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O Símbolo e sua Linguagem [Tratado de Medicina Iniciática]

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MAELA e Patrick Paul
Traduzido do francês por Yaqoub Ibn Ishaq Al Hadi

Uma linguagem simbólica, ao estabelecer a ponte entre as duas realidades visíveis, torna perceptível o mundo invisível: estimula a intuição e permite a compreensão daquilo que não poderia ser percebido naturalmente apenas pela mente. A totalidade do ser humano, que vai além de sua capacidade de integração, só pode ser compreendida por meio de uma linguagem simbólica ou mística, que reconstrói a totalidade visível/invisível e desenvolve o reconhecimento intuitivo das evidências.

No entanto, essa linguagem, para ser eficaz, deve tornar-se operacional. O trabalho iniciático não dá espaço a especulações. Requer, antes de tudo, discernimento, permitindo que cada pessoa estabeleça sua própria interpretação do símbolo a partir daquilo que ressoa em seu interior: o símbolo pode proporcionar diferentes níveis de compreensão ou interpretação, dependendo do nível de consciência e da realização daquele que se aproxima. A verdade só pode ser descoberta gradualmente.

A única interpretação válida de um símbolo é aquela que possui autoridade em si mesma: a constância ao longo do tempo muitas vezes resulta em uma profundidade crescente. Seus diversos aspectos podem, às vezes, parecer contraditórios à primeira vista. O trabalho iniciático nos conduz a vivenciar e a entender essas aparentes contradições para então encontrar a chave. A contradição é a face oculta que frequentemente nos permite escapar da lógica habitual e, por meio da síntese dos opostos, encontrar uma referência. Essa atitude é característica do Zen, que se manifesta nas perguntas e respostas entre o Mestre e o discípulo (Koan).

À pergunta do discípulo: “A alma existe?”, o Mestre responde: “A alma muda o tempo todo”. A resposta constitui o Koan sobre o qual é inútil questionar ou tentar memorizar. Não deve tornar-se um conceito; deve permanecer indefinida para a mente.

A linguagem simbólica envolve uma abordagem intuitiva, além dos conceitos. O símbolo não constitui um fim em si mesmo nesse processo de transformação, mas é apenas a ponte construída pela necessidade de um momento: assim que se chega à outra margem, a ponte é destruída. É aqui que reside toda a ambiguidade do mundo simbólico, o que exige o senso de relatividade e a percepção da referência.

A primeira é ilustrada por este trecho de Tchouang Tseu: “Quanto tempo vive uma mosca? Uma vida inteira. E P’eng-Tsou, o homem mais velho do mundo? Também uma vida inteira.” (K. Schipper. “O Corpo Taoísta”. Ed. Fayard).

A noção de referencial é uma aplicação da percepção unitária. Trata-se, de fato, de considerar a relação entre a parte e o todo, de circunscrever o todo, de perceber o Um sob o Múltiplo.

Por exemplo: no corpo, a parte inferior é Yin, a parte superior é Yang. Porém, se considerarmos o queixo, ele será Yin em relação à testa, que é Yang; ambos pertencem à cabeça, que é Yang em relação aos pés, que são Yin. Da mesma forma, os pés têm uma função essencial de acumular energia, enquanto as mãos desempenham uma função complementar de distribuição de energia. No entanto, ao observarmos as duas mãos juntas, a esquerda estará mais associada à acumulação e a direita à distribuição. E, ao estudar apenas uma mão, a palma será acumuladora e os dedos distribuidores, e assim por diante.

O símbolo é, por essência, não-dual. Ele simplesmente é. Dualidade, divergência e contradição provêm de nossa mente separatista.

Um símbolo pode ser representado por uma forma geométrica, um número ou um gesto, mas permanece sem sentido em si mesmo: um triângulo, por exemplo, só terá significado quando despertar espontaneamente as ressonâncias associadas na mente de quem o observa. Para alguns, evocará a Trindade Pai-Filho-Espírito Santo; para outros, a tríade alma-corpo-espírito; e para outros ainda, os números Um, Dois, Três.

Esses múltiplos significados devem levar à percepção da unidade subjacente. Também nos permitem identificar a lei da correspondência: a transposição analógica lança luz sutil sobre os elementos do símbolo. Assim, dentro de uma dimensão corporal, podemos realizar as seguintes transposições analógicas:

Lado Esquerdo Lado Direito
Acumulação Distribuição
Yin Yang
Feminino Masculino
Passivo Ativo
Recepção Ação
Internalização Externalização
Síntese Análise
Noite Dia
Imaginário Real

(Apenas grupos de ordem semelhante são associados, ou seja, neste caso, binários.)

Mas é preciso ter cuidado! A mente, buscando segurança e satisfação, pode tirar conclusões precipitadas! Posso dizer que DO é analogicamente VERMELHO, mas DO continua sendo DO e VERMELHO é VERMELHO. A mesma energia assume duas formas diferentes para se manifestar. Portanto, é importante dissociar a energia da forma.

Agora, vamos tentar entender dois símbolos geométricos simples: o círculo e o quadrado. Vamos desenhá-los para permitir uma primeira abordagem energética do símbolo. O que realmente representam? O círculo oferece a noção de continuidade e movimento, sendo caracterizado pela relação entre centro e circunferência: imutabilidade e dinamismo. Evoca a roda, os mostradores do relógio, o tempo. O círculo desperta medo? Prazer?

Com o quadrado, surgem ângulos que servem tanto como marcos quanto como pausas, bloqueios no caminho. Qual o impacto dessas paradas e fixações sobre nós? Segurança? Bloqueio? O quadrado está associado ao número Quatro, ao cubo, à caixa. Carrega a ideia de solidez, fixidez, estabilização, mas também de limite, estagnação.

O círculo e o quadrado são elementos simbólicos isolados sobre os quais é bom meditar.

A primeira sugestão é utilizar o desenho meditativo:

  • Pegue uma folha grande de papel (idealmente 1,20m x 0,90m) e duas canetas hidrográficas, carvão ou pastéis.
  • Coloque-se confortavelmente diante desta folha, que você prendeu cuidadosamente, segure uma caneta em cada mão e visualize o espaço na folha.
  • Com os olhos fechados e as duas mãos juntas, desenhe círculos ou quadrados. Após algumas tentativas, você pode tentar alternar entre o quadrado e o círculo. Anote todas as associações que possam surgir.

A segunda forma de meditação consiste em desenhar uma das formas e colocá-la diante de você, em atitude de concentração. Tente, após fixá-la, visualizar a forma escolhida, recriando-a mentalmente com os olhos fechados. Nesse estado de imersão, permita que o símbolo evoque seu mundo de analogias, associações e correspondências.

Você pode descobrir uma preferência por um ou outro símbolo, o que permitirá avaliar suas energias e saber qual aspecto complementar precisa integrar.

Você também pode meditar sobre o Hexagrama e o Pentagrama, ou sobre o Ponto. A meditação sobre símbolos alquímicos também é valiosa, principalmente porque evita a armadilha das palavras! Assim, o Sal superior constitui a Matéria Primária, e o Sal inferior, a Segunda Matéria. No mesmo termo, dois elementos diferentes estão velados.

Uma meditação sobre os bigramas chineses pode trazer clareza e eliminar confusões. São diferentes e ainda justificadas:

a ordem “a)” corresponde à condensação das energias, oferecendo uma hierarquia da estruturação do universo; a ordem “b)” corresponde à ordem funcional do universo, e assim eles surgem sucessivamente.

Além do discernimento, intuição, senso de relatividade e percepção unitária, o trabalho iniciático exige o desenvolvimento da concentração e da intenção correta: trata-se de obedecer a si mesmo, aprender a direcionar a própria intenção e praticar, na vida cotidiana, para alcançar a justiça. Esta investigação conduz essencialmente a um modo de viver em sintonia com o Cosmos, e não à acumulação de saberes. Céu e Terra se desdobram no Homem, e o trabalho iniciático envolve a descoberta do que pertence à ordem da Terra e à ordem do próprio Céu. A busca espiritual exige tanto uma base sólida na vida quanto a abertura ao mundo invisível do Eterno Presente.

Esta jornada também se baseia em evidências, mas ser simples é uma grande dificuldade! Muitos acreditam compreender, mas permanecem no nível intelectual. Devemos até abandonar a “compreensão” no sentido racional do termo. Através da meditação e do coração – e não da mente – aceitamos nos abrir para que a Palavra viva em nós, sem preconceitos. Permaneça em silêncio, sem desejos ou perguntas. Apenas sendo.

Essa perspectiva pode parecer confusa e exige coragem, vontade (no sentido de intenção correta) e perseverança. Mas lembre-se: “Você nunca cumpre sua tarefa, você cresce com ela” (Steiner). Tudo chega em seu tempo para aqueles de coração puro.


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