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Franz Bardon, 1956
1956 foi um ano produtivo para Franz Bardon. Pouco depois do lançamento de seu primeiro livro “O Caminho do Adepto” veio a publicação de uma segunda obra que é sua irmã. O primeiro livro era dedicado à primeira carta do Tarot, “o Mago”, e portanto se voltava para a união do macro e do micro cosmo pelo domínio dos elementos. O segundo livro, dedicado à segunda carta “a Sacerdotisa” é inteiramente devotado à prática de evocação. Essa seqüência sugere um fato confirmado pelo autor por diversas vezes: não se tratam de dois trabalhos separados, mas sim de um segundo passo a ser seguido por aqueles que dominaram os graus do livro anterior. Na introdução Bardon é claro ao enfatizar que o estudante só deve começar suas praticas de evocação depois de ter progredido até o VIII grau do Caminho do Adepto.
Por um lado isso mostra que este livro, por si só, pode se revelar um trabalho que dificilmente gera frutos para o magista iniciante, mas por outro lado, caso já existe alguma prática, ele é a obra indicada para se entrar em contato com o invisível. O próprio Bardon afirma que sem o treinamento adequado, oferecido por ele no primeiro livro, toda essa obra se torna inútil. O alerta é claro: a ignorância não protege de modo algum as pessoas do perigo e da tragédia que podem resultar de operações mágicas realizadas sem o suficiente treinamento e desenvolvimento pessoal. Se alguém sem a devida preparação ousa se aproximar da prática da evocação, ele pode estar certo de que, ou não conseguirá nenhum resultado, o que provavelmente o fará desistir da questão, ou terá resultados incompletos que podem torná-lo um descrente. Este tipo de alerta chega a ser um testemunho da responsabilidade que Bardon tem ao passar adiante seu conhecimento mágico, algo muito raro quando vemos que grande parte das obras que tratavam o assunto simplesmente induziam pessoas sem preparo algum a buscar o invisível para tentar solucionar problemas banais ou estúpidos.
Este é um aviso sincero e importante. Sem uma base mágica, qualquer operação de evocação acaba sendo um trabalho frustrante. Um dos ensinamentos da magia é que sua prática não faz com que coisas invisíveis surjam do nada, mas sim ensina o praticante a enxergar coisas que estão bem na sua frente e ele, normalmente, é incapaz de ver, da mesma forma que uma pessoa olhando para o céu num dia claro de verão é incapaz de ver as estrelas. Bardon prossegue afirmando que caso a pessoa se aventure a partir diretamente por este segundo passo, ao invés de um contato real com entidades o estudante apressado apenas evocará imagens de sua própria mente com resultados insignificantes, ou mesmo inexistentes.
Os ensinamentos do livro, que detalham de forma didática a maneira correta de se evocar e se comunicar com entidades divinas, que habitam as zonas atmosféricas ao redor dos planetas, estrelas e da lua, assim como também da Terra, estão divididos em três sessões: A primeira parte explica a teoria da evocação mágica e ensina a construção das ferramentas ritualísticas. Uma segunda parte expõe a hierarquia dos planos existenciais descrevendo também muitas das inteligências que neles habitam. Por fim um última parte nos oferece centenas de selos e sigilos de gênios e espíritos e elementais que podem oferecer ao praticante praticamente todo o tipo de conhecimento, como alquimia, astronomia, adivinhação, cura, etc.
Apesar de todo glamour que a arte evocatória têm, graças aos mitos e lendas de feiticeiros poderosos, a verdade é que em geral ela acontece por motivos de exploração, seja do universo ou das habilidades do magista. Os motivos mais mundanos que levam a pessoa a estudar magia já foram sanados durante a iniciação. Assim, a evocação existe para que o mago possa conhecer e explorar outros reinos de existência e assim possa aprender uma imensidão de coisa com as inteligências que vivem nestes planos. Um dos maiores exemplos disso é o maior dos magos Elizabetanos, John Dee, que depois de muito estudar e praticar a Arte, chegou à conclusão que algumas das coisas que desejaria aprender não se encontravam em nenhum livro escrito, e assim contratou os serviços de Edward Kelley para buscar o conhecimento em outras esferas da existência. Isso não significa que esses seres sejm apenas professores, obras como As Claviculas de Salomão, por exemplo, deixam claro que existem formas de, uma vez trazias ao nosso plano, essas criaturas podem aceitar tarefas menos nobres, e executá-las com um alto grau de êxito, desta forma ajudando o magista com alguma tarefa que lhe seja impossível ou particularmente difícil.
Um ponto interessante que torna esta obra particularmente especial é que, antes dela os livros que tratavam deste assunto foram escritos sob a influência pesada da magia e do estilo que imperavam na idade média, ou seja, eram completamente tomadas por valores e morais cristãs, mesmo as obras supostamente de origem egípcia ou judaica. Já o livro de Bardon as práticas são focadas no hermetismo, e não em uma religião. Ele não classifica as entidades simplesmente como anjos e demônios, o que de certa forma limita muito a interação entre elas e o magista, mas sim como inteligências, ou seja, fontes de informações que não necessitam de um meio físico para existir. Desta maneira o trabalho que surge através do estudo desse livro é um tratamento de igual para igual para igual com outras inteligências, sem a necessidade se ser rigoroso demais como no sistema goético original nem submisso e ascético demais como no sistema de Abramelim.
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