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William R. Newman é professor no Departamento de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Indiana. A maior parte do trabalho de Newman na História da Ciência tem sido dedicado à alquimia, “química”, ao debate arte-natureza e as teorias da matéria, particularmente o atomismo. Esta entrevista foi concedida a rádio Nova após a publicação de seu livro: “Newton the Alchemist: Science, Enigma, and the Quest for Nature’s “Secret Fire” (Newton, o Alquimista: Ciência, Enigma e a Busca pelo “Fogo Secreto” da Natureza”).
NOVA: Por que as pessoas ficam surpresas quando ouvem que Isaac Newton – o grande patriarca da física – era um alquimista?
NEWMAN: Bem, acho que é porque a alquimia foi retratada como o epítome da irracionalidade, uma espécie de loucura avarenta.
NOVA: Feiticeiros sinistros de mantos escuros tentando transformar chumbo em ouro. Essa é uma imagem precisa dos alquimistas no tempo de Newton?
NEWMAN: É precisa para alguns alquimistas. Mas agora sabemos que a maioria das grandes mentes do período estava envolvida na alquimia, incluindo Robert Boyle, John Locke, Leibniz e muitos outros.
NOVA: Dado que tantas grandes mentes estavam interessadas nisso, por que a alquimia era ilegal?
NEWMAN: Bem, em primeiro lugar, tornou-se legal durante o tempo de Newton. Mas por que era ilegal? Há uma longa associação, por boas razões, entre alquimia e falsificação. É bem provável, na verdade, que os governantes medievais e do início da era moderna estivessem conscientemente empregando alquimistas para rebaixar sua própria moeda.
NOVA: Mas eles não queriam que outras pessoas fizessem isso?
NEWMAN: [risos] Sim, certo; exatamente exatamente.
NOVA: Então, o que esses alquimistas “legítimos” do século 17 estavam tentando fazer?
NEWMAN: A alquimia realmente englobava toda a tecnologia química – desde a fabricação de pigmentos para pintura até a fabricação de pedras preciosas artificiais. Incluia a fabricação dos chamados “medicamentos químicos”. E, claro, também incluía a tentativa de fazer a “pedra filosofal”.
NOVA: Fale-me sobre a pedra filosofal. Penso nele vagamente como alguma substância mágica que poderia transformar metais comuns em ouro.
NEWMAN: Pensava-se que a pedra filosofal era um agente de transmutação universal. Também era visto como um agente curativo que poderia “curar” os metais de suas impurezas e curar os seres humanos de suas doenças. Então era uma espécie de panacéia universal.
NOVA: Newton era um alquimista porque queria fazer ouro ou encontrar a chave para a imortalidade? Ou sua alquimia era apenas mais uma parte de sua ciência – uma maneira de obter conhecimento sobre o mundo material?
NEWMAN: Se você olhar para os cadernos experimentais que ele manteve por cerca de 30 anos, é realmente impossível evitar a conclusão de que ele estava tentando produzir a pedra filosofal. Mas eu não acho que ele estava fazendo isso para ganhar riqueza monetária.
NOVA: Foi para entender a natureza?
NEWMAN: E ter o poder sobre a natureza. O poder sobre a natureza sempre foi um elemento-chave para a alquimia.
NOVA: Os alquimistas pensavam que iriam descobrir poderes que queriam manter para si mesmos? É por isso que a alquimia é tão velada em códigos secretos?
NEWMAN: Isso é certamente parte do motivo. Você encontra tratados alquímicos que afirmam que o conhecimento da pedra filosofal deve ser mantido em segredo, porque se for divulgado ao mundo que um determinado alquimista a possui, ele será estrangulado em sua cama para lhe arrancarem o segredo.
NOVA: Parece que Newton também queria manter seus segredos – ele nunca publicou nenhum de seus trabalhos alquímicos.
NEWMAN: Eu acho que, como outros alquimistas, ele pensava que a alquimia prometia um tremendo controle sobre o mundo natural. Isso permitiria que você transmutasse praticamente qualquer coisa em qualquer outra coisa, não apenas chumbo em ouro. Há outras coisas, também, que provavelmente estavam na mente de Newton. Por exemplo, os alquimistas perceberam que se a pedra filosofal fosse real e chegasse ao público, arruinaria o padrão-ouro. [risada]
NOVA: Eu acho que o que faz muitas pessoas pensarem na alquimia como magia negra é essa linguagem bizarra – frases como “o Dragão Verde” ou o “sangue menstrual da prostituta sórdida”.
NEWMAN: Sim.
NOVA: É incompreensível pensar em Newton escrevendo essas frases.
NEWMAN: Bem, essa era a linguagem enigmática da alquimia. Quero dizer “enigmático” em um sentido bastante estrito: era uma linguagem enigmática. A melhor maneira de olhar para essas metáforas é à luz de enigmas. Assim, o “sangue menstrual da prostituta sórdida” é decifrável. Significa simplesmente a forma metálica do antimônio. Esse é o “sangue menstrual” que é extraído da “prostituta sórdida”, que é o minério de antimônio.
NOVA: É uma linguagem codificada.
NEWMAN: É um código, e está claro que os alquimistas se deliciavam com esse código. É quase uma forma de poesia. Na verdade, muitos alquimistas escreveram na forma de poesia, literalmente.
NOVA: Todos os alquimistas compartilhavam o mesmo código, usavam a mesma terminologia?
NEWMAN: Eles compartilhavam muitos elementos comuns, mas variavam de alquimista para alquimista. É extremamente complicado para Newton. Ele estava lendo alquimistas durante um período de tempo, talvez mais de mil anos, e houve muito desenvolvimento nesses tratados. Mas Newton geralmente pensa que todos estão dizendo a mesma coisa, então isso é um problema.
NOVA: Por que Newton passou tanto tempo copiando a escrita de outros alquimistas?
NEWMAN: Na maioria das vezes, ele não estava apenas copiando literalmente. O que ele estava fazendo em muitos casos era tecendo trechos de diferentes autores, tentando entendê-los. Acho que a alquimia era o enigma definitivo. Newton se deliciava com enigmas, e isso lhe proporcionava um desafio ao qual ele simplesmente não conseguia resistir.
NOVA: Por que Newton pensou que os mitos gregos de alguma forma codificavam receitas alquímicas e um caminho para a pedra filosofal?
NEWMAN: Essa teoria já existia há muito tempo. A principal fonte de alquimia de Newton, George Starkey, compartilhou essa ideia. Michael Maier é um famoso escritor do início do século XVII que tentou decifrar o máximo de mitologia grega que conseguiu. Então era uma crença comum.
NOVA: Isso era parte de uma crença mais ampla em algum tipo de “sabedoria revelada” sobre o mundo natural?
NEWMAN: Ah, sim. Há uma tradição de erudição muito popular na Renascença chamada prisca sapientia, a sabedoria primordial. Alegava que havia uma sabedoria secreta que foi transmitida pela primeira vez por uma figura arquetípica – digamos, por exemplo, Moisés – e depois transmitida por uma linha de sucessores, geralmente incluindo Pitágoras, Platão e assim por diante, e que essa sabedoria era realmente a melhor ferramenta para entender o universo. Newton claramente acreditava nisso.
NOVA: Newton se via como um desses poucos escolhidos, uma das pessoas ordenadas a receber essa sabedoria?
NEWMAN: Suspeito que sim. Eu não acho que ele teria admitido isso publicamente, mas um de seus passatempos era inventar pseudônimos alquímicos para si mesmo. E um desses pseudônimos era Jeová Sanctus Unus – isto é, Jeová, O Santo.
NOVA: É assim que Newton se descreveu?!
NEWMAN: Sim!
NOVA: Newton achou que fez progressos no desenvolvimento da pedra filosofal?
NEWMAN: Sim, acho que está bem claro. Se você olhar para seus manuscritos, há estágios de desenvolvimento que você pode isolar. Em seus cadernos de experimentos, há entradas onde ele diz “encontrei o caduceu de Mercúrio hoje” e esse tipo de coisa que reflete descobertas reais que ele fez em laboratório.
NOVA: Após a morte de Newton, por que nenhum de seus escritos sobre alquimia veio à luz? Certamente as pessoas que vasculhavam seus papéis se deparavam com essa escrita. Foi visto como não digno dele?
NEWMAN: Ah, sim. Não há dúvida de que eles foram considerados escandalosos. Newton morreu em 1727. Naquela época, você já estava no Iluminismo, e a alquimia havia se tornado o domínio dos tolos; estava associado a todo tipo de conhecimento medieval inútil. Portanto, o fato de Newton ter sido um estudante sério desse campo obsoleto e idiota era realmente problemático.
NOVA: Você acha que hoje devemos pensar menos em Newton, sabendo o quão profundamente devotado ele era à alquimia?
NEWMAN: Não. Pelo contrário, acho que isso abre um lado de Newton que o torna uma figura muito mais fascinante. E acho também que o fato de tantas dessas figuras terem sido muito, muito seminais da Revolução Científica estarem fortemente envolvidas na alquimia abre uma nova área historiográfica que realmente promete lançar uma luz bem diferente sobre todo o período.
NOVA: Abre nossos olhos para a incrivelmente ampla gama de atividades intelectuais de Newton.
NEWMAN: Sim, é muito importante ver toda a amplitude das indagações de Newton. E os sonhos que foram incorporados em suas atividades alquímicas explicam até certo ponto como e por que ele era um homem tão determinado. Acho que ele realmente achava que a alquimia proporcionava uma espécie de poder ilimitado sobre a natureza.
NOVA: E mesmo reconhecendo que não tinha resolvido todos os problemas da alquimia, ele realmente sentiu que tinha feito progressos.
NEWMAN: Bem, é claro, ele é famoso por ter dito que se sentia como se fosse apenas um menino à beira-mar, tendo pegado uma linda concha, e que havia muitas, muitas outras conchas restantes a serem descobertas na beira deste vasto mar. Isso é o que ele disse sobre seu esforço científico como um todo, não apenas sua alquimia.
NOVA: Você disse que a alquimia de Newton ainda é um grande mistério não resolvido. Por quê?
NEWMAN: Em parte porque seus cadernos experimentais são tão enigmáticos. Esses cadernos experimentais começaram em 1678, e há uma história de que houve um incêndio no laboratório de Newton imediatamente antes disso. Portanto, é provável que tivéssemos mais materiais se não tivessem sido destruídos nesta conflagração. Além disso, Newton não se preocupa em explicar sua terminologia; sendo Newton, ele espera conhecer sua terminologia.
E a terminologia é muito desconcertante. Ele usa nomes alquímicos padrão – nomes de capa como Leão Verde e Dragão Babilônico, e assim por diante – mas parece estar usando-os de maneiras que não correspondiam a como suas fontes imediatas os usaram. Então nós temos que realizar um grande esforço conjunto, tanto em nosso laboratório quanto no estudo dos textos, para determinar quais eram essas substâncias.
Além disso, Newton não nos diz por que está fazendo os experimentos. Ele apenas diz: “Eu fiz isso e aquilo, e produzi uma substância volátil aqui”, e assim por diante. Ele não diz o propósito do experimento! Então tudo isso tem que ser inferido e colocado junto. É realmente um quebra-cabeça gigantesco, e estamos apenas no começo de resolvê-lo.
NOVA: Uau. Você gosta de entrar no laboratório e tentar reproduzir o que ele poderia estar fazendo com seu cadinho?
NEWMAN: Ah, com certeza. E em muitos casos, você pode reproduzir os produtos com muita clareza. É satisfatório, mas dá muito trabalho. [risada]
NOVA: Enquanto você continua estudando os manuscritos e replicando seus experimentos, o que você espera encontrar?
NEWMAN: Bem, há várias coisas diferentes. Uma coisa que estou tentando fazer é determinar a cronologia dos diferentes manuscritos, para que possamos dizer exatamente como suas ideias se desenvolveram ao longo do tempo. Como eu disse, é um quebra-cabeça gigante. Eu gostaria apenas de poder juntar todas as peças e ver o que ele realmente estava tentando fazer, quais eram seus objetivos e como isso se encaixava em sua filosofia natural.
NOVA: E se você conseguir fazer a pedra filosofal, você vai nos avisar?
NEWMAN: [risos] Se eu conseguir, vou desaparecer.
Fonte: https://www.pbs.org/wgbh/nova/newton/alch-newman.html
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