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Em meados da década de 1950, a praticante de escrita automática Dorothy Martin, também conhecida como Sister Thedra, afirmou ter recebido comunicações de uma entidade que se autodenominava Sananda — o “nome galáctico” atribuído a Jesus dentro dos ensinamentos dos Mestres Ascensionados. Após transmitir ensinamentos espirituais a Martin e ao seu grupo esotérico, os Seekers, Sananda “revelou” que um cataclismo global destruiria a Terra em 1954. No entanto, os Seekers iluminados seriam resgatados por um disco voador e levados ao planeta de Sananda.
Muitos Seekers abandonaram seus empregos, doaram seus bens e aguardaram a chegada de um disco voador que nunca apareceu, esperando por um cataclismo que jamais se materializou.
Essa história real foi detalhada na obra pioneira de psicologia social Quando a Profecia Falha, de Leon Festinger, Henry Riecken e Stanley Schachter, publicada em 1956. [Nota do Editor: A obra é considerada um marco pois apresentou a teoria da dissonância cognitiva, que explica como indivíduos lidam com conflitos entre crenças e realidades contraditórias.] Releio esse livro com frequência e o tomo como um alerta. Assim como Dorothy Martin, nós, como praticantes de magia, recebemos sinais e comunicações além do ordinário. Um de nossos desafios é não cair em autoengano.
Por que estamos em perigo de autoengano? É tentador interpretar qualquer experiência extraordinária como evidência de sucesso na prática mágica. Nosso subconsciente reflete de volta o que lhe damos — um princípio que Robert Anton Wilson resumiu como “o que o pensador pensa, o provador prova”. Se lermos sobre deuses egípcios e indianos, nosso subconsciente revestirá nossas experiências com esses símbolos.
Adicione a isso o fato de que as regiões astral e mental estão cheias de elementais e larvas que podem se passar por guias úteis para se alimentar de nossa matriz astral. É concebível que a entidade que movia a caneta de Dorothy Martin fosse um desses elementais travessos.
Essa atração enganosa é às vezes chamada de “glamour”. Certos autores, como a teosofista Alice Bailey, dão muita atenção, em seus escritos, ao cuidado necessário para se manter seguro contra o glamour.
Uma tática para lidar com o glamour é desconsiderar todos os fenômenos incomuns. Em certas ordens de ensino, a prática predominante é invalidar qualquer experiência que um estudante possa ter, classificando-a como “ilusão”, “Maya”, “distração” ou algo do tipo. Isso é o mesmo que jogar o bebê fora junto com a água do banho. Se desejamos estudar magia, precisamos estudar os efeitos da magia.
Então, vamos analisar algumas formas práticas de lidar com tais fenômenos. Eu recomendaria, em primeiro lugar, a prática do registro desprendido desses fenômenos. Em seguida, a análise desses eventos com base em se eles nos lisonjeiam ou se se impõem a nós. Os espelhos da alma são ferramentas inestimáveis para essa análise, e uma boa higiene mágica é um meio de preveni-los. Vamos examinar cada um deles separadamente.
O registro desprendido significa escrever exatamente o que aconteceu, sem julgar sua natureza. Por exemplo, se eu tivesse uma experiência com uma certa divindade egípcia famosa, poderia escrever “tive uma visão de uma figura que me lembrou Anúbis”, em vez de “fui visitado por Anúbis” ou “alucinei com Anúbis”.
Em outras palavras, você reconhece que algo aconteceu. Se se revelar uma ilusão, seu diário conterá um alerta sobre esse erro. Se, por outro lado, se mostrar uma mensagem verdadeira e valiosa, ela estará preservada no diário. No geral, essas experiências registradas, como peças de um quebra-cabeça, começarão a se encaixar e formar uma imagem mais clara.
O uso regular dos espelhos da alma — inventários de nossos traços negativos e positivos — nos informa como nosso trabalho e experiências estão se manifestando em nossa vida cotidiana. Se estamos piorando, essas experiências não estão nos levando na direção correta.
Um perigo aqui é a racionalização. Alguém pode dizer, por exemplo, que ficar mais irado e violento é um “processo de purificação”, que discutir demais na internet ocorre porque “a verdade é urgentemente necessária”, e que perder o emprego e a família é um sinal de “redefinir prioridades”. Talvez por isso os estudantes de Franz Bardon criem seus espelhos da alma desde o início. Os espelhos da alma nos dizem onde estamos em relação à sephirah de Malkuth, em relação ao nosso domínio sobre nossas vidas mundanas, à expressão de nossos talentos, ao cumprimento de nossos deveres e à prática de nossos valores. O domínio de Malkuth nos mantém com os pés no chão. À medida que progredimos no caminho e as coisas ficam instáveis e estranhas, precisamos confiar em nossos espelhos da alma.
Um dos meus autores esotéricos favoritos, Paul Foster Case, escreveu que a verdadeira Voz nunca lisonjeia nem ordena. Eu entendo lisonja como qualquer coisa que desperte um senso de importância própria, como sugerir que uma pessoa é excepcionalmente talentosa, bem-sucedida ou escolhida para uma missão especial ou um favor. A lisonja pode se manifestar na forma de um complexo messiânico: a ideia de que o indivíduo foi escolhido para salvar os outros. Ou, por outro lado, pode aparecer como a crença de que seremos poupados de algo que as pessoas “comuns” enfrentarão.
No contexto da magia, as ordens e as lisonjas são formas de manipular uma pessoa para que ela vá além do que compreende, deseja ou está pronta para fazer, deixando-a fora de sua profundidade e à mercê da entidade manipuladora — não muito diferente do que fazem golpistas comuns. O antídoto é sermos honestos conosco mesmos sobre nossos limites e não os abandonarmos imprudentemente por medo ou tentação.
Higiene mágica é um tema vasto que merece múltiplos livros. Toquei nesse assunto em um artigo anterior, quando escrevi sobre o consumo de informações.
A higiene mágica envolve, acima de tudo, a escolha dos alimentos, impressões e do ar que oferecemos ao nosso corpo, alma e mente. Isso inclui não ter a famosa “cobiça por resultados”. Se não aceitarmos o fracasso, acabaremos nos iludindo, encontrando desculpas, procurando evidências alternativas e não aprendendo com os erros.
A higiene mágica também inclui o controle sobre a energia que emitimos e recebemos. No sistema de Franz Bardon, a lavagem mágica é a maneira mais direta de remover energias residuais e desperdícios. Outras opções podem incluir oração, meditação, hatha yoga, artes marciais internas e rituais de banimento.
Nos dias de hoje, um estilo de vida saudável, equilibrado e harmonioso pode parecer uma utopia, mas esse é o objetivo final, e podemos nos mover em direção a ele, passo a passo.
Vamos voltar à história de Dorothy Martin e ver como ela se compara a essas sugestões. Primeiro, Martin não praticou o registro desprendido, mas aceitou cada transmissão de “Sananda” como verdade absoluta. Ela permitiu que “Sananda” a lisonjeasse como um “canal” escolhido para ensinar além do seu nível de maturidade espiritual e ordenasse que ela se preparasse para o arrebatamento sob a ameaça de cataclismo. Os Seekers, como grupo, não encararam o enfraquecimento de seus relacionamentos familiares, sociais e profissionais como um sinal de que algo estava errado. Por fim, o grupo estava aberto a quaisquer influências até a exaustão, em vez de consumir informações com discernimento e cultivar o equilíbrio.
Desenvolver resistência ao glamour é um pré-requisito para uma prática mágica sustentável e produtiva, e espero que essas reflexões sirvam pelo menos como um lembrete disso, assim como Quando a Profecia Falha me serve de lembrete quando eu me deixo levar um pouco demais.
Fonte: Avoiding Self Deception in Magic – Perseus Arcane Academy
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