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A Chave da Magia Negra: A Roda do Devir

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Por Stanislas de Guaita. Traduçao Icaro Aron Soares.

Uma plataforma sólida, onde se encontra a esfinge impassível.

Mais abaixo, uma vasta roda, montada sobre um eixo móvel, que dois suportes seguram na altura desejada.

Dois monstros – os gênios antagônicos do mal e do bem – agarram-se a esta roda, à esquerda e à direita: desce um demônio com cornos, cabeça para baixo, o garfo no ponto sinistro; ele torce suas pernas incertas e escamosas na roda. Aqui, é uma cinocefalia que se eleva; sua cabeça está perto de alcançar a plataforma da esfinge, e sua mão direita levanta um caduceu…

Tal é o admirável emblema que nos é apresentado pela décima lâmina do Livro de Toth.

Acima, o Absoluto manifesto, a Palavra, potencial de uma criação inesgotável. É a esfinge egípcia, que resume em sua forma sintética as dos quatro animais sagrados da Cabala (Haoth hakkadosch), figurativa das quatro letras do incomunicável Iod-he-vau-he יהוה.

Typhon, descendo pela esquerda, simboliza o êxodo involutivo dos submúltiplos verbais, que se afundam na matéria, arrastados pelo peso de sua queda, e assim põem em movimento a grande roda do Becoming.

À direita, Hermanúbis emblematiza a evolução das formas progressivas desta mesma matéria, reagidas pelo Espírito, e o retorno dos sub-múltiplos à inesgotável mãe-Unidade da qual emanaram.

Por um lado, é o daimon da Involução, que em sua queda dolorosa não poderia perder completamente a figura humana, – semelhante à imagem divina, – aquela figura que os chifres da rebelião, do egoísmo e do orgulho não poderiam alterar. – Por outro lado, o daimon da Evolução ascendente, que, brandindo o caduceu da ciência e do equilíbrio, e prestes a subir a plataforma esfíngia, ainda mantém em seu rosto o infame estigma da animalidade, símbolo dos reinos inferiores dos quais emerge… Que contraste poderia ser mais grandioso e mais significativo?

As duas figuras monstruosas representam, em última análise, um e o mesmo caráter, – o Adão Cósmico, – nos dois aspectos complementares de queda e ascensão, ou, se quiser, nas duas tendências opostas de Análise e Síntese, de diferenciação e integração universal.

Mas o que dizer da consequência imediata deste duplo movimento: o impulso dado à roda do Tempo sem limites, que multiplicará suas voltas, abraçando o Espaço ilimitado na esfera de sua rotação? A eloquência hieroglífica dos autores do Tarô não toca o sublime, pois eles são capazes de especificar, nesta simples imagem, o Como e o Porquê da misteriosa e profunda relação que liga a criação do universo físico e a abertura do ciclo temporal à queda do Adão celestial?

Do ponto de vista do Cosmos total, não mais considerado nos princípios de sua gênese, mas no fato de seu governo e nas fontes de seu determinismo ocultista, nosso pentagrama não será menos significativo: a esfinge se tornará o emblema da Providência, o cinocefálico, o da Vontade, e o demônio, o do Destino.

Agora, estes três Poderes de leitura do Cosmos constituem na verdade sua natureza tripla, intelectual, psíquica e instintiva, – aqui está a transição lógica entre as visões precedentes e outra ordem de correspondências não menos essencial. Que se passarmos da Cosmogonia à Ontologia, a décima chave do Tarô nos revelará a constituição ternária de todo ser: Espírito, Alma, Corpo.

A Esfinge simbolizará o elemento espiritual, ativo e masculino, ou o princípio de enxofre dos Alquimistas; Typhon, o elemento corpóreo, passivo e feminino, ou o sal dos Alquimistas; – Hermanubis, finalmente, representará o termo intermediário entre Espírito e Corpo: o elemento animico, ou Mercúrio dos Alquimistas, que é andrógino, ou seja, ativo em relação ao Corpo e passivo em relação ao Espírito.

Isto nos dá a polarização geral de cada ser: pólo positivo, +, o Espírito; pólo negativo, -, o Corpo; centro de equilíbrio, a Alma.

Além disso, o Espírito, a Alma e o Corpo, considerados separadamente, cada um tem seu próprio ternário de polarização: pólo positivo, pólo negativo e neutro equilibrado; – como pode ser visto pelo estudo do magnífico diagrama publicado por Fabre d’Olivet, em sua filosofia Histoire du Genre humain, em uma placa fora do texto, e que infelizmente está faltando em um grande número de cópias.

Mas isto está longe de ser tudo. – Somos levados aqui a tornar conhecidos os princípios de um sistema de dupla e sextupla polarização, aplicável a todos os seres vivos, desde os poderes constituintes do Universo considerados como tal, até o mais humilde exemplar individual que desejamos escolher, seja no homem ou mesmo na série animal.

Esta lei de polarização universal dos seres constitui um dos mistérios mais ocultos da Magia. Sua revelação precisa é dirigida somente aos iniciados… É uma jóia que se desprende a seu favor daquele magnífico caso em que a antiguidade sacerdotal amontoou os tesouros de seu esoterismo: uma profunda reserva científica do passado, da qual o futuro pode tirar por muito tempo com as mãos cheias, sem qualquer risco de secar suas riquezas.

Não sabemos se esta teoria alguma vez foi revelada. O próprio doutor Adrien Péladan não o menciona em seu brilhante livro Anatomia Homológica. Pelo menos é certo que ele sabia disso. Joséphin Péladan transcreve, na introdução que colocou à frente do livro póstumo de seu irmão, uma página muito notável de um folheto anterior, onde o Dr. Adrien faz uma alusão direta à lei da polaridade cerebral-sexual, e deduz engenhosamente uma de suas conseqüências. Quanto às outras obras do mesmo tipo que pudemos consultar, não há nenhum vestígio desta teoria.

Recentemente estávamos navegando pela coleção Lotus, uma excelente revista ocultista, que só um desaparecimento prematuro a impediu de cumprir o que prometia, e que bom léxico de assuntos recolhidos por ordem teria feito dela: a enciclopédia teosófica dos estudos budistas na França. Na página 102 do primeiro volume, encontramos um artigo (reproduzido de Theosophist), onde o problema da polaridade é colocado, sob a assinatura N. C, o problema da polaridade humana, em conexão com dois livros publicados alguns meses antes, um de M. le docteur Chazarin, o outro de M. le Professeur Durville.

Ao fazer justiça ao mérito e à iniciativa corajosa desses dois exploradores de um mundo bastante novo, o Sr. N. C. aborda, em nome da ciência oculta, as críticas das duas obras. Este dificilmente é o lugar para resumir estas opiniões. Embora o censor nos pareça, para dizer a verdade, se não parcial a favor do Dr. Chazarin, pelo menos um pouco severo para M. Durville, cujo trabalho é mais notável, não pretendemos decidir a quem pertence a palma da descoberta, nem mesmo examinar se existe uma descoberta.

É o próprio crítico que vamos colocar na cadeira quente.

Ele nos reúne e nos oferece, com a curiosidade consciente de um erudito herborista do Mistério, um certo número de detalhes de real interesse; mas deixemos que ele expresse nossa surpresa, já que fala em nome do Ocultismo, para vê-lo negligenciar as grandes avenidas da ciência, a fim de bater os arbustos em busca de suas flores.

Sem dúvida, os amadores da fisiologia secreta ficarão felizes em saber (se ainda não o souberem) que no homem há sete forças, correspondentes aos sete princípios analíticos de M. Sinnett, e que cada uma dessas forças tem suas próprias características. Que a metade direita do corpo é positiva, a outra negativa; que as artérias e nervos motores são de natureza positiva, as veias e nervos sensoriais de uma negativa; que dois líquidos de caráter químico diferente, separados por uma divisória porosa, geram, como o Sr. John Trowbridge demonstrou, uma corrente de energia na metade direita. Que dois líquidos de caráter químico diferente, separados por uma divisória porosa, geram, como o Sr. John Trowbridge demonstrou, uma corrente de eletricidade: de onde se segue que a endosmose, exercida através dos tecidos do organismo, deve dar origem a uma corrente; – Que, finalmente, o pescoço é ligeiramente positivo para o peito, e a mão às vezes negativa para o pé, às vezes positiva.

~A Chave da Magia Negra: A Roda do Devir. Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

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GUAITA, Stanislas de. “La Roue du Devenir”. In. La Clé de la Magie Noire. Disponível em: <https://www.esoblogs.net/3650/la-cle-de-la-magie-noire-la-roue-du-devenir/>. Acesso em: 5 de março de 2022.

 


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