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O Objetivo do Sábio e O Melhor dos Meios para Progredir 

 Pseudo Maslama, o madrilenho O filho é a essência de seu pai.

Ben-Arabi.

Oran, Abril/Maio de 1978 MARCELINO VILLEGA

INTRODUÇÃO

 {1*} Em nome de Deus, clemente e misericordioso.

Louvado seja Deus, cuja luz ilumina aquilo que os véus ocultam; e de seu poder emanam os prodígios dos destinos; em Quem todas as trilhas acabam; cujo império corresponde à diferença entre a noite e o dia. O Qual traz as coisas à existência a partir do nada, Criador dos seres e Causa de sua virtude. Fim e Princípio de toda criatura, Que não está mesclado com as coisas, embora tampouco esteja separado delas; nem as qualidades O limitam, nem a injustiça Lhe alcança; os adjetivos não Lhe esgotam e as contingências não Lhe afetam. Deus abençoe ao senhor dos Mensageiros; ao selo dos Profetas; a quem foi revelado o Livro na eloqüente língua árabe, a língua dos escritos dos Antepassados. Paz sem mentira até o Dia do Juízo para os justos e puros.

*: A cifra entre chaves refere-se à paginação do original, edição de H. Rirrer (Leipzig, 1933).

De outro modo, tu que buscas avidamente imergir na ciência dos filósofos, descobrir seus arcanos e investigar as maravilhas eternizadas em seus livros, deve saber que o motivo que me impulsionou a compor este livro, cujo título é O Objetivo do Sábio e O Melhor dos Meios para Progredir foi o que descobri ao escrever o livro anterior (qual intitulei de ‘A Classe do Sábio’). Escrevi tal livro [O Objetivo do Sábio] no início do

ano de 346, ao finalizar a correção de A Classe do Sábio e o finalizei ao final do ano

  1. Fui inspirado a compor nele a visão sobre como a maioria dos nossos contemporâneos buscam, por meio {2} dos talismãs e as diversas artes mágicas, sem saber o que desejam ou para onde vão, e morrem na busca do escudo que os separam dos sábios, que se opõem a tal prática, pois isto levará a ruína e destruição do mundo, e Deus não consente com o benefício do mundo individual. Por isso, construíram os labirintos e neles colocam os paradigmas, para que a mente se preparasse e tivesse juízo, prudência; e perpetuaram os labirintos com símbolos e enigmas, assim como eternizaram nos livros, para que ninguém os entendesse, exceto os sábios como eles. Assim, ensinaram o que há neles [nos labirintos] e revelaram os segredos a quem os superavam em inteligência. Porém, percebi que tenho que transmitir e explicar às pessoas o enigmático método chamado magia natural e expor o que os sábios escondem neste ambiente mágico, como fizemos com o meio artificial. Este livro foi dividido em quatro tratados, ou livros, tal como fizemos em A Classe [do Sábio]. Cada tratado é formado por uma quantidade de capítulos.

O primeiro tratado contém sete capítulo, e está em ordem, pois sete são os planetas. O primeiro capítulo trata da nobreza da sabedoria, pois no primeiro tratado ocupo-me da esfera celeste e os corpos desta esfera, em referência à composição dos talismãs, e como os astros projetam seus raios sobre este planeta. Também cito conceitos misteriosos que os sábios reservaram para si por ganância e mesquinhez, no início do tratado.

{3} O segundo tratado é sobre as imagens astronômicas e suas obras, a manifestação dos segredos de seus efeitos, que os sábios ocultaram, os modelos de como a magia

influi neste mundo chamado de o Mundo do Ser e a corrupção através do Mundo Etéreo; e qual o motivo impeliu Platão a falar sobre protótipos.

O terceiro tratado é sobre a participação dos astros nos três reinos, pois no Mundo do Ser e da corrupção, nada, senão eles [os astros], atuam, pois a as reminiscências, sendo fluidas, são absurdas ao produzir efeitos. Portanto, [este Mundo] não é deles. Refiro-me ao relacionamento de uns com os outros para que se possa alcançar com estes os efeitos mágicos desejados, por influxo da temperatura elemental ou temperatura natural e de seu peso específico; ou seja, uma mistura que se utiliza para se defumar, não sendo necessário devolver a comida nem a bebida.

O quarto tratado é sobre a magia dos curdos, dos nabateus e dos etíopes, com receitas para realizar predestinações ou sortilégios, que são a melhor espécie de magia. Cumprirei este objetivo devido, sem ganância ou ocultação; a Deus peço ajuda para cumpri-lo segundo nossa intenção, pois Ele é o Senhor dela [de nossa intenção]. E com Sua ajuda eu iniciarei.

PRIMEIRO TRATADO

 Capítulo 1

 Saiba, irmão, Deus ilumine teu entendimento!, que a sabedoria é o dom mais importante e o bem maior; pois a sabedoria é a ciência das causas remotas que dão existência aos seres e existência às causas {4} próximas das coisas determinadas; e assim, certamente se conhece seu existir e sabe o que são, e como são, e que, ainda que sejam muitas, que regressam gradualmente ao Ser Único que é a Causa da existência de tais coisas remotas, e daquelas coisas próximas, que estão abaixo delas. Certamente, este Uno é o Primeiro em verdade e Existe não pela existência de outra coisa, mas porque É auto- suficiente; não toma a existência de outro; além disso, não pode tomar o existir absolutamente de nenhum outro ser; e, portanto, não pode ser um corpo, fundamentalmente, nem estar em um corpo, pois Sua existência é outra existência, externa à existência das outras criaturas, das quais nada partilha, em nenhum sentido. Em vez disso, há algo comum, e está somente no nome, e não no conteúdo de tal nome; e Ele não pode ser mais que o Único Uno e Ele é Uno em verdade. Ele é quem concede às outras criaturas a unidade pela qual podemos dizer que cada ser é único. Ele é a Primeira Verdade, que concede ao outro a verdade, simplesmente Sua Verdade, sem se aproveitar da verdade do outro. Não se pode imaginar perfeição mais plena que a Sua, independente do que exista; nem existência mais completa que Sua existência; nem verdade maior que Sua verdade; nem unidade mais completa que Sua unidade. Ele sabe, no entanto, como se valer das demais criaturas, da existência e da verdade; e que a existência, verdade e unidade atraiu cada uma delas [as criaturas], e como Ele se valeu

das demais causas. Conhece também que as classes de todas as criaturas, aquelas que estão no início, as que estão no meio, e as que estão no fim. As últimas têm causas, mas não são causas de nada abaixo delas; as medianas possuem a causa das anteriores e são a causa {5} das coisas abaixo delas, mas não possuem causa acima delas. Ele sabe como volver à última, de uma a uma, até acabar na primeira. Logo, assim que se inicia a progressão, as primeiras das criaturas a recebem em ordem, até que termine nas últimas. Em verdade, esta é a sabedoria, ó aprendiz; e de que modo crê que seja tal o teu caminho? A sabedoria, oxalá Deus queira, é ampla e magnífica; buscá-la deve ser um dever e um privilégio, pois a busca ilumina a razão e a alma com a bela e eterna luz; e ilumina as desilusões do mundo transitório e finito, quando se compreende qual é o significado e as características destas [desilusões], que é fazer com que exista o desejo de se mover para o mundo sublime e superior, onde está o seu princípio e destino, sua origem e sua morada; pois Deus habita em tal desejo, esta é a sua origem, para ensinar qual é a deficiência do mundo e qual sua debilidade e qual a causa para que se manifestem a insuficiência e debilidade. O mundo é o intermediário entre a mente e a alma até que se adquira um saber imprescindível; louvado seja Deus: a insuficiência do mundo e a sua própria debilidade, são as causas de nos servirmos do conhecimento Dele e do reconhecimento de Sua existência, segundo dito, louvado e exaltado seja [2]. “Criei os gênios e o Homem somente para que me sirvam” isto é, para que me conheçam. Ele os preserva e sustenta, e eles devem dar-lhe graças e louvores. Entre eles, a quem desejar Ele torna feliz ou infeliz e guarda com Ele a quem ama, no Paraíso imperecível. A sabedoria tem três faculdades específicas, que são: não cresce e nem diminui; resplandece e não se apaga; é evidente para quem observa e não se afasta. Possui três forças comportamentais, a saber: a força repreensível, a força disciplinante e a força que não aceita a qualquer um que a queira.

{6} Observa que o meio pelo o qual estamos caminhando não terá existência se não existir sabedoria, pois com razão os sábios chamaram-no [o caminho] de efeito, porque entre os lógicos, o efeito é o fruto da dedução, a melhor das premissas. O objetivo de se expor estas duas doutrinas não é outro senão o de incitar à busca do saber, que é algo que não se alcança mais que o sábio que se aproximou de algum saber com todos os recursos da sabedoria em todos os seus graus, pois a morada daqueles [que buscam a sabedoria] está na sabedoria, assim como a morada do efeito está na dedução, que é a melhor das premissas; que tu entendas este maravilhoso segredo que estou revelando, e entenda também que o efeito é o fruto das premissas e se chama conclusão; quando algo se efetua, diz-se que há conclusão, na língua dos silogismos gregos. A premissa consiste de sujeito e predicado; o sujeito é o referente, segundo os gramáticos, e o predicado é o atributo, e o atributo é o que apresenta a verdade ou falsidade. O sujeito e o predicado são o apóio e o apoiado… Sentença alguma pode restringir ou delimitar, pois entre as sentenças há aquelas que são irrestritas e sem limitação, e há as restritas e há as limitadas. A sentença característica é aquela que se utiliza nos enunciados, onde não se utiliza as demais proposições, nem a imperativa, nem a assertiva, nem a interrogativa nem a exclamativa, pois nenhuma confere verdade ou falsidade. É necessária explanação prolongada sobre aquilo que foi dito acima, e se tal explanação for feita, estaremos saindo de nosso propósito. Que o interessado tome e busque a explanação por si próprio, para onde queira.

2: ALCORÃO, sura 51, verso 56.

Capítulo 2

Observai que este meio se expressa na magia e que a verdade da magia é absolutamente

{7} tudo o que encanta a razão e que sujeita a alma, seja por palavras ou atos, no sentido de assombro ou espanto, sujeição, êxtase e domínio. É dela [da magia] aquilo que a razão dificilmente capta e ocultar suas causas ao néscio, pois é uma força divina com causas determinantes que dificultam sua compreensão; por isso é uma ciência de difícil compreensão, embora também seja prática; pois sua substância é um espírito que há em um espírito, e este é o filtro e a sugestão; assim como a substância do talismã é um espírito que há em um corpo e o objeto da alquimia também é um corpo que há em um corpo. Ao todo, magia é aquilo cuja causa está em grande parte oculta à razão e é difícil de explicar, enquanto a verdade do talismã é a vibração de seu nome, que é poderoso; pois é da essência da violência e da autoridade que produz naquilo que há encadeamento com algo um efeito de superioridade e vitória por afinidade numérica e segredos astronômicos situados nos corpos especiais em momentos favoráveis e poderosas defumações que atraem a espiritualidade ao talismã. Sua condição é semelhante à de outro meio concentrado na pedra filosofal que com sua intensidade converte os corpos em si mesma [a pedra filosofal converte os corpos em pedra filosofal]; então, é um fermento que atua variando o princípio das coisas e é tão forte quanto o veneno, incorporando sua qualidade aos corpos e os convertendo em si mesmo, transformando uma pessoa em outra, com uma força inata a ela; e deves saber, amigo meu, que a verdade da enzima é que ela é um elixir composto de terrestridade

{8}, eteridade, aquosidade, e ignidade que leva em conjunto o germe que converte tudo o que sua essência toca e o transforma a sua forma; e assim vai suavizando-a e vertendo-a e assim facilita a digestão ao convertê-la rapidamente em alimento.

Igualmente atua o elixir da alquimia, que converte rapidamente o corpo em elixir, transforma-o da natureza em natureza superior, revestindo-o de espírito, alma e firmeza e o usurpando da efemeridade e corruptibilidade. Assim é o segredo de seus princípios. A expressão elixir significa que é a força que arrasta as forças, modificando-as com a superioridade e alterando o conteúdo delas até que sejam como ele [o elixir]. O elixir nada mais é do que um conjunto de animais, vegetais e minerais em certo sentido: um mundo que é deles, pois cedidos são eles ao mundo, defendendo-se e melhorando uns aos outros, pois as plantas não existem por si só e tampouco os animais sobrevivem sozinhos, precisando, contudo, das plantas e outras coisas; e os minerais necessitam ser acesos e de um fogo com umidade mercurial para se aperfeiçoar. Este é um segredo que revelamos no Livro d‘A Classe, mas volto ao nosso objetivo e digo: que a magia se divide em duas partes, teórica e prática. A [magia] teórica é o conhecimento das posições das estrelas fixas, pois sua disciplina é o lugar dos padrões e de como projetam seus raios sobre este planeta e os corpos da esfera {9} celeste para investigar a existência do que se quer; e sob isto, de tudo o que sustenta os princípios, como os dos destinos e dos talismãs; notai que para aqueles que trabalham com isto [destinos e talismãs] isto é algo essencial. A melhor forma de magia teórica é a palavra e isso se relaciona com a sua palavra (Deus a abençoe e preserve-a) e o dito de que a palavra possui magia e é sobre isso o que diz a essência de Platão em o Livro dos Aforismos: “o amigo que se torna inimigo com a má palavra e o inimigo se converte em amigo com a boa palavra”. Isto não é parte da magia?

A [magia] prática repousa nos três reinos e nas forças que os planetas propagam [nos três reinos] e em que, segundo os estudiosos, expressam em suas propriedades; ainda que não saibam de sua causa [da magia], nem sua verdade [da magia], nem da

necessidade de descobrir o segredo dos princípios [da magia]. Então, ao misturar uns [elementos] com os outros em busca de uma temperatura elemental, que é a garantia das defumações, acumula-se, pois, as completas forças sobre a redução. Ou em busca da temperatura natural. Mas isto faz parte das comidas. Não há que se sustentar em nenhuma das duas, nem de utilizá-las, mais do que com a alma humana e a animal. Os estímulos denominados filtros são a melhor espécie de magia prática.

Que tu percebas, amigo meu, que há a magia herdada e a magia criada. A [magia] herdada {10} é a que o sábio do ciclo lunar praticava e a isto apontam as palavras Daquele, que louvado e exaltado seja [3] “Toma quatro pássaros”. A [magia] criada é a que os sábios do ciclo saturnino e venusiano praticavam.

3: ALCORÃO, sura 2, verso, 262.

Os antigos gregos se dedicavam aos filtros, a forma de jogo de azar denominado probabilidade e ao talismã denominado silyimus, que é a captação dos espíritos superiores, e a tudo isso se davam o nome de magia. Dominam esta ciência, pois conheciam astronomia; o essencial, que é conhecer a esfera do Equador, chamada de o trono e a área compreendida por este; a divisão da esfera zodiacal, seus aspectos e suas demais circunstâncias; as características dos doze signos e suas referências particulares aos seres deste mundo; as direções que os sete planetas possuem dentro da esfera zodiacal e a referência aquilo que eles representam; o conhecimento dos sete planetas e os dois nós, suas posições em relação à esfera e suas referências particulares aos seres

deste mundo; o que acontece aos tais planetas isoladamente e com relação aos outros; o conhecimento das referências fundamentais sobre as quais se baseia a astrologia, por exemplo, o discernimento do planeta dominante e seus graus de dominação, a determinação das casas e o conhecimento de suas posições na esfera zodiacal. Isto é o essencial da astronomia {11}, e é encontrada em livros publicados e a partir deles é possível aprender. A este saber, o Primeiro Sábio ensina com sua frase: “Eu sou aquele que foi exaltado acima dos sete céus”. Desde então o termo “fui exaltado” considera-a por seu vigor intelectual. E também aponta na frase, e que exaltado e louvado seja: “E nós a elevamos a um grau honrado” [4].

4: ALCORÃO, sura 19, verso, 58.

Capítulo 3

 Saiba, buscador, que o céu é uma esfera de forma perfeitamente redonda e há na mesma [na esfera] tudo quanto há nele [céu] em todas as suas qualidades e em seus outros momentos. Há pessoas que imaginam que algumas circunstâncias produzem no céu a cessação da forma circular em algum momento; mas é radicalmente impossível que ocorra algo similar a isto, pois a forma do céu é a forma de sua causa, isto é, a alma é seu arquétipo, ou seja, o princípio emanador; antes do princípio não há corrupção, significando que sua forma é perfeita, e a forma perfeita é o círculo que é feito com um só traço, pois é a causa primeira. Esta é uma passagem esotérica. O céu possui esta essência, no entanto, o determinante é criado nele. Se iniciarmos a determinação material, voltamos ao princípio essencial e obrigatório. O método de acesso ao princípio é, todavia, o oposto, contrário; naturalmente, acessar a determinação é uma forma de conhecer as condições do céu, embora seja impossível que qualquer {12} corpo do mundo do ser e da corrupção esteja na posição do céu, nem a menor parte do céu em absoluto na posição do mundo do ser e da corrupção, pois isto seria transgressão. O céu, como dissemos, é uma esfera arredondada em todos os seus lados, de uma esfericidade plenamente perfeita e circular, pois consiste em uma única linha, e toda linha exterior é equidistante a um ponto interior, cujo ponto é o centro. O símbolo que há em tal linha, naturalmente é o ponto de convergência dos raios dos astros sobre o mundo, ao centro. Este é a influência dos talismãs, que é o limite ou contorno; nisto concordamos, pois o céu é uma esfera que compreende todo o mundo e por trás dele não há nada vazio em massa. O éter é uma forma estática que o sustenta. O céu dos astros está em seu interior, oblíquo ao centro, pois seu centro está próximo ao centro da terra, embora se tenha dito que esteja em separação. A natureza do céu é única, o movimento dos corpos naturais

condiz com o movimento do céu, e a temperatura que existe através dele na superfície é uma prova de sua existência neste mundo. O céu possui trezentos e sessenta graus na primeira distribuição, e também possui trezentos e sessenta imagens contendo os julgamentos segundo as correspondências.

Muitas pessoas têm dito e também opinado sobre o céu não ter atividade, e que a atividade do éter no mundo superior são os astros e a temperatura, e que as imagens dos próprios graus são somente representações das situações dos astros quando se juntam. E outras dizem que as imagens dos graus são o conteúdo da astrologia e a causa do ser de

{13} todos os seres. Ações referentes aos graus, quando o grau em um ponto, qualquer que seja, onde está uma estrela fixa, e logo chega ali um planeta, então, fixa, a posição deste planeta afeta as coisas terrenas que há neste mundo. As correspondências destes são: Saturno vivifica as coisas frias e secas; Júpiter anima as substâncias quentes e úmidas; Marte estimula as matérias quentes e secas; Vênus excita as substâncias mornas e muito úmidas; Mercúrio anima as coisas mornas e muito secas; a Lua vivifica as substâncias frias e úmidas e também as estrelas fixas. Quando um grau é servido por um astro quente com pouca radiação em seu aspecto seco e úmido, e estando o Sol no mesmo lugar, declara-se que esta questão se desenvolverá e crescerá e se eventualmente, ainda mais, o astro estivesse exaltado, o desenvolvimento seria ainda maior. Esta é uma passagem difícil e muito obscura dos sábios; principalmente porque com a obscuridade das palavras, velaram sua aparência e esconderam seu conteúdo. A isso chamam despistar, tenha isso em mente. {14}

Capítulo 4

 Aqueles que necessitavam fazer talismãs tiveram que conhecer, inevitavelmente, a esfera celeste em que se baseia a técnica dos talismãs e é daí [da esfera celeste] de onde verte os feitos destes [dos talismãs]; e novamente exponho aqui, desta esfera celeste, algumas das bases sobre as quais tu construirás [os talismãs], que são como a matéria celestial para fazer tais, pois o feitor de talismãs precisa ser um erudito nas equivalências e na esfera celeste; e ele deve controlar, além disso, aquilo que faz com certa exatidão e que não reste a ele dúvida e nem desconfiança de sua obra; e que assim se fortaleça a ação da alma racional e seja unificada a vontade com o saber da alma do mundo para realizar aquilo que é necessário. Também advirto, e insisto, quanto ao vizinho da frente, ou seja, de que não faças nada até que a Lua esteja em grau favorável a esta atividade [a que irás fazer] e [advirto] de que a Lua possui efeitos ostensivos, visíveis, não ocultos; agora mesmo vou mostrar a ti todos estes efeitos; neste momento mencionarei a ti os efeitos da Lua dentro de suas mansões, segundo o índice dos hindus, especialmente nas vinte e oito mansões.

I: A primeira mansão é a Mansão dos Dois Chifres, de 1° a 12° 58’ 26” de Áries. Os hindus dizem: “quando a Lua está nesta Mansão, favorece as viagens e facilita a ingestão de medicamentos; pode-se fazer um bastão {15} para um viajante que servirá a ele de talismã para a segurança de sua viagem”; fabrica-se também nesta mansão, talismã para estragar o que há entre cônjuges ou amigos; [para] o rompimento ou inimizade; e também talismã para que o servo fuja; e [talismã] para que se possa ficar com quem se deseja e lhe interesse; e para corromper a união entre associados; pois é nefasta e ígnea. E aqui te recordo de um princípio: busca sempre que nas operações

benéficas a Lua esteja sã e livre de ruína e sem eclipse; e que nas [operações] maléficas ela esteja eclipsada e em ruína; tenha em mente isto.

II: A segunda mansão é a Mansão do Ventre, de 12° 58’ 26” aos exatos 25° 42’ 52” de Áries. Nela são feitos os talismãs para abrir poços e ravinas e para se extrair objetos e tesouros enterrados; e talismãs para que as sementes cresçam; nela também se faz o matrimônio fracassar entre quem se deseja antes da união; e talismãs estimulantes, pois é fasta e ígnea; e para preservar o servo, e para estreitar a corrente do prisioneiro, caso queira ter novamente o teu prejuízo [ser ressarcido].

III: A terceira mansão é a Mansão das Plêiades, de 25° 42’ 52” de Áries a 8° 34’ 18” de Touro. Nela são feitos talismãs para que aquele que viaja por mar esteja seguro; talismã para ressarcir o estrago da sociedade [no sentido de empreendimento] e talismã para prender e libertar aos prisioneiros e para castigá-los; nesta mansão é feito talismã para a boa experiência com alquimia e do uso do fogo; talismã para a caça, talismã para o afeto entre {16} os cônjuges; e talismã para prejudicar as ovelhas e vacas; e o servo [prejudicar] ao seu senhor; e que não fique em tua mão, pois é funesto e duplo [falso]; atenta-te.

IV: A quarta mansão é a Mansão de Aldebarã, de 8° 34’ 28” a 21° 25’ 44” de Touro. Produz-se nesta mansão, talismã para corromper a situação [ordem] de uma cidade; talismã para que uma construção não tenha esperança de durar e para que não tenha boa forma; talismã para deteriorar a semente; talismã para manter um servo com o seu

senhor; talismã para degenerar o que há entre os cônjuges e lançar o rompimento entre ambos; e talismãs que atraiam a infelicidade a quem abre poços e extraem objetos guardados; e a perdição a quem queira; e para prender as víboras e os escorpiões.

V: A quinta mansão é a Mansão do Voraz [Devorador], de 21° 34’ 28” de Touro a 4° 17’ 10” de Gêmeos. Sob a influência desta mansão são feitos talismãs para a boa saúde das crianças que avançam seu aprendizado do Islã, das escrituras e das artes; talismã para a segurança e bem-estar do viajante e para que a travessia seja rápida; talismã para o benefício dos edifícios; talismã para desarranjar a associação que se participa e para corrigir a situação entre os cônjuges e reconciliá-los, se a Lua e o ascendente estão em signo com forma humana, isentos e livres de [aspectos] nefastos e eclipses, como já dito. Os signos que possuem forma humana são Gêmeos, Virgem, Libra, Sagitário e Aquário, atenta-te.

VI: {17} A sexta mansão é a Mansão das Cinco Estrelas de Órion, de 4° 17’ 10” a 17° 8’ 36” de Gêmeos. São feitos talismãs para oprimir cidades e cercá-las; para vingar-se dos reis e para obter o infortúnio e o mal dos inimigos em todas as situações comprometedoras; para arruinar as colheitas, a segurança e os pactos; para ajustar as circunstâncias dos sócios; e promover a caçar; e talismã para anular os efeitos dos remédios ao tomá-los.

VII: A sétima [mansão] é a Mansão do Braço, de 17° 8’ 36” ao grau final de Gêmeos. Nela são feitos talismãs para o progresso e prosperidade do comércio; para o

crescimento da semente; talismã para que o viajante possa viajar bem pela água e para sua saúde; para ajustar o que há entre os livres e os sócios; nela [na mansão] se impede que as moscas entrem em um lugar; o que é feito nela referente a indústria fracassará e exigirá repetição; é feito nela talismã para que se cumpram os desejos do soberano ou de um grande homem com quem se quer contato; talismã para o êxito do servo fugitivo e talismã para retirar a terra, o dinheiro, a casa ou algo similar da mão de alguém.

VIII: A oitava mansão é a Mansão das Pérolas, de 1° a 12° 51’ 26” de Câncer. Nela são feitos os talismãs do amor e da amizade entre aqueles que se odeiam; talismã para a segurança do viajante e para facilitar as relações dos coligados; e nela também são feitos talismãs para segurar e amarrar os prisioneiros e cativos; e para piorar a situação dos escravos; e talismã para expulsar ratos e percevejos.

IX: {18} A nona mansão é a Mansão do Olho, de 12° 51’ 26” a 25° 34’ 52” de Câncer. Nela são feitos talismãs para arruinar as colheitas; para difamar os que viajam por terra e a qualquer outro que se quer prejudicar; e para separar os sócios e parceiros; aprisionar o senhor e o pretendente e fazer danos a ele.

X: A décima mansão é a Mansão da Fronte, de 25° 34’ 52” de Câncer a 8° 34’ 18” de Leão. Nela são feitos talismãs para harmonizar o que há entre os cônjuges; talismã para atrair o infortúnio do inimigo e do viajante; e para apertar e aprisionar o recluso; talismã para sustentar o que se constrói; e talismã para a harmonia dos parceiros e seu lucro mútuo.

XI: A décima primeira mansão é a Mansão do Ombro, de 8° 34’ 18” a 21° 25’ 44” de Leão. São feitos talismãs para libertar os presos e os cativos; talismãs para sitiar as cidades; talismãs para o desenvolvimento do comércio e para o bem-estar do viajante; e talismãs para a solidez dos edifícios; e para equiparar as circunstâncias dos associados.

XII: A décima segunda mansão é a Mansão do Amuleto, de 21° 25’ 44” de Leão a 4° 17’ 10” de Virgem. {19} Fabricam-se, sob a influência desta mansão, talismãs para que as sementes e os cultivos cresçam; para arruinar alguém que tem empenho em danificar isto [cultivos e sementes]; talismãs para afundar as embarcações; talismãs para harmonizar as circunstâncias entre os sócios; e para que a tentativa de empreendimentos e indústrias prosperem; e talismãs para melhorar as relações dos servos; e para que se mantenha aquilo que se espera deles.

XIII: A décima terceira mansão é a Mansão do Boiadeiro, de 4° 17’ 36” a 17° 8’ 36” de Virgem. Sob a influência desta mansão são feitos talismãs para o desenvolvimento dos comércios e o crescimento das colheitas; para melhorar a situação do viajante; para que os cônjuges tenham um matrimônio perfeito; e para libertar o recluso; e talismãs para contatar os reis e os nobres.

XIV: A décima quarta mansão é a Mansão do Prego, de 17° 8’ 36” a exatos 30° em Virgem. São feitos talismãs para harmonizar o que há entre os consortes; para obter a cura com a medicação; e também talismãs para apodrecer as colheitas e os cultivos; para

se romper os pactos; para atrair a calamidade ao viajante; para harmonizar a situação dos reis; para a segurança marítima; e para corresponder com as circunstâncias dos associados.

XV: A décima quinta mansão é a Mansão do Véu, de 1° a 12° 51’ 26” de Libra. Nela são feitos talismãs para procurar poços e tesouros e encontrá-los; para que o viajante aprecie sua viagem; para separar os cônjuges; para corromper a concórdia entre os amigos; e separar os associados; para afugentar os inimigos; e fazê-los sair de suas posições; e para destruir casas e moradas.

XVI: {20} A décima sexta mansão é a Mansão do Pires, de 12º 51’ 26” a 25° 42’ 52” de Libra. Talismãs para arruinar mercados são feitos; assim como talismãs para destruir colheitas e campos; para fazer com que amigos e cônjuges rompam; para atrair castigo exemplar para as mulheres, se assim desejar o seu senhor; talismã para conduzir a calamidade a um inimigo que viaja; e separar os associados; e talismãs para livrar o recluso de suas araduras.

XVII: A décima sétima mansão é a Mansão da Coroa, de 25° 42’ 52” em Libra a 8° 34’ 18” em Escorpião. São feitos talismãs para melhorar as condições dos rebanhos e aumentá-los; talismãs para sitiar as cidades e para a solidez da construção; talismã para a segurança em viagens por meio aquático; e para reconhecer quem são os amigos dedicados; e a amizade [criada] com a Lua nesta mansão não se interrompe, e por isso a elegeram para os talismãs de confirmação.

XVIII: A décima oitava mansão é a Mansão do Coração, de 8° 34’ 18” em Escorpião a 21° 25’ 34” do mesmo. Nela são feitos talismãs para que as bandeiras e pavilhões dos reis acabem vitoriosas diante de seus inimigos; e talismãs para a solidez das construções. Quem se casa com uma mulher, estando nesta Mansão a Lua com Marte, ela será desonrada e violentada; e o mesmo na [mansão?] anterior. Talismãs para conservar os escravos; talismã para que as semeaduras cresçam; e para a segurança marítima; e talismã para colocar os associados em desacordo.

XIX: {21} A décima nona mansão é a Mansão da Garra, de 21° 25’ 34” em Escorpião a 4° 17’ 10” de Sagitário. Nela são feitos talismãs para sitiar cidades; e para vencer os inimigos e saquear dele o que se queira; para arruinar algo e para romper e separar. Também são feitos nela talismãs para que o viajante esteja bem; e para que a semente cresça; e talismã para deter os escravos; e para que [o escravo] possa fugir de seu senhor; talismã para que as embarcações afundem e se quebrem; para que exista diferença entre os parceiros; e para que o recluso e o cativo fujam.

XX: A vigésima mansão é a Mansão de Pégaso, de 4° 17’ 10” a 17° 8’ 10” em Sagitário. São feitos talismãs para que se suavize o caráter da besta difícil de ser domada; talismã para que a viagem seja rápida e curta; para atrair a quem se deseja; para familiarizar e restringir os reclusos; e para deteriorar a situação dos associados com outra relação.

XXI: A vigésima primeira mansão é a Mansão do Ponto, de 17° 8’ 36” ao exato 30° de Sagitário. São feitos talismãs para a durabilidade das construções; para o crescimento das plantações; talismãs para conservar os bens e os rebanhos; e as bestas aos seus donos; talismãs para a segurança dos viajantes; e talismãs para que uma mulher repudiada por seu marido nunca volte a se casar.

XXII: A vigésima segunda mansão é a Mansão da Estrela Fasta do Abatedor, do 1° ao 12° 51’ 26” de Capricórnio. Aqui são feitos talismãs para a medicação {22} e a cura das enfermidades; talismãs para separar os apaixonados e os cônjuges; talismã para fornicar com a mulher que se deseja; talismã para manter preso os servos e para que fujam de sua morada. Nela também são feitos talismãs para separar os associados e para libertar os reclusos e cativos.

XXIII: A vigésima terceira mansão é a Mansão da Estrela Fasta do Dragão, de 12° 51’ 26” a 25° 42’ 52” de Capricórnio. Nela são feitos talismãs para a medicação que cura as doenças; talismãs para destruição; talismã para separar os cônjuges e para libertar os reclusos.

XXIV: A vigésima quarta mansão é a Mansão da Estrela Mais Fortunosa, de 25° 42’ 52” de Capricórnio a 8° 34’ 18” de Aquário. São feitos talismãs nela para o benefício dos mercados; e para a boa harmonia dos cônjuges; talismãs para a vitória dos exércitos; e para destacar e contaminar as circunstâncias entre sócios; e para libertar os algemados.

Quem tentar estabelecer empreendimentos nela fracassará naquilo que deseja e não completará.

XXV: A vigésima quinta mansão é a Mansão da Estrela Fasta das Ânforas, de 8° 34’ 18” de Aquário a 21° 25’ 44” do mesmo. São feitos nela os talismãs para cercar cidades; talismãs para prejudicar os inimigos, vencê-los e atrair o mal e calamidade sobre eles; talismãs para enviar mensageiros e espiões {23} para que eles triunfem; talismãs para que os cônjuges rompam; para que as sementes apodreçam e para prender o marido e todos os membros; prender o recluso; e para cimentar com seus talismãs as construções e consolidá-las.

XXVI: A vigésima sexta mansão é a Mansão do Orifício Frontal, de 21° 25’ 44” de Aquário a 4° 17’ 10” de Peixes. São feitos talismãs para o bem-estar em conjunto e para familiarizar as almas no amor; para realizar os desejos de quem realizar viagem; e para a solidez das construções; talismãs para a salvação de quem viaja em navios; e talismãs para desgastar o que há entre sócios; e para trancar e acorrentar o prisioneiro.

XXVII: A vigésima sétima mansão é a Mansão do Orifício Traseiro, de 4° 17’ 10” de Peixes a 17° 8’ 36” do mesmo. São feitos talismãs para o desenvolvimento do comércio; para a prosperidade da semente; para a cura rápida das doenças; para arruinar quem se deseja; para corromper o que há entre cônjuges; para prejudicar as coisas marítimas; e para prolongar a detenção do prisioneiro e para prejudicar os escravos.

XXVIII: A vigésima oitava mansão é a Mansão da Corda, de 17° 8’ 36” ao final de Peixes. São feitos, nesta mansão, talismãs para o progresso do comércio; para o crescimento das colheitas e para a medicação das doenças; para que se desperdicem as roupas ou dilapidem os objetos; para a salvação dos viajantes; e para a reconciliação dos cônjuges; e talismãs para aprisionar os presos e acorrentá-los; e para prejudicar as coisas marítimas com algum objeto; atenta-te.

{24} Os hindus confiam nestes vinte e oito padrões ao realizarem seus empreendimentos e suas decisões, tal como encontramos nos livros deles, sobre o assunto que agora lemos.

O ângulo que apresentamos é o de que a Lua deva estar, quando empreendendo ações benéficas, livre de desgraças e tragédias e de eclipses; relacionada com os alardes. Quando iniciar estas obras, fazei-as partindo de um bem-afortunado com um afortunado; e nas obras maléficas, o contrário. Observai.

Quanto a nossa afirmação diante do que o feitor dos talismãs precisa controlar aquilo que faz, refere-se à preparação do feitor e da disposição de receber os feitos do poder que é desejado. Tal disposição não é, senão, a qualidade humana; a preparação, por sua vez, está nas outras essências, e no esvaziamento das essências naturais; como o que ocorre com a cera que recebe a forma e com o ataque do epilético, que é a suscetibilidade de receber a epilepsia pela debilidade de seus membros à descarga. A disposição consiste na debilidade com intensidade; este é o tipo de preparação

necessária nas substâncias que se fabricam os talismãs; pois nem toda substância recebe ação; assim, há referência a isto com um fator fundamental. Se há a disposição e a preparação de receber, há recepção; e se há recepção, há unidade e manifestação do feito requerido; pois a unidade é a índole para a recepção da forma até que matéria e forma sejam unas. É como a incorporação da imagem humana na água ou no espelho e como a encarnação divina, segundo os cristãos; e como a unidade da alma com o corpo, percebe-a e pondera sobre ela, e considera que aquilo que se pretende ao compor esta obra não é nada mais do que {25} revelar ao povo o que está oculto e que Deus, louvado seja, só põe algo na mão de quem Lhe apraz; assim, em Sua condição e Seus feitos, louvado e exaltado seja.

Volto ao nosso propósito e digo: observai que se operas de dia é conveniente que tenhas a Lua no ascendente e que o signo ascendente seja diurno; e, portanto, se operares de noite, que o signo [ascendente] seja noturno. Se o signo do ascendente for fixo, a ação será fácil e será cumprida; e se o signo do ascendente for mutável, a ação será difícil, quer esteja melhorando ou piorando pela aspectação com astros fastos ou nefastos. Se o ascendente for fixo e estiver aspectado com [astro] nefasto ou estiver nele, a ação se degradará e será difícil. Se for signo mutável e estiver em aspectos com fastos ou nele estiver, será fácil; e também, quando os signos diurnos e noturnos se apresentarem invertidos, ou seja, quando os diurnos ascendem pela noite e os noturnos pelo dia, e estão aspectados com fastos, irão bem; mas se estiverem aspectos com nefastos, estão malíssimos. O feitor de talismãs está obrigado a conhecer os signos oblíquos e perpendiculares, fixos, móveis e mutáveis, os diurnos e os noturnos, pesquisar os astros fastos e nefastos, saber quando a Lua está livre dos acidentes que a afetam e saber quais astros e quais signos são apropriados para as atividades dos talismãs. Também há a

urgente necessidade de conhecer os eclipses da Lua. Preserva-te do esforço com as boas obras quando a Lua está eclipsada entre os raios do Sol, até que esteja livre da atadura e do abatimento, próximo ou após tal ponto: doze graus antes de entrar nos raios até o ponto do Sol e doze graus após se afastar do ponto {26} do Sol. E atenta-te também para que em nenhum destes graus esteja Marte ou Saturno ou que a Lua esteja decrescente na latitude Sul ou que esteja oposta à Cabeça ou à Cauda, ou de que esteja no mesmo grau do Sol ou um grau antes que o Sol, e até doze graus, pois quando a sua massa é unida com a massa do Sol, ocorrem os efeitos mais nefastos; ou que esteja minguante no céu, ou que ela prossiga lentamente sempre que um percurso com menos de doze graus do retorno de Saturno se aproxima ou que esteja emparelhada a este, ou que continue eclipsada; o mais grave é a partir de 12° de Libra até 3° de Escorpião ou ao final do Zodíaco, pois essa é a área dos nefastos e prejudiciais, ou que esteja caindo do Centro do Céu até a nona [casa]. Quando algum assunto te aflige, de forma que inevitavelmente tenhas que fazer [um talismã] e que não possas atrasar até que a Lua se corrija, tenhas Júpiter e Vênus no ascendente ou no meio do céu, pois eles protegem do mal.

Capítulo 5

 Exemplos da participação da esfera celeste na fabricação dos talismãs:

I: Talismã para unir um amante com sua amada e para que a intimidade dure. Fazei a figura de ambos na hora de Júpiter, com o ascendente na Cabeça [do Dragão], a Lua e Vênus relacionadas com ela ou conjuntadas com ela e o regente da sétima casa relacionado com o regente do ascendente por trígono ou sextil, relação de receber, acolhimento. Entrelaça-as [as figuras] e abriga-as no recinto do amante. Isto também se faz para o homem que se afastou de sua família e que voltar a ela.

II: {27} Talismã para atrapalhar um inimigo que se deseja expulsar de seu terreno. Que uma figura seja feita na hora de Marte, com a Lua em Escorpião, e que o ascendente seja o mais nefasto possível, e que [o lugar que ele ocupa] também seja nefasto e que também seja nefasta a casa do destino; garanta que o senhor do ascendente esteja relacionado com o dono da casa do destino e que o dono do ascendente esteja exilado na casa do destino, ou que esteja relacionado com um astro nefasto na quarta ou sétima casa; e guardai-o [o talismã] fora da cidade, invertido.

III: Talismã para a ruína de uma cidade. Faz uma imagem no ascendente da cidade, e que nefastas sejam sua casa da vida e sua casa do destino, o senhor do ascendente e a Lua, o senhor da casa da Lua e o senhor da casa do senhor do ascendente, a décima casa e o seu senhor, e guardai o talismã no meio da cidade.

IV: Talismã para favorecer uma cidade ou um lugar. Prepara um talismã em um ascendente fasto, próspero, e que prósperos sejam a décima casa e o seu senhor, a

segunda e a oitava casa, fasta seja a Lua, o senhor da casa da Lua e o senhor da casa do senhor do ascendente; enterrai o talismã no meio da cidade: verás maravilha.

V: Talismã para a ruína de uma cidade ou um lugar qualquer. Deverás fazer uma imagem na hora de Saturno, que é um nefasto; e que nefastos sejam o ascendente da cidade e seu senhor, e o senhor da casa do senhor {28} do ascendente; exilados estejam os astros benéficos do ascendente e o senhor do ascendente, e em queda os astros fastos dos trígonos do ascendente e dos angulares; e enterrai o talismã no meio da cidade.

VI: Talismã para que a fortuna e o comércio aumentem. Faz uma imagem quando estiverem fastos o ascendente, a décima [casa], seus respectivos senhores e os senhores de suas respectivas casas, a Lua e seu senhor e o senhor do ascendente; depois de ter benéfica a segunda [casa] e seu senhor; busca para que o regente da segunda casa esteja relacionado com o regente do ascendente em trígono ou sextil e que entre ambos exista harmonia e que a segunda casa esteja fasta; que o ascendente esteja na casa da felicidade ou a décima casa esteja relacionada com o senhor da casa, e o senhor da casa da riqueza esteja rondando a casa da riqueza; que estejam fastos a décima primeira casa e o seu senhor; e o portador desta imagem será a mais rica criatura de Deus; além disso, qualquer mercado que conduzir lhe será fácil e ganhará dinheiro em todas as suas movimentações.

VII: Talismã para um alto cargo. Que um talismã seja feito depois que o ascendente, a décima casa e o seu senhor estejam fastos, depois que os astros nefastos estejam

exilados do ascendente e seu senhor. Observai para que o senhor da décima primeira casa seja um astro benéfico e que esteja espreitando o ascendente e o senhor do ascendente; e examinai para que o senhor da décima casa esteja relacionado com o senhor do ascendente positivamente e que ele o aceite completamente. Que consigo seja levada esta imagem feita por aquele que deseja o cargo; e que ele cuide, pois seu cargo exigirá que ele seja considerado; e nada estará em desacordo com sua decisão.

VIII: Talismã para que o soberano que tu queiras se curve. Produz uma imagem com teu nome, e que o ascendente esteja fasto por um astro vigorosamente benéfico que não esteja retrógrado, nem em queda e nem eclipsado; que o senhor do ascendente seja forte e de boa condição e que, logo, esteja em posição dominante, e que o senhor da décima casa esteja relacionado com o senhor do ascendente em trígono ou sextil, pois isto o torna fasto, benéfico; e que o senhor {29} da décima casa esteja relacionado com o ascendente em relação de aceitação, o senhor do ascendente nos signos dominantes e o senhor da décima casa nos signos dominados. Levando consigo esta imagem, não encontrará soberano algum que guarde para ele riqueza e honra para sua casa.

IX: Talismã para um criado que quer a benevolência de seu senhor. São feitos dois talismãs, um na hora de um astro exaltado, a Lua crescente, a Cabeça do Dragão no ascendente ou em algum dos ângulos, e o outro [talismã] na hora em que um astro estiver exilado, o ascendente na décima casa a partir do ascendente do primeiro [astro, o exilado], e a Cauda do Dragão no ascendente ou em um dos ângulos. Amarra-os… em seguida, no local da conciliação, [o talismã] terá efeito em tudo os seus e ele realizará todos os pedidos.

X: Talismã para quem quer se casar e isto lhe é impossível. Faz duas efígies, uma durante a hora de Júpiter, com Virgem como ascendente, e a Lua crescente em um ângulo; a outra [efígie] durante a hora de Vênus, com Vênus alcançando a Júpiter e com Saturno e Urano em queda. Que [os astros] da primeira efígie estejam na sétima [casa] e seus regentes relacionados com o regente do ascendente em trígono. Depois, enlaçai-as e guardai-as no recinto do requerente.

XI: Talismã para impedir que um homem peça uma mulher em casamento. Que um talismã seja feito com Leão em ascendente na hora do Sol e outro com Câncer em ascendente na hora da Lua, e que a Lua esteja crescente, acelerada e relacionada; em seguida, juntai-os e enterrai eles na hora de Vênus, e ele [o homem] jamais se casará com ela.

XII: {30} Talismã para libertar o preso. Fazei-o [o talismã] na hora da Lua, crescente, livre de nefastos e ao final do percurso, e prende-o na décima [casa] da cidade, voltado em direção a Meca.

XIII: Talismã para vencer um inimigo que se deseja destruir. Prepara duas imagens, uma com o ascendente em Leão, na hora do Sol e com a Lua caindo; e a outra com o ascendente em Câncer na hora de Saturno, em queda, e a Lua também; faz com que a primeira imagem pareça com um homem surrando o outro e que se entreolhem, e enterre-as na hora de Marte e com Áries no ascendente em sua primeira face. Depois,

peça pela ruína, de todas as formas que queiras, a partir desta hora, e para que ele [o inimigo] seja destruído.

XIV: Talismã para que o alcaide [prefeito] de uma cidade a quem os súditos se rebelaram volte a ser aceito. Fazei dois talismãs; um na hora de Júpiter com a Lua relacionada positivamente com o Sol, sã e livre de [astros] nefastos; investigai para que a Cabeça do Dragão esteja no ascendente ou próxima ao ascendente. E o outro [talismã deverá ser feito] na hora de Vênus, e que com ela ou próxima dela esteja o Dragão, e a Lua livre de nefastos. Em seguida, guardai-os com um ascendente fixo durante a hora de Saturno, e logo os súditos se dirigirão a ele de bom grado e ele será bem quisto pelos seus.

XV: Talismã para deter alguém em sua cidade. Que um talismã seja feito no ascendente cujo responsável seja Saturno, com a Cabeça do Dragão em um dos ângulos onde está o ascendente, e entoca-o invertido no meio da cidade, com o ascendente fixo; e [a pessoa que se deseja prender] não sairá da cidade até que o talismã seja desenterrado.

XVI: Talismã para exilar um homem de sua cidade no mesmo dia. Faz uma imagem com um ascendente móvel {31} cujo regente esteja em trânsito pelos ângulos e com a Lua em trânsito pelos ângulos, e enterra-o na encruzilhada com o rosto da efígie voltada para o lugar de onde [está a pessoa] que deseja exilar.

XVII: Talismã para reunir e harmonizar duas pessoas. Que dois talismãs sejam feitos; e que um deles seja feito em um ascendente que corresponda a ele [o feitor], e que o ascendente seja fasto e a décima casa esteja fasta, ausentes de nefastos do ascendente, examinando se o senhor da décima primeira casa é um astro benéfico relacionado em trígono ou sextil positivo com o senhor do ascendente.

Informo a ti, aqui, algo que deves saber; a condição dos aspectos trígono e sextil é de afeto, harmonia e afinidade se o trígono é produzido de um signo ígneo a um signo ígneo, de um telúrico a um telúrico, de um aéreo a um aéreo e de um aquático a um aquático, por isso é um aspecto de amizade e carinho; e o aspecto sextil [de afeto, harmonia e afinidade] é entre ígneo e aéreo e de telúrico a aquático. Assim, quando há harmonia entre os ativos, excluindo os passivos, existe um aspecto de amizade, sem amor. O aspecto quadratura, entre aquático e ígneo e entre aéreo e telúrico, ou seja, quando ocorre tal aspecto entre signos incompatíveis, o aspecto quadratura é o aspecto de diferenças, rancor e ódio pelo antagonismo da natureza deles entre si. Porém, voltaremos ao assunto, e agora digo:

O outro talismã, caso seja feito para um amigo, deve ser feito na décima primeira casa, e se for para o cônjuge e a mulher, que ele seja feita na sétima casa; avalia para que o ascendente que queiras atrair esteja relacionada com o senhor da primeira casa e que entre ambos exista aceitação. Enterrai os talismãs unidos no local daquele que pede pela união.

XVIII: Talismã para a desavença e inimizade. Que uma imagem seja feita com o ascendente em Libra, afetado {32} por um nefasto poderoso e a décima casa também, e que também afetado negativamente seja o senhor do ascendente por oposição ou quadratura; que não haja entre ambos aceitação e que os fastos estejam em movimento de queda em relação àqueles, o ascendente e a décima casa. Confinai a imagem na habitação de um dos dois, em um signo fixo mal aspectado com a Cauda do Dragão ou com um nefasto forte; e elas [as pessoas] se separarão e não se unirão pela enorme aversão que estará entre ambos.

XIX: Talismã para destruir o soberano a quem se serve. Faz uma imagem com a fórmula anterior, buscando para que o senhor do ascendente esteja afastado do senhor da décima [casa], mal aspectado com ele e relacionado com o senhor da casa do destino, e também mal aspectado com ele por oposição ou quadratura. Encravai também com um ascendente fixo nefasto, que matará seu servidor de todas as maneiras e por qualquer motivo.

XX: Talismã para a mansidão e a submissão. Faz dois talismãs com Vênus ascendente na primeira face de Câncer e a Lua na primeira face de Touro, Vênus em ascendente e a Lua na oitava [casa]; depois de prontos, que eles sejam cingidos e enterrados no local de uma das duas pessoas, e este é o amor eterno e submissão absoluta. Esta fórmula é conhecida como a fórmula da reciprocidade e assim indicou Ptolomeu no Livro do Fruto, no aforismo 33; que tu tenhas paciência, pois no Quarto Tratado te explicarei ele [5].

5: Conforme adiante, p. 117.

XXI: Outro talismã para o amor eterno. Faz dois talismãs; um com o ascendente fasto com a Lua em Touro e [o outro talismã] com Vênus também fasta, e escreve na primeira efígie [6] 220 números {33} pares ou impares e na outra, 284 número igualmente pares ou impares. Em seguida, colocai as duas efígies unidas e enterrai elas no local de um dos dois; e haverá amor eterno e mutuamente o amor será reforçado. Este talismã é conhecido como talismã dos números do querer.

6: Cfr. infra, p. 52.

XXII: Talismã para pescar. A imagem de um peixe de qualquer espécie que há no rio é feita com ascendente e Júpiter em Peixes na hora de Vênus, fazendo primeiro a cabeça, em seguida o corpo, depois o rabo e imediatamente é montado e a esta imagem é feita em um suporte de prata fina, cuja extremidade está ligada ao peixe. Também é feito um recipiente de chumbo e nele é colocado o suporte com o peixe ao extremo; e o recipiente é preenchido com água, até que o recipiente esteja coberto com água e o peixe dentro do mesmo. O recipiente é devidamente fechado, de modo que não deixe a água sair e em seguida o recipiente é jogado ao rio e os peixes virão de todos os lados até o talismã.

XXIII: Talismã para afastar os escorpiões. A figura de um escorpião é feita de ouro, quando a Lua está em ascendente, ou em um dos ângulos está Touro, Aquário ou Leão, ainda que o melhor seja Leão, pois seu caráter é oposto ao caráter dos escorpiões; que o Sol esteja em Leão e seja na hora do Sol, e que Saturno esteja retrógrado. Que primeiro seja feito a cauda, depois as patas, em seguida as mãos e por último a cabeça; que tu compreendas que nesta inversão está o afastamento. Quanto tiveres terminado de montar a mão esquerda e a pata esquerda, que tu encaixes no lugar da [mão e pata] direita e a [mão e pata] direita no lugar da [mão e pata] esquerda; a cabeça em seu devido lugar e a cauda também. Fazei o aguilhão, e depois o coloca invertido no lombo, de forma que ele esteja a ferir a própria cabeça. Depois de feito isto, {34} enterra-o na entranha de um mineral perfurado e enterrai ele no lugar mais nobre da cidade; e assim os escorpião fugirão a 45 milhas de distância do talismã.

XXIV: Talismã para a picada de escorpião. Gravai a imagem de um escorpião em uma pedra preciosa durante a hora da Lua, com a Lua em Escorpião, no início de sua segunda face — Leão, Touro ou Aquário no ascendente —, montai a imagem em um selo de ouro [que marcará a imagem na pedra], marcai com incenso moído na hora indicada com a Lua em Escorpião e aplicai a figura em que foi picado, e verá ela se livrar de sua dor.

XXV: Talismã para que os homens se relacionem com as mulheres. Faz um talismã na forma de uma donzela, de um mineral frio e seco, com o ascendente em Virgem, e Mercúrio exaltado nele, sendo o regente mais apropriado para sua preparação. Que tudo comece na hora de Mercúrio até sua conclusão. Que tu peças a ajuda de um artesão e

que outro [talismã] seja feito com a forma de um homem, quando Mercúrio estiver regressando a Virgem ou esteja em Gêmeos. Atentai quanto a mudança dos ascendentes: que Mercúrio esteja em Virgem e seja Gêmeos o ascendente ou que [ele, Mercúrio] esteja em Gêmeos e Virgem seja o ascendente. Abrace as duas efígies e que a mão de cada uma das imagens esteja sobre a palma da mão da outra; que tudo isto seja feito na hora de Mercúrio, cuidando para que o ascendente seja Gêmeos ou Virgem. Que elas sejam atadas com algo do mesmo gênero e enterrai na rua mais movimentada da cidade, e os homens e as mulheres se relacionarão. Quando se tratar de unir duas determinadas pessoas, enterrai em um local por onde estas duas pessoas passem.

XXVI: {35} Outro talismã para pescar. Criei este talismã para Muhammad Benmusa al-Juarizmi. Em uma carta ele menciona [o talismã] e garante que o experimentou. Finalizai a figura de um peixe com o ascendente na primeira face de Peixes, juntamente com a Lua e Mercúrio, e durante a hora da Lua. Que tu o leve contigo quando for pescar e ele será para ti de grande ajuda.

XXVII: Talismã para atrair o doutor ao local da cura. Este talismã deve ser feito por aqueles que precisam de médicos. Grava-se em uma chapa de estanho a figura de um homem sentando com instrumentos médicos e pessoas diante dele de pé com frascos de água, consultando-o. Deve gravar tudo quando o ascendente estiver em uma das casas de Vênus e com Marte nela e a Cabeça do Dragão no meio do céu. Ponha esta lâmina fixada no lugar para onde o médico será obrigado [a ir] e verás maravilhas.

XXVIII: Talismã para os cultivos e a lavoura. Em uma lâmina de prata, desenha um homem sentado entre sementeiras e cultivos, com o ascendente em Touro e a Lua no ascendente, afastada do Sol e relacionada com Saturno; encerrai no lugar que queiras que tudo o que se semeie nele germinará e dará frutos rápidos sem que seja afetado por pragas, nem frio, nem os pássaros, nem nenhuma outra coisa nociva para eles.

XXIX: Talismã para o comércio. Faz a figura de um homem com uma balança na mão, em uma chapa de latão com o ascendente em uma das casas de Marte e a Lua também; e aquele que tiver tal talismã verá algo muito bom em seu ofício.

XXX: Talismã para os cálculos [renais]. Gravai em uma lâmina de ouro a figura de um leão com uma pedra entre as patas {36} como se estivesse brincando com ela; fazei isto quando o ascendente estiver no início da face média de Leão e o Sol no mesmo grau, e quando este [talismã] for levado por aquele que padece das cólicas nefríticas, deixará de ter as dores, como comprovado.

XXXI: Talismã para afastar as enfermidades melancólicas e fortalecer a saúde de quem quer saúde, até que se esteja extremamente bem e forte e conduza as atividades normais. Durante a hora de Vênus, com a Lua em um dos ângulos, o ascendente relacionado com Vênus, e o senhor da sexta [casa] em trígono ou oposição fasta, e o senhor da oitava [casa] em quadratura com Mercúrio, sem que este esteja retrógrado, nem em conjunção ou espreitando algum nefasto. Que, durante a última hora do

domingo, o senhor desta hora esteja na décima [casa] a partir do ascendente e que [o talismã] seja de prata pura, e ele afastará absolutamente tudo aquilo que dissemos.

A idéia dos talismãs é que eles sejam construídos sobre as características celestes, e quando assim forem feitos, nada pode desfazê-los; entre suas condições estão, não fazer nada relacionado com os talismãs de amor e intimidade senão quando a Lua esteja com fastos e em dias de plenitude, e não fazer nada com este [talismãs] nem quando a Lua estiver com nefastos e nem quando estiver desaparecendo. Por exemplo, os trabalhos relacionados ao sentimento, ao amor e ao encontro com os reis é no dia da Lua, quando estiver {37} cheia e no [signo de] Sagitário, Touro, Câncer ou Peixes; e se o Dragão a acompanha, sua eficácia é reforçada. Espera sempre que a Lua esteja em suas mansões benéficas e evita-a quando estiver nas maléficas. Que tu trabalhes com o amor sempre que a Lua estiver com Vênus e também na hora de Júpiter quando ela estiver em Peixes, Sagitário ou Câncer e a lua com ele [Júpiter]. Trabalhai o mal com a Lua na casa nefasta, com astros nefastos ou em quadratura ou oposição com eles, e se ela estiver com a Cauda [do Dragão], tu alcançarás. As obras noturnas são melhores que as diurnas.

Entre as condições sem as quais nenhuma destas [obras] se encaixe nestas condições [7], que o artífice concentre a atenção em sua obra e que purifique sua vontade para unir em si as formas anímicas e as forças celestes. Platão expressa muito bem isto, ao dizer em seu Livro dos Aforismos: “quando as palavras concordam com a intenção do orador, a intenção inspira o ouvinte e vice-versa. Este é o alicerce sobre o qual se constrói a

combinação da intenção com a oração e o envio, atingindo o primeiro princípio da obtenção, esperança daquele que pede”.

7: Epístolas dos Irmãos da Pureza, IV, 398 ss.

Entre suas condições está: que seja ocultado do povo, de sua vista, e do amanhecer e da luz do Sol e que ninguém se aproxime dele, senão com vontade impecável e fidelidade provada, e que não seja nem indiferente e nem desdenhoso para com nenhum das obras que provém das forças espirituais do céu… O resplandescente é o que domina este mundo, observai, e verificai o que afirmou Zabit ben Curra em seu Tratado dos Talismãs: “Mais alta que a Astrologia é a Teurgia”; e certificai se o corpo não tem vida e se não há espírito nele, pois a isto se refere aos talismãs feitos sem as correspondências necessárias, que são incapazes de propagar as espiritualidades dos astros, e por eles [materiais sem vida] serem como os corpos mortos que já não possuem espírito. Porém, quando captam {38} as espiritualidades do céu por estarem compostos e feitos sobre as verdadeiras correspondências celestes, adequadas ao contexto tratado, são como os corpos vivos que possuem efeitos insólitos.

Aristóteles disse, em outro de seus tratados que, o que mais marca o talismã é a ação dos sete planetas, sua altura e sua permanência, e que isto, se sua recepção é afortunada, determina a descida de sua espiritualidade, a partir do céu, à terra. Em seguida, ele acrescenta:

“Quiçá há algo nos nomes divinos que ao serem atraídos com as espiritualidades e descerem a uma forma inferior, desencadeiam calamidade e podem até matar o receptor, se este não conhece a condição da espiritualidade induzida dos astros”.

Os mestres sufis apontam para isto, com o Nome Supremo, que segundo eles, media entre as coisas e sobre elas; ao pronunciá-lo, coisas maravilhosas acontecem no mundo. A massa abundante, ou seja, a multidão, no entanto, acredita no contrário. Compomos um tratado onde citamos tudo o que eles [os mestres sufis] dizem.

Volto ao discurso em que Aristóteles também afirma: “O feitiço mágico não se opõe ao globo terrestre, nem a nada parecido, para que possa conseguir aquilo que consegue; a única coisa que o feitiço faz é por a esperança no deus supremo, de forma que ele devolva a matéria projetada, em um ponto sobre a terra”. Isto é o que ele diz; o texto completo citarei no quarto tratado deste livro [8].

8: Ver página 117.

{39} Todos concordam com o enunciado de que os talismãs são feitos com algum fim condizente com a súplica para se receber o influxo. Sobre isto, o sábio Timeu disse: “A palavra nos talismãs ocupa o lugar do espírito no corpo e é o indutor das forças da espiritualidade, sobretudo quando aquele que as invoca se concentra e fala com uma intenção sã; tal é o nobre princípio com o qual se consumam todos os talismãs”. O

sentido da elocução, da palavra, aqui expresso é aquele que corresponde ao conceito utilizado e em certa medida prepara animicamente o teurgo com uma força que marca seu espírito e se propaga na mente. Por exemplo, sobre os talismãs de amizade e amor é dito [9]: “Harmoniza fulano e fulano como se harmonizasse o fogo e o ar, a água e a terra; inspira a espiritualidade de fulano, movimenta os raios do Sol, a luz do mundo e recupera-a; exalta fulano aos olhos de fulano, como se exaltasse o céu com as estrelas e a as plantas com as flores; faz com que sua espiritualidade supere a espiritualidade de fulano como o fogo supera o ar e a água supera a terra; que fulano não coma, nem beba, nem se deleite, nem se anime, senão na presença de fulano”.

9: Epístolas dos Irmãos da Pureza, IV, 398 ss.

E quando algo é feito para a inimizade e separação, é dito:

“Rompe e divide fulano e fulano com as forças destas espiritualidades, tal como se separa a luz da sombra, e põe entre eles a inimizade que há entre a água e o fogo”.

Se tu queres manter o desejo e seus impulsos, diz: “Conserva a espiritualidade do desejo de fulano por fulana ou por qualquer mulher e que esta seja fixa com a força destas espiritualidades, tal como as montanhas e suas rochas”.

{40} Se fizeres uma revogação, diz: “Solta e desata o nó da espiritualidade do desejo retido de fulano por fulana ou por qualquer mulher, pela força desta espiritualidade, tal como o fogo derrete a cera e o luminoso Sol expulsa a escuridão do mundo, e que seus espíritos a derretam, tal como a neve é derretida pelo Sol”.

Se fizeres algo para calar as línguas sobre ti ou sobre outra pessoa, diz: “Embrulhai a fulano em uma cortina de luz abrasadora, faz com que as línguas sobre ele silenciem, e passai sobre os olhos do povo um véu espiritual que o defenda de suas malignas sentinelas e que acabem os seus comentários e intenções malsãs”.

Se quiseres difamar alguém, diz: “Difamai fulano pela força destas espiritualidades, tal como os raios de sol rasgam as espessas nuvens, desonrai-o e exponha-o pela espiritual das línguas, tal como as flechas penetram nos corpos sobre os quais os arqueiros dispararam”.

Que tu não digas palavras irrelevantes, e as que disseres, que sejam palavras para reforçar a obra e que a cumpra. Expus a ti este exemplo para que tu entendas o propósito pretendido, para que compreendas a finalidade; percebas.

Falamos, louvado seja Deus, das maravilhosas ações da esfera celeste e preenchemos este tratado com estes; aquilo que refleti, isto retirei a partir da execução de todo talismã que fiz ou foi feito no mundo. Já dissemos que as essências dos talismãs são similares a

essência que se necessita para a obra realizada, seja boa ou má, e depois direi a ti de como se dividem os astros entre os minerais, os animais, {41} as plantas, suas defumações, suas tramas e seus sacrifícios, pois todas elas são coisas que se utilizam, tal como o médico utiliza muitos materiais, substâncias e medicamentos; e o enfermo sendo atendido e cumprindo o tratamento, alcançará o êxito e obterá a esperança que buscava. A base de algo é a observação. Os sábios gregos observavam o Astro, quando estava com seu Dragão, e tomando-o no meio do céu e faziam a defumação com a mistura adequada a ele, dirigiam-lhe sua invocação e a ele sacrificavam sua oferenda para aquilo que queriam e aspiravam; e o seu desejo se realizava, e o mesmo era feito quando estavam com a Cauda de seu Dragão e invisível; e, especialmente, se o Astro estava no nascimento do requerente seria uma evidência mais poderosa, mais claramente influente e mais positiva.

A categoria desta ciência, amigo meu, é superior, mas poucos são os que a solicitam em nosso tempo e estes poucos, em geral, solicitam-na pelas possibilidades de fraudes de sua existência e de seu saber. Já te ensinamos, Deus te fortaleça, em nosso livro intitulado A Classe do Sábio, que o domínio do efeito operativo não é a maestria superior e nem a mais nobre. E tu sabes que assim denominamos a ciência modelar e a sua compreensão, de maneira que as ciências devem ser compreendidas por sua natureza, sem atrasar aquilo que vai adiante nem adiantar aquilo que vai atrás, e de como a alma de algo e a filosofia perfeita exigem. Certamente, se compararmos dois homens, um sábio que pratica este seguimento e outro sábio que pratica outro seguimento, colocando ambas as ciências somente na prática, adquirida {42} por iniciação, o sábio que pratica o segmento mágico terá incidência maior e mais maravilhosa no mundo do que o sábio que pratica o segmento operativo. Isto é

axiomaticamente evidente para quem o considera. Ele aponta para longe, mas poderás aprender o que ensinamos em A Classe, ainda que precise urgentemente praticar as ciências em suas realidades, seu funcionamento e suas obrigações.

Capítulo 6

 Deves saber, Deus te enalteça, que a sabedoria é superior, e que sua aquisição é uma honra e uma graça. A sabedoria possui graus, sendo cada grau um degrau para outro [grau], e o homem integral é aquele que conhece os frutos da sabedoria, pois ele a

possui, e ele ama possuí-la. Em certa medida, limitaram a filosofia ao determinar limites que a controlava: ela é apenas um subproduto da sabedoria. Se faltares este progresso, não se pode considerar-se humano, ainda que seja em sua disposição; pois ele não vê a realidade de sua existência nem que é um microcosmo paralelo ao macrocosmo, já que sua realidade é um todo, dotado de alma racional, vegetal e animal, única com as três, visto que os outros animais não possuem a [parte] racional; o conteúdo da [parte] racional é superior, visto que produz as artes, torna o pensamento visível ao cogitá-lo, forma as hipóteses, imagina aquilo que nunca viu, faz com que venha à mente seres e países, fixa os sons em suas em suas potências e essências [da parte racional] e com ela vê enquanto dorme o que está em vigília, ou seja, é o microcosmo contido no macrocosmo, harmonizado com ele pela relação de suas formas, as coisas que há nele [microcosmo] existem todas no outro {43} [macrocosmo] e participam de todos os animais que são diferenciados pelas ciências e as indústrias. [O Homem] possui sete movimentos, os ossos fazem passar sua rigidez com os músculos por uma linha fixa. Morre e vive naturalmente com os acontecimentos, compreendendo a mão e os dedos, cabeça redonda, possuindo unhas e passada, é apto para as ciências e os livros, inventor das artes, imita os animais que não o imitam; risonho e lamentador, recorre ao pranto quando se entristece; nele há uma força divina e um comportamento terreno; é um ídolo cujo interior há luz, cujo corpo é sua efígie e cujo autor é ele próprio; de intenção fixa, distingue aquilo que lhe prejudica e aquilo que lhe é agradável; trabalha com vontade se algo lhe é oferecido e isto é desejado por ele e está escudado em um cerco intelectual teórico; inventa sutis artes e milagrosos e maravilhosos talismãs; aprende as hipóteses das ciências e se veda a tudo o que é emocional. Deus o fez reservatório de Sua sabedoria e expressão de Sua alma e de todas Suas criaturas, receptor de Sua revelação, depositário de Suas ciências e expressão Sua, detentor e exemplo do macrocosmo; o

universal é expresso em seu ser e sua composição. Se as criaturas estão espalhadas, ele as reúne, e elas não fazem isso a ele; ele se apropria delas e elas não se apropriam dele; ele imita suas vozes e modela sua imagem com sua mão; descreve-as com sua língua e expõe suas características. Nenhum animal pode alterar nem modificar sua natureza nem modular outra voz; tampouco pode o galo abdicar de seu canto, nem o cão de seu latido, nem o leão de seu rugido; contudo, o homem pode alterar sua voz e seus tons, assimilar aquilo que quer e conduzir como quer ou de outro modo. Dono de um corpo denso e de uma alma sutil, parte nele é tênue e outra parte é densa; sua parte sutil está viva e sua parte densa está morta; uma metade é ativa e outra metade é inerte, uma metade é definida e a outra metade disponível, uma metade é noite e a outra é dia, uma metade é nevoeiro e outra metade é luz, uma metade é evidente e outra metade {44} oculta, uma metade é emotiva e outra metade é racional, uma metade é essência e outra metade é atributo. Envergonha-se do que é feio e do sofrimento, faz o que quer e se arrepende; é um composto de essência tênue e bruta; há nele uma consistência telúrica e uma sutileza aérea, um refinamento ígneo e uma frieza aquática; por isso é equilibrado no movimento que é o espírito da vida; conhece o calor do fogo pelo o que há nele aquilo que é ígneo na força; conhece a frieza da água por aquilo que há nele de frio e assim com os demais elementos.

Além disso, sua cabeça possui a forma do céu por conta de sua redondeza e pelo o conjunto de graças e luzes que há nele: visão, audição, olfato, paladar e expressão. Seus olhos são como os dois astros luminosos [sol e lua], suas narinas como os dois ventos, suas orelhas como o Oriente e o Ocidente, sua frente como o dia e suas costas como a noite, seu caminhar como o movimento das estrelas e seu juízo como sua fixidez, seu retrocesso como sua queda e sua morte como o seu eclipse.

Seus membros internos são sete, tal como os planetas e na cabeça há sete ossos, semelhante, em número, aos dias da semana; nas costas existem vinte e quatro vértebras, em similaridade com as horas do dia e da noite, e há vinte e oito articulações, o número das mansões da Lua e das letras do alfabeto. Em seu ventre os intestinos são tantos quanto os dias da Lua Nova, e contém 360 veias e outras tantas artérias, o número dos dias e das noites do ano e os graus da esfera. Seus humores são no número das estações do ano.

Seus olhos são como os espiões da força racional e esta força é como um rei; seus ouvidos são os administradores das informações e a língua seu interprete. O coração é a chancelaria de seu saber e o estômago sua tesouraria; esta é a panela do corpo, o fígado o seu manancial e a bílis é sua mirra, para que a carne não feda, é a benção e a cura do corpo; o pulmão é seu ventilador, as mãos seu porteiro e os pés seu veículo.

{45} A carne de seu corpo é como a terra e seus ossos como as montanhas, seu pêlo é como as plantas, suas veias como os rios e seus membros internos como as minas.

Seu corpo é composto de nove essências, construídas sobre nove círculos, cada um montado no interior do outro e a esfera exterior lhe serve de parede: é a carne, os ossos, os músculos, as articulações, a medula, a pele, os pêlos e as unhas. A medula está dentro dos ossos e sua função é conservar a força e temperar a secura dos ossos; a função dos ossos é grudar a carne e mantê-la sobre si; a função dos músculos é prender as

articulações e mover os membros; a função da carne é carregar as entranhas do corpo e proteger os ossos, para que não se dispersem e nem se despedacem; a função das veias é reunir em si o sangue e levá-lo a todos os membros do corpo; a função do sangue é acolher a temperatura, manter a vida, regular o humor e engendrar o movimento, e a função das unhas é manter e recolher os membros e amarrá-los para que não se dispersem e nem se rompam.

O corpo, em sua constituição, possui doze perfurações assimiláveis aos doze signos do Zodíaco e assim como os signos são seis austrais e seis boreais; há no homem seis orifícios do lado esquerdo e seis do lado direito, equiparáveis àqueles em número e na e também na forma. E assim como o céu há sete planetas, cujas órbitas são regidas pelo universo e os seres, e com as quais as criaturas se organizam; assim também há no corpo humano sete eficientes saídas de forças da alma humana e pelas quais o corpo se dirige. E assim como os planetas possuem alma e corpo e ações e espiritualidade que atuam sobre as criaturas, animais, minerais, animais e vegetais de forma perceptível, também se encontram no corpo humano forças corporais que produzem no corpo aquilo que o mantém e o aperfeiçoa com a ajuda de sete forças anímicas, a saber: apreensora, atrativa, digestiva, repulsora, nutritiva {46}, reprodutiva e imaginativa. As sete forças das espiritualidades são equiparáveis às espiritualidades dos sete planetas e são forças sensíveis, onde está a perfeição humana e a plenitude de seus atos; assim como os planetas são o adorno e a sustentação do céu, o eixo e a ordem do mundo; as forças são a potência visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil, racional e mental. Os cinco sentidos são análogos aos cinco planetas e as duas potências são similares ao Sol e a Lua. E assim como a Lua toma sua luz do Sol em suas vinte e oito mansões, da mesma forma a potência racional apanha os conceitos das criaturas da potência mental e forma, a partir

deles, as vinte e oito letras do alfabeto. E assim como no céu há dois Nodos, a Cabeça e a Cauda [do Dragão], de identidade desconhecida, mas de ações e influxos evidentes, há no corpo humano duas coisas afins, a saber, o bom e o mau temperamento e há também a alma. Se tu fores de teu mundo, suas obras são sãs, estão isentas da opacidade da natureza e são retas, mas se tende a ser da natureza, tuas obras são desordenadas, apartam-se de sua condição e se eclipsam da mesma forma que se eclipsa o Sol e a Lua pelo Nodo da Cauda. Da mesma forma, o mau temperamento pertence às obras naturais e a manifestação da morte, e o bom temperamento, a potência racional positiva. Se a natureza do corpo se salva e passa pelas coisas materiais, a alma é limpa e com ela se edifica sobre ela a razão e a iluminação.

Como o Sol e a Lua são as luminárias do céu, do mesmo modo há no corpo os olhos, que são as lâmpadas com as quais a alma racional reconhece as formas das criaturas, as cores e os aspectos por meio do esplendor da luz do Sol e da Luz e o mesmo nos outros animais. E da mesma forma que a esfera celeste e seus signos possuem limites, faces e graus, igualmente se encontra limites no corpo, como as articulações os membros do tronco, {47} articulações e veias com características diversas. E tal como as potências da alma universal se propagam, isto é, as dos sete planetas e os doze signos, as espiritualidades que possuem ações competentes a cada planeta e cada signo descem ao mundo a cada momento e cada hora e minuto e a cada movimento dos tempos; da mesma há isso na alma humana — que está em seu corpo —, ações e feitos que a manifestam e destacam-na com cada um dos movimentos do homem e com cada um de seus instantes e seus alentos. E tal como existe em sua essência, mesmo que esteja separada de seu corpo e sua alma, a alma universal está relacionada com a alma individual e seu ser está na mesma extensão virtual e sabedoria orientadora.

Entre os prodígios do ser humano está nele ser naturalmente civilizado para orientar a si mesmo, as pessoas de sua casa, os seus familiares, sua prole e as pessoas de seu reino. A palavra lhe apraz até a renúncia do que é seu e o enoja até o crime e ao correr riscos. Veste roupas limpas, segue tratamentos e toma medicamentos e fármacos para corrigir seu humor e se restaurar. Manifesta a amizade, oculta a inimizade e se irmana com seu inimigo. Ele está imerso no ar e arraigado a terra.

Tal é a condição humana: parcial, sensorial, mortal em sua parcialidade, não em sua universalidade; o ser humano é parcial, pois as casualidades lhe afetam, as mudanças e os seres, por isso ele também é perecível. Contudo, o ser humano é universal e racional e, por isto, eterno; sua razão existe acidentalmente e sua ignorância é como a realização material que perece e caduca por sua parcialidade, não por sua universalidade; ou seja, a água se mantém quando se torna fogo, em seguida em ar, depois se corrompe e retorna ao seu estado natural. Ela se corrompe em acidente, não em essência. A mesma coisa acontece com o ser humano parcial: reduz-se ao se decompor e retorno ao universal. Por isso o universal se faz criatura na razão, não {48} no sentimento, e sua racionalidade é única, não se altera substancialmente, nem muda, ainda que a mudança afete a ele no fluxo sensorial à perfeição.

Exemplificarei para que tu entendas este conceito que é estranho à declaração, a saber: que as unidades dos arquétipos se convertem uma a uma em materializações, cada uma colocadas em seu devido lugar e sendo afetadas pelos acidentes internos na seção da ordem a qual pertence. A água recai nos locais de natureza fria e úmida e as

conseqüências que afetam na ordem do ser; contudo, [ela, a água] não se recorda de sua existência primitiva e prévia, eterna em sua universalidade. Tais universalidades estão presentes em sua essência e em sua razão, e ainda que o ser humano as encontre ou não, ou não as conceba, sua existência é substancial, e a existência do ser humano universal também é substancial; e o índice de sua veracidade é aquele qual havia falado, de que há água no fogo e no fogo há água, pois os arquétipos estão sobrepostos e se afetam entre si e se assim não fosse, nada deles seria o que são.

Pela mesma razão, os quereres e os desejos humanos dependem dos quereres e desejos primitivos e os efêmeros lhe influenciam, ainda que o homem parcial não perceba isto em si e assim é, pois o dito homem não percebe seu desejo e seu querer em todas as circunstâncias, nem o leva ao fim e até se realizar isto, levar o desejo ao fim, sua realização não chega ao todo, assim como não é analisado e praticado como nas ciências especulativas, que sequer há aprofundamento.

Observai que pela existência do fogo em concordância com o homem em sua imagem desinteressada dos acidentes e circunstâncias e de tudo o que lhe cobre a bruta existência, possui algo comum com seus iguais. Porém, se o ato concreto está ao nível dos acidentes, das circunstâncias e do espaço, não percebe que se encontramos {49} o fogo fora de seu lugar, teremos um acidente? Se eu remontar ao corpo e à lenha, refiro- me ao elemento, mas o seu espaço está na atmosfera e sua função primária e universal excede a descrição e a captação pelo discurso ou a expressão falada, pois é uma potência superior e magna que está acima do alcance, da quantidade e dos demais acidentes.

O ser humano segue este curso e o dito ser humano é aquele que se comprometeu a conhecer a eternidade que transcursa e transforma o homem composto por seu trato e sua fusão com as demais coisas que lhe afetam, que incidem nas circunstâncias e nas diferentes posições das [coisas] que não se separam e que são as que mudam sua forma e o permuta e o associa aos animais, as plantas e aos acidentes, através dos quais há similitude entre ele e todas as coisas. E quando se conhece o dito poder e toma-se o caminho da organização, que o leva às luzes do primeiro princípio, que é sua regra e sua determinação essencial, que é o seu princípio, sua humanidade é mais perfeita, pois ele se redime e tudo isso usando as virtudes proporcionais a sua energia. Então, este é o ser humano: parcial, sensual, corporal, carnal, bruto, composto de alma, razão parcial e corpo, que é a forma composta e decadente, que neste inferior é imagem e envoltura. Por isso o ser humano universal, racional, espiritual, nobre, sutil, singelo, substancial é a forma pura que não está em corpo nenhum, a forma transcendente que está no mundo superior.

A forma do homem universal está contida na imagem do homem particular, em sua base e matéria; a imagem do homem particular está contida no corpo daquilo que é base; a forma do corpo é uma imagem composta e envolta da forma do homem parcial; a forma do homem parcial é uma figura composta e envolta da forma {50} do homem universal; a forma do homem universal é a imagem e envoltura da forma da alma universal; a alma universal é o desenho e invólucro da razão universal. A razão universal é a figuração e envoltura da luz, pois é mais criadora do que ela [do que a razão]; a razão e a luz são matéria da razão universal. É igual ao que está abaixo dele: o superior é sempre matéria

do que está abaixo dele e por acréscimo, sua base, e o que está abaixo é sempre forma para o que está acima dele e por adição, seu componente. O homem, em verdade, é forma anímica composta na cabeça dos corpos unidos na natureza.

Quem realmente deseja conhecê-lo, que seja virtuoso, imaculado em mente e corpo, e assim ele o verá e o presenciará em verdade.

Nós não saímos com este tópico, Deus te apóie com sua presença, aprendiz, da direção buscada; pelo contrário, este é o desejo ao compor este livro, pois esta é a base da ciência dos talismãs. Se praticares as ciências, perceberás isto, conhecerás e saberás que é a autêntica magia. Sobre isto o homem construiu a sua sobresalência nas ciências, avançando na virtude. Platão, em seu livro intitulado Timeu, estendeu-se muito falando das formas e explicando o propósito, mas vedando a expressão e ofuscando-a como é hábito dos sábios guardar e preservar sua sabedoria dos ignorantes; da mesma forma fez Péricles. O obscurecimento deles nas ciências se deve à finura dos significados que até mesmo se encobrem e se ocultam, devendo-se retirar deste obscurecimento pensamento, reflexão e clareza para separá-los das coisas externas e aparentes às quais estão misturadas, pois as ciências possuem duas partes, uma aparente, externa e outra secreta, interna. O secreto e interno é o oculto e este conceito oculto é o que requer analogia e preâmbulos {51} que esclarecem o dito mistério, ou da semelhança e indução, pensamento e reflexão até que se mostre o conceito, que se explique o sentido, que se abra o que estava fechado e que o objetivo seja alcançado. A indução geralmente é a projeção do presente sobre o ausente ou a referência do ramo à raiz no sentido de que há uma unidade entre ambas, ou armar a observação sobre expressões aceitas e provadas

por um ou por um grupo e com este se consegue o efeito e ali se esclarece o conceito necessário. Em conjunto, há de ser feito o seu caminho para a ciência, para onde todo olhar se dirige para este caminho e reconhece os conceitos das criaturas e se esclarecer suas hierarquias.

Capítulo 7

 Saibas, Deus seja generoso a ti, que as criaturas possuem hierarquias e que a existência do Criador, louvado seja, é a hierarquia mais nobre e mais completa. Logo segue em ordem a existência da razão e a razão vem à existência a partir da alma. Em seguida, depois desta, a matéria; todas estas são imóveis e não se definem pelo movimento espacial. Após, em seguida, está a esfera da natureza que é o princípio do movimento e o inércia e na qual principiam o ser e a corrupção deste mundo. Posteriormente, depois da esfera da natureza, está a existência dos céus, até o céu da Lua; adiante, depois do

céu da Lua, há uma zona com um estatuto sensível, ou seja, que as coisas que há nela estão em vigor e não em ação. Em seguida seguem os acidentes que se aplicam à matéria comum, pois os acidentes só afetam a matéria. A seguir, após os acidentes, estão os minerais. Posteriormente as plantas. Depois os animais {52}. Em sucessão, o racional. A existência da classe é diferente da existência da primeira classe, pois a primeira classe da existência da razão é uma classe superior. Em seguida há a descida a um grau inferior que termina no céu da Lua. O que há depois do céu da Lua vai do inferior ao superior, que é o animal racional, pois ele deve saber e porque nele está o querer em ato e não em potência. Notai, investigador, que tua essência está no saber, reside em sorte abundante e na felicidade extrema e não solicitado, nem no amado. Com a expressão do poeta: Não há defeito algum do comum/como a imperfeição de um poderoso [10].

10: Divã de al-Muanabbi, O Cairo 1308, II, 373.

Os graus das criaturas possuem uma progressão que exponho a ti, para que com ela exercite a razão e aclarar a inteligência. Vêm, escuta e avança. Primeiramente, o princípio; depois a substância, em seguida o acidente, posteriormente a matéria, a seguir a forma, logo a natureza, depois o corpo, em seguida a criatura, adiante o animal, depois a humanidade, em seguida o homem, depois o desconhecido, posteriormente, o conhecido. O princípio é mais universal do que a substância. Possui gênero, pois cede sobre a essência e o acidente e a substância só cedem sobre a essência. A substância é mais natural do que o acidente, pois a substância é uma essência sem quantidade que quando recebe a quantidade, faz-se acidente. O acidente é mais geral do que a matéria,

pois é uma essência simples, sem quantidade. A matéria é o conjunto dos acidentes suscetíveis de forma. A matéria é mais universal do que a forma, pois a matéria antes de receber a forma é independente e quando recebe a forma é forma, assim como a forma cobre com a forma o vaso e a cobre a cadeira com a matéria madeira. Quando recebe o movimento e o repouso e a força ligada a elas é natureza; quando reúne a natureza e recebe um aspecto ou um desenvolvimento ou uma divisão é um corpo; o corpo é progressivo ou estático; o progressivo é não-animal ou {53} animal; o animal é inumano ou humano; o humano é homem ou não-homem; o homem é igual ou outro, confuso ou claro, e o claro é conhecido.

A matéria, que Deus ilumine a tua inteligência, que é o conjunto dos acidentes formáveis, possui suas variantes. Substância individual que só aceita uma forma composta nos acidentes, composto de terra, água, fogo e ar que se translada de essência a essência. Substância universal que aceita todas as formas compostas de acidentes simples, calor, frio, sequidão, umidade, que não se translada de essência a essência. O sábio Aristóteles conheceu a matéria, pois ele a definiu discursivamente: potência diversamente formalizável, e também fisicamente: corpo suscetível a todas as fisionomias.

Mencionamos estes conceitos e os citamos para a correção da mente e a exacerbação do pensamento. Este e outros discursos parecem ser os talismãs espirituais e “as palavras que Adão recebeu de seu Senhor” [11] que não compreendem, senão os sábios e aqueles que alcançaram o triunfo de se relacionar com uma visão total. A intenção de alcançá-lo foi o impulso deste tratado.

11: ALCORÃO, sura 2, versículo 35.


TRADUZIDO DO ESPANHOL PARA O PORTUGUÊS POR GRUPO DE TRADUÇÕES OCULTAS, 2013.

Tradução: Leonardo M.

Apoio Linguístico em Espanhol: Francis Wood [www.diosesehiralbos.blogspot.com]

Apoio Astrológico: João A. do site Saturnália [http://www.saturnalia.com.br]


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