Este texto foi lambido por 173 almas esse mês
ARTES OCULTAS PRATICADAS PELO CLERO, E AS CABEÇAS FALANTES.
Já foi muitas vezes atestado o fato de que o Papa Silvestre II foi acusado publicamente pelo Cardeal Benno de ser feiticeiro e encantador. A impudente “cabeça oracular” feita por sua Santidade era da mesma espécie daquela fabricada por Alberto Magno. Esta última foi reduzida a pedaços por Tomás de Aquino, não porque fosse obra de um “demônio” ou fosse habitada por ele, mas porque o espetro que estava fixado no seu interior, por poder mesmérico, falava incessantemente e a sua verborréia atrapalhava o eloqüente santo na resolução dos seus problemas matemáticos. Essas cabeças e outras estátuas falantes, troféus da habilidade mágica dos monges e dos bispos, eram fac-símele dos deuses “animados” dos templos antigos. A acusação contra o Papa foi validada naquela época. Demonstrou-se também que ele era constantemente servido por “demônios” ou espíritos. Benedito IX, João XX e os Gregórios VI e VII, todos conhecidos como mágicos. O último Papa, além disso, foi o famoso Hildebrando, de quem se dizia ser perito em “extrair relâmpagos das suas mangas”. Uma expressão que faz o Sr. Howitt, um venerado escritor espiritista, pensar que “aí está a origem do famoso trovão do Vaticano”.
“A Santa Inquisição”, está instituição imortal do Cristianismo não ficou sem o seu Dante que lhe cantasse uma louvação. “Macedo, um jesuíta português”, diz o autor de Demonologia, “descobriu a `origem da Inquisição’ no paraíso terrestre e se atreve a alegar que Deus foi o primeiro a exercer as funções de um inquisitor contra Caim e os operários de Babel!” (Encontramos algumas afirmações interessantes do Livro Conflict between Religion and Science do Prof. Draper. ã p. 246, ele diz: “As famílias dos condenados eram lançadas a uma ruína irrecuperável. Llorente, o historiador da Inquisição, salienta que Torquemada e os seus colaboradores, no curso de dezoito anos, queimaram no poste 10.220 pessoas, 6.860 em efígie e puniram 97.321! (…) Com repugnância e indignação indizíveis, ficamos sabendo que o governo papal ganhou muito dinheiro com a venda aos ricos de indugências que os livrassem da Inquisição”.)
Em lugar algum, durante a Idade Média, foram as artes da magia e da bruxaria mais praticadas pelo clero do que na Espanha e em Portugal. Os mouros eram profundamente versados em ciências ocultas e em Toledo, Servilha e Salamanca estiveram, numa escola de Magia. Os cabalistas desta última cidade eram hábeis em todas as ciências abstrusas; conheciam as virtudes das pedras preciosas e de outros minerais e extraíam da Alquimia os seus mais profundos segredos.
CONSIDERAÇÕES SOBRE DIABOS, ARTIGOS DE FÉ E A BÍBLIA.
Já mencionamos a confissão de um eminente prelado a respeito de que a eliminação de Satã da Teologia seria fatal para a perpetuidade da Igreja. Mais isto só é parcialmente verdadeiro. O Príncipe do Pecado não mais existiria, mas o pecado sobreviveria se o Diabo fosse aniquilado, os Artigos de fé e a Bíblia continuariam a existir. Em suma, haveria ainda uma revelação pretensamente divina e a necessidade de intérpretes que se dizem inspirados. Devemos, portanto, considerar a autenticidade da Bíblia em si mesma. Devemos, estudar as sua páginas e ver se elas, na verdade, contêm os mandamentos da Divindade ou se são apenas um compêndio de tradições antigas e de mitos antiquados. Devemos tentar interpretá-las por nós mesmos – se possível. Quanto aos pretensos intérpretes, a única assimilação possível que podemos encontrar para eles na Bíblia é compará-los ao homem descrito pelo sábio rei Salomão nos seus Provérbios, ao perpetrador dessas “seis coisas (…) ou sete (…) que o Senhor odeia” e que são uma abominação para Ele, a saber: “um olhar altivo, uma língua mentirosa e mãos que derramam sangue inocente; um coração que maquina malvadíssimos projetos, pés prontos para correr ao mal; uma testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia discórdias entre seus irmãos”.
“Quando os demônios”, diz Agostinho, “se insinuam nas criaturas, começam por se conformar à vontade de cada um. (…) A fim de atrair os homens, começam por seduzi-los, simulando obediência. (…) Como se poderia saber, sem instrução dos próprios demônios, do que eles gostam e o que eles odeiam; o nome que atrai, ou aquele que os força a obedecer, toda essa arte, em suma, da magia, a síntese da ciência
dos mágicos?”
A esta impressionante dissertação do “Santo”, acrescentamos que nenhum mágico jamais negou que tivesse aprendido a arte por intermédio dos “espíritos”, quer estes tivessem agido sobre ele, um médium, independentemente da sua vontade, ou tivesse sido ele iniciado na ciência da “evocação’ por seus ancestrais que a conheceram antes dele. Mas quem ensinou o exorcista, o padre que se reveste de uma autoridade não só sobre o mágico, mas também sobre todos esses “espíritos”, aos quais denomina demônios e diabos desde o momento em que eles obedecem apenas a ele? Ele deve ter aprendido em algum lugar e com alguém a manejar o poder que ele pretende possuir. Pois, pergunta Agostinho, “(…) como se poderia saber, sem instrução dos próprios demônios (…) o nome que atrai, ou o que os força a obedecer?”
É inútil observar que conhecemos de antemão a resposta: “A Revelação (…) do dom divino (…) O Filho de Deus; não, o próprio Deus, por intermédio do Seu Espírito, que desceu sobre os apóstolos como o fogo pentecostal e que agora se diz obscurecer todo padre que pretende exorcizar por glória ou por dom.
AS FILOSOFIAS COMPARADAS.
Nunca houve nem haverá uma filosofia verdadeira – pagã, gentia, judaica ou cristã – que tenha seguido a mesma linha de pensamento. Gautama Buddha reflete-se nos preceitos de Cristo; Paulo e Fílon, o Judeu, são ecos fieis de Platão; e Amônio Saccas e Plotino conseguiram a sua glória imortal combinando os ensinamentos de todos os grandes mestres da verdadeira filosofia. “Provei todas as coisas; prendei-vos ao que é bom” – parece ser a divida de todos os irmãos do mundo. Menos para os intérpretes da Bíblia. A semente de Reforma foi plantada no dia em que o segundo capítulo da Epístola Católica de São Tiago entrou em conflito com o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, no mesmo Novo Testamento.(Dá-se o testemunho da Fé.) Quem acredita em Paulo não pode acreditar em Tiago, Pedro e João. (Do livro A Sabedoria Tradicional de H.P.B. pg. 192. HPB cita o seguinte: “Fé na Autoridade, e Fé na Intuição; a primeira é credulidade e superstição humanas, e a outra Crença e Intuição humanas. A Fé na autoridade, é baseada simplesmente em fontes humanas, ao passo que na Intuição ela têm como base à lógica e razão rigorosas, ou seja, à Fé do referido Apostolo.) Para serem cristãos como seu apóstolo, é preciso que os paulinos combatam Pedro “face a face”; e, se Pedro “deve ser censurado” e se estava errado, então ele não era infalível. Como pode então o seu sucessor (?) se orgulhar da sua infalibilidade? Todo reino dividido contra si mesmo está certo da ruína; e toda casa dividida contra si mesma com certeza ruirá. Uma pluralidade de mestres é tão fatal em religião, quanto em política. O que Paulo pregou foi pregado por qualquer outro filósofo místico. “Mantende-vos firmes na liberdade em que Cristo vos fez livres e não vos sujeiteis novamente ao jugo da servidão! – exclama o honesto filósofo-apóstolo; e acrescenta, profeticamente inspirado: “Mas, se vos morderdes e vos devorardes uns aos outros, cuidado para que não sejais destruídos uns pelos outros”.(Gálatas, V, 1,15.).
A TRADIÇÃO DO RITUAL CABALÍSTICO, COMPARADO AO CATÓLICO ROMANO.
Eis a tradução do Ritual cabalístico e daquilo que se conhece geralmente como Ritual romano. Este último foi promulgado em 1851 e 1852, sob a sanção do Cardeal Engelbert, Arcebispo de Malines, e do Arcebispo de Pais. Falando sobre ele, o demonólogo des Mousseaux afirma: “É o ritual de Paulo V, revisto pelo mais erudito dos papas modernos, Benedito XIV, contemporâneo de Voltaire”.
CABALÍSTICO (judaico e pagão)Exorcismo do Sal O Padre-Mágico abençoa o Sal e diz: “Criatura de Sal, que a SABEDORIA [de Deus] esteja em ti; que ela preserve de toda corrupção as nossas mente e os nossos corpos. Por Hokhmael, [Deus da sabedoria] e pelo poder de Ruah Hokhmael [Espírito do Espírito Santo] que os Espíritos da matéria (espíritos maus) fujam diante dele. (…) Amém.” Exorcismo da Água (e das Cinzas) Exorcismo de um Espírito Elemental “Anjo da escuridão, obedece e foge com esta água santa [exorcizada]. Águia em cadeias obedece a esse sinal, e retira-te diante do sopro. Serpente móvel, arrasta-te a meus pés, ou sê torturada por este fogo sagrado e evapora-te diante desse incenso santo. Que a água volte à água [o espírito elemental da água]; que o fogo queime e o ar circule; que a terra volte à terra em virtude do Pentagrama, que é a Estrela da Manhã, e em nome do Tetragrammaton que é traçado no centro da Cruz de Luz. Amém.” |
CATÓLICO ROMANO Exorcismo do Sal O Padre abençoa o Sal e diz: “Criatua de Sal, eu te exorcizo em nome do Deus vivo (…) sê a saúde da alma e do corpo! Por toda parte onde fores lançados, que o espírito impuro seja posto em fuga. (…) Amém”. Exorcismo da Água Exorcismo do Diabo |
O SINAL DA CRUZ, NOS RITOS SAGRADOS.
Seria realmente muito doloroso tirar de Roma, de uma única vez, todos os seus símbolos; mas é preciso fazer justiça aos hierofantes despojados. Muito tempo antes que o sinal da Cruz fosse adotado como símbolo cristão, ele era empregado como um sinal secreto de reconhecimento pelos neófitos e pelos adeptos. Diz Lévi (Éliphas Lévi): “O sinal da Cruz adotado pelos cristãos não pertence exclusivamente a eles. Ele é cabalístico e representa as oposições e o equilíbrio quaternário dos elementos. Constatamos, na estrofe oculta do Pater, que havia originalmente duas maneiras de fazê-lo, ou pelo menos duas formulas muito diferente de expressar o seu significado – uma reservada aos padres e aos iniciados; e outra, comunicada aos neófitos e aos profanos. Assim, por exemplo, o iniciado, levando a mão à fronte, diz: A Ti; então ele acrescentava pertencem; e continuava, enquanto levava a mão ao peito – o reino; ao ombro direito – e o perdão. Então ele juntava as mãos, acrescentando: através dos ciclos geradores: `Tibi sunt Malkhuth, et Geburah et Hesed, per Aeonas’ – um sinal da Cruz total e magnificamente cabalístico, que as profanações do gnosticismo fizeram a Igreja militante e oficial perder completamente”.
O APÓSTOLO PAULO, PERTENCIA AO “CIRCULO” DOS INICIADOS.
O Apóstolo dos Gentios era corajoso, franco sincero e muito culto; o Apóstolo da Circuncisão era covarde, cauteloso, insincero e muito ignorante. Não há nenhuma dúvida de que Paulo foi, parcialmente pelo menos, se não totalmente, iniciado nos mistérios teúrgicos. A sua linguagem, a fraseologia tão peculiar aos filósofos gregos, certas expressões usadas pelos iniciados são muitos sinais audíveis para essa suposição. Nossa suspeita foi reforçada por um artigo muito bem escrito, publicado em jornais nova-iorquinos, intitulado Paul and Plato, em que seu autor emite uma observação notável e, para nós muito precisa. Nas suas Epístolas aos Coríntios, ele nos mostra um Paulo abundante em “expressões sugeridas pelas iniciações de Sabazius e Elêusis e pelas leituras dos filósofos [gregos]. Ele [Paulo] se diz um idiôtes – uma pessoa ignorante no que concerne à Palavra, mas não à gnosis ou conhecimento filosófico. `Dizemos sabedoria entre os prefeitos ou iniciados’ – escreve ele – `não a sabedoria divina num mistério, secreta – que nenhum dos arcontes deste mundo conheceu'”. (I Coríntios,II,6,7,8.)
O que mais quer o apóstolo dizer com estas palavras inequívocas, senão que ele próprio, que fazia parte dos mystae (iniciados), falava de coisas expostas e explicadas apenas nos mistérios? A “sabedoria divina num mistério que nenhum dos arcontes deste mundo conheceu” faz evidentemente alguma referência direta ao basileus da iniciação eleusiniana que ele conhecia. O basileus pertencia à comitiva do grande hierofante e era um arconte de Atenas; e, assim, era um dos principais mystae, pertencente aos mistérios interiores, aos quais apenas um número muito seleto e pequeno tinha acesso. Os magistrados que supervisionavam os eleusinos eram chamados arcontes.
Uma outra prova de que Paulo pertencia ao círculo dos “iniciados” repousa no seguinte fato. Sua cabeça foi tosquiada em Anchrea (onde Lúcio Apuleio foi iniciado) porque “ele tinha um voto”. Os nazars – ou os postos à parte -, como vemos nas Escrituras judaicas, tinham de cortar seus cabelos, que usavam longos, e que “nenhuma navalha tocou” em tempo algum, e sacrificá-los no altar da iniciação. E os nazars eram uma classe de teurgos caldeus. Veremos depois que Jesus pertenceu a essa classe.
Paulo declara que “De acordo com a graça de Deus que me foi dada, como sábio arquiteto lancei o fundamento”.
Esta expressão, arquiteto, usada apenas uma vez em toda a Bíblia, e justamente por Paulo, pode ser considerada como uma verdadeira revelação. Nos mistérios, a terceira parte dos ritos era chamada Epopteia, ou revelação, recepção dos segredos. Em substância, ela significa aquele estágio de clarividência divina em que tudo o que pertence a esta Terra desaparece e a visão terrena é paralisada e a alma pura e livre une-se ao seu Espírito, ou Deus. Mas a significação real da palavra é “vigilante”, de eu me vejo. Em sânscrito, a palavra avâpta tem o mesmo significado, e também o de obter. A palavra epopteia é um composto, de sobre e de, ver, ou ser um vigilante, um inspetor – também utilizada para um arquiteto. O título de mestre-pedreiro, na Franco-maçonaria, deriva daí, no sentido que ele tinha nos mistérios. Em conseqüência, quando Paulo se diz ser um “arquiteto”, ele está usando uma palavra eminentemente cabalística e maçônica, e que nenhum dos outros apóstolos utiliza. Assim, ele se declara um adepto, que tem o direito de iniciar outros.
Se pesquisarmos nessa direção, como esses guias seguros, os mistérios gregos e a Cabala, diante de nós, será fácil encontrar a razão secreta pela qual Paulo foi tão perseguido e odiado por Pedro, João e Tiago. O autor da Revelação era um cabalista judeu pur sang, com toda a aversão aos mistérios herdada por ele de seus ancestrais. (Não é necessário afirmar que o Evangelho segundo São João não foi escrito por João, mas por um platônico ou gnóstico pertencente à escola neoplatônica.) O ciúme que sentia durante a vida de Jesus estendeu-se a Pedro; e foi só depois da morte do seu Mestre comum que vemos os dois apóstolos – dos quais o primeiro vestiu a Mitra e o Petalon dos rabinos judaicos – pregar com tanto zelo o rito da circuncisão. Aos olhos de Pedro, Paulo, que o humilhara, e ao qual considerava ser superior a ele em “conhecimentos gregos” e Filosofia, devia parecer naturalmente um mágico, um homem poluído com a “Gnoses”, com a “sabedoria” dos mistérios gregos – e, talvez, “Simão, o Mago”. (O fato de Pedro ter perseguido o “Apóstolo dos Gentios”, com esse nome, não implica necessariamente que não existisse um Simão, o Mago, individualmente distinto de Paulo. Ele deve ter-se tornado um nome genérico de ofensa. Theodoret e Crissóstomo, os primeiros e mais prolíficos comentadores do gnosticismo daquela época, parecem fazer de Simão um rival de Paulo e afirmam que eles trocaram muitas mensagens entre si. O primeiro, um diligente propagandista daquilo que Paulo chama de “antítese da Gnose” (I Timóteo, VI,20), deve ter sido um espinho doloroso nas costelas do apóstolo. Há provas suficientes da existência real de um Simão, o Mago.)
Quanto a Pedro, a crítica bíblica já mostrou que ele talvez não tivesse nada a ver com a fundação da Igreja latina em Roma, senão fornecer o pretexto de que o astucioso Irineu se aproveitou para fazer beneficiar essa Igreja com o novo nome do apóstolo – Petros ou Kêphas, um nome que se prestava tão bem, com um jogo de palavra, para ser associado ao de Petroma, o duplo jogo de tabletes de pedra usados pelo Hierofante nas iniciações durante o mistério final. Nisso, talvez, repouse escondido todo o segredo das pretensões do Vaticano. Como o Prof. Wilder tão bem sugere: “Nos países orientais, a designação Pether, [em fenício e em caldaico, um intérprete] parece ter sido o título desse personagem [o Hierofante]. (…) Há nesses fatos uma reminiscência das circunstâncias peculiares da lei mosaica (…) assim como a pretensão do Papa de ser o sucessor de Pedro, o Hierofante ou intérprete da religião cristã”.
Uma inscrição encontrada no túmulo da Rainha Menthu-hetep, da 11ª dinastia (2.782 a.C.), que se reconheceu ter sido transcrita do sétimo capítulo do Livro dos mortos (que data de pelo menos 4.500 a.C.), é mais do que sugestiva. Esse texto monumental contém um grupo de hieróglifos que, interpretados, se lêem:
PTR. RF. SU.
Peter – ref – su.
A palavra, PTR, foi interpretada, parcialmente devido a uma outra palavra escrita num outro grupo de hieróglifos, sobre uma estrela, sob a forma de um olho aberto. Bunsen menciona ainda outra explicação de PTR – “mostrar”. “Parece-me” – observa ele – “que nosso PTR é literalmente a forma `Patar’ do velho aramaico e do hebraico, que ocorre na história de José como a palavra específica para interpretação; donde
Pitrun deva ser o termo para interpretação de um texto, de um sonho”. Num manuscrito do século I, uma combinação de textos demóticos e gregos, provavelmente um dos poucos que escaparam miraculosamente ao vandalismo cristão dos séculos II e III, quando todos esses manuscritos preciosos foram queimados sob acusação de Magia, encontramos diversas vezes repetidas uma frase que, talvez, possa lançar luzes sobre essa questão. Com relação a um dos heróis principais do manuscrito, constantemente referido como “o Iluminador Judeus” ou Iniciado, acredita-se que ele só se comunique com o seu Patar; esta palavra está escrita em caracteres caldaicos, e é associada, uma vez com o nome Shimeon. Muitas vezes, o “Iluminador”, que raramente interrompe sua solidão contemplativa, nos é mostrado habitando uma caverna e ensinando, não oralmente, mas por intermédio do Patar, as multidões de discípulos ávidos de aprender que se postavam do lado de fora. O Patar recebe as palavras de sabedoria aplicando o ouvido a um buraco circular escavado num tabique que ocupa o instrutor dos seus ouvintes e as transmite à multidão, com explicações e comentários. Este era, com pequenas modificações, o método utilizado por Pitágoras, que, como sabemos, nunca permitiu que os seus neófitos o vissem durante os anos de provação, mas os instruída postado atrás de uma cortina que fechava a entrada da sua caverna.
Mas, fosse o “iluminador” do manuscrito grego-demótico idêntico a Jesus ou não, continua válido o fato de que o vemos servir-se de um termo usado nos “mistérios” para designar aquele que mais tarde a Igreja católica elevará à categoria de porteiro do Reino do Céu e de intérprete da vontade de Cristo. A palavra Patar ou Peteer coloca ambos, mestre e discípulo, no círculo da iniciação e em relação com a “Doutrina Secreta”. O grande Hierofante dos antigos mistérios nunca permitiu que os candidatos o vissem ou ouvissem pessoalmente. Ele era o deus ex machina, a Divindade invisível que preside, transmitindo sua vontade e suas instruções por meio de um intermediário; e, 2.000 anos depois, descobrimos que os Taley-Lamas do Tibete seguiram por séculos o mesmo programa tradicional durante os mistérios religiosos mais importantes do Lamaísmo. Se Jesus conheceu o significado secreto do título que ele atribuiu a Simão, então ele era um iniciado; de outra maneira, ele não o teria conhecido; e se ele era um iniciado dos essênios pitagóricos, dos magos caldaicos ou dos padres egípcios, então a doutrina ensinada por ele era apenas uma porção da “Doutrina Secreta” ensinada pelos hierofantes pagãos aos poucos adeptos selecionados admitidos aos áditos sagrados.
OS RITOS E VESTIMENTAS CERIMONIAIS.
Por ora indicaremos sumariamente a extraordinária similaridade – ou antes identidade, deveríamos dizer – de ritos e de vestimenta cerimonial do clero cristão com os dos babilônios, dos assírios, dos fenícios, dos egípcios e de outros pagãos da Antigüidade.
Se quisermos descobrir o modelo da tiara papal, devemos procurar os anais das lâminas assírias antigas. Convidamos o leitor a prestar a sua atenção à obra ilustrada do Dr. Inman, Ancient Pagan and Modern Christian Symobolism. Na p.64, reconhecerá prontamente a cobertura da cabeça de São Pedro no turbante usado pelos deuses ou anjos na antiga Assíria, “onde ela figura coroada por um emblema da trindade masculina” (a cruz cristã). “Podemos mencionar, de passagem”, acrescenta o Dr. Inman, que, da mesma maneira que os católicos romanos adotaram a mitra e a tiara da `raça maldita de Ham’, também adotaram o cajado episcopal dos áugures da Etrúria e a forma artística que emprestam aos seus anjos foi tomada aos pintores e aos fabricantes de urnas da Magna Grécia e da Itália Central”.
“Imaculada é Nossa Senhora Ísis”, é a legenda inscrita numa gravura de Serapis e Ísis, descrita por King, em The Gnostics and their Remains, `Imaculada é Nossa Senhora Ísis’, termos idênticos que foram aplicados posteriormente à personagem que se lhe seguiu em forma, títulos, símbolos, ritos e cerimônias (…) Assim, seus devotos transferiram ao novo sacerdócio as antigas insígnias da sua profissão, a obrigação do celibato, a tonsura e a sobrepeliz, omitindo, infelizmente, as abluções freqüentes prescritas pelo antigo credo”.
Diante do santuário de Júpiter Ammon estavam suspensos sinos tilintantes, e era ao som dessas campainhas que os padres recebiam os seus augúrios; “um sino dourado e uma romã (…) ao redor da fímbria do manto”, foi o resultado obtido entre os judeus mosaicos. Mas no sistema budista, durante os serviços religiosos, os deuses do Deva-Loka são sempre invocados e convidados a descer sobre os altares por meio de soar dos sinos suspensos nos pagodes. O sino da mesa sagrada de Shiva, em Kuhama, está descrito em Kailâsa e todo vihâra ou Lamaseria budista tem os seus sinos.
Vemos, assim, que os sinos usados pelos cristãos provêm diretamente dos tibetanos budista e dos chineses. As contas e os rosários têm a mesma origem e foram usados pelos monges budistas por cerca de 2.300 anos. Os lingas dos tempos hindus são decorados em certas datas com grandes bagas provenientes de uma árvore consagrada a Mahâ-Deva e enfiadas em forma de rosário. O título de “monja” [nun, em inglês – N.T.] é uma palavra egípcia e tinha para os egípcios o mesmo significado atual; os cristãos nem se deram ao trabalho de traduzir a palavra Nonna. A auréola dos santos foi usada pelos artistas antediluvianos da Babilônia toda vez que desejavam honrar ou deificar a cabeça de um mortal.
AS VIRTUDES DO DIVINO MANU. A GRADUAÇÃO DOS MISTÉRIOS.
“Ninguém que não tenha praticado, durante toda a sua vida, 10 virtudes que o divino Manu exige como um dever, pode ser iniciado nos mistérios do concílio”, dizem os livros hindus de iniciação. Essas virtudes são: “a resignação; o hábito de fazer o bem em vez do mal: a temperança; a probidade pureza; a castidade; o domínio dos sentidos físicos; o conhecimento das Escrituras Sagradas; o da alma [espírito] Superior; a veracidade; a paciência”. Só essas virtudes devem dirigir a vida de um verdadeiro iogue. “Nenhum adepto indigno deverá sujar com a sua presença as fileiras de iniciados santos durante 24 horas”. O adepto é tido como acusado, se violar qualquer um desses votos. Certamente a prática dessas virtudes é incompatível com a noção de uma adoração do diabo ou de uma vida de lascívia!
Quando homens como Pitágoras, Platão e Jâmblico, famosos por sua moralidade serena, tomavam parte nos mistérios e falavam dele como veneração, não convém aos nossos críticos modernos julgá-los tão precipitadamente tendo como base apenas o seu aspeto externo. Jâmblico fornece as descrições dos mais audaciosos; e a sua explicação, vinda de uma mente sem preconceito, deveria parecer perfeitamente plausível. “Exibições desse tipo”, diz ele, “nos mistérios, pretendiam livrar-nos das paixões licenciosas, satisfazendo-nos a visão e ao mesmo tempo eliminando todo pensamento mau, por meio da santidade terrível que acompanhava esses ritos”. “Os homens mais sábios e melhores do mundo pagão”, acrescenta o Dr. Warburton, “são unânimes em dizer que os mistérios foram instituídos puros e se propunham aos fins mais nobres pelos meios mais louváveis”.
Embora pessoas de ambos os sexos e de todas as classes pudessem participar desses ritos célebres, e mesmo que uma certa participação fosse obrigatória, pouco numerosos eram aqueles que atingiam a iniciação final e mais elevada. A gradação dos mistérios foi-nos dada por Proclo, no quarto livro da sua Teologia de Platão. “O rito perfectivo [teletê] precede a iniciação, o apocalipse final, epopteia.” Teon de Esmirna, na sua Matemática, também divide os ritos dos mistérios em cinco partes: “a primeira consiste na purificação prévia, pois os mistérios não são transmitidos a todos que os querem receber; mas há algumas pessoas que são impedidas pela voz do arauto (…) pois é necessário que aqueles que não desejam ser excluídos dos mistérios, sejam primeiramente, aprimorados por certas purificações às quais se seguem os ritos sagrados: mas a recepção dos ritos sagrados sucede à purificação. A terceira parte é denominada epopteia, ou recepção. E a quarta, que é o fim e o objetivo da revelação, consiste em enfaixar a cabeça e cingi-la com as coroas (…) após o que ele [o iniciado] se torna um portador do archote, ou um Hierofante dos mistérios, ou exerça outra função qualquer no ofício sacerdotal. Mas a quinta, que é o resultado de todas as anteriores, é a amizade e a comunhão interior com Deus (…). E este era o último e o mais solene dos mistérios.
Houve escritores que perguntaram freqüentemente qual seria o significado desta pretensão de “amizade e comunhão interior com Deus”. Autores cristãos negaram as pretensões dos “pagãos” em relação a essa “comunhão”, afirmando que só os santos cristãos foram e eram capazes de desfrutá-la; cépticos materialistas escarneceram das idéias de ambos. Após longos séculos de materialismo religioso e de estagnação espiritual, ficou bastante difícil, se não impossível, estabelecer com clareza as pretensões de cada parte. Os gregos antigos, que uma vez acorreram em multidões ao Agora de Atenas, com o seu altar ao “Deus Desconhecido”, não mais existem; e os seus descendentes acreditam firmemente que encontraram o “Desconhecido” no Jeová dos judeus. Os êxtases divinos dos cristãos primitivos deram lugar a visões de caráter mais moderno, em relação perfeita com o progresso e a civilização. O “Filho do Homem” que aparecia nos êxtases embevecidos dos primeiros cristãos, vindo do sétimo céu, numa nuvem de glória e cercado de anjos e serafins alados, cedeu lugar a um Jesus mais prosaico e ao mesmo tempo mais comercial. Este nos é mostrado agora fazendo uma visita matinal a Maria e Marta na Betânia; sentando-se na “otomana” com sua irmã caçula, admiradora da “ética”, enquanto Marta passa o tempo na cozinha preparando a refeição. E logo a imaginação febril de um pregador blasfemo e arlequim do Brooklin, o Rev. Dr. Talmage, no-la representa atarefada, “suor na fronte, o jarro numa mão e pinças na outra (…) na presença de Cristo”, repreendendo-o vivamente por permitir que sua irmã `fizesse sozinha’ todo o serviço”.
Desde o nascimento da concepção solene e majestosa da Divindade não-revelada dos antigos adeptos até essas descrições caricaturais daquele que morreu na Cruz por sua devoção filantrópica para com a Humanidade, muitos séculos se passaram e parece que o seu peso apagou, quase completamente, todo sentido de uma religião espiritual dos corações de seus seguidores confessos. Não espantam então, que a frase de Proclo não seja mais compreendida pelos cristãos e seja rejeitada como um “capricho” pelos materialistas, que, em sua negação, são menos blasfemos e ateus do que muitos dos reverendos e membros das igrejas.
A DOUTRINA HINDU DOS PITRIS.
No livro I do Gênese hindu, o Livro da Criação de Manu, os pitris são chamados de ancestrais lunares da raça humana. Eles pertencem a uma raça de seres diferentes da nossa e eles não podem ser chamados propriamente de “espíritos humanos” no sentido em que os espiritualistas usam esse termo. Eis o que se diz deles:
“Eles [os deuses] criaram então os Yakshas, os Râkchasas, os Pisâchas (Pisâchas, demônios da raça dos gnomos, dos gigantes e dos vampiros.), Gandharvas (Gandharvas, demônios bons, serafins celestiais, cantores.), as Apsarasas, e os Asuras, os Nâgas (Os Asuras e os Nâgas são os espíritos titânicos e o dragão ou espírito com cabeça de serpente.) os Sarpas e os Suparnas e os Pitris – ancestrais lunares da raça humana” (Ver Institutes of Manu, livro I, sloka 37, onde os pitris são chamados de “progenitores da Humanidade”).
Os pitris são uma raça de espíritos distintos que pertencem à hierarquia mitológica, ou antes à nomenclatura cabalística, e devem ser incluídos entre os gênios bons, os daemons dos gregos, ou os deuses inferiores do mundo invisível; e, quando um faquir atribui os seus fenômenos aos pitris, ele só quer dizer aquilo que os antigos filósofos e teúrgicos pretendiam, quando afirmavam que todos os “milagres” eram obtidos com a intervenção dos deuses, ou dos daemons bons e maus, que controlam os poderes da Natureza, os elementais, que são subordinados ao poder daquele “que sabe”. Um faquir chamaria uma aparição ou um fantasma humano de palît, e um espírito feminino de pichalpâî, não de pitri. É verdade que pitarah significa (no plural) pais, ancestrais; e piratâî é um parente; mas essas palavras são usadas com um sentido bastante diferente do que o dos pitris invocados nos mantrans.
Afirmar, diante de um brâmane devoto ou de um faquir. que qualquer pessoa pode conversar com os espíritos dos mortos seria chocá-lo e isso lhe pareceria uma blasfêmia. A última estrofe do Bhâgavata-Purâna não diz que essa felicidade suprema só está reservada aos santos sanyâsins, aos gurus e aos iogues?
Muito tempo antes de serem desembaraçadas de seus envoltórios mortais, as almas que só praticaram o bem, como as dos sannyâsins e dos vanaprasthas, adquirem a faculdade de conversar com as almas que as precederam no svarga.” (Mansão Celestial, paraíso.).
Nesse caso, os pitris, em vez de gênios, são os espíritos, ou antes, as almas dos desencarnados. Mas eles se comunicarão livremente apenas com aqueles cuja atmosfera for pura como as suas e a cujas kalâsas (invocações) poderosas eles podem responder sem riso de colocar em perigo a sua pureza celestial. Quando a alma do invocador alcançou o sâyujya, ou identidade perfeita de essências com a Alma Universal, quando a matéria é finalmente conquistada, então o adepto pode entrar livremente na comunhão de todos os dias e de todas as horas com aqueles que, embora aliviados de suas formas corpóreas, ainda estão progredindo por meio de uma série infindável de transformações inerentes na aproximação gradual do Paramâtman, ou a grande Alma Universal.
COMUNHÃO BRAMÂNICA DOS EGÍPCIOS. DESCIDA DA ALMA PARA A GERAÇÃO.
Mesmos o episódio da Matrona Baubo – cujo modo excêntrico de consolação foi imortalizado nos mistérios menores – é explicado de uma maneira muito natural pelos mistagogos imparciais. Ceres-Deméter e as sua peregrinações terrestres à procura de sua filha são as representações evemerizadas de um dos assuntos mais metafísicos-psicológicos jamais tratados pela mente humana. É uma máscara para a narrativa transcendente dos videntes iniciados; a visão celestial da alma liberada do novo iniciado descrevendo o processo pelo qual a alma que ainda não encarnou desce pela primeira vez à matéria. “Bem-aventurado aquele que viu essas coisas comuns do mundo inferior; ele conhece tanto o fim da vida quanto a sua origem divina em Júpiter”, diz Píndaro. Taylor demonstra, com base em mais de um iniciando, que os “espetáculos dramáticos dos mistérios menores eram destinados pelos antigos teólogos, os seus autores, a representar de uma maneira oculta a condição da alma impura investigada de um corpo terrestre por uma natureza material e física (…) que, na verdade, a alma, até ser purificada pela filosofia, morre após unir-se ao corpo (…)”.
O corpo é o sepulcro, a prisão da alma, e muitos padres cristãos admitiam com Platão que a alma é punida por sua união com o corpo. Esta é a doutrina fundamental dos budistas e de muitos brâmanes também. Quando Plotino observa que “quando a alma desceu para a geração [da sua condição semidivina], ela participa do mal e é levada para muito longe, num estado oposto à sua pureza e integridade primitiva, para ser completamente imersa em algo que nada mais é do que uma queda num lamaçal”, ele está apenas repetindo os ensinamentos de Gautama Buddha. Se devemos acreditar nos iniciados antigos, devemos aceitar a sua interpretação dos símbolos. E se, além disso, vemo-los coincidir perfeitamente com os ensinamentos dos maiores filósofos e se vemos que o que sabemos simboliza o mesmo significado nos mistérios modernos do Oriente, então devemos acreditar que eles têm razão.
Se Deméter era tida como a alma intelectual, ou antes a alma astral, metade emanação do espírito e metade corrompida pela matéria por sua sucessão de evoluções espirituais – podemos compreender facilmente a significação da Matrona Baubo, a Encantadora, que antes de conseguir reconciliar a alma, Deméter, com a sua nova posição, viu-se obrigada a assumir as formas sexuais de uma criança. Baubo é a matéria, o corpo físico, e a alma astral intelectual, ainda pura, não pode ser atirada em sua nova prisão terrestre a não ser que se apresente sob a forma de uma criança inocente. Até este momento, Deméter, ou Magna-mater, a Alma, vaga e hesita e sofre; mas, tendo bebido da poção mágica preparada por Baubo, esquece as suas penas; por um certo tempo ela se separa dessa consciência inteligente mais elevada que possuía antes de entrar no corpo de uma criança. A partir desse momento ela tentará reencontrá-la; e quando a idade da razão chaga a uma criança, a luta – esquecida durante os anos de infância – recomeça. A alma está colocada entre a matéria (o corpo) e o intelecto superior (o seu espírito imortal ou Nous). Qual dos dois ela conquistará? O resultado da batalha da vida reside na Tríade. (Tríade Superior, ou Corpo Espiritual, Âtma, Buddhi e Manas). É uma questão de alguns anos de desfrute físico na Terra e – se ela cometeu abusos – de dissolução do corpo terrestre, seguida da morte do corpo astral, que assim é impedido de se unir ao espírito superior da Tríade; só este nos confere a imortalidade individual; ou, por outro lado, a possibilidade de nos tornarmos mystae imortais; iniciados antes da morte do corpo nas verdades divinas da vida futura. Semideuses embaixo e DEUSES em cima.
Esse era o objetivo dos mistérios, tachado de diabólicos pela Teologia e ridicularizado pelos simbologistas modernos. Negar que há no homem certos poderes arcanos que ele desenvolve, pelo estudo psicológico, até o grau mais elevado, torna-se um Hierofante e então transmiti-lo a outros sob as mesmas condições de disciplina terrena é acusar de falsidade e de loucura os melhores, os mais puros e os mais sábios homens da Antigüidade e da Idade Média. Eles nunca permitiram que alguém suspeitasse daquilo que era dado ao Hierofante na última hora. E, entretanto, Pitágoras, Platão, Plotino, Jâmblico, Proclo e muitos outros conheciam os mistérios e afirmaram a sua realidade.
Seja no “tempo interior”, ou através do estudo privado da teurgia, ou pelo esforço de toda uma vida de trabalho espiritual, todos eles obtiveram a prova prática dessas possibilidades divinas para o homem na Terra em sua luta com a vida para merecer a vida na eternidade. Platão faz no Fedro (250 B, C) uma alusão ao que devia ser a última epopteia: “(…) iniciados nesses mistérios, aos quais é justo chamar de os mais sagrados de todos os mistérios (…) estamos livres das molestações dos males que nos esperariam períodos futuros. Da mesma maneira, em conseqüência dessa iniciação divina, tornamo-nos espectadores de visões divinas inteiras, simples, imóveis que têm sede na luz pura”. Essa frase nos mostra que eles tinham visões, deuses, espíritos. Como Taylor observa corretamente, podemos concluir, dessa passagens emprestadas às obras dos iniciados, que “a parte mais sublime da opopteia (…) consistia na visão dos próprios deuses resplandecentes de luz”, ou espíritos planetários superiores. A afirmação de Proclo a respeito desse assunto é inequívoca: “Em todas as iniciações e em todos os mistérios, os deuses apresentam-se sob muitas formas e surgem numa variedades de estados. E, às vezes, na verdade, eles se apresentam à visão numa luz sem forma; às vezes essa luz está de acordo com uma forma humana, e às vezes assume um estado diferente”.
“Tudo que existe sobre a Terra é a semelhança e a SOMBRA de algo que existe na esfera enquanto a coisa resplendente [o protótipo da alma-espírito] permanece numa condição imutável; o mesmo acontece com a sua sombra. Mas, quando a coisa resplendente se retira para longe de sua sombra, a vida também se retira para longe. E, entretanto, essa mesma luz é a sombra de algo mais resplendente do que ela mesma”. Assim fala o Desâtîr, deixando ver assim a identidade das doutrinas esotéricas com as dos filósofos gregos.
A segunda afirmação de Platão confirma nossa crença de que os mistérios dos antigos eram idênticos às iniciações, tal como são hoje em dia praticadas pelos adeptos budistas e hindus. As visões mais elevadas, as mais verdadeiras, são produzidas, não por estáticos naturais ou “médiuns”, como às vezes erradamente se diz, mas por uma disciplina regular de iniciações graduais e de desenvolvimento de poderes psíquicos. Os mystai eram colocados em contato íntimo com aquilo que Proclo chama “naturezas místicas”, “deuses resplendentes”, porque, como diz Platão, “nós éramos puros e imaculados, libertos dessa vestimenta que nos cerca, e que denominamos corpo, ao qual estamos ligados como uma ostra à sua concha”.
A DOUTRINA DOS PITRIS PLANETÁRIOS.
Assim, a doutrina dos pitris planetários e terrestres foi revelada totalmente na Índia antiga, como a conhecemos em nosso dias, apenas no momento da iniciação e aos adeptos dos graus superiores. São muito os faquires que, embora puros e honestos e devotados, nunca viram a forma astral de um pitri humano puro (um ancestral ou pai), senão no momento solene da sua primeira e última iniciação. É na presença de seu instrutor, o guru, e só antes que o vatu-faquir seja enviado ao mundo dos vivos, com sua vara de bambu de sete nós para sua proteção, que ele é colocado repentinamente face a face com a PRESENÇA desconhecida. Ele a vê e se prostra aos pés da forma evanescente, mas não lhe é confiado o grande segredo da sua evocação; pois ele é o mistério supremo da sílaba sagrada. O AUM contém a evocação da Tríade védica, a Trimûrti Brahmâ, Vishnu e Shiva, dizem os orientalistas; ela contém a evocação de algo mais real e objetivo do que essa abstração trina – dizemos nós, contradizendo respeitosamente os eminentes cientistas. É a Trindade do próprio Homem, em vias de se tornar imortal por meio da união solene do seu EGO – o corpo exterior, grosseiro, não sendo o invólucro levado em consideração nessa trindade humana. É quando essa Trindade, antecipando a reunião final triunfante além das portas da morte corpórea, torna-se durante alguns segundos uma UNIDADE, que o candidato é autorizado, no momento da iniciação, a contemplar seu Ego futuro. É assim que devemos interpretar o Desâtîr persa quando ali se fala do “Resplendente”; os filósofos-iniciados gregos, do Augoeides – a brilhante “visão sagrada que reside na luz pura”; em Porfírio, quando diz que Plotino se uniu ao seu “deus” quatro vezes durante a sua vida.
“Na Índia antiga, o mistério da Tríade, conhecido apenas dos iniciados, não podia, sob pena de morte, ser revelado ao vulgo”, diz Brihaspati.
Acontecia o mesmo nos mistérios da antiga Grécia e da Samotrácia. O mesmo acontece hoje. Ele está nas mãos dos adeptos e deve continuar sendo um mistério para o mundo, enquanto o erudito materialista o considerar uma falácia indemostrável, uma alucinação insana e enquanto o teólogo dogmático o condenar como uma armadilha do Diabo.
A comunicação subjetiva com os espíritos humanos, divinos, dos que nos precedem na terra silenciosa da bem-aventurança é dividida na Índia em três categorias. Sob a orientação espiritual de um guru ou sannyâsin, o vatu (discípulo ou neófito) começa a sentir a presença deles. Se não estivesse sob a tutela imediata de um adepto, ele seria controlado pelos invisíveis e estaria completamente a sua mercê, pois, entre essas influências, ele é incapaz de discernir o bom do mau. Feliz do sensitivo que estiver seguro da pureza de sua atmosfera espiritual!
A esta consciência subjetiva, que é o primeiro grau, acrescenta-se, após algum tempo, o da clariaudiência. Este é o segundo grau ou estágio do desenvolvimento. O sensitivo – quando não foi submetido a um treinamento psicológico – agora ouve claramente, mas ainda é incapaz de discernir; é incapaz de verificar as suas impressões e está desprotegido contra os poderes astuciosos do ar que freqüentemente o enganam com vozes e palavras. Mas há a influência do guru; ela é o escudo mais poderoso contra a intrusão dos Bhûtnâ (demônio?) na atmosfera do vatu (discípulo ou neófitos), consagrado aos pitris puros, humanos e celestiais.
O terceiro grau é aquele em que o faquir ou qualquer outro candidato sente, ouve e vê; e em que ele pode produzir, quando quiser, os reflexos dos pitris no espelho da luz astral. Tudo depende dos seus poderes psicológicos e mesméricos, que sempre são proporcionais à intensidade da sua vontade. Mas o faquir nunca controlará o Âkasa, o princípio espiritual da vida, o agente onipotente de todo fenômeno, no mesmo grau em que o faria um adepto da terceira e mais elevada iniciação. E os fenômenos produzidos pela vontade desses últimos geralmente não circulam pelos mercados a satisfação dos investigadores clamorosos.
A unidade de Deus, a imortalidade do espírito, a crença na salvação apenas por nossos atos, mérito e demérito – esses são os principais artigos de fé da religião-sabedoria e as bases do Vedismo, do Budismo, do Parsismo; e constatamos que também o foram para o antigo Osirismo quando nós, abandonamos o deus-sol popular ao materialismo da ralé.
“O PENSAMENTO escondia o mundo no silêncio e na escuridão. (…) Então o Senhor que existe por Si mesmo, e que não deve ser divulgado aos sentidos externos do homem, dissipou a escuridão e manifestou o mundo perceptível.”
“Aquele que pode ser percebido apenas pelo espírito, aquele que escapa aos órgãos dos sentidos, aquele que não tem nenhuma parte visível, que é eterno, a lama de todos os seres, aquele que nenhum pode compreender exibiu todo o Seu esplendor.”
Este é o ideal do Supremo, no pensamento de todo filósofo hindu.
“Dentre todos os deveres, o principal é adquirir o conhecimento da alma suprema [O Espírito]; esta é a primeira de todas as ciências, pois só ela confere imortalidade ao homem.”
E os nossos cientistas falam do Nirvana de Buddha e do Moksha de Brahmâ como uma aniquilação completa! É assim que alguns materialistas interpretam os seguintes versos.
“O homem que reconhece a Alma Suprema em sua própria casa, como também na de todas as criaturas, e que é igualmente justo para todos [homens ou animais], obtém a mais feliz de todas as sortes, a de ser finalmente absorvido no seio de Brahmâ.”
A doutrina do Moksha e do Nirvana, tal como foi compreendida pela escola de Maz Muller, não pode ser comparada com os inúmeros textos que se lhe poderiam opor, se desejasse, como uma refutação final. Há, em muitos pagodes, esculturas que contradizem totalmente essa acusação. Pedi a um brâmane que vos exprime o Moksha, dirigi-vos a um letrado budista e solicitai-lhe que vos defina o significado de Nirvana. Ambos responderão que em nenhuma dessas religiões o Nirvana representa o dogma da imortalidade do espírito. Que alcançar o Nirvana significa a absorção na grande Alma Universal, e que esta representa um estado, não um ser individual ou um deus antropomórfico, como alguns concebem a grande EXISTÊNCIA. Que um espírito, ao chegar a esse estado, se torna uma Parte do Todo integral, mas nunca perde a sua
individualidade. Doravante, o espírito vive espiritualmente, sem temor de modificações posteriores de formas; pois a forma pertence à matéria, e o estado de Nirvana implica uma purificação completa e um livramento final até mesmo da partícula mais sublime de matéria.
Essa palavra absorvido, quando se demonstra que os hindus e os budistas acreditam na imortalidade do espírito, deve significar necessariamente união íntima, nunca aniquilação. Que os cristão os chamem de idólatras, se ainda ousam fazê-lo, em presença da ciência e das últimas traduções dos livros sagrados sânscritos; eles não têm o direito de apresentar a filosofia especulativa dos sábios antigos como uma inconsistência e os próprios filósofos como loucos ilógicos. Com muito mais razão, poderíamos acusar os judeus antigos de niilismo. Não há uma única palavra nos Livros de Moisés – ou dos profetas – que, tomada literalmente, implique a imortalidade do espírito. Entretanto, todos judeu devoto espera ser “recolhido no seio de A-Braham”.
SOCRATES, PROVA O PERIGO DA MEDIUNIDADE DESTREINADA.
Os hierofantes e alguns brâmanes foram acusados de terem administrado bebidas fortes ou anestésicos aos seus epoptai para produzir visões que eles deveriam considerar como realidades. Eles se serviram e ainda se servem de beberagens sagradas que, como o Soma, possuem a propriedade de liberar a forma astral dos laços da matéria; mas nessas visões há muito pouco que se possa atribuir à alucinação, como nos vislumbres que o cientista, com ajuda do seu instrumento ótico, consegue do mundo microscópio. Um homem não pode perceber, tocar e conversar com o espírito puro por meio de nenhum dos seus sentidos corporais. Só um espírito pode conversar com um espírito e vê-lo; e mesmo a nossa alma astral, o Doppelgänger, é muito grosseira, muito tingida pela matéria terrena para que confiemos inteiramente em suas percepções e insinuações.
O caso de Sócrates nos prova o perigo da mediunidade destreinada e como os sábios antigos, que o haviam compreendido, tinham razão em tomar suas precauções a esse respeito. O velho filósofo grego era um “médium”; em conseqüência, nunca fora iniciado nos mistérios, pois essa era a lei rigorosa. Mas ele possuía o seu “espírito familiar”, como se dizia, o seu daimonion, e este conselheiro invisível tornou-se a causa de sua morte. Acredita-se geralmente que, se ele não foi iniciado nos mistérios, é por que ele mesmo não o quis. Mas os Anais secretos nos informam que foi porque ele não podia ser admitido aos ritos sagrados, e isso, precisamente, por causa da sua mediunidade. Havia uma lei contra a admissão não só daqueles que se sabia praticavam a feitiçaria, mas também daqueles que se acreditava possuírem um “espírito familiar”. A lei era justa e lógica, porque um médium genuíno é mais ou menos irresponsável; e as excentricidades de Sócrates se explicam, de certa maneira, por este fato. Um médium deve ser passivo; e se ele tem uma fé cega no seu “espírito-guia”, permitirá que este o domine, em vez de ser dominado pelas regras do santuário. Um médium dos tempos antigos, como o “médium” moderno, estava sujeito a entrar em transe sob dependência da vontade do “poder” que o controlava; assim, não se podia confiar a ele os terríveis segredos da iniciação final, “que não deveriam ser revelados, sob pena de morte”. O velho sábio, em momentos descuidados de “inspiração espiritual”, revelou aquilo que nunca havia aprendido e, assim, foi condenado à morte como ateu.
Como, então é possível, tomando-se exemplos de Socrates, em relação às visões e às maravilhas dos opoptai do Templo Interior, afirmar que esses videntes, teurgos e taumaturgos fossem todos eles “espíritos-médium”. Nem Pitágoras, Platão ou qualquer um dos últimos neoplatônicos mais importantes; nem Jâmblico, Longino, Proclo ou Apolônio de Tiana – nenhum deles foi médium; se o fossem, não teriam sido admitido nos mistérios, Taylor diz que “A afirmação das visões divinas nos mistérios está claramente confirmada por Plotino. E em suma, aquela evocação mágica formava uma parte do ofício sacerdotal dos mistérios e essa era a crença universal de toda a Antigüidade muito tempo antes dos primeiros platônicos” – tudo isto prova que, além da “mediunidade” natural existia, desde o começo dos tempos, uma ciência misteriosa, discutida por muitos, mas só conhecida por poucos.
O uso dessa ciência comporta o desejo de reintegrar nosso único e verdadeiro lar – o pós-vida, e o desejo de uma união mais íntima com nosso espírito; o seu abuso é a bruxaria, a feitiçaria, a magia negra. Entre as duas está colocada a “mediunidade” natural; uma alma revestida de matéria imperfeita, um agente apropriado para uma ou para a outra e inteiramente dependente do ambiente da vida, da hereditariedade constitucional – tanto física quanto mental – e da natureza dos “espíritos” que atrai para si. Uma bênção ou uma maldição, conforme o caso, a menos que o médium seja purificado do lixo terrestre.
A razão pela qual, em todas as épocas, muito pouco se sabe a respeito dos mistérios da iniciação é dupla. A primeira já foi explicada por mais de um autor e repousa na terrível penalidade que se seguia à menor indiscrição. A segunda corresponde às dificuldades sobre-humanas, aos perigos que o candidato corajoso dos tempos antigos tinha de enfrentar, e vencer ou morrer na tentativa, quando, o que é ainda pior, ele não perdia sua razão. Não havia perigo real para aquele cuja mente se tivesse espiritualizado completamente e que, desta maneira, estivesse preparado para as visões mais terríveis. Aquele que reconhecia o poder de seu espírito imortal e nunca duvidava em nenhum momento da sua proteção onipotente, nada tinha a temer. Mas infeliz do candidato em quem o menor temor físico – filho doentio da matéria o fizesse perder a visão da fé em sua própria invulnerabilidade. Aquele que não confiava totalmente em sua aptidão moral para aceitar o peso desses segredos extraordinários era condenado.
O Talmude conta a história dos quatro Tannaim, que, em termos alegóricos, deviam entrar no jardim de delícias, isto é, ser iniciados na ciência oculta e final.
“De acordo com os ensinamentos dos nossos santos mestres, os nomes dos quatro que entraram no jardim de delícias são Ben Asai, Ben Zoma, Aher e Rabbi A’qîbah (…)
“Ben Asai olhou e – perdeu a visão.
“Ben Zoma olhou e – perdeu a razão.
“Aher cometeu depredações na plantação” [misturou tudo e falhou]. “Mas Aîbah, que entrara em paz, saiu dali em paz, pois o santo cujo nome seja abençoado lhe disse `Este velho homem é digno de nos servir com glória’.”
A. Franck, em sua La Kabbale, diz-nos que “os comentadores eruditos do Talmude, os rabinos da sinagoga, explicam que o jardim de delícias em que as quatro personagens entraram não é senão esta ciência misteriosa, a mais terrível de todas as ciências para os intelectos fracos, e que leva diretamente à loucura”. Aquele que tem o coração puro e que estuda com o objetivo de se aperfeiçoar e dessa maneira consegue mais facilmente a imortalidade prometida, não deve ter temor algum; mas aquele que faz da ciência das ciências um pretexto pecaminoso para seus motivos mundanos, deve temer. Estes jamais resistirão às evocações cabalísticas da iniciação suprema.
Isis Sem Véu – VOLUME III – TEOLOGIA I
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.