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Paulo Jacobina do Pedra de Afiar
Capítulo do Banimento Ritualístico: Guia de Orientação Prática
Panorama Geral
O Ritual Menor do Pentagrama, ou RmP, foi desenvolvido, dentro da Golden Dawn, como prática ritualística individual visando estabelecer, para qualquer magista, as bases de um ritual, bem como os processos de purificação necessários para a sua jornada de subida na Árvore da Vida e, consequentemente, de se tornar verdadeiramente um Adeptus. A sua prática foi amplamente difundida no cenário ocultismo, principalmente, europeu, e algumas instituições passaram a fazer pequenas adaptações de acordo com as suas vertentes filosóficas. Nesta apostila, embora exista referência ao modelo da Golden Dawn, a execução do RmP segue o padrão utilizado na associação Pedra de Afiar.
Na própria Golden Dawn, o uso inicial do RmP está vinculado ao Banimento do elemento Terra e, posteriormente, a medida em que o iniciado da Ordem se desenvolve, outros banimentos passam a ser utilizados, seguindo a sequência do Ar, Água e Fogo, numa compreensão da própria instituição de um significado do tetragrammaton.
Apesar de poder ser utilizado para qualquer um dos quatro elementos e, até mesmo, na separação estabelecida, a partir do século XIX, entre banimento e invocação, toda a estrutura do ritual permanece, praticamente, inalterada. As únicas variações encontradas, que diferenciam, por exemplo, um RmP de banimento da Terra de um RmP de banimento da Água, encontra-se no tracejar do pentagrama, posto que eles seguem um padrão de acordo com a posição de cada elemento no pentagrama:
Ademais, o RmP também apresenta, pelo menos, outras duas características que o tornam essencial em qualquer prática magística: a sua simplicidade de execução; e o fato de estabelecer um processo de purificação “interna” do magista e, consequentemente, a sua proteção, conforme visto anteriormente nesta apostila. Contudo, apesar de sua praticidade, eficiência (condicionada a sua compreensão e aplicação do magista), por fazer uso de símbolos existentes dentro do que pode ser chamado de uma tradição “judaico-cristã”, o seu uso não é recomendado para praticantes de sistemas mágicos que não carregam essa influência simbólica. Esse alerta é importante em virtude do enfraquecimento dos símbolos de poder existentes no RmP pela falta de conexão com os aspectos internos do magista.
Preparação para o Ritual Menor do Pentagrama
Além das informações gerais já apresentadas ao longo desta apostila, há a indicação de que algumas sugestões que o magista deve seguir visando a realização do RmP e de qualquer outro ritual.
A) Posição:
Existem várias posições que um praticamente de magia pode adotar visando se preparar para a realização de um ritual. Dentre elas, duas podem ser destacadas e que melhor se encaixam na ritualística do RmP.
A primeira é a chamada “Posição Egípcia”. Nela, o magista deve estar sentado em um cadeira; colocando os pés firmes no chão; aos mãos espalmadas nas cochas ou joelhos; coluna ereta; cabeça reta; e olhos fechados. A “desvantagem” dessa posição para a prática do RmP consiste no fato de que o ritual deve ser executado em pé, então haverá um momento de transição entre essa posição e a postura a ser adotada para o ritual. Essa transição ocorrerá, seja pelo fato de o magista se levantar e caminha para o local no qual irá realizar o ritual, seja pelo fato de ele, após se levantar, ter de retirar a cadeira que fez uso, na hipótese de ela ter sido colocada no seu local de prática. Dependendo do nível de concentração do magista, esse fato não chega a ser um empecilho, embora ainda estabeleça uma etapa desnecessária ao ritual.
A segunda posição é a recomendada e utilizadas nas práticas dentro da associação Pedra de Afiar, a que chamamos de “Posição do Tao”. Nela, o praticante deve estar em pé; com os pés fixados no chão, focando no chamado ponto R1 (rim 1), que fica na direção do segundo dedo; os pés devem estar na direção dos ombros; joelhos levemente flexionados, a fim de eliminar a rigidez das pernas; coluna ereta; cabeça reta, com o queixo levemente para dentro; braços abertos em ângulo de 45º em relação ao tronco; antebraços curvados em direção ao corpo permitindo que as mãos espalmadas consigam ficar em frente ao baixo ventre; as mãos devem se encontrar espalmadas quase tocando o baixo ventre, como se segurasse uma pequena bolsa térmica junto ao corpo; a ponta da língua deve tocar levemente a junção dos incisivos centrais superiores, no ponto no qual tocam o céu da boca; lábios fechados, mas com um leve sorriso de canto de boca; olhos devem se encontrar fechados e a atenção no ponto entre as sobrancelhas.
B) Respiração:
Usando o diafragma para respirar, o magista deve realizar a “Respiração Rítmica”, que consiste em esvaziar os pulmões e reter o vazio contando até seis. Depois, suavemente, inspirar contanto até seis, de modo a sentir-se cheio de ar até a garganta. O terceiro passo da respiração consiste em reter o ar contando até seis, quando deve-se iniciar o processo de expiração, que também deve ser suave e acompanhar a contagem até seis. Finalizada a contagem da expiração o magista terá completado uma respiração rítmica.
Recomenda-se que esse processo de respiração dure de 2 a 3 minutos, mas pode ser reduzido a três repetições, a critério do magista. Destacando-se que a respiração deve ser realizada em conjunto com os outros itens do preparo do ritual.
C) Visualização:
Todo ritual necessita da utilização da visualização criativa e, portanto, recomenda-se que o seu preparo também envolva alguma técnica de visualização. Contudo, essa técnica pode variar de acordo com o intento do magista e, por isso, três opções são apresentadas. Destaca-se que elas não são necessariamente excludentes e, por esse motivo, elas serão descritas de acordo com a ordem na qual elas podem ser utilizadas.
A primeira consiste no esvaziamento da mente. Nela, o magista busca o silêncio do pensamento, deixando os pensamentos intrusivos de fora e trazendo o seu foco para o estado de preparação do ritual. Nessa técnica, o magista pode manter a sua atenção fixada em um ponto, como entre as sobrancelhas. A segunda consiste em visualizar a sua própria respiração, atribuindo a ela a cor que for a mais conveniente a sua prática. Assim, pode imaginar o ar dourado entrando pelas narinas, enchendo os pulmões e se espalhando para o restante do corpo. A terceira visualização está focada para um assunto específico. Nela, o magista deve visualizar a questão que o incomoda no momento ou a que ele quer tratar em seu ritual. Essa visualização não deve ser confundida com pensar no assunto, mas deve ser entendida em ver o assunto que procura tratar, como um tema de uma redação, por exemplo.
Executando do Ritual Menor do Pentagrama
A) A Cruz Cabalística:
Aqui adotamos o nome com a qual esta etapa ficou conhecida, posto que o simbolismo da cruz, tão presente na cultura cristã e, em algumas outras, não é encontrada da mesma maneira dentro da Cabala, ou, como alguns conhecem, a “cabala judaica”.
Colocando-se em pé, em direção do Leste, com a coluna ereta, pés plantados no chão na direção dos ombros; cabeça reta; braços levemente juntos ao tronco e antebraços ligeiramente abertos, com as mãos espalmadas para cima, estabelecendo uma linha horizontal imaginária que une as duas mãos passando pela região do umbigo. Essa é a posição de abertura do ritual.
Cabe destacar que a Golden Dawn fazia uso de uma adaga de aço ou de uma baqueta de cedro para a realização das suas práticas. Entretanto, recomendamos a utilização da própria mão do magista, destacando que todos os movimentos realizados na Cruz Cabalística devem ser suaves e acompanhados da sua visualização interna.
Concentrado na posição inicial, o magista deve erguer o braço direito acima da sua cabeça e, com a mão formando um pentagrama (polegar, indicador e médio juntos e retos, enquanto o anelar e o mínimo está dobrados tocando a palma da mão) iniciar um processo de descida vertical até a sua fronte, no qual a ponta do dedo indicador e do médico estarão na altura do ponto entre as sobrancelhas. A mão estará lateralmente em relação ao rosto, fazendo com que o lado do polegar se encontre próximo ao rosto e o do dedo mínimo distante. Durante o trajeto da mão, deverá se entoar de maneira prolongada o mantra אתה [ATAH (tu és)], de maneira a fazer com que o mantra só termine depois de a mão direita já se encontrar na posição diante da fronte. Outro aspecto de todos os mantras que serão entoados está no fato de que ele não deve ser interrompido, mas terminar juntamente com o ar dos pulmões.
Encerrado o primeiro mantra, o magista deve inspirar e, quando estiver com os pulmões cheios, iniciar o segundo movimento.
Usando o cotovelo direito como pivô, o magista deve descrever um arco de 180º com o antebraço, conduzindo a sua mão da fronte até a região dos seus órgãos sexuais. Durante o percurso e, da mesma maneira com que aconteceu com o primeiro mantra, ele deverá entoar o mantra מלכות [MALKUTH, pronuncia-se MAL-HOOT (o Reino)]. No trajeto feito pelo antebraço, o magista deve, suavemente, deslocar o polegar de maneira a colocá-lo entre o dedo indicador e o médio, terminando o trajeto com a mão “apontando” para baixo e “cobrindo” a genitália.
Encerrado o segundo mantra, o magista deve inspirar e, quando estiver com os pulmões cheios, iniciar o terceiro movimento.
Usando novamente o cotovelo direito como pivô, o magista deverá girar o antebraço de maneira a fazer com que ele suba pelo seu tronco e termine com a mão tocando o ombro direito. No início do movimento, o polegar deve sair da posição na qual estava e retornar a posição originária representando o pentagrama. Durante o percurso, da mesmas maneira com que aconteceu com os demais mantras, o magista deve entoar o mantra גבורה [VE-GEBURAH (o Poder)].
Encerrado o terceiro mantra, o magista deve inspirar e, quando estiver com os pulmões cheios, iniciar o quarto movimento.
No final do movimento anterior, a mão direita do magista está localizada no ombro direito. Agora, ele irá traçar uma reta horizontal com a mão, conduzindo-a até o ombro esquerdo. Durante o percurso, da mesmas maneira com que aconteceu com os demais mantras, o magista deve entoar o mantra חסד [VE-GEDULAH (a Glória)].
Encerrado o quarto mantra, o magista deve inspirar e, quando estiver com os pulmões cheios, iniciar o quinto movimento.
Com a mão tocando o ombro esquerdo, o magista irá girar o antebraço no sentido descendente e levá-lo à posição inicial de abertura do ritual. Em ato contínuo, isto é, sem interromper o movimento, assim que a mão direita alcançar o ponto da posição inicial, ela continuará a descrever um círculo em direção a altura do peito do magista, onde se encontrará com a mão esquerda que fez o movimento inverso, isto é, deixando a posição na qual esteve durante todo o processo da Cruz Cabalística, ela irá percorrer um círculo externo ao corpo até encontrar com a mão direita na altura do coração. Aos mãos devem se encontrar espalmadas. Durante o percurso, da mesmas maneira com que aconteceu com os demais mantras, o magista deve entoar o mantra ל-עולם אמן [LE-OLAM AMEN (para sempre, que assim seja)].
Encerrado o quinto mantra, o mago deve retornar a posição inicial.
B) Os Pentagramas
Durante toda a etapa da Cruz Cabalística, o magista permaneceu voltado para o Leste e é essa a sua direção inicial nesta etapa.
Mantendo a posição inicial do ritual, o magista, com sua mão direita em posição de pentagrama, deverá traçar, na sua frente, o pentagrama adequado ao RmP que está realizando (vide item 5.1 desta apostila), lembrando de visualizá-lo enquanto realiza o traçado. Terminando de traçar o pentagrama, o magista irá fazer o movimento com o braço direito de maneira a retornar a posição original do ritual e, ao alcançá-la, iniciar, de maneira similar com o que fez na parte final do quinto movimento da Cruz Cabalística, o movimento de junção das mãos. Porém, diferentemente do que fez antes, as mãos, aqui não irão se tocar, mas, quando estiverem quase na altura do peito, deverão mudar o seu movimento, como se o magista estivesse empurrando algo para frente. Este movimento deve ser acompanhado por um passo com o pé relacionado a narina que está, no momento do ritual, mais atuante na respiração do magista. Caso o magista não saiba qual das narinas está atuante, deverá fazer uso do pé direito. Durante o movimento para frente, no qual está assumindo a “Posição do Entrante”, o magista deve visualizar a energia que sai de seu coração sendo levada para o Leste, juntamente com o mantra que será entoado durante o movimento.
Enquanto faz o movimento para frente, o magista deve entoar o mantra יהוה (YOD-HE-VAV-HE) da mesma maneira com que entoou os demais mantras utilizados no ritual. Encerrado o mantra, o magista deve retornar a sua posição ereta, mas trazendo o indicador direito em sinal de silêncio até a sua boca e a mão esquerda espalmada na região do Plexo Solar. O sinal de silêncio deve ser feito com a parte do dedo indicador na qual estão as digitais do magista tocando os seus lábios, simbolizando o silêncio do seu ego, enquanto a mão direita visa proteger o seu plexo solar, o local da sua vitalidade, de quaisquer resquícios de impureza e desarmonia que, porventura, possam ainda se encontrar no ambiente.
Finalizado o retorno, o magista deve girar o seu corpo no sentido horário, de maneira a ficar diante do Sul e assumir a posição inicial do ritual.
Em direção ao Sul, o magista irá fazer exatamente os mesmos movimentos e visualizações que fez em direção ao Leste, com a diferença de que o mantra a ser entoado é o אדונאי [ADONAI (meu senhor)].
Finalizado o retorno, o magista deve girar o seu corpo no sentido horário, de maneira a ficar diante do Oeste e assumir a posição inicial do ritual.
Em direção ao Oeste, o magista irá fazer exatamente os mesmos movimentos e visualizações que fez nas outras direções, com a diferença de que o mantra a ser entoado é o אהיה [EHEIEH (serei)].
Finalizado o retorno, o magista deve girar o seu corpo no sentido horário, de maneira a ficar diante do Norte e assumir a posição inicial do ritual.
Em direção ao Norte, o magista irá fazer exatamente os mesmos movimentos e visualizações que fez nas outras direções, com a diferença de que o mantra a ser entoado é o אתה גיבור ל-עולם אדונאי [ATAH GIBOR LE-OLAM ADONAI (Tu és poderoso para sempre, meu Senhor ou Tu és poderoso para o mundo, meu senhor)].
Finalizado o retorno, o magista deve girar o seu corpo no sentido horário, de maneira a ficar diante do Leste e assumir a posição inicial do ritual.
C) Os Arcanjos
Em direção ao Leste, na posição inicial do ritual, o magista irá iniciar a etapa de ativação das frequências associadas às quatro energias arcangélicas que existem no próprio magista e que correspondem a quatro planetas. Para isso, ele irá falar uma posição e, logo em seguida, entoar o nome do arcanjo correspondente ao ponto cardeal. Durante o processo de mantrificação, o magista também deve visualizar, na referida direção, uma poderosa parede de fogo na cor correspondente ao Arcanjo. Assim, dirá:
“Diante de mim רפאל” [RAPHAEL, pronuncia-se RÊ-PHA-EL (a cura de Deus)], visualizando a cor dourada.
“Atrás de mim גבריאל” [GABRIEL, pronuncia-se GA-BRÍ-EL (herói divino ou homem de Deus)], visualizando a cor azul.
“A minha direita מיכאל” [MIKHAEL, pronuncia-se MI-HA-EL (quem é com Deus)], visualizando a cor vermelha.
“A minha esquerda אוריאל” [AURIEL, pronuncia-se U-HI-EL (chama de Deus)], visualizando a cor verde.
D) As Afirmações
Finalizada a etapa da ativação das energias arcangélicas no magista, ele deverá realizar algumas afirmações, que devem sempre ser acompanhadas pela respectiva visualização. Porém, antes de iniciar as afirmações, o magista deve se visualizar no ponto intermediário do caminho que une תפארת [Tipheret (Beleza)] à כתר [Kether (Coroa)] na Árvore da Vida.
Feita a visualização, e em direção ao Leste, na posição inicial do ritual, o magista deverá afirmar:
“Em volta de mim, flamejam os pentagramas” (visualizando os 4 pentagramas traçados e flamejando na cor de cada arcanjo;
“A minha frente, brilha a estrela de cinco pontas”.
“Atrás de mim, resplandece a estrela de seis pontas”.
E) Encerramento
Terminada a etapa das afirmações, o magista deve fazer, novamente, a etapa da “Cruz” Cabalística e, ao seu final, terá encerrado o Ritual Menor do Pentagrama.
Paulo Jacobina mantêm o canal Pedra de Afiar, voltado a filosofia e espiritualidade de uma forma prática e universal.
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