindo alternadamente aos graus de desenvolvimento mais elevado e descendo até os mais baixos. Draper observa que não há nenhuma razão para supor que um ciclo se aplique a toda a raça Humana. Ao contrário, enquanto o homem numa parte do planeta está em estado de retrogressão, na outra ele pode estar progredindo em conhecimento e em civilização.
Quanto se assemelha a esta teoria a lei do movimento planetário, que força os astros a rodarem sobre seus eixos ; os diversos corpos a girarem em torno dos respectivos sóis; e todo o cortejo estrelar a seguir um caminho comum em redor de um centro comum. Vida e morte, luz e trevas, dia e noite sucedem-se no planeta, enquanto este gira sobre seu eixo e percorre o círculo zodiacal, que representa os ciclos menores e maiores. Lembrai-vos do axioma hermético: “Em cima como embaixo; no céu como na terra”.
VISÕES CLARIVIDENTES DE UM PASSADO REMOTO. – A TEORIA HERMÉTICA DA EVOLUÇÃO DO HOMEM.
O Prof. Denton submeteu, ao exame de sua esposa, um fragmento de osso fossilizado sem dar à Sra. Denton qualquer indicação do que era o objeto. Este suscitou-lhe imediatamente retratos do povo e cenas que o Prof. Dentron acredita pertencerem à idade da pedra. Ela viu homens extremamente semelhantes a macacos, com corpos muito peludos, e “como se o cabelo natural fizesse as vezes de roupas”. “Duvido que eles possam ficar perfeitamente eretos; as articulações do quadril parecem indicar que não”, disse ela. “Vejo ocasionalmente uma parte do corpo de um desses seres que parece comparativamente lisa. Posso ver a pele, que é mais branca (…) Não sei se ele pertence ao mesmo período. (…) à distância a face parece achatada; a parte inferior é proeminente; eles têm o que suponho que se chamam mandíbulas prognatas. A região frontal da cabeça é baixa, e a parte mais baixa é muito proeminente, formando uma saliência redonda em torno da fronte, imediatamente acima das sobrancelhas. (…) Vejo agora um rosto que se parece ao de um ser humano, embora ainda tenha uma aparência simiesca. Todos parecem pertencer à mesma espécie, pois têm braços longos e corpos cabeludos”.
Aceitem ou não os cientistas a teoria hermética da evolução do homem a partir de naturezas superiores e mais espirituais, eles próprios nos mostram como a raça progrediu do ponto mais baixo observado ao atual desenvolvimento. E, como toda a natureza parece ser feita de analogias, será desarrazoado afirmar que o mesmo desenvolvimento progressivo das formas individuais ocorreu entre os habitantes do universo invisível? Se esses maravilhosos efeitos foram causados pela evolução sobre o nosso pequeno planeta insignificante, produzindo homens pensantes e intuitivos a partir de tipos superiores da família dos macacos, por que supor que os ilimitados reinos do espaço são habitados apenas por duplicatas espirituais desses ancestrais cabeludos, de braços longos e semipensantes, seus predecessores, e por seus sucessores até a nossa época? Naturalmente, as partes espirituais desses membros primitivos da família humana deveriam ser tão bárbaras e tão pouco desenvolvidas quanto os seus corpos físicos. Embora não tenham feito nenhuma tentativa de calcular a duração do “grande ciclo”, os filósofos herméticos sustentavam que, de acordo com a lei cíclica, a raça humana viva deve inevitável e coletivamente retornar um dia ao ponto de partida em que o homem foi vestido com “túnicas de pele”; ou, para expressá-lo mais claramente, a raça humana deverá ser finalmente, de acordo com a lei da evolução, fisicamente espiritualizada.
ADÃO UM SER ESPIRITUAL PURO E PERFEITO.
Começando como um ser espiritual puro e perfeito, o Adão do segundo capítulo do Gênese, não satisfeito com a posição a ele conferida pelo Demiurgo (que é o primogênito mais antigo, o Adão-Cadmo), este segundo Adão, o “homem de pó”, conspira em seu orgulho para, por sua vez, tornar-se Criador. Emanado do Cadmo andrógino, este Adão é ele também andrógino, pois, de acordo com as antigas crenças apresentadas alegoricamente no Timeu de Platão, os protótipos de nossas raças foram todos encerrados na árvore microcósmica que cresceu e se desenvolveu dentro e sob a grande árvore cósmica ou macrocósmica. Por se considerar que o Espírito Divino é uma unidade, não obstante os numerosos raios do grande sol espiritual, o homem tinha sua origem, como todas as outras formas, orgânicas ou inorgânicas, nesta Fonte de Luz Eterna. Ainda que rejeitássemos a hipótese de um homem andrógino, no que concerne à evolução física, o significado da alegoria em seu sentido espiritual permaneceria inalterado. Uma vez que o primeiro homem-deus, que simboliza os dois princípios da criação, o elemento dual masculino e feminino, não tinha noção do bem e do mal, ele não podia hipostasiar “a mulher”, pois ela estava nele como ele nela. Foi apenas quando, como resultado dos maus conselhos da serpente, a matéria se condensou e arrefeceu no homem espiritual em seu contato com os elementos, que os frutos da árvore humana – que é ela própria a árvore do conhecimento – se mostraram aos seus olhos. Desde esse momento, a união andrógina cessou, o homem emanou de si a mulher como uma entidade separada. Eles quebraram o elo entre o espírito puro e a matéria pura. A partir de então, eles não mais criarão espiritualmente, e apenas pelo poder de sua vontade; o homem tornou-se um criador físico, e o reino do espírito só pode ser conquistado por um longo aprisionamento na matéria. O sentido de Gogard, a árvore da vida helênica, o carvalho sagrado entre cujos ramos luxuriantes repousa uma serpente, que não pode ser desalojada, torna-se assim claro. Escapando do ilus primordial, a serpente cósmica torna-se mais material e cresce em força e poder a cada nova evolução.
O Primeiro Adão, ou Cadmo, o Logos dos místicos judeus, é idêntico ao Prometeu grego, que procura rivalizar com a sabedoria divina; e também ao Primander de Hermes, ou o PODER DO PENSAMENTO DIVINO, em seu aspecto mais espiritual, pois ele foi menos hipostasiado pelos egípcios do que pelos dois primeiros. Eles criam todos os homens, mas falham em seu objetivo final. Desejando dotar o homem de um espírito imortal, a fim de que, inserindo a trindade no um, ele pudesse gradualmente retornar ao seu primitivo estado primordial sem perder a individualidade, Prometeu falha em sua tentativa de roubar o fogo divino, e é condenado a explicar o crime no Monte Kazbeck. Prometeu é também o Logos dos antigos gregos, assim como Hércules. No Códex nazareeus vemos Bahak-Zivo desertando do céu de seu pai e confessando que, embora seja o pai dos genii, é incapaz de “construir criaturas”, pois ele é tão pouco versado no que concerne a Orco como no que respeita ao “fogo consumidor desprovido de luz”. E Fetahil, uma das “potestades”, senta-se no “barro” (matéria) e espanta-se com o fato de o fogo vivo ter mudado tanto.
A REBELIÃO DE LÚCIFER.
Todos esses Logois que procuram dotar o homem de espírito imortal falham, e quase todo são representados sofrendo as mais diversas punições pela tentativa. Os primeiros padres cristãos, que, como Orígenes e Clemente de Alexandria, eram bastante versados na simbologia pagã e começaram suas carreiras como filósofos, sentiram-se muito embaraçados. Eles não podiam negar a antecipação de suas doutrinas nos mitos antiquíssimos. O último Logos, de acordo com os seus ensinamentos, também surgiu para mostrar à Humanidade o caminho da imortalidade; e em seu desejo de dotar o mundo de uma vida eterna através do fogo pentecostal, perdeu a vida de acordo com o programa tradicional. Assim se originou a desajeitadíssima explicação de que o nosso clero moderno se aproveita livremente, segundo a qual todos esses tipos míticos mostram o espírito profético que, pela graça de Deus, foi concedido até mesmo aos idólatras pagãos! Os pagãos, afirmam, representaram, em suas imagens, o grande drama do Calvário – daí a semelhança.
A alegoria da queda do homem e do fogo de Prometeu é também outra versão do mito da rebelião do orgulhoso Lúcifer, precipitado no poço sem fundo – o Orco (Inferno ou Mundo inferior). Na religião dos brâmanes, Mahâsura, o Lúcifer hindu, torna-se invejoso da luz resplandecente do Criador, e à testa de uma legião de espíritos inferiores rebela-se contra Brahmâ, e lhe declara Guerra. Como Hércules, o fiel Titã, que ajuda Júpiter e lhe devolve o trono, ‘Shiva, a terceira pessoa da trindade hindu, os precipita a todos da morada celestial no Honderah, a religião das trevas eternas. Mas aqui os anjos caídos se arrependem de sua má ação, e na doutrina hindu eles obtêm a oportunidade de progredir. Na história grega, Hércules, o deus do Sol, desce ao Hades para livrar as vítimas de suas torturas; e a Igreja cristã também faz o seu deus encarnado descer às sombrias regiões plutônicas e vencer o ex-arcanjo rebelde. Por sua vez os cabalistas explicam a alegoria de um modo semicientífico. O segundo Adão, ou a primeira raça criada que Platão chama de deuses, e a Bíblia de Elohim, não era de natureza tríplice como o homem terrestre: ele não era composto de alma, espírito e corpo, mas era um composto de elementos astrais sublimados em que o “Pai” soprou um espírito divino imortal. Este, devido à sua essência divina, lutou sempre para livrar-se dos liames dessa frágil prisão; eis por que os “filhos de Deus”, em seus imprudentes esforços, foram os primeiros a traçar um modelo futuro para a lei cíclica. Mas o homem não deve ser “como um de nós”, diz a Divindade Criadora, um dos Elohim “encarregados da fabricação do animal inferior”. Foi assim que, quando os homens da primeira raça atingiram o cume do primeiro ciclo, eles perderam o equilíbrio, e seu segundo invólucro, as vestes grosseiras (o corpo astral), os arrojou ao arco oposto.
A CRIAÇÃO DOS ANIMAIS QUE PRECEDERAM O HOMEM SOBRE A FACE DA TERRA.
Mas esta criação de seres, sem o necessário influxo do puro sopro divino sobre eles, que era conhecido entre os cabalistas como o “Fogo Vivo”, produziu apenas criaturas de matéria e luz astral. ( A luz astral, ou anima mundi, é dual e bissexuada. A sua parte masculina é puramente divina e espiritual: é a Sabedoria, ao passo que a porção feminina (o spiritus dos nazarenos) é maculada, em certo sentido, pela matéria, e, portanto, é maligna. É o princípio de vida de toda criatura viva, e fornece a alma astral, o perispírito fluídico, aos homens, aos animais, aos pássaros no ar e a tudo que vive. Os animais têm apenas o germe da alma imortal superior como um terceiro princípio. Este germe desenvolver-se-á somente através de uma série de inumeráveis evoluções, cuja doutrina está contida no axioma cabalístico: “Uma pedra transforma-se numa planta; a planta, num animal; o animal, num homem; o homem, num espírito; e o espírito, em um deus”.) Assim foram gerados os animais que precederam o homem sobre esta Terra. Os seres espirituais, os “filhos da luz”, que permaneceram fieis ao grande Ferho (a Primeira Causa de tudo) constituem a hierarquia celeste ou angélica, os Adonim, e as legiões dos homens espirituais que nunca se encarnaram. Os seguidores dos gênios rebeldes e insensatos, e os descendentes dos sete espíritos “ignorantes” criados por “Karabtanos” e o “spiritus”, tornaram-se, com o correr do tempo, os “homens de nosso planeta”, após terem passado por toda a “criação de cada um dos elementos. A partir dessa fase, nossas formas superiores evoluíram das inferiores. A Antropologia não ousa seguir o cabalista em seus vôos metafísicos além deste planeta, e é duvidoso que os seus mestres tenham a coragem de procurar o elo perdido nos velhos manuscritos cabalistas.
Foi assim, então, posto em movimento o primeiro ciclo, que em suas rotações descendentes troce uma parte infinitesimal das vidas criadas ao nosso planeta de barro. Chegando ao ponto mais baixo do arco do ciclo, que precedeu diretamente a vida sobre a Terra, a pura centelha divina que ainda restava em Adão fez um esforço para se separar do espírito astral, pois “o homem caia gradualmente na geração”, e a camada carnal tornava-se mais e mais densa a cada ação.
E aqui começa um mistério, um Sod citando o Latin lexicon de Freund, IV,448 [em Sod, Myst. of Adonai, p. XII].); um segredo que o rabino Simeão não comunicava senão a pouquíssimos iniciados. Ele era representado uma vez a cada sete anos durante os mistérios da Samotrácia, e os seus registros se encontram auto-impressos nas folhas da árvore sagrada tibetana, a misteriosa KOUNBOUM, na Lamaseria dos santos adeptos.
NO OCEANO SEM LIMITES BRILHA O SOL CENTRAL.
No oceano sem limites brilha o Sol Central, Espiritual e Invisível. O universo é seu corpo, espírito e alma; e TODAS AS COISAS são criadas de acordo com este modelo ideal. Estas três emanações são as três vidas, os três degraus do Pleroma gnóstico, as três “Faces Cabalísticas”, pois o ANTIGO dos antigos, o santo dos idosos, o grande En-Soph, “tem uma forma e em seguida não tem forma alguma”. O Invisível “assumiu uma forma quando chamou o universo À Vida”, diz o Zohar, o Livro do Esplendor. A Primeira Luz é a Sua Alma, o Sopro Infinito, Ilimitado e Imortal, sob cujo esforço o universo ergue o seu poderoso seio, para infundir vida Inteligente à Criação. A Segunda emanação condensa matéria cometária e produz formas no círculo cósmico; põe os incontáveis mundos flutuando no espaço elétrico, e infunde o princípio de vida cego e ininteligente, em cada forma. A Terceira produz todo o universo da matéria física; e, como se afasta gradualmente da Luz Central Divina, seu fulgor se enfraquece e se transforma nas TREVAS e no MAL – a matéria pura, as “grosseiras purgações do fogo celestial” dos hermetistas.
O GRANDE CICLO DA MÔNADA. – A TEORIA DE DARWIN.
Quando o Invisível Central (o Senhor Ferho) viu os esforços para libertar-se da Scintilla divina, que não desejava ser lançada na degradação da matéria, ele lhe permitiu tirar de si própria uma Mônada, pela qual, ligada a ela pelo fio mais fino, a Scintilla divina (a alma) tinha que velar durante as suas incessantes peregrinações de uma forma a outra. Assim a Mônada foi lançada na primeira forma da matéria e dai encerrada em pedra; depois, no decorrer do tempo, através dos esforços combinados do fogo vivo e da água viva, ambos os quais brilhavam seu reflexo sobre a pedra, a Mônada escapou à prisão e surgiu à luz do Sol como um líquen. De modificações em modificações ela foi mais e mais alto; a Mônada, a cada nova transformação, tomou emprestado um pouco mais da radiação de sua mãe. Scintilla, de que se aproximava a cada transmigração. Pois “a Causa Primária quis que ela procedesse desse modo”; e destinou-a a subir e mais e mais até que sua forma física se tornasse novamente o Adão de pó, formado à imagem de Adão-Cadmo. Antes de sofrer a sua última transformação terrestre, a cobertura externa da Mônada, a partir do momento de sua concepção como embrião, passa, novamente, pelas fases dos vários reinos. Em sua prisão fluídica ela conserva uma vaga semelhança com os vários períodos de gestação como planta, réptil, pássaro e animal, até se tornar um embrião humano. No nascimento do futuro homem, a Mônada, radiando com toda a glória de sua mãe imortal que a vigia da sétima esfera, torna-se sem sentido. Ela perde todas as lembranças do passado, e só retorna gradualmente à consciência quando o instinto da infância dá lugar à razão e à inteligência. E quando a separação entre o princípio de vida (espírito astral) e o corpo tem lugar, a alma liberada – a Mônada – reencontra exultantemente o espírito paterno e materno, o radiante Augoeides, e os dois, fundidos em um, formam para sempre, como uma glória proporcional à pureza espiritual da vida terrestre passada, o Adão que completou o círculo de necessidade, e está livre do último vestígio de seu envoltório físico. A partir desse momento, tornando-se mais e mais radiante a cada passo de seu progresso ascendente, ele sobe pelo caminho brilhante que termina no ponto do qual ela partira em torno do GRANDE CICLO.
Toda a teoria darwiniana da seleção natural está resumida nos primeiros seis capítulos no Gênese. O “Homem” do cap. I é radicalmente diferente do “Adão” do cap. II, pois o primeiro foi criado “macho e fêmea” – isto é, bissexuado – e à imagem de Deus; ao passo que o último, de acordo com o sétimo versículo, foi formado com o pó da terra, e tornou-se “uma alma vivente”, depois que o Senhor Deus “soprou em suas narinas o sopro da vida”. Contudo, este Adão era um ser masculino, e no vigésimo versículo somos informados de que “não se encontrou a auxiliar que lhe correspondesse”. Os adonais, por serem puras entidades espirituais, não tinham sexo, ou melhor, tinham ambos os sexos reunidos em si, como seu Criador; e os antigos compreendiam isso tão bem que representaram muitas de suas divindades como bissexuais. O estudioso da Bíblia deve aceitar esta interpretação, sob pena de tornar as passagem dos dois capítulos mencionados absurdamente contraditórias. Não apenas esta duas raças de seres são claramente indicadas no Gênese, mas mesmo uma terceira e uma quarta se apresentam ao leitor no cap. IV, quando se fala dos “filhos de Deus” e da raça de “gigantes”.
Uma coisa, pelo menos, ficou demonstrada no texto hebraico, a saber; que houve uma raça de criaturas puramente físicas; outra, de criaturas puramente espirituais. A evolução e a “transformação das espécies” necessárias para preencher a lacuna entre as duas foram deixadas a antropólogos mais capazes. Podemos apenas repetir a filosofia dos homens da Antigüidade, a qual diz que a união dessas duas raças produziu uma terceira – a raça adamita. Partindo das naturezas de ambos os pais, ela se adaptou igualmente a uma existência nos mundos material e espiritual. Aliada da metade física da natureza do homem está a razão, que lhe permite manter a supremacia sobre os animais inferiores, e subjugar a natureza para seus fins. Aliada da sua parte espiritual está a sua consciência, que lhe serve de guia infalível, não obstante as fraquezas dos sentidos; pois a consciência é essa percepção instantânea entre certo e errado, que só pode ser exercitada pelo espírito, que, por ser uma porção da Sabedoria Divina e da Pureza, é absolutamente pura e sábia. Suas inspirações são independentes da razão, e só podem manifestar-se claramente quando desembaraçadas pelas atrações inferiores de nossa natureza dual.
A RAZÃO, UMA FACULDADE DE NOSSO CÉREBRO FÍSICO.
Sendo a razão uma faculdade de nosso cérebro físico, faculdade que é justamente definida como a de deduzir inferências de premissas, e sendo totalmente dependente da evidência de outros sentidos, não pode ser uma qualidade diretamente pertinente ao nosso espírito divino. Este espírito sabe – portanto, que todo raciocínio que implica discussão e argumento seria inútil. Assim, uma entidade, se deve ser considerada como uma emanação direta do eterno Espírito da Sabedoria, só pode selo dotado dos mesmos atributos que a essência ou o todo de que faz parte. Portanto, é como um certo grau de lógica que os antigos teurgistas sustentavam que a parte racional da alma do homem (espírito) nunca entra inteiramente no corpo do homem, mas apenas o cobre mais ou menos com a sua sombra através da alma irracional ou astral, que serve como um agente intermediário, ou como um médium entre espírito e corpo. O homem que conquistou a matéria o suficiente para suavizar a luz direta que emana de seu Augoeides (O Augoeides é a radiação luminosa divina do Ego, que, quando encarnado, não é mais do que sua sombra pura. E, entre os neoplatônicos parece significar o “corpo astral”.) brilhante sente a Verdade intuitivamente; ele não pode errar em seu julgamento, não obstante todos os sofisma sugeridos pela fria razão, pois está ILUMINADO. Portanto, a profecia, a perfeição e a chamada inspiração Divina são simplesmente os efeitos dessa iluminação proveniente do alto e causada pelo nosso próprio espírito imortal.
Os grandes sábios da Antigüidade, os da época medieval, e os autores místicos de nossos tempos modernos também foram todos hermetistas. Quer a luz da verdade os tenha iluminado graças à sua faculdade de intuição, quer como uma correspondência do estudo e da iniciação regular, virtualmente, eles aceitaram o método e seguiram o caminho traçado para eles por homens como Moisés, Gautama Buddha e Jesus. A Verdade, simbolizada por alguns alquimistas como bálsamo do céu, desceu em seus corações, e todos a colheram nos picos das montanhas, depois de estenderem panos IMACULADOS de linho para recebê-la; e assim, num sentido, eles obtiveram, cada um para si, e em seu próprio caminho, o solvente universal. O véu, que cobria o rosto de Moisés, quando, depois de descer do Sinais, ele ensinava ao seu povo a Palavra de Deus, não pode ser recolhido apenas pela vontade do Mestre. É preciso que os discípulos também removam o véu que “está sobre seus corações”. Paulo di-lo; e suas palavras dirigidas aos Corintos (II Corínt., III,14,16.) podem aplicar-se a todo homem e mulher, e em todas as épocas da história do mundo. Se “suas mentes se tornaram obscurecidas” pelas túnicas brilhantes da verdade divina, que o véu hermético seja retirado ou não do rosto do mestre, ele não pode ser retirado de seus corações, a menos que “eles se convertam ao Senhor”. Mas esta última designação não deve ser aplicada a uma ou a outra das três pessoas antropomorfizadas na Trindade, mas ao “Senhor”, – o Senhor, que é Vida e HOMEM.
O ETERNO CONFLITO ENTRE AS RELIGIÕES DO MUNDO.
O eterno conflito entre as religiões do mundo – Cristianismo, Judaísmo, Bramanismo, Budismo – provêm exclusivamente desta razão: apenas uns poucos conhecem a Verdade; os demais, não desejando retirar o véu de seus corações, imaginam que ela cega os olhos de seu vizinho. O deus de toda religião exotérica, incluindo o Cristianismo, não obstante as suas pretensões ao mistério, é um ídolo, uma ficção, e não pode ser outra coisa. Moisés, cuidadosamente velado, fala às multidões obstinadas de Jehovah, a divindade cruel, antropomórfica, como do altíssimo Deus, que oculta no fundo de seu coração a Verdade que “não pode ser dita ou revelada”. Kapila golpeia com a espada afiada de seu sarcasmo os iogues bramânicos que em suas visões místicas pretendiam ver o ALTÍSSIMO. Gautama Buddha oculta, sob um manto impenetrável de sutilezas metafísicas, a Verdade, e é visto pela posteridade como um ateu. Pitágoras, com seus misticismo alegórico e sua metempsicose, é tido como um hábil impostor, e outros filósofos têm essa mesma reputação, como Apolônio e Plotino, dos quais se diz geralmente que são visionários, senão charlatões. Platão, muito provavelmente porque diz, no que toca ao Supremo, que “um assunto dessa espécie não pode ser expresso em palavras, como as outras coisas que podem ser aprendias”; e porque faz Protágoras exagerar o uso dos “véus”. A caraterística mais importante deste mistério aparentemente incompreensível reside talvez no hábito inveterado da maioria dos leitores de julgar uma obra por suas palavras e pelas idéias insuficientemente expressas, deixando seu espírito fora de questão. Como os milhares de raios divergentes de nosso globo de fogo, em que cada um deles conduz, não obstante, ao ponto central, assim todo filósofo místico, seja ele um entusiasta devotadamente piedoso como Henry More; um irascível alquimista que use expressões vulgares, como seu adversário, Eugênio Filaletes; ou um ateu (?) como Spinoza, todos têm um único e mesmo objetivo em vista – o HOMEM. É Spinoza, contudo, quem talvez forneça a chave mais certa para uma porção desse segredo não revelado. Enquanto Moisés proíbe “imagens esculpidas” DELE, cujo nome não deve ser tomado em vão, Spinoza vai mais longe. Ele infere claramente que Deus não deve ser descrito. A linguagem humana é totalmente insuficiente para dar uma idéia deste “SER” que é absolutamente único. Deixamos para o leitor julgar por si se é Spinoza ou a teologia cristã o que está mais certo em suas premissas e conclusões. Toda tentativa em contrário conduz uma nação a antropomorfizar a divindade em que acredita, e o resultado é aquele indicado por Swedenborg. Em lugar de estabelecer que Deus faz o homem segundo a sua própria imagem, deveríamos em verdade dizer que “o homem imagina Deus de acordo com a sua imagem”, esquecendo que ele erigiu o seu próprio reflexo para adoração.
OS ELEMENTAIS DECRITOS PORMENORIZADAMENTE.
As criaturas inferiores na escala dos seres são as criaturas invisíveis que os cabalistas chamam de “elementares”. Existem três classes distintas de tais seres. A mais elevada, em inteligência e em discernimento, é a dos chamados espíritos terrestres. Basta dizer, por enquanto, que eles são as larvas, as sombras dos que viveram sobre a Terra, recusaram toda luz espiritual, permaneceram e morreram profundamente imersos no barro da matéria, e de cujas almas pecaminosas o espírito imortal gradualmente se afastou. A segunda classe é composta dos antitipos invisíveis dos homens a nascer. Nenhuma forma pode vir à existência objetiva – da mais alta à mais baixa – antes que o ideal abstrato desta forma – ou, como Aristóteles a chamaria, a privação desta forma – seja evocado. Antes que um artista pinte um quadro, todos os traços deste já estão em sua imaginação; e para que sejam capazes de discernir um relógio, este relógio particular deve ter existido em sua forma abstrata na mente do relojoeiro. Dá-se o mesmo com os futuros homens.
Segundo a doutrina aristotélica, existem três princípios de corpos naturais; privação, matéria e forma. Estes princípios podem aplicar-se neste caso particular. A ideação da criança que vai nascer localiza-se na mente individual do grande Arquiteto do universo – pois na doutrina aristotélica não se considera a ideação como um princípio na composição dos corpos, mas como uma propriedade externa em sua produção; pois a produção é uma modificação pela qual a matéria passa da forma que não tem para aquela que assume. Embora a ideação da forma futura de um relógio ainda não construído não seja uma substância, nem uma extensão, nem uma qualidade, nem qualquer espécie de existência, mesmo assim é algo que é, embora seus contornos, para existir, devam adquirir uma forma objetiva – em suma, o abstrato deve tornar-se concreto. Assim, logo que esta ideação da matéria é transmitida pela energia ao éter universal, ela se torna uma forma material, ainda que sublimada. Se a ciência moderna ensina que o pensamento humano “afeta simultaneamente outro universo simultâneo a este”, como pode aquele que acredita numa Causa Primária Inteligente negar que o pensamento divino seja igualmente transmitido, pela mesma lei da energia, ao nosso mediador comum, o éter universal – a alma do mundo? E, sendo assim, segue-se que, uma vez lá, o pensamento divino se manifesta objetivamente, com a energia reproduzindo fielmente os contornos daquilo cuja “ideação” nasceu em primeiro lugar na mente divina. Apenas não se deve entender que este pensamento cria matéria. Não; ele cria apenas o plano da forma futura, uma vez que a matéria que serve para fazer este plano sempre existiu, e foi preparado para formar um corpo humano, através de uma série de transformações progressivas, com os resultado da evolução. As formas passam; as idéias que as criaram e o material que lhe deu objetividade ficam. Estes modelos, ainda desprovidos de espíritos imortais, são “elementais” – embrião psíquicos, propriamente dito – que, quando chega seu tempo, morrem no mundo invisível, e nascem no mundo visível como crianças humanas, recebendo in transitu o sopro Divino chamado Espírito que completa o homem perfeito. Esta classe não pode comunicar-se objetivamente com os homens.
A terceira classe são os “elementais”, que jamais se transformam em seres humanos, mas ocupam um grau específico na escala de seres, e, em comparação com os outros, podem ser justamente chamados de espíritos da Natureza, ou agentes cósmicos da Natureza, uma vez que cada ser se acha confinado ao seu próprio elemento e nuca transgride os limites dos outros. São aqueles que Tertuliano chamava de “príncipes das potestades do ar”.
Crê-se que esta classe possui apenas um dos três atributos do homem. Não tem espíritos imortais nem corpos tangíveis; apenas formas astrais, que participam, num grau notável, do elemento ao qual pertencem e também do éter. Eles são uma combinação da matéria sublimada e de uma mente rudimentar. Alguns são imutáveis, mas ainda não têm individualidade distinta, agindo coletivamente, por assim dizer. Outros, de alguns elementos e espécies, alteram-se sob uma lei fixa que os cabalistas explicam. O mais sólido de seus corpos é imortal o bastante para escapar à percepção de nossa visão física, mas não tão insubstancial que não possa ser perfeitamente reconhecido pela nossa visão interna ou clarividente. Eles não apenas existem e podem viver no éter, mas podem maneja-lo e dirigi-lo para a produção de efeitos físicos, tão facilmente quanto podemos comprimir o ar ou a água para o mesmo propósito com aparelhos pneumáticos e hidráulicos; e nessa ocupação eles são de bom grado ajudados pelos “elementares humanos”. Mais do que isso; eles podem condensá-lo ao ponto de fazer corpos tangíveis para si, que, pelos seus poderes protéicos, podem fazer assumir a forma que desejarem, tomando como modelo os retratos que encontraram estampados na memória das pessoas presentes. Não é necessário que o circundante esteja pensando no momento na pessoa cujo retrato é apresentado. Sua imagem pode ter desaparecido muitos anos antes. A mente recebe impressões indeléveis mesmo de relações causais ou de pessoas encontradas apenas uma vez. Assim como alguns segundos de exposição de uma chapa fotográfica sensível bastam para preservar indefinidamente a imagem do circunstante, o mesmo ocorre com a mente.
De acordo com a doutrina de Proclo, as regiões superiores, do zênite do universo à Lua, pertenciam aos deuses ou aos espíritos planetários, segundo suas hierarquias e classes. Os mais elevados dentre eles eram os doze hyper-ouranioi, ou deuses celestiais, que têm legiões internas de demônios subordinados aos seu comando. Eles são seguidos em ordem e poder pelos egkosmioi, os deuses intercósmicos, cada um dos quais preside um grande número de demônios, aos quais comunicam seu poder, transformando-o de um a outro à vontade. São evidentemente as forças personificadas da Natureza em sua correlação mútua, e estas últimas são representadas pela terceira classe ou os ‘elementais” que descrevemos.
Mais adiante ele mostra, de acordo como o princípio do axioma hermético dos tipos e protótipos, que as esferas têm suas subdivisões e classes de seres como as esferas celestiais superiores, as primeiras estando sempre subordinadas às últimas. Ele afirma que os quatro elementos estão repletos de demônios, sustentando com Aristóteles que o universo é pleno e que não existe vácuo na Natureza. Os demônios da Terra, do ar, do fogo e da água são de uma essência fluída, etérea, semicorpórea. São estas classes que atuam como agentes intermediários entre os deuses e os homens. Embora inferiores em inteligência à sexta ordem dos demônios mais elevados, estes seres governam diretamente sobre os elementais e a vida orgânica. Eles dirigem o crescimento, o florescimento, as propriedades e as diversas transformações das plantas. Eles são as idéias ou virtudes personificadas derramadas do hylê celeste na matéria inorgânica; e, como o reino vegetal é um grau mais elevado que o reino mineral, estas emanações dos deuses celestiais tomam forma e existência na planta, e tornam-se sua alma. Isto é o que a doutrina aristotélica chama de forma nos três princípios dos corpos naturais, classificados por ele como privação, matéria e forma. Sua filosofia ensina que, além da matéria original, outro princípio é necessário para completar a natureza trina de toda partícula, e esse é a forma; um ser invisível, mas ainda, no sentido antológico da palavra, substancial, realmente distinto da matéria propriamente dita. Portanto, num animal ou numa planta, além dos ossos, a carne, os nervos, o cérebro e o sangue no primeiro, e além da matéria polposa, tecidos, fibras e seiva no segundo, sangue e seiva que, circulando pelas veias e fibras, nutrem todas as partes do animal e da planta; e além dos espíritos animais, que são os princípios de movimento; e da energia química que se transforma em força vital na folha verde, deve haver uma forma substancial, que Aristóteles chamava, no cavalo, a alma do cavalo, Proclo, o demônio de todo mineral, planta ou animal, e os filósofos medievais, os espíritos elementares dos quatro reinos.
Tudo isso é tido em nosso século como Metafísica e grosseira superstição. No entanto, segundo princípio estritamente ontológicos, há, nestas antigas hipóteses, alguma sombra de possibilidade, algum índice para os desconcertantes “elos perdidos” da ciência exata.
No Panteão hindu há nada menos do que 330.000.000 de várias espécies de espíritos, incluindo os elementais, que os brâmanes chamavam de daityas. Sabem os adeptos que estes seres são atraídos a certos quadrantes dos céus por algo dessa mesma propriedade misteriosa que faz a agulha magnética orientar-se para o norte, e certas plantas a obedecer à mesma atração. Acredita-se também que as diversas raças têm uma simpatia especial por certos temperamentos humanos, e que exercem mais facilmente o poder sobre uns do que sobre outros. Assim, uma pessoa biliosa, linfática, nervosa ou sangüínea é afetada favoravelmente ou não pelas condições da luz astral, que resulta de diferentes aspectos dos corpos planetários.
AS IDÉIAS DOS ANTIGOS CABALISTAS SOBRE O ESPÍRITO HUMANO.
Quanto ao espírito humano, as idéias dos mais antigos filósofos e cabalistas medievais, mesmo divergindo em alguns aspetos, concordam no conjunto; de modo que a doutrina de um pode ser considerada como a doutrina de outro. A diferença mais importante consiste na localização do espírito divino ou imortal do homem. Enquanto os antigos neoplatônicos sustentavam que o Augoeides (Eu luminoso Ego Superior) jamais desce hipostaticamente até o homem vivo, mas apenas projeta mais ou menos o seu fulgor sobre o homem interno – a alma astral -, os cabalistas medievais afirmavam que o espírito, desligando-se do oceano de luz e do espírito, entrava na alma humana, onde permanecia durante a vida aprisionado na cápsula astral. Esta diferença resultou da crença maior ou menor dos cabalistas cristãos na letra morta da alegoria da queda do homem. A alma, disseram eles, devido à queda de Adão, contaminou-se com o mundo da matéria ou Satã. Antes que ela pudesse comparecer com o espírito divino aprisionado à presença do Eterno, era preciso que ela se purificasse da impureza das trevas. Eles comparavam “o espírito aprisionado na alma a uma gota d’água encerrada numa cápsula de gelatina e lançada ao oceano; enquanto a cápsula permanece intacta, a gota d’água permanece isolada; destruindo o invólucro, a gota torna-se uma parte do oceano – sua existência individual cessou. Ocorre o mesmo com o espírito. Enquanto está encerrado em seu mediador plástico, a alma, ele tem uma existência individual. Destruída a cápsula, o que pode ocorrer devido às agonias de uma consciência atormentada, ao crime e à doença moral, o espírito retorna à sua morada original. A sua individualidade cessou de existir”.
A QUEDA NA GERAÇÃO EXPLICADA PELOS ANTIGOS FILÓSOFOS.
Por outro lado, os filósofos que explicavam, à sua maneira, a “queda da geração”, encaravam o espírito como algo totalmente distinto da alma. Eles admitiam a sua presença na cápsula astral exclusivamente no que concerne às emanações ou aos raios espirituais do “ser luminoso”. O homem e a alma deviam conquistar a imortalidade acendendo à unidade como a qual, em caso de sucesso, ambos finalmente se unem, e na qual se absolvem, por assim dizer. A individualização do homem após a morte dependia do espírito e não da alma e do corpo. Embora a palavra “personalidade”, no sentido que se lhe dá comumente, seja um disparate, se aplicada literalmente à nossa essência imortal, esta, no entanto, ‘e uma entidade distinta, imortal e eterna per se; e, como no caso dos criminosos sem remissão, em que o fio luminoso que une o Espírito à Alma desde o instante do nascimento de uma criança é violentamente cortado, e a entidade desencarnada é condenada a partilhar do destino dos animais inferiores, a dissolver-se gradualmente no éter, e a ter a sua individualidade aniquilada – mesmo assim o espírito permanece um ser distinto. Ele se torna um espírito planetário, um anjo, pois os deuses dos pagãos ou os arcanjos dos cristãos, emanações da Causa primeira, não obstante a afirmação arriscada de Swedenborg, jamais foram ou serão homens, pelo menos em nosso planeta.
Essa questão foi, em todos os tempos, o tropeço dos metafísicos. Todo o esoterismo da Filosofia Budista baseia-se neste misterioso ensinamento, compreendido por tão poucas pessoas e deturpado, completamente, por muitos dos mais sábios eruditos. Mesmo os metafísicos estão por demais propensos a confundir o efeito com a causa. Uma pessoa pode ter conquistado a sua vida imortal, e permanecer o mesmo Eu Interior que era sobre a Terra, por toda a eternidade; mas isto não implica necessariamente que ela deve permanecer o Sr. Fulano ou Beltrano que era na Terra, ou perder a sua individualidade. Portanto, a alma e o corpo terrestre do homem podem, no sombrio Além, ser absolvidos no oceano cósmico dos elementos sublimados, e cessar de sentir o seu Ego, se este Ego não mereceu elevar-se mais alto; e o espírito divino permanecer ainda uma entidade inalterada, embora a experiência terrestre de sua emanações possa ser totalmente obliterada no instante da separação de um veículo indigno.
Se o “espírito”, ou a parte divina da alma, preexiste como um ser distinto por toda a eternidade, como Orígenes, Sinésio e outros padres cristãos ensinaram, e se é idêntico à alma metafisicamente objetiva, como poderia ele não ser eterno? Assim sendo, o que importa um homem levar uma vida animal ou uma vida pura se, faça o que fizer, nunca pode perder a sua individualidade? Esta doutrina é tão perniciosa em suas conseqüências como a da expiação vicária. Tivesse este último dogma sido demonstrado ao mundo sob a sua verdadeira luz, juntamente com a falsa idéia de que somos todos imortais, e a Humanidade tornar-se-ia melhor com a sua propagação. O crime e o pecado teriam sido evitados, não por medo ao castigo da Terra, ou a um inferno ridículo, mas em consideração àquilo que está enraizado profundamente em nossa natureza interior – o desejo de uma vida individual e distinta no Além, a certeza positiva de que não podemos alcançá-la se não nos “aproximamos do reino do céu pela força”, e a convicção de que nem as preces humanas nem o sangue de um outro homem nos salvarão de destruição individual após a morte, a menos que estejamos firmemente unidos durante a nossa vida terrestre com o nosso próprio espírito imortal – nosso DEUS.
Pitágoras, Platão, Timeu de Locris e toda a escola alexandrina derivavam a alma da alma do mundo, e esta era, segundo os seus próprios ensinamentos – o éter; algo de uma natureza tão pura que só podia ser percebido pela nossa visão interior. Portanto, ela não pode ser a essência da Mônada, ou a causa, pois a anima mundi é apenas o efeito, a emanação objetiva daquela. O espírito humano e a alma são ambos preexistentes. Mas, enquanto o primeiro existe como uma entidade distinta, uma individualização, a alma existe como matéria preexistente, uma parte insciente de um todo inteligente. Ambos foram formados originalmente a partir do oceano eterno de Luz; mas, como já o disseram os teósofos, há no fogo tanto um espírito visível como um invisível. Eles faziam uma distinção entre a anima bruta e a anima divina. Empédocles acreditava firmemente que todos os homens e animais possuem duas almas; e em Aristóteles descobrimos que ele chama uma de alma raciocinante, e a outra de alma animal. De acordo com esses filósofos, a alma raciocinante provém de fora da alma universal, e a outra, de dentro. Essa região divina e superior, na qual localizaram a divindade suprema e invisível, consideravam-na eles (o próprio Aristóteles, inclusive) como um quinto elemento, puramente espiritual e divino, ao passo que à anima mundi propriamente dita como composta de uma natureza pura, ígnea e etérea difundida por todo o universo, em suma – o éter. Os estóicos, os maiores materialistas da Antigüidade, excetuavam o Deus Invisível e a Alma Divina (Espírito) de uma tal natureza corpórea. Epicuro, cuja doutrina, militando diretamente contra a intervenção de um Ser Supremo e dos deuses na formação ou governo do mundo, o colocava muito acima dos estóicos no que respeita ao ateísmo e ao materialismo, ensinava, não obstante, que a alma é de essência pura e sensível, formada dos átomos mais suaves, mais refinados e mais puros, cuja descrição ainda nos conduz ao mesmo éter sublimado. Arnóbio, Tertuliano, Irineu e Orígenes, não obstante suas crenças cristã, acreditavam, com os mais modernos Spinoza e Hobbes, que a alma era corpórea, embora de uma natureza muito pura.
Essa doutrina da possibilidade de se perder a alma e, em conseqüência, a individualidade, é contrária às teorias ideais e às idéias progressivas de alguns espiritualistas, embora Swedenborg a aceite plenamente. Eles jamais aceitarão a doutrina cabalista que ensina que apenas pela observância da lei da harmonia essa vida individual futura pode ser obtida; e que quando mais o homem interior e exterior se desvia desta fonte de harmonia, cujo manancial reside em nosso espírito divino, mais difícil é para ele retomar o terreno perdido.
Mas, enquanto os espiritistas e outros partidários do Cristianismo têm pouca ou nenhuma idéia dessa possível morte e obliteração da personalidade humana, devido à separação da parte imortal da perecível, os swedenborguianos a compreendem plenamente.
Pitágoras ensinava que todo o universo é um vasto sistema de combinações matematicamente corretas. Platão mostra a divindade geometrizando. O mundo é sustentado pela mesma lei de equilíbrio e de harmonia sobre a qual foi erigido. A força centrípeta não se poderia manifestar sem a força centrífuga nas revoluções harmoniosa das esferas; todas as formas são o produto dessa força dual da Natureza. Assim, para ilustrar o nosso exemplo, podemos designar o espírito como a força centrífuga, e a alma como as energias centrípetas e espirituais. Quando em movimento centrípeto da alma terrestre que tende para o centro que a atrai; impedi-lhe a marcha bloqueando-a com uma quantidade de matéria mais pesada do que a que ela pode suportar, e a harmonia do todo, que era a sua vida, se destrói. A vida individual só pode prosseguir quando sustentada por esta força dupla. O menor desvio da harmonia a prejudica; quando ela está irremediavelmente destruída, as forças se separam e a forma gradualmente se aniquila. Após a morte do depravado e do perverso, chega o momento crítico. Se, durante a vida, o último e desesperado esforço do eu interior para reunir-se com o raio debilmente bruxuleante de seu pai divino é negligenciado; se esse raio é mais e mais ocultado pela espessa crosta da matéria, a alma, uma vez livre do corpo, segue as suas atrações terrestres, e é magneticamente atraída e retida pelo denso nevoeiro da atmosfera material. Ela começa, então, a cair cada vez mais baixo, até se encontrar, voltando à consciência, no que os antigos chamavam de Hades (O Reino das Sombras). A aniquilação de uma tal alma nunca é instantânea; pode durar séculos, talvez, pois a Natureza nunca age aos saltos e arrancos, e, visto que a alma astral é formada de elementos, a lei da evolução deve seguir seu curso. Começa então a terrível lei da compensação, o Yin-yuan dos budistas.
Esta categoria de espíritos chama-se “elementar terrestre” ou “material”, em oposição às outras classes. No Oriente, eles são conhecidos como os “Irmãos das Trevas”. Velhacos, abjetos, vingativos e desejosos de desforrar os seus sofrimentos sobre a Humanidade, eles se transformam, até a aniquilação final, em vampiros, em espíritos necrófagos e em refinados atores. Eles são as “estrelas” principais no grande palco espiritual da “materialização”, cujos fenômenos eles desempenham com a ajuda das criaturas genuínas “elementais” mais inteligentes, que flutuam em redor e os acolhem com prazer em suas próprias esferas. Henry Khunrath, o grande cabalista alemão, representa, numa gravura de sua rara obra Amphitheatrum Sapientiae Aeternae, as quatro classes desses “espíritos elementares” humanos. Uma vez transposto o limiar do santuário de iniciação, uma vez que um adepto tenha erguido o “Véu de Ísis”, a deusa misteriosa ciumenta, ele nada deve temer; mas saber que estará em constante perigo.
Embora o próprio Aristóteles, antecipando os fisiólogos modernos, considerasse a mente humana como uma substância material, e ridicularizasse os hilozoístas, ele acreditava plenamente na existência de uma alma “dupla”, ou espírito e alma.
DUAS IMPORTANTES VERDADES SOBRE O PODER MAGICO.
O que dissemos no capítulo introdutório e alhures a respeito dos médiuns e da tendência de sua Mediunidade não se baseia em conjecturas, mas em experiências e observações reais. Dificilmente haverá uma fase da Mediunidade, de qualquer outra espécie, de que não tenhamos visto exemplos durante os últimos vinte e cinco anos, em vários países. Índia, Tibete, Bornéu, Sião, Egito, Ásia Menor, América (Norte e Sul) e outras partes do mundo mostraram-nos as suas fases peculiares de fenômenos Mediúnicos e de poder mágico. Nossas variadas experiências ensinaram-nos duas importantes verdades, a saber, que para o exercício do poder mágico a pureza pessoal e o adestramento de uma força de vontade treinada e indômita são indispensáveis; e que os espiritistas jamais se podem assegurar da realidade das manifestações mediúnicas, a menos que elas se produzam à luz do dia e sob condições de controle tais que toda tentativa de fraude seja imediatamente descoberta.
A PRODUÇÃO DOS FENÔMENOS FÍSICOS.
Devido ao medo de sermos malcompreendidos, assinalaremos que enquanto, em regra, os fenômenos físicos são produzidos pelos espíritos da Natureza, por seu próprio movimento e para satisfazer a sua própria fantasia, alguns bons espíritos humanos desencarnados podem, não obstante, sob circunstâncias excepcionais, como a aspiração de um coração puro a ocorrência de alguma emergência favorável, manifestar a sua presença por qualquer um dos fenômenos, exceto a materialização pessoal. Mas é preciso que haja uma atração deveras poderosa para arrancar um espírito puro e desencarnado de sua morada radiante e arrojá-lo na atmosfera viciada de que escapou ao deixar o corpo terreno.
Os magos e os filósofos teúrgicos opunham-se energicamente à “evocação das almas”. “Não a evoqueis [à alma], para que ao partir ela não retenha alguma coisa”, diz Pselo.
“Cumpre -vos não olhá-lo antes que o vosso corpo iniciado,
pois, sempre encantando, elas seduzem a alma do [não] iniciado”,
diz outro filósofo.
Eles se opunham por várias e boas razões. 1º) “É extremamente difícil distinguir um bom demônio de um mau”, diz Jâmblico, 2º) Se uma alma humana consegue penetrar a densidade da atmosfera terrestre – sempre opressiva para ela e muitas vezes odiosa -, não pode ela, contudo, evitar incorrer num perigo que resulta da proximidade do mundo material; “ao partir, ela retém alguma coisa”, vale dizer, contamina a sua pureza, o que a fará sofrer mais ou menos após a sua partida. Por isso, o verdadeiro teurgista evitará causar qualquer sofrimento a esse puro cidadão da esfera superior que não seja absolutamente necessário aos interesses da Humanidade. Somente o praticante da magia negra compele a presença, mediante os poderosos encantamentos da necromancia, das almas maculadas daqueles que levaram más vidas e estão prontos a secundar-lhes os objetivos egoístas. Os teurgistas empregavam substâncias químicas e minerais para afugentar os maus espíritos.
“Quando vires um demônio terrestre aproximando-se,
Gritai, sacrificai a pedra Mnízourin”,
exclama um oráculo zoroastrino.
SOBRE AS MESAS GIRANTES.
No Journal de magnétisme do Dr. Morin, publicado há poucos anos em Paris, quando as “mesas girantes” faziam furor na França, uma curiosa carta foi publicada.
“Acreditai-me, senhor,” escrevia o correspondente anônimo, “que não existem espíritos, fantasmas, anjos ou demônios encerrados numa mesa; mas todos esses podem nela se encontrar, pois isso depende de nossa própria vontade e imaginação. (…) Tal MENSAbulismo é um antigo fenômeno (…) malcompreendido por nós modernos, mas natural, e que diz respeito à Física e à Psicologia; infelizmente, ele teve que permanecer incompreensível até a descoberta da eletricidade e da heliografia, pois, para explicar um fato de natureza espiritual, somos obrigados a nos basear num fato correspondente de ordem material. (…)
“Como todos sabemos, a chapa daguerreótipa deve ser impressionada não apenas pelos objetos mas também por seus reflexos. Ora, o fenômeno em questão que se poderia chamar de fotografia mental, produz, além das realidades, os sonhos de nossa imaginação, com tal fidelidade que com muita freqüência somos incapazes de distinguir uma cópia tirada de alguém presente, de um negativo obtido de uma imagem. (…)
A magnetização de uma mesa ou de uma pessoa é absolutamente idêntica em seus resultados; é a saturação de um corpo estranho pela eletricidade vital inteligente pelo pensamento do magnetizador e dos presentes.”
Nada pode dar uma melhor ou mais justa idéia do que a bateria elétrica que acumula o fluído e seus condutores para obter uma força bruta que se manifesta em centelhas de luz, etc. Assim, a eletricidade acumulada num corpo isolado adquire um poder de reação igual à ação, seja para carregar, magnetizar, decompor, inflamar ou descarregar as suas vibrações a grande distância. Tais são os efeitos visíveis de eletricidade cega ou rude produzida por elementos cegos – empregando-se a palavra cega pela própria mesa, por oposição à eletricidade inteligente. Mas existe evidentemente uma eletricidade correspondente produzida pela pilha cerebral do homem; esta eletricidade da alma, este éter universal e espiritual que é a natureza ambiente, intermediária do universo metafísico, ou antes do universo incorpóreo, dever ser estudada antes de ser admitida pela ciência, que, nada sabendo sobre ela, jamais conhecerá qualquer coisa do grande fenômeno da vida antes que o faça.
“Parece que, para manifestar-se, a eletricidade cerebral requer a ajuda da eletricidade estática ordinária; quando esta última está ausente da atmosfera – quando o ar está muito úmido, por exemplo – obtém-se muito pouco ou nada, seja das mesas, seja dos médiuns. (…)
“Nós, que conhecemos bem o valor do fenômeno (…) estamos perfeitamente seguros de que, após ter carregado a mesa com o nosso efluxo magnético, chamamos à vida, ou criamos, uma inteligência análoga à nossa, que como nós é dotada de uma vontade livre, pode falar e discutir conosco, com um grau de lucidez superior, considerando-se que a resultante é mais forte que os componentes, ou antes, o todo é maior que uma de suas partes. (…) Não devemos acusar Heródoto de nos contar mentiras quando lembra os fatos mais extraordinários, pois devemos considerá-los como tão verdadeiros e corretos quanto os demais fatos históricos que se encontram em todos os escritores pagãos da Antigüidade. (…)
“O fenômeno é tão velho quanto o mundo. (…) Os sacerdotes da Índia e da China praticavam-no antes dos egípcios e gregos. Os selvagens e os esquimós conhecem-no bem. Trata-se do fenômeno da fé, a única fonte de todo prodígio. `Servos-á concedido de acordo com a vossa fé’ Aquele que enunciou esta profunda doutrina era verdadeiramente o verbo encarnado da Verdade; ele não se enganava, nem procurava enganar os demais; ele expunha um axioma que hoje repetimos, sem muita esperança de vê-lo aceito.
“O homem é um microcosmos, ou um pequeno mundo: ele carrega consigo um fragmento do grande Todo, um estado caótico. A tarefa de nossos semideuses é desembaraçar dele a parte que lhes pertence por um incessante trabalho mental e material. Eles têm sua tarefa a cumprir, a invenção perpétua de novos produtos, de novas moralidades, e o arranjo conveniente do material rude e informe fornecido a eles pelo Criador, que os criou à Sua Imagem, para que eles o criassem por sua vez e assim completassem aqui a Obra da Criação; um imenso trabalho que só terminará quando o Todo estiver tão perfeito que será como o Próprio Deus, e assim capaz de sobreviver-lhe. Estamos muito longe ainda desse momento final, pois poderemos dizer que tudo ainda está por fazer, por desfazer e por aperfeiçoar em nosso globo, instituições, maquinaria e produtos.
`Mens non solum agitat sed creat molem.’
A DUPLICIDADE DO UNIVERSO.
Vivemos, nesta vida, num centro intelectual ambiente, que mantém entre os seres humanos e as coisas uma solidariedade necessária e perpétua; todo cérebro é um gânglio, uma estação de um telégrafo neurológico universal em constante relação com a estação central e as outras através das vibrações do pensamento.
“O Sol Espiritual brilha para as almas assim como o Sol material brilha para os corpos, pois o Universo é duplo e segue a lei dos pares. O operador ignorante interpreta erroneamente os despachos divinos, e os transmite, com freqüência, de maneira falsa e ridícula. Assim, apenas o estudo e a ciência pura podem destruir as superstições e os absurdos difundidos pelos interpretes ignorantes sediados nas estações de ensino entre todos os povos deste mundo. Esses intérpretes cegos do Verbum, a PALAVRA, sempre tentaram impor aos seus pupilos a obrigação de afirmarem todas as coisas sem exame, in verba magistri.
“Ai de nós! Não desejaríamos outra coisa do que vê-los traduzir corretamente as vozes interiores, as quais nunca enganam senão aqueles que têm falsos espíritos em si. `É nosso dever’, dizem eles, `interpretar os oráculos; somos nós que recebemos a missão exclusiva para isso, do céu, spiritus flat ubi vult, e só sobre nós ele sopra’.
“Ele sopra sobre todos, e os raios da luz espiritual iluminam todas as consciências (…) e, quando todos os corpos e todas as mentes refletirem igualmente essa luz, as pessoas verão muito mais claro do que agora.”
OS ESPÍRITOS DA NATUREZA.
Embora os espiritistas procurem desacreditá-los tanto quanto possível, esses espíritos da Natureza são realidades. Se os gnomos, silfos, salamandras e ondinas dos Rosa-cruzes existiram em seus dias, eles devem existir agora.
Os cristãos chamam-nos “demônios”, “diabinhos de Satã” e outros nomes igualmente característicos. Eles não são nada do gênero, mas simplesmente criaturas de matéria etérea, irresponsáveis, nem bons nem maus, a não ser quando influenciados por uma inteligência superior. É realmente extraordinário ouvir os devotos católicos injuriarem e desfigurarem os espíritos da Natureza, quando uma de suas maiores autoridades, Clemente de Alexandria, deles se serviu, descrevendo tais criaturas como elas realmente são. Clemente, que foi talvez tanto um teurgista quanto um neoplatônico, e que se apoiava portanto em boas autoridades, assinala que é absurdo chamá-los de demônios, pois eles não passam de anjos inferiores, “cujos poderes residem nos elementos, movem os ventos e distribuem as chuvas e como tais são os agentes e sujeitos de Deus” Origines, que antes de se tornar um cristão pertenceu também à escola platônica, é da mesma opinião. Porfírio descreve esses demônios mais cuidadosamente do que qualquer outro.
Quando a possível natureza das inteligências manifestantes, que a ciência acredita ser uma “força psíquica”, e os espiritualistas acreditam ser os espíritos análogos dos mortos, for mais bem-conhecida, os acadêmicos e os crentes voltar-se-ão aos antigos filósofos em busca de informação.
A TRINDADE DO HOMEM, E A DUALIDADE DOS ANIMAIS.
As pessoas asseveram que não existem macacos no mundo, porque os macacos não tem “alma”. Mas os macacos têm tantã inteligência, ao que parece, quanto muitos homens; por que, então, teriam estes homens – de maneira alguma superiores aos macacos, espíritos imortais – e os macacos, não? Os materialistas responderão que num um nem outro têm espírito, mas que a aniquilação alcança a todos na morte física. Mas os filósofos espiritistas de todos os tempos concordam em que o homem ocupa um lugar um degrau acima que o animal, e possui este algo que falta a este último, seja ele o mais ignorante dos selvagens ou o mais sábio dos filósofos. Os antigos, como vimos, ensinavam que enquanto o homem é uma trindade de corpo, espírito astral e alma animal, o animal é apenas uma dualidade – um ser que tem um corpo físico astral que o anima. Os cientistas não reconhecem qualquer diferença entre os elementos que compõem os corpos dos homens e dos animais; e os cabalistas concordam com eles quando sustentam que os corpos astrais (ou, como os físicos os chamariam, “o princípio de vida”) dos animais e dos homens são idênticos em essência. O homem físico é apenas o desenvolvimento mais elevado da vida animal. Se como nos dizem os cientistas, até mesmo o pensamento é matéria, e toda sensação de dor ou prazer, todo desejo transitório é acompanhado por uma perturbação do éter; e os profundos especuladores que escreveram The Unseen Universe acreditam que o pensamento é concebido “para agir sobre a matéria de outro universo simultaneamente a este”; por que, então, o pensamento grosseiro e brutal de um orangotango, ou um cão, imprimindo-se nas correntes etéreas da luz astral, da mesma maneira que o do homem, não asseguraria ao animal uma continuidade da vida após a morte, ou “um estado futuro”?
Os cabalistas sustentavam e ainda sustentam que não é filosófico admitir que o corpo astral do homem pode sobreviver à morte corporal, e, ao mesmo tempo, afirmar que o corpo astral do macaco se dissolve em moléculas independentes. O que sobrevive como uma personalidade após a morte do corpo é a Alma Astral, que Platão, no Timeu e no Górgias, chama de Alma mortal, pois de acordo com a doutrina hermética, ela rejeita as suas partículas mais materiais a cada modificação progressiva para uma esfera superior. Sócrates relata a Calicles que essa alma mortal conserva todas as caraterísticas do corpo após a morte deste; ao ponto que um homem marcado de chicotadas terá o seu corpo astral “cheio de marcas e cicatrizes”. O espírito astral é uma duplicata fiel do corpo, tanto no sentido físico como no espiritual. O Divino, o espírito mais elevado e imortal, não pode ser punido nem recompensado. Sustentar uma tal doutrina seria, ao mesmo tempo, absurdo e blasfemo, pois o espírito não é apenas uma chama alumiada na fonte central e inextinguível de luz, mas, na verdade, uma parte dela, e da mesma essência. Ele assegura a imortalidade do ser astral individual na proporção do grau de interesse que este último tem em recebê-la. Desde que o homem Duplo, i.e., o homem de carne e espírito, se mantém nos limites da lei da continuidade espiritual; desde que a centelha divina nele se conserva, ainda que fragilmente, ele está no caminho de uma imortalidade num estado futuro. Mas aqueles que se resignarem a uma existência materialista, ocultando o fulgor divino irradiado por seus espíritos, no início da peregrinação terrestre, e emudecendo a voz acauteladora dessa sentinela fiel, a consciência, que serve de foco para a luz na alma – seres como esses, que abandonaram a consciência e o espírito, e cruzaram os limites da matéria, deverão naturalmente segui-lhe as leis.
A MORADAS DAS ALMAS, APÓS A MORTE.
A matéria é tão indestrutível e eterna quanto o próprio espírito imortal, mas apenas em suas partículas, e não em suas formas organizadas. O corpo de uma pessoa tão grosseiramente materialista, tendo sido abandonado por seu espírito antes da morte física, quando este evento ocorre, a matéria plástica, a alma astral, seguindo as leis da matéria cega, conforma-se de acordo com o molde que o vício gradualmente preparou para ela durante a vida terrena do indivíduo. Então, como diz Platão, ela assume a forma do “animal a que se assemelhou nos seus descaminho” durante a vida. “É uma antiga máxima”, diz-nos ele, “que as almas que deixam a Terra vivem no Hades e retornam novamente e são geradas dos mortos (…) Mas aqueles que levaram uma vida eminentemente santa, esses atingem uma MORADA superior e HABITAM AS PARTES MAIS ELEVADAS da Terra” (a região etérea). No Fedro, novamente, ele diz que quando os homens terminam as suas primeiras vidas (sobre a Terra), alguns vão para lugares de castigo sob a Terra. Essa região abaixo da Terra, os cabalistas não a entendem como um lugar inferior da Terra, mas sustentam que ela é uma esfera muito inferior em perfeição à Terra, e muito mais material.
De todos os especuladores que se ocuparam das aparências incongruências do Novo Testamento, apenas os autores de The Unseen Universe parecem ter entrevisto as suas verdades cabalistas, a respeito do Geheenna do universo. O Geheenna, que os ocultistas chamam de Oitava esfera (contando ao contrário), é apenas um planeta como o nosso, que se vincula a este e que o segue em sua penumbra; uma espécie de urna funerária, um “lugar em que todas as suas sujeiras e imundícies se consomem”, para emprestar uma expressão dos autores acima mencionados, e em que todas os refugos da matéria cósmica que pertence ao nosso planeta estão num contínuo estado de remodelagem.
A IMORTALIDADE DO HOMEM.
A Doutrina secreta ensina que se o homem atinge a imortalidade, permanecerá para sempre a trindade que é em vida, e assim continuará por todas as esferas. O corpo astral, que nesta vida está recoberto por um grosseiro invólucro físico, torna-se – quando se livra dessa cobertura pelo processo da morte corporal – por sua vez o invólucro de um outro corpo mais etéreo. Este começa a se desenvolver a partir do instante da morte, e torna-se perfeito quando o corpo astral da forma terrestre finalmente se separa dele. Este processo, dizem eles, repete-se a cada nova transição de uma esfera a outra. Mas a alma imortal, “a centelha prateada”, observada pelo Dr. Fenwick no cérebro de Margrave, e não encontrada por ele nos animais, jamais se modifica, mas permanece “indestrutível pelo que quer que seja que vem bater ao seu tabernáculo”. As descrições que Porfírio, Jâmblico e outros fazem dos espíritos dos animais, que habitam a luz astral, são corroborada pelas de muitos dos mais fidedignos e inteligentes clarividentes. Às vezes, as formas animais se tornam menos visíveis às pessoas presentes num círculo espiritual, materializando-se.
Se, após a morte corporal, existe uma outra existência no mundo espiritual, ela deve ocorrer de acordo com a lei de evolução. Ela toma o homem de seu lugar no ápice da pirâmide de matéria, e o deixa numa esfera de existência em que a mesma lei inexorável o acompanha. E se ela o acompanha, por que não o fariam todas as coisas da Natureza? Por que não os animais e plantas, que têm um princípio de vida, e cujas formas grosseiras se decompõem como a sua, quando esse princípio de vida os abandona? E se o seu corpo astral se torna mais etéreo ao chegar a outra esfera, por que não o deles? Eles, tanto quanto o homem, evoluíram da matéria cósmica condensada, e nossos físicos não vêem a menor diferença entre as moléculas dos quatro reinos da Natureza, que são assim especificado pelo Prof. Lenenhuma Conte:
4. Reino Animal.
3. Reino Vegetal.
2. Reino Mineral.
1. Elementos.
O processo da matéria de cada um desses planos ao plano superior é contínuo; e, segundo Lenenhuma Conte, “não há nenhuma força na Natureza capaz de elevar a matéria de um só golpe do n.º 1 ao n.º 3, ou do n.º 2 ao n.º 4, sem se deter e receber um suplemento de força, de uma espécie diferente, no plano intermediário”.
Ora, arriscará alguém dizer que de um dado número de moléculas, original e constantemente homogêneas, e todas energizadas pelo mesmo princípio de evolução, uma certa parte pode ser transportada através desses quatro reinos até o resultado final de um homem imortal que evolui, e as demais partes não podem progredir além dos planos 1, 2 e 3? Por que não teriam todas essas moléculas um futuro igual de si; o mineral tornando-se planta, a planta animal, e o animal homem – se não nesta Terra, pelo menos em alguma parte dos incontáveis reinos do espaço? A harmonia que a Geometria e a Matemática – as únicas ciências exatas – demostram ser a lei do universo, seria destruída se a lei da evolução só se exemplificasse perfeitamente no homem, e se detivesse nos reinos secundários. O que a lógica sugere, a psicometria prova; e, como dissemos antes, não é impossível que um monumento seja um dia erigido pelos cientistas a Joseph R. Buchanan, o seu descobridor moderno. Se um fragmento de mineral, uma planta fossilizada ou uma forma animal dá ao psicrômetro retratos tão vívidos e precisos de seus estados anteriores, assim como um fragmento de osso humano dá os do indivíduo a qual pertenceu, isto parece indicar que o mesmo espírito sutil penetrou por toda a Natureza e que é inseparável das substâncias orgânicas e inorgânicas. Se o antropólogo, os fisiólogos e os psicólogos estão igualmente perplexos com as causas primeiras e últimas, e por descobrirem na matéria tantas semelhanças em todas as suas formas, e no espírito, abismos tão profundos de diferenças, isto se deve, talvez, ao fato de que suas indagações se limitam ao nosso globo visível, e eles não podem, ou não ousam, ir além. O espírito de um mineral, de uma planta ou de um animal pode começar a se formar aqui, e atingir o seu desenvolvimento final milhões de séculos depois, em outros planetas, conhecidos ou desconhecidos, visíveis ou invisíveis aos astrônomos. Pois, quem é capaz de contradizer a teoria acima sugerida de que a própria Terra, como as outras criaturas vivas a que deu origem, se tornará, ao final, e depois de passar por todos os seus estágios de morte e dissolução, um planeta astral eterificado? “Em cima como embaixo”; a harmonia é a grande lei da Natureza.
A harmonia no mundo físico e matemático dos sentidos é justiça no mundo espiritual. A justiça produz harmonia, e a injustiça, discórdia; e a discórdia, na escala cósmica, significa caos – aniquilação. Se há um espírito imortal desenvolvido no homem, deve haver um em todas as coisas, pelo menos em estado latente ou germinal, e é apenas uma questão de tempo que todos esses germes se desenvolvam completamente. Não seria uma grosseira injustiça um criminoso impenitente, que perpetrou um assassínio brutal no exercício de seu livre-arbítrio, possuir um espírito imortal que, com o tempo, poderá purificar-se do pecado e gozar de uma perfeita felicidade, e um pobre cavalo, inocente de qualquer crime, trabalhar e sofrer sob as torturas impiedosas do chicote de seu dono durante toda a vida e então aniquilar-se com a morte? Uma tal crença implica uma brutal injustiça, e só é possível entre as pessoas educadas no dogma de que tudo é criado para o homem, e de que só ele é soberano do universo; um soberano tão poderoso que para salvá-lo das conseqüências de suas más ações o Deus do universo precisou morrer para aplacar a sua própria cólera.
O USO DA PSICOMETRIA PARA PESQUISAS, SEU USO PELOS ANTIGOS.
Diz o Prof. Denton, ao falar do futuro da psicometria: “A Astronomia não desdenhará do concurso desse poder. Assim como novas formas de seres orgânicos se revelam, quando remontamos aos primeiros períodos geológicos, novos agrupamentos de estrelas, novas constelações serão descobertas, quando os céus desses períodos primitivos forem examinados pela visão penetrante dos futuros psicrômetros. Um mapa acurado do firmamento durante o período siluriano pode revelar-nos muitos segredos que temos sido incapazes de descobri. (…) Por que não seríamos capazes de ler a história dos diversos corpos celestes (…) a sua história geológica, natural e, porventura, humana? (…) Tenho boas razões para crer que psicrômetros treinados serão capazes de viajar de planeta em planeta, e verificar minuciosamente a sua condição atual e a sua história passada.”
Heródoto conta-nos que na oitava das torres de Belo, na Babilônia, utilizada pelos sacerdotes astrólogos, havia uma câmara superior, um santuário, em que as sacerdotisas profetizantes dormiam para receber comunicações do deus. Ao lado do leito ficava uma mesa de ouro, sobre a qual se colocavam várias pedras, que Maneto nos informa terem sido todas aerólitos. As sacerdotisas desenvolviam a visão profética pressionando uma dessas pedras sagradas contra a cabeça e os seios. O mesmo ocorria em Tebas, e em Patara, na Lícia.
Isto parece indicar que a psicometria era conhecida e grandemente praticada pelos Antigos. Lemos em algum lugar que o profundo conhecimento que, segundo Draper, os Antigos Astrólogos Caldeus possuíam sobre os planetas e as suas relações, foi obtido mais pela adivinhação com o betylos, a pedra meteórica, do que pelos instrumentos astronômicos. Estrabão, Plínio e Helênico – todos falam do poder elétrico ou eletromagnético dos betyli. Eles eram reverenciados desde a mais remota Antigüidade no Egito e na Samotrácia, como pedras magnéticas “que continham almas que caíram do céu”; e os sacerdotes de Cibele usavam um pequeno betylos sobre seus corpos.
OS ELEMENTARES SEGUNDO OS FILÓSOFOS ANTIGOS.
Falando sobre os elementares, diz Porfírio: “Estes seres recebem honras dos homens como se fossem deuses (…) uma crença universal torna-os capazes de se tornar deveras malévolos: isto mostra que sua cólera se dirige contra aqueles que negligenciaram oferecer-lhes um culto legítimo”.
Homero descreve-os nos seguintes termos: “Nossos deuses nos aparecem quando lhes oferecemos sacrifício (…) sentando-se em nossas mesas, eles partilham de nossos repastos festivos. Sempre que encontram um solitário fenício em viagem, eles lhes servem como guias, e manifestam a sua presença de outras maneiras. Podemos dizer que nossa piedade nos aproxima deles, assim como o crime e o derramamento de sangue unem os ciclopes e a feroz raça de gigantes”. Isto prova que esses deuses eram afáveis e benéficos, e que fossem eles espíritos desencarnados ou seres elementares, não eram diabos.
A linguagem de Porfírio, que era um discípulo direto de Plotino, é ainda mais explícita no que toca à natureza desses espíritos. “Os demônios”, diz ele, “são invisíveis; mas eles sabem como vestir-se com formas e configurações sujeitas a numerosas variações, que podem ser explicadas pelo fato de que sua natureza tem muitos elementos corporais em si. Sua morada está nas cercanias da Terra (…) e, quando escapam à vigilância dos bons demônios, não há nenhuma maldade que não ousem cometer. Um dia eles empregarão a força bruta; no outro, a astúcia”. Mais adiante, ele comenta:: “Para eles é um jogo infantil excitar em nós as paixões desprezíveis, inculcar doutrinas turbulentas às sociedades e às nações, provocar guerras, sedições e outras calamidades públicas, e dizer-nos em seguida `que tudo isso é obra dos deuses’. (…) Esses espíritos passam o tempo enganando e iludindo os mortais, criando ilusões e prodígios ao seu redor; a sua maior ambição é fazer as vezes de deuses e almas [espíritos desencarnados]”.
Jâmblico, o grande teurgista da escola neoplatônica, um homem versado na Magia sagrada, ensina que “os bons demônios nos aparecem realmente, ao passo que os maus demônios se manifestam apenas sob as formas ilusórias de fantasmas”. Mais adiante, ele corrobora Porfírio, e afirma que “(…) os demônios bons não temem a luz, ao passo que os perversos necessitam das trevas. (…) As sensações que eles excitam em nós fazem-nos acreditar na presença e na realidade das coisas que eles mostram, embora estas coisas não
existam”.
Mesmo os teurgistas mais práticos encontraram, às vezes, algum perigo em suas relações com certos elementos, e Jâmblico afirma que “Os deuses, os anjos e os demônios, assim como as almas, podem ser convocados através da evocação e das preces. (…) Mas quando, durante as opressões teurgistas, um erro é cometido, cuidado! Não imagineis que estais em comunicação com divindades benéficas, que respondem à vossa fervorosa prece; não, pois eles são maus demônios, apenas sob a forma de bons! Pois os elementos freqüentemente se apresentam com a aparência de bons, e assumem uma posição muitíssimo superior àquela que realmente ocupam. Suas fanfarronices os traem”.
Isis Sem Véu – VOLUME II – CIÊNCIA II
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