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Uma espécie de paráfrase luciferiana da obra homônima de Manly Palmer Hall
por Pharzhuph, Lucifer Luciferax XII
Manly Palmer Hall foi trazido à luz no dia 18 de março de 1901 em Peterbourough, no Canadá. Filho do odontologista rosacruz William S. Hall e da médica quiroprática Louise Hall. Em 1904 a família se mudou para os Estados Unidos e lá estabeleceu residência, porém os pais acabaram se divorciando em pouco tempo, a mãe foi para o Alasca e o pai retornou ao Canadá. Manly ficou então sob a tutela da avó materna, Florence Palmer, que praticamente o criou sozinha e não teve mais contato com o pai. Era uma criança de saúde bastante frágil e quase não tinha convívio com outras pessoas de sua idade. Esteve matriculado em poucas escolas regulares e teve pouco acesso aos sistemas de educação formais, entretanto era um indivíduo muito dedicado aos estudos solitários e lia de maneira voraz. Desde muito cedo demonstrou um interesse ímpar pela sabedoria das tradições antigas, filosofia clássica, religiões e ciências. Autodidata diligente e transdisciplinar, formulou um sistema filosófico pessoal e se tornou um célebre e renomado escritor, palestrante e ocultista.
Autor de mais de 150 livros e ensaios relacionados ao ocultismo, magia, maçonaria, hermetismo, cabala, filosofia e simbolismo. Faleceu em 29 de agosto de 1990, após uma carreira iniciática de mais de 70 anos.
Infelizmente a obra de Manly Palmer Hall é ainda um tanto desconhecida em terras brasileiras, dado o desinteresse do mercado editorial de língua lusitana, o que pode ser compensado por títulos publicados em espanhol por editoras sul americanas, tais como a argentina Kier, por exemplo, ou pela leitura de seus livros em seu idioma pátrio.
O presente ensaio foi construído utilizando por referência as obras Ensaios Sobre os Princípios Funda-mentais da Prática do Ocultismo e As Faculdades Superiores e Seu Cultivo; almeja transmitir ao leitor iniciante um pouco da natureza das questões que antecedem sua admissão nos mistérios e as estruturas basilares de sua formação fundamental.
Da Questão que Antecederia o Início
Uma das questões fundamentais ligadas ao início da jornada do indivíduo pela Via Sinistra é a falta de conteúdos referenciais básicos que possam suportar o tortuoso percurso de sua própria evolução. Vacilante, como a chama de uma vela ao vento, o indivíduo procura por algo que ainda não compreende, embora sinta uma ânsia profunda pela iluminação. Muitas vezes, cego pela luz acinzentada do engano, acaba por enveredar por caminhos insidiosos obscurecidos pelos espectros do parasitismo, da estagnação e da proposital e traiçoeira velhacaria humana.
Outra questão significativamente importante está relacionada aos esforços que o indivíduo deveria despender para desenvolver as potencialidades latentes em seu interior. Supostamente, uma série de indagações naturais surgiria sobre o que se fazer, quando e por quais meios.
As escolas tradicionais dos mistérios alegavam que o cerne de seus propósitos era verdadeiramente oculto e cabia somente ao Iniciado a compreensão e a revelação de tais mistérios. Aos neófitos cabia a árdua tarefa de empreender a caminhada pela laboriosa via dos mistérios nos quais almejava ser admitido. Os segredos das forças naturais deveriam ser revelados somente aos candidatos que atingissem um certo grau de êxito na consecução probatória de suas motivações ou de sua verdadeira origem essencial. Era mister que o neófito manifestasse e demonstrasse uma evolução prática e teórica acerca de variadas disciplinas e de sua verdadeira vontade.
Baseado na premissa anterior se delineiam alguns princípios fundamentais que certamente poderão auxiliar o indivíduo na via iniciática:
Educação
O candidato deve compreender o valor da educação. Todos os indivíduos são capazes de se desenvolver espiritualmente, porém o desconhecimento da arte e das ciências retarda gravemente o desenvolvimento espiritual. Manly Palmer Hall afirma que “aprender a estudar é um pré-requisito do estudo eficaz”, “antes de sermos capazes de pensar adequadamente é necessário treinar a mente na razão, na coerência e na lógica: pois aí está o fundamento do pensamento”.
Admite-se que as ciências convencionais são como um reflexo da sabedoria secreta, em alguns aspectos o reflexo pode ser considerado distorcido, mas é fundamental que o indivíduo se esforce para compreender como se dá essa relação. O candidato deveria se esforçar de maneira aplicada nas oportunidades em que pode aprender mais sobre matemática, física, química, astronomia, literatura, filosofia, música e demais manifestações culturais e artísticas; além daquelas meramente comuns.
Antes que o candidato aspire adentrar no Templo é preciso que ele prepare e apresente suas oferendas. A única oferenda possível é a de si mesmo e ela só poderá ser aceita se for útil para a difusão da sabedoria e no aprofundamento das raízes da tradição.
Continuidade
O candidato deve compreender a importância da continuidade.
“A maldição do mundo moderno está na incapacidade dos indivíduos em terminar aquilo que começam. Assim como a criança inicia muitas coisas que não completa, o homem de mente infantil vacila entre várias atividades. O fracasso em lograr algo é o resultado da dispersão da energia mental tratando de abranger áreas muito grandes”.
O treinamento místico cuidadoso e a prática regular de determinadas artes marciais podem conferir ao indivíduo as condições mínimas necessárias para que haja disciplina e continuidade até que seja capaz de alcançar determinado fim.
Estudar várias escolas e correntes mágicas e ocultistas é algo importante, porém o indivíduo precisa se desenvolver de maneira aprofundada em algumas poucas delas. O conhecimento amplo é elogiável, mas é preciso haver certa profundidade para que os princípios fundamentais sejam assimilados e literalmente transcendidos.
Responsabilidade e independência
O candidato deve reconhecer e conquistar elevado grau de respon-sabilidade e independência. Dificilmente o indivíduo será capaz de se sustentar ou manter sua estrutura familiar se houver dedicação exclusiva à via espiritual. O desenvolvimento da natureza espiritual está ligado à capacidade de lidar adequadamente com as tarefas cotidianas do mundo material e com a manutenção das necessidades vitais. Alguém precisa pagar pela comida, pelos serviços que não sabe ou consegue executar, é preciso ter um teto sobre as cabeças, etc. Sem a responsabilidade fundamental e a independência relativa conquistadas os fardos cairão aparentemente sobre outros ombros. Uma batalha verdadeira se luta com espada em punho e há derrama-mento de muito sangue e suor.
Motivações
O candidato deve conhecer a importância das motivações. As causas e os motivos signifi-cantes serão quase sempre voltados aos interesses do indivíduo, mesmo que pareçam ser altruístas. Manly Palmer Hall diz: “desejamos o poder para sermos reconhecidos como poderosos; aspiramos à sabedoria para que nos saúdem como sábios; buscamos a companhia de pessoas importantes na esperança de brilharmos um pouco com o reflexo de suas glórias; buscamos a virtude para que os demais nos reconheçam como piedosos”. Menciona ainda: “antes que o poder possa ser entregue sem perigo, o indivíduo deve sentir-se absolutamente indiferente ao dito poder”.
Uma análise das motivações nos conduz naturalmente à passagem do Livro da Lei, de Aleister Crowley: “pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é toda a via perfeita.” (AL I:44). Lembra-nos ainda dos próprios comentários de Mestre Therion sobre a referida passagem: “Desembaraçada significa ‘sem perder o fio por causa de’, ou ‘sem ser embotada por’. O estudante puro não pensa no resultado do exame”; “o ‘Adepto’, aproximando seu pensamento ainda mais do Êxtase, ri, tanto de alegria pura quanto porque acha graça na absurda incongruidade dos argumentos razoáveis dos quais ele é agora livre para sempre; expressa a sua ideia assim: o livre exercício de nossa faculdade é pura alegria; se eu sentisse necessidade de alcançar algum objetivo, isto resultaria na dor do desejar, na tensão do esforço, e no medo de fracassar”.
Fenomenalidade e psiquismo
O candidato deve se afastar de toda classe de fenomenalidade e psiquismo. A consequência ou o efeito de uma ação deveria ser medido com referência ao objetivo que se almeja. A presença do fenômeno e do psiquismo não é um indicador confiável de êxito, embora possa demonstrar algum grau de transmutação energética, deve haver uma avaliação em função do propósito.
Atualmente vê-se em profusão variados ensaios fotográficos de operações goéticas nos meios digitais de comunicação. Um furor excessivo de indivíduos que dizem ter capturado imagens de diversos espíritos durante suas operações. “Magos” profissionais vendendo cursos, apostilas e variados trabalhos de ordem goética, incitando pessoas comuns e leigas a praticarem tais ritos garantindo um espetáculo visual de resultados práticos sobre quaisquer problemas que o desavisado possa ter. Há até ordens goéticas “filantrópicas” sendo fundadas em terras brasileiras sobre quase nenhum fundamento, além da arrecadação de recursos financeiros e engrandecimento do ego de tais “mestres”.
Manly Palmer Hall observa a respeito da fenomenalidade: “o propósito fundamental do ocultismo não consiste em dotar o discípulo com os poderes para ver auras, elementais ou materializações mentais. Tampouco se interessa nos processos de empreender a comunicação entre falecidos e parentes aflitos em função do óbito e do luto”; “o verdadeiro desenvolvimento oculto é muito lento, quase imperceptível; as faculdades despertam de dentro para fora, como pétalas de uma flor que desabrocha. Acelerar tais processos naturais além de certa medida colocaria em risco a integridade e a saúde do candidato”.
Atitude mental construtiva
O candidato deve manter uma atitude mental construtiva e positiva. É normal que pessoas verdadeiramente inteligentes não estejam em conformidade com o universo que as rodeia ou com as condições existentes. Tais indivíduos procuram assimilar que normalmente há causas e efeitos e que é possível, através da observação e experimentação, causar mudanças em conformidade com a própria vontade. O candidato deveria inicialmente aceitar o que encontra tal como é; para a partir de seus próprios esforços buscar as maneiras para transformar aquilo que precisa ser transformado através dos métodos adequados aos propósitos.
Manter uma atitude mental sempre construtiva e positiva não implica necessariamente em franca insensatez. O indivíduo deveria manter um equilíbrio entre o realismo e o positivismo, tendendo mais ao que é positivo, sem exageros utópicos. É importante não se deixar levar pelo realismo exacerbado que pode fatalmente conduzir o indivíduo ao pessimismo e à sabotagem de sua própria inclinação iniciática.
Excerto de Lucifer Luciferax
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