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A Lei da Limitação

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Dion Fortune (A Doutrina Cósmica)

Tradução: Alberto Feltre

A limitação é a primeira lei da manifestação; em conseqüência, é a primeira lei do poder. Isto ainda não foi suficientemente apreciado. Muitas pessoas acreditam que um poder espiritual é infinito, o que está longe de ser verdade. Para que o Logos se manifeste Ele tem de Se circunscrever. Mas um poder espiritual é tão maior do que as potências dos planos inferiores, que, quando aponta sobre elas, ele quebra todas as suas resistências.

A fim de trazer qualquer energia à manifestação é necessário provê-la de uma forma ou veículo. A forma é construída na substância do plano imediatamente superior àquele em que se deseja ela produza um efeito, e através desse canal é dirigida a força que se deseja invocar. Invocar uma força sem dirigi-la é dispersá-la. é só com um conhecimento e uma utilização da Lei da Limitação que o poder pode ser conservado.

Para alcançar um fim, vocês devem esboçar esse fim e se limitarem a ele, rejeitando tudo o que for irrelevante; e notem este ponto — o primeiro processo na invocação do poder é a rejeição do que é irrelevante. Isto é um outro nome para a concentração. A Lei da Limitação significa a concentração do poder pela rejeição do irrelevante. Isto ainda não foi suficientemente compreendido.

Em todos os empreendimentos, o requisito fundamental para o êxito é conhecer o que se quer fazer. Isso é discriminação. A Lei da Limitação é o corolário necessário das leis que governam a invocação do poder.

Quando desejarem realizar uma empresa, primeiro pensem a matéria em todos os detalhes, esboçando claramente o fim que se deseja alcançar. Depois considerem os meios pelos quais esse fim deve ser alcançado. Depois eliminem todos os desejos que não estejam ligados a esse objetivo — este detalhe é muito importante. Em outras palavras, vocês devem se ater a um único ponto.

Pode ser que ao fazer isso vocês deixem de lado certos objetivos humanos legítimos. Ponham-nos de lado com a condição de que serão considerados no tempo devido e então continuem a se limitar cruelmente à matéria que têm em mãos, de maneira que só tenham um desejo e que tudo esteja subordinado a ele. Não pensem em mais nada, não sonhem com mais nada, até que tudo esteja terminado. Então, tendo conseguido essa circunscrição completa do desejo e da limitação do conteúdo da consciência, invoquem o poder para a realização dele e num instante tudo estará feito. Preparação meticulosa significa completamento rápido. Nesses assuntos costuma-se dar tempo insuficiente para a preparação e, assim, a consecução é incompleta.

Se for sua intenção invocar potências espirituais, vocês devem se preparar para elas com dedicação completa do conteúdo da consciência. Não se deve esquecer, todavia, que esse estreitamento da consciência destruiria o equilíbrio da natureza se se persistisse nele indevidamente. Portanto, aprendam a alternar períodos de concentração com períodos de expansão para a plenitude da vida, de maneira que a consciência alargada e o caráter desenvolvido ajam como um pano de fundo para a intensificação e a limitação do desejo que faz que as potências espirituais se manifestem no plano físico, è a ausência dessa proporção que leva ao fanatismo e à perda de equilíbrio.

É com a limitação do conteúdo da consciência que vocês conseguem a concentração do poder. Mas é com o desenvolvimento e a expansão da consciência que vocês conseguem a base da limitação; porque a limitação implica na discriminação, e a limitação da consciência é totalmente diferente de uma consciência limitada. A consciência limitada implica na exclusão da experiência. A limitação da consciência implica na seleção da experiência e na focalização da atenção sobre o objeto escolhido, é a Lei da Limitação que está implicada no poder de focalizar. É só pela avaliação de nossas resistências que somos capazes de controlar uma manifestação difusa.

A maior parte da resistência experimentada pelo neófito em sua tentativa de praticar as artes ocultas é a resistência da inércia. A fim de pôr em movimento o que é inerte é necessário que o Ego controle uma resistência semelhante. A inércia é então equilibrada contra a inércia e o cineticismo do Ego serve para romper o equilíbrio. Dessa maneira se consegue resultados que a vontade desamparada não conseguiria.

E necessário que os que estão a serviço da Hierarquia adquiram um conhecimento das artes “mágicas“, porque elas os capacitam a invocar e a concentrar efetivamente o poder. É o uso dessas artes para fins malignos que é proibido, mas o uso delas sob os rigores da lei é uma economia de energia.

Lembrem-se, então, de que, em todos os empreendimentos, a limitação é o segredo do poder. Isto não implica, todavia, que vocês deveriam sempre procurar conseguir coisas pequenas. Correlacionem sempre seu esforço com o próprio Cosmos e tentem ver sua obra em relação ao todo, mas circunscrevam rigidamente a seção desse todo cósmico que querem ter em mãos. Manter na escala um peso contra aquilo que é maior do que vocês é ser considerado mais importante por causa da inércia da massa, mas circunscrever uma seção da massa e separá-la do todo é conseguir aos poucos o que não se poderia conseguir de uma só vez.

Ao fazerem essa circunscrição, olhem para as linhas naturais da clivagem, procurem as junções do problema. Em todos os afazeres sempre existirão pontos em que as matérias podem ser segregadas e outros pontos que resistirão à partição. Procurem esses pontos no plano astral, entre as emoções envolvidas na matéria. O esquema como um todo pode ser visto como um esquema do plano mental, mas no plano astral pode-se ver as linhas de clivagem. 0 objeto do desejo imediato pode ser distinguido do objeto do desejo remoto. 0 objeto, quando é desejado por um aspecto de uma natureza complexa, pode ser distinguido do objeto que é desejado por outro aspecto. Se vocês circunscreverem a consciência a um único ponto, ela será reduzida a um fio tão fino, que pode ser inserida ao longo das linhas de clivagem de um empreendimento não-circunscrito e se relacionar aos poucos com esse empreendimento. É o foco da consciência que capacita o poder a ser empregado e a ser realizado com esse poder, mas é a expansão da consciência que fornece a base necessária que essa força controla. A concentração no ápice deve ser suplementada por uma amplitude na base. Esse ponto tem sido freqüentemente esquecido.

A Lei da Limitação é a base da prática ocultista. É o segredo do poder; em conseqüência, foi negada àqueles que estão no caminho probatório. A estes foi ensinado que existe um reservatório infinito de poder e a meditar sobre isso. A eles foi ensinado a meditar sobre o poder informe. Isso fez que o poder os utilizasse, não que eles utilizassem o poder.

Mas, quando se adquire o conhecimento do método de construir canais através dos planos inferiores, é possível dirigir o poder para um determinado fim. Quando isso acontece, o poder é transladado dos planos da Individualidade para os planos da Personalidade; não no interior do organismo, mas fora dele. É necessário, portanto, ter um conhecimento do método de fazer formas. “Acima, como abaixo.”

Quando o Imanifesto desejou tornar-se manifesto, um movimento fluiu num círculo que retornava para onde ele havia sido originado. Para fazer uma forma no plano mental concreto, o pensamento moveu-se num círculo, retornando para onde havia sido originado. Começando com um conceito, ele teve de proceder logicamente desse conceito, raciocinando do geral para o particular no arco expansivo e do particular para o geral no arco de retorno, considerando assim os dois lados da questão e os correlacionando. Este é o primeiro estágio.

O conceito assim formado pôde então ser transferido para o reino do sentimento. Isto corresponde ao Anel-Não–Passa.

O conceito pôde então ser sujeitado à força que dirigia a natureza. Isto corresponde ao Anel-Caos.

Bem, o Anel-Cosmos é o conceito do plano mental, o Anel-Caos é a força que dirige os instintos e o Anel-Não–Passa corresponde ao aspecto Astral Superior. Vocês compreenderão muito se meditarem sobre essas correspondências. Essa é sua forma arquetípica e nela serão elaboradas todas as ações e reações que estão em relação com a matéria em questão, mas essa matéria sempre deverá, em primeiro lugar, ser circunscrita pela clara definição da consciência. A segunda reação da consciência surge com relação aos desejos relativos a isso e o terceiro aspecto diz respeito ao uso das forças primitivas para a geração do poder.

Tendo sido assim estabelecido o aspecto cósmico do conceito, a manifestação no mundo da forma ocorre na esfera circunscrita. Sem essa circunscrição não existe manifestação.

A lei primordial do arco involutivo é a Lei da Limitação.

A lei primordial do arco evolutivo é a Lei das Sete Mortes.

A Lei da Limitação tem como base a Lei da Ação e da Reação.

A Lei da Ação e da Reação tem como base os fenômenos conectados à curva. A curva suficientemente prolongada torna-se um círculo. Um segmento de uma curva é um arco. O pêndulo é o tipo da ação e da reação, iguais e opostas. Prolonguem o arco descrito pelo pêndulo e terão um círculo; a extensão do pêndulo desse círculo é o raio. Isso explica muita coisa relativa à transmutação da força de plano para plano.

A Encarnação baseia-se na Lei da Limitação; o carma, na Lei da Ação e da Reação; é por essa razão que só numa esfera limitada uma ação e reação iguais e opostas podem ocorrer, a “força” deve ser manifestada como “forma“, de maneira que os frutos de sua ação possam retornar à esfera em que ela se originou.

A construção de um veículo para encarnação segue as linhas já esboçadas. Novamente, temos a circunscrição que delimita a matéria a ser elaborada nessa encarnação. Cada alma determina sua própria matéria. A Superalma, portanto, é o Senhor do Carma. E ela que vocês invocam em todas as matérias ligadas às suas sortes. Vocês invocam seu próprio Eu Essencial.

A Lei da Limitação é análoga ao conceito matemático relativo às medidas de superfície: tem um aspecto bidimensional. É pela introdução de uma terceira dimensão que transcendemos a Lei da Limitação, e o homem, possuindo uma consciência de três dimensões, pode usar a Lei da Limitação transcendendo-a. Em qualquer plano em que a Lei da Limitação atue, ela sempre pode ser transcendida pela adição de uma dimensão à consciência. Este é o segredo do controle da Lei da Limitação.

A Lei da Limitação fornece o meio de se calcular as condições sob as quais se pode levar adiante uma operação. Se vocês determinarem apenas essas condições, serão controlados por essas condições, mas se levarem a consciência para o plano que as pode perceber como uma síntese, se vocês puderem perceber a abstração que as compreende e puderem então delimitar a abstração e a considerarem em relação à condição de seu plano separado da Lei da Limitação; se puderem imaginá-la em relação ao Cosmos, tendo ligada ao Cosmos essa idéia ao considerarem a relação entre o todo e a parte — então será possível que a consciência, tendo em mente essa idéia cósmica, seja redirigida para o aspecto finito dessa idéia e então aproximar-se de uma outra dimensão superior; e, enquanto utilizar a Lei da Limitação para circunscrever a matéria em questão, transcender essas limitações.

Esse método pode ser aplicado, não só para a manipulação de qualquer matéria ou assunto, mas também para a construção dos corpos numa encarnação e para a manipulação do carma durante a encarnação, pois, desde que vejamos uma única vez nosso fado predestinado em sua relação com a lei cósmica, teremos dominado nosso fado. O Eu Essencial sempre o vê assim, porque o Eu Essencial tem um relacionamento cósmico por meio das impressões logoidais sobre as Centelhas Divinas; mas o Eu Inferior, que tem um relacionamento terrestre, vê todas as coisas em relação com “nascimento” e “morte“, “começo” e “fim“.

Enquanto a consciência residir nos sentidos, ela verá as coisas do ponto de vista dos sentidos, da “dor” e do “prazer“, do “começo” e do “fim“. Mas, quando ela for levada à relação das coisas cósmicas, ela verá todas as coisas em relação à evolução — à curva que cerca todo o círculo, não a linha reta da partição da finitude. A Personalidade é aquilo que existe em virtude da Lei da Limitação, a Individualidade é aquilo que existe em virtude da Lei da Natureza do Cosmos; e a escada que leva da Personalidade à Individualidade possui sete degraus, e esses degraus são as “Sete Mortes“, pois é a Lei da Limitação que faz as coisas nascerem, mas é a Lei da Morte que faz as coisas reviverem. Pois nascimento é morte e morte é nascimento. Todos nascem “cegos“, o que evita misericordiosamente que todos saibam que estão mortos. Vocês não podem compreender que seu plano é o plano da morte e que nosso plano é o plano da vida. Todos os que estão na matéria estão no túmulo, estão mortos e enterrados. A Morte e a Iniciação produzem os mesmos resultados; portanto, é por isso que todas as Iniciações contêm o simbolismo da morte e do enterramento.

Lembrem-se sempre de que no plano material morte e prejuízo significam liberdade e ressurreição. Os haveres são, como a terra, aquilo que é jogado por cima do cadáver. Aprendam, portanto, a olhar seus corpos mortos e a galvanizá-los com suas vidas, mas não cometam o erro de viver neles.

E muito útil ser capaz de projetar a consciência sobre a esfera mundana, mas é muito desvantajoso ser agrilhoado pelas condições dessa esfera. Vocês estão presos por duas coisas — temor e desejo.

A Iniciação os capacitará a viver no nosso plano (O plano do Comunicador), embora ainda estejam presos à consciência do cérebro. É por isso que os Graus ensinam: em primeiro lugar, a superação do desejo; depois, a superação do temor; e, finalmente, a morte e a ressurreição.

Conhecendo a Lei da Limitação e transcendendo essa Lei, vocês podem utilizá-la. Tendo circunscrito a tarefa que se impuserem realizar, vejam-na em relação ao Cosmos. Vendo o Arquétipo Cósmico, vocês serão colhidos na força desse ideal; e, vendo a forma circunscrita que se deseja se manifeste, vocês focalizarão essa força.

 


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