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Condutores cegos dos cegos – Ísis sem véu

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FATOS E FENÔMENOS PSÍQUICOS. O PAPEL DA PSICOLOGIA.

Acreditamos  que  apenas  alguns dos fenômenos físicos genuínos são produzidos por espíritos humanos desencarnados. Entretanto, mesmo aqueles que são causados por forças ocultas da Natureza, tal como se manifestam através de poucos médiuns genuínos e são conseqüentemente empregados pelos chamados “prestidigitadores” da Índia e do Egito, merecem uma investigação cuidadosa e séria por parte da ciência, especialmente agora que muitas autoridades respeitáveis comprovaram em muitos casos a impossibilidade de fraudes. Sem dúvida  alguma, existem “conjuradores” profissionais que podem executar façanhas mais incríveis do que todos os “John King” ingleses e americanos juntos: Robert-Hodin podia fazê-lo, incontestavelmente, mas isso não evitou que ele, sem rodeios, risse na cara dos  acadêmicos quando estes lhe exigiram que declarasse nos jornais que podia fazer uma mesa se mover, ou fazê-la dar respostas a perguntas por meio de pequenas batidas, sem contato de mãos, a menos que a mesa tivesse sido preparada anteriormente. Só o fato de uma célebre prestidigitador de Londres ter recusado uma aposta de mil libras esterlinas oferecidas pelo Sr. Algernon Joy para que ele produzisse as mesmas manifestações obtidas usualmente  através  de médiuns – tendo ele estipulado que ficaria  solto e livre das mãos de uma comissão -, só este fato desmente o seu exposé dos fenômenos ocultos.

Afirmamos novamente, com toda  segurança, que não existe feiticeiro profissional – do Norte, do Sul ou do Ocidente – que possa rivalizar nem mesmo em  termos  de êxito aproximado com esses filhos ignorantes e nus do Oriente. Estes não necessitam de preparativos ou ensaios; mas estão sempre prontos, feita uma comunicação, a evocar em seu socorro os poderes ocultos da Natureza, que, tanto para os prestidigitadores quanto para os cientistas da Europa, são um livro fechado. Na verdade, como diz Eliú, “não são os sábios de muita idade, nem os anciãos os que julgam o que é justo”.

O desenvolvimento da ciência psicológica foi retardado mais pelo ridículo dessa classe de pretensiosos do que pelas  dificuldades inerentes a esse estudo. O riso de mofa dos cientistas iniciados ou dos tolos do modismo têm contribuído para manter o homem na ignorância de seus poderes psíquicos soberanos do que as obscuridades, os obstáculos e os perigos que se acumulam sobre o  assunto. Isto é válido sobretudo para os fenômenos espiritistas.

Assim, passo a passo, a Humanidade move-se no círculo restrito do conhecimento, reparando a ciência constantemente os seus erros e reajustes no dia seguinte as suas teorias errôneas da véspera. Esse foi o caso, não somente para   as questões relativas à Psicologia, tais como o Mesmerismo no seu duplo sentido de fenômeno ao mesmo tempo físico e espiritual, mas também para as descobertas diretamente relacionadas com as ciências exatas – e elas têm sido fáceis de demonstrar.

Um dos escritos mais hábeis que devemos ao punho do Prof. Tyndall é o seu cáustico ensaio sobre  o “Materialismo  científico”. Consideramos o que ele tem a dizer sobre o fenômeno  da  consciência. Ele cita a seguinte  pergunta feita por Martineau: “Um homem pode (…) dizer ‘eu sinto, eu penso, eu amo’; mas como é que a  consciência se imiscuiu no problema?”.  E logo responde: “A passagem da  parte  física do cérebro aos fatos correspondentes da consciência é inconcebível. Dado que um pensamento definido e uma ação molecular definida ocorrem simultaneamente no cérebro, não possuímos o órgão intelectual nem aparentemente nenhum rudimento desse órgão que os permitiria passar, por um processo de raciocínio, de um a  outro.  Eles  surgem juntos, mas não sabemos por quê. Se as nossas mentes e os nossos sentidos fossem muito  extensos, fortificados e esclarecidos de maneira que pudéssemos ver e sentir as mínimas moléculas do cérebro; fôssemos nós capazes de seguir todos os seus movimentos, todos os seus agrupamentos, todas as suas descargas elétricas, se tais coisas existirem; e estivéssemos nós intimamente familiarizados com os estados correspondentes do pensamento e do sentimento, nós nos  encontraríamos ainda  mais  longe do que nunca da solução do problema `Como estão esses processos físicos ligados aos fatos da  consciência?’.  O  abismo entre  as  duas  classes  de  fenômenos  ainda  continua  a   ser intelectualmente intransponível”.

Esse abismo, tão intransponível para Tyndall quanto o nevoeiro de fogo em que o cientista se defronta com sua  causa desconhecida, é uma barreira apenas para os  homens  desprovidos  de intuições espirituais. O livro  Outlines of Lectures  on  the  Neurological Sistem of Antlopology, do Prof. Buchanan, obra que  remonta a 1.854, contém sugestões que, se os saberetes as considerassem, mostrariam como se pode construir uma ponte sobre este abismo apavorante.

Mas o edifício do materialismo foi  todo  ele baseado sobre este alicerce grosseiro – a razão. Quando eles estirarem até os seus limites externos, os seus mestres  podem,  quando muito, nos revelar um universo de moléculas animadas  por  um impulso oculto. Que melhor diagnóstico da enfermidade de nossos cientistas pode ser deduzido da análise do Prof. Tyndall do estado mental do clero transmontano por meio de uma ligeira modificação de nomes? Em vez de “guias  espirituais”, leia-se “presente materialista”; leia-se “espírito” em vez de  “ciência” e, no parágrafo seguinte, temos o retrato vívido do moderno homem de ciência desenhado pela mão de um mestre:

“(…) os seus guias espirituais vivem tão exclusivamente no passado pré-científico, que mesmo os intelectos verdadeiramente forte entre eles estão reduzidos à atrofia no que diz respeito à verdade científica. Eles têm olhos, e não vêem; têm ouvidos, e não ouvem; com efeito, os seus olhos e os seus ouvidos são prisioneiros das visões e dos sons de uma outra era. Em relação à ciência, o cérebro dos transmontanos, por falta  de  exercício,  é   virtualmente   o   cérebro  infantil  não-desenvolvido. É assim que são como  crianças em  termos  de conhecimento científico, mas, como detentores poderosos  de  uma  poder espiritual entre os ignorantes, eles  encorajam  e  impõem  práticas tais que o vermelho da vergonha sobre às faces dos mais inteligentes dentre eles”. O ocultista  estende esse  espelho  à  ciência para que nele ela se reconheça a si mesma.

Desde que a História registrou as primeiras leis estabelecidas pelo homem, não existiu até agora um único  povo  cujo código não faça depender a vida e a morte dos seus cidadãos  do depoimento de duas ou três testemunhas dignas de fé. “Sobre o depoimento de duas ou três testemunhas. morrerá aquele que houver de ser castigado de morte”, diz o legislador do povo hebreu. “As leis que enviam um homem à morte pela declaração de uma única testemunha são fatais à liberdade” – diz Montesquieu. “A razão exige que existam duas testemunhas.”

Assim, o valor da prova testemunhal foi tacitamente reconhecida e aceito em todos os países. Mas os  cientistas  não  aceitam a prova baseada no testemunho de um milhão de homens que  se pronunciaram contra apenas um. É em vão que centenas de milhares de homens testemunhem fatos. Óculos habent et no  vident! Eles estão determinados a continuar sendo cegos e surdos. Trinta anos de demonstração prática e o testemunho de alguns milhões de crentes da América e da Europa certamente merecem, até certo ponto, o respeito e a atenção.

“A ciência  é a compreensão da verdade ou dos fatos”, diz Wesbster; ela é “uma investigação da verdade por si mesma; a busca do conhecimento puro”. Se a definição está correta, então a maioria dos nossos modernos eruditos mostraram-se infiéis à sua deusa. “A verdade por si mesma!” E onde procurar, na Natureza, as chaves de cada uma das verdades se não nos mistérios ainda inexplorados da Psicologia?  A Psicologia não tem inimigos piores do que a escola médica denominada alopata. É perder tempo lembrar-lhes que, de todas as ciências supostamente exatas, é a Medicina, reconhecidamente, a que menos direitos tem a esse nome. Embora dentre todos os ramos do conhecimento médico a psicologia devesse mais do  que  qualquer outro ser estudada pelos médicos, dado que sem a  ajuda  desta a sua prática degenera em meras conjecturas e intuições fortuitas, eles, a desprezam. A mínima discordância de suas doutrinas promulgadas é repudiada como uma heresia, e embora  um método curativo impopular e não-reconhecido possa salvar milhares de vidas, eles parecem, em bloco, dispostos a se agarrar a hipótese e a prescrições tradicionais para condenar o inovador e a inovação até que estes obtenham o timbre oficial. Milhares de pacientes desafortunados podem morrer enquanto isso, defendida a honra profissional, o resto é de importância secundária.

ORIENTE, A TERRA DO CONHECIMENTO.

Teoricamente a mais benigna, nenhuma outra escola da Ciência, entretanto, exibe tantos exemplos de preconceito mesquinho, de materialismo, de ateísmo e de obstinação malévola quanto a Medicina. As predileções e a tutela dos principais médicos são raramente medidas pela utilidade de uma descoberta. A sangria por sanguessugas e por ventosas e a lanceta tiveram a sua epidemia de popularidade, mas finalmente caíram em desgraça merecida; a água livremente administrada aos  pacientes febris, foi-lhes, durante muito tempo, negada; os banhos quentes foram suplantados pela água fria e, durante um período de vários anos, a hidroterapia se tornou uma mania. A quina. A quina – que um paladino moderno da autoridade bíblica se esforça seriamente em identificar à paradisíaca “Árvore da Vida”, e que foi trazida à Espanha em 1632 – foi desprezada durante muito tempo.

Admite-se desde tempos imemoriais que o distante Oriente era a terra do conhecimento. Nem mesmo no Egito foram a Botânica e a Mineralogia tão profundamente estudadas quanto pelos sábios da Ásia Central arcaica.

No entanto, todas as vezes em que se discute o assunto Magia, a Índia raramente se insinua a alguém, pois que a sua  prática geral nesse país é menos conhecida que a de qualquer  outro povo da Antigüidade. Entre os hindus, ela foi e é mais esotérica, se possível, do que foi mesmo para os próprios sacerdotes egípcios. Era considerada tão  sagrada  que a  sua  existência sé era admitida pela metade e era praticada apenas em casos de emergência públicas. Ela era mais do que uma matéria religiosa, pois era considerada divina. Os hierofantes egípcios, apesar da prática de uma moralidade rígida e pura, não podiam ser comparados aos ascetas ginosofistas, nem pela santidade de sua vida nem pelos poderes miraculosos desenvolvidos  neles  pela abjuração sobrenatural de coisas terrenas. Todos os que conheciam bem os tinham em reverência maior do que aos feiticeiros da Caldéia. “Recusando os confortos mais simples da vida, eles habitavam em florestas e aí levavam a vida dos eremitas mais isolados”, ao passo que os seus irmãos egípcios ao menos formavam comunidades. A despeito da censura feita pela História a todos os que praticaram a magia e a adivinhação, foram eles proclamados possuidores dos maiores segredos do conhecimento médico e de habilidade insuperada em sua prática. Inúmeras são as obras conservadas nos mosteiros  hindus em que estão registradas as provas da sua erudição. Tentar dizer se esses ginosofistas foram os verdadeiros fundadores da magia na Índia, ou se eles apenas praticavam o que fora transmitido por herança dos Rishis (os sete sábios primordiais) seria considerado como uma mera especulação pelos eruditos exatos. “O cuidado que eles tinham em instruir a juventude, em familiarizá-la com os sentimentos generosos em virtuosos, concedeu-lhes uma honra peculiar, e suas máximas e os seus discursos, tal como registrados pelos historiadores, provam  que eles eram peritos em assuntos de Filosofia, Metafísica, Astronomia, Moral e Religião”, diz um autor moderno. Eles  preservaram a sua dignidade sob o domínio dos príncipes mais poderosos, que eles não condescenderam em visitar, ou que eles não perturbaram para obter deles  o  mínimo  favor.  Se  estes últimos desejassem o conselho ou as preces desses homens  santos  eram obrigados a ir até eles, ou a lhes enviar mensageiros. Para  esses homens não havia poder secreto das plantas ou dos minerais  que lhes fosse desconhecido. Eles haviam sondado a Natureza até as suas profundezas, ao passo que a Psicologia e a Fisiologia  eram para eles livros abertos, e o resultado foi aquela ciência ou machagiotia que agora é denominada, desdenhosamente, de Magia.

Enquanto os milagres registrados pela Bíblia – dos quais desacreditar é visto como infidelidade – tornaram-se fatos aceitos pelos cristãos, as narrativas de maravilhas e de prodígios no Atharva-Veda – (O QUARTO VEDA) ora provocam o seu  desprezo, ora são vistas como provas de diabolismo. E entretanto, em mais de um aspeto, e apenas da relutância de certos eruditos sânscritos, podemos provar a identidade das duas  tradições. Além disso, como foi provado pelos eruditos que os Vedas antecedem de muitos séculos a Bíblia judaica, é fácil inferir que, se um dos dois livros fez empréstimos ao outro, não são os livros sagrados hindus que devem ser  acusados  de plágio.

EMANAÇÃO DO UNIVERSO OBJETIVO.

Em primeiro lugar, a sua cosmogonia prova até que ponto foi errônea a opinião que prevaleceu nas nações civilizadas de que Brahmâ foi sempre considerado pelos hindus como o seu chefe ou seu Deus Supremo. Brahmâ é um divindade secundária e, como Jeová, é “um ser que move as águas”. Ele é o deus criador e, nas suas representações alegóricas possui quatro cabeças, correspondentes aos quatro pontos cardeais. Ele é o demiurgo, o arquiteto do mundo. “No estado primordial da criação”, diz Polier, em sua Mythologie dês Indous, “o universo rudimentar, submerso na água, repousava no seio Eterno. Emanado desse caos e dessas trevas. Brahmâ, o arquiteto do mundo, repousava sobre uma folha de lótus, flutuava [movia-se?] sobre as águas, incapaz de nada discernir entre águas e trevas”. Isto é idêntico quanto possível à cosmogonia egípcia, que mostra, nas suas frases de abertura, Hathor ou a Mãe Noite (que representa as trevas  incomensuráveis) como o elemento primordial, que recobria o abismo infinito, animado pela água e pelo espírito universal  do  Eterno, que  habitava sozinho no caos. Como nas escrituras judaicas, a história da criação abre-se com o espírito de Deus e sua emanação criadora – uma outra divindade. Percebendo um estado de coisas tão lúgubre, Brahmâ, consternado, assim se exprime: “Quem sou? Donde vim?”. Ouve então uma voz: “Dirige tua voz a Bhagavat – O Eterno, conhecido também como Parabrahman”, Brahmâ, abandonando a sua posição natatória, senta-se sobre o lótus numa atitude de contemplação e medita sobre o Eterno, que, satisfeito com essa prova de piedade, dispersa as  trevas primordiais e abre o seu  entendimento. “Depois disso, Brahmâ sai do ovo universal [o caos infinito] sob  a forma de luz, pois e seu entendimento agora está aberto, e se põe a trabalhar, move-se sobre as águas eternas, com o espírito de Deus nele; em sua capacidade de ser que move as águas eternas, com o espírito de Deus nele; em sua capacidade de ser que move as águas ele é Nârâyana (*)e, por serem elas o primeiro lugar do movimento (ayana) de Nara, este foi denominado de Nãrayana (o que se move sobre as águas). ( * Na simbologia esotérica, representa a primeira manifestação do princípio vital,  difundindo-se no Espaço Infinito. [“As águas foram chamadas de nârãs porque foram produzidas por Nara (o Espírito Divino, o Espírito nascido de si mesmo)

Para os hindus, o lótus é o emblema do poder  produtivo  da Natureza, pela ação do fogo e da água (o espírito e a matéria). “Eterno”, diz uma estrofe da Bhagavad-Gîtâ  [cap. XI], “eu vejo Brahmâ, o criador, entronizado em ti sobre o lógus!” e Sir W. Jones nos diz que as sementes do lótus contêm – mesmo antes de germinarem – folhas perfeitamente formadas, formas miniaturas daquilo em que, como plantas perfeitas, elas se  transformarão um dia; ou, como diz o autor de The  Hearthen  Religion – “a Natureza nos dá assim um espécime da pré-formação das suas produções”; acrescentando que “a semente de todas as plantas  fanerógamas  que trazem flores propriamente ditas contêm um embrião de plantas já formado”.  Para os budistas, ele tem a mesma significação. Mahâ-Mâyâ, ou Mahâ-Devi, a mãe de Gautama Buddha, deu à luz o seu filho anunciado pelo Boddhisattva (o espírito de Buddha), que apareceu ao pé do seu leito com um lótus em sua mão. Assim, também Osíris e Hórus são representados pelos egípcios constantemente em associação com a flor de lótus.

Todos estes fatos tendem a provar o parentesco comum deste símbolo nos três sistemas religiosos – hindu, egípcio e judaico-cristão. Em qualquer  lugar em que o lírio da água mística (lótus) seja representado, ele significa a emanação do objetivo para fora do oculto ou do subjetivo – o pensamento eterno da Divindade sempre invisível que passa  do  abstrato  ao  concreto ou forma visível.  Assim,  logo  que  as trevas  foram  dissipadas e que “havia  luz”,  o  entendimento  de  Brahmâ foi  aberto, e ele viu no mundo ideal (até então  eternamente  oculto no pensamento Divino) as formas arquetípicas de todas as  coisas  infinitas futuras que devem ser chamadas à existência  e,  assim  tornadas visíveis. Nesse primeiro estágio da ação, Brahmâ  ainda  se tornou o arquiteto, o construtor do universo, pois  lhe  será  preciso, como um arquiteto, familiarizar-se primeiramente com  o  plano e compreender as formas ideais que repousavam no seio  do  Uno Eterno, tal como as folhas futuras do lótus estão ocultadas  na semente dessa planta. E é nessa idéia que devemos procurar  a  origem e explicação do versículo da cosmogonia judaica em que se  lê: “E Deus disse: Produza a terra (…) árvores  frutíferas  que  dêem fruto, segundo a  sua  espécie,  e  que   contenham  a  sua  semente em si mesma”.   Em  todas  as  religiões  primitivas,  o  “Filho do Pai” é o Deus Criador – isto é, Seu pensamento tornado  visível; e antes da era cristã, desde a   Trimûrti   dos  hindus  até as tríades das escrituras judaicas, segundo a  interpretação  cabalística, todas as  nações  velaram simbolicamente  a  trina  natureza de sua Divindade suprema. No credo cristão vemos apenas  o enxerto artificial de um ramo  novo  num  tronco velho;  e  a  adoção pelas Igrejas grega e romana do símbolo do lírio,  que o arcanjo segura no momento da Anunciação, mostra um  pensamento  que possui precisamente a mesma significação simbólica.

O lótus é o produto do fogo  (calor) e da água, daí um símbolo dual do espírito e matéria. O Deus Brahmâ é  a  primeira  pessoa da trindade, assim como Jeová (Adão-Cadmo) e  Osíris,  ou  antes Poemandro, ou o Poder do Divino Pensamento, de Hermes; pois  é Poemandro quem representa a raiz de todos  os  deuses  solares  egípcios. O  Eterno é o Espírito de Fogo, que desperta e frutifica e desenvolve numa forma concreta tudo o que  nasce da água ou da  terra  primordial,  que  evolui de  Brahmâ; mas o universo é o próprio Brahmâ, e este é o universo. Esta é a filosofia de Spinoza, extraída por ele da de Pitágoras;  e  é  a mesma pela qual Bruno morreu como mártir. Este fato histórico demonstra quanto a Teologia cristã se afastou do seu ponto de partida. Bruno foi massacrado pela exegese de um símbolo que fora adotado pelos primitivos cristãos e interpretado pelos apóstolos! O ramo de lírio  do Boddhisattva, e mais  tarde  de  Gabriel, que representa o fogo e a água, ou a idéia de criação e  de geração, se põe de manifesto no primeiro sacramento batismal.

As doutrinas de Bruno e de Spinoza são quase idênticas. Bruno, que reconhece que Pitágoras é a fonte de sua  informação,  e Spinoza, que, sem com ela concordar tão  francamente,  permite  que a sua filosofia traia o segredo, enceram a Causa primária do  mesmo ponto de vista. Para eles, Deus é uma Entidade plenamente per se, um Espírito Infinito, e o único Ser inteiramente livre e independente dos efeitos e de outras causas; que, por essa  mesma Vontade que engendrou todas as coisas e deu o primeiro impulso a toda lei cósmica, mantém perpetuamente em existência e em ordem todas as coisas do universo. Assim como os  svâvhâvikas  hindus – A mais antiga escola de budismo existente. Seus partidários atribuíram a manifestação do Universo e os fenômenos da vida ao Svabhâva ou natureza respectiva das coisas -, chamados erroneamente de ateus,  que  pretendem  que  todas  as  coisas, tanto os homens quanto os deuses e os espíritos,  tenham  nascidos de Svabhâva ou de sua própria natureza, Spinoza e Bruno  foram ambos levados à conclusão de que  Deus deve ser  procurado  na Natureza e não  fora  dela. Com efeito, sendo a criação proporcional ao poder do Criador, tanto o Universo quanto o Criador devem ser infinitos e eternos, uma forma que emana da sua própria essência e que, por sua vez, cria uma  outra  forma

O PROF. DOMÊNICO BERTI, EM SUA Life of Bruno, e compilada de documentos originais recentemente publicados, provam, sem que  dúvida alguma possa subsistir, quais foram as suas verdadeiras filosofia, crença e doutrinas. Em comum com os platônicos de Alexandria, e com os cabalistas de época mais recente, ele estima que Jesus fosse um mago no sentido atribuído a essa palavra por Porfírio e por Cícero, que a chama de divina sapiênci  (conhecimento divino), e por Fílon, o Judeu, que descreveu os magos como os investigadores mais assombrosos dos  mistérios ocultos da Natureza,  não  no  sentido  aviltado dado à palavra magia em nosso século. Na sua nobre concepção, os magos  eram  homens  santos  que, isolando-se de   qualquer outra preocupação  terrestre, contemplaram as virtudes  divinas e compreenderam mais claramente a natureza divina dos deuses e dos espíritos; e então iniciaram outros nos  mesmos  mistérios, que  consistem numa conservação de um intercâmbio ininterrupto com  os  seres invisíveis durante a vida.

Isis Sem Véu – VOLUME I – CIÊNCIA I


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