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Tamosauskas.
“Os Novos Discursos de Atalanta”
Este emblema é uma forma gráfica de uma passagem da Tábua Esmeralda, que afirma: “A Terra é sua nutriz”. O termo “nutriz” é um arcaísmo para o que hoje chamamos mais comumente de “ama de leite”. Vale ressaltar que a nutriz não é a mãe propriamente dita, pois, como ensina Trismegisto, “a Lua é sua mãe”, mas é a Terra que nutre aquilo que se tornará “o poder poderoso de todo poder”. A chave para entender esse simbolismo está nas transformações envolvidas no processo de amamentação, especialmente considerando o leite materno como um símbolo.
Michael Maier menciona que no Liceu de Aristóteles ensinava-se que a nutrição era um processo não apenas biológico, mas também de transformação profunda, tanto para a criança que é nutrida quanto para a mulher que nutre. Para que algo sirva de alimento, ele precisa se assemelhar à nossa substância antes de poder ser absorvido, tornando-se parte de nós e nos modificando internamente. Segundo a teoria aristotélica, a digestão era vista como uma forma de “cozedura” interna, e o objetivo da alimentação era acessar a “quintessência”, o princípio vital dos alimentos.
A Natureza nos ensina que não podemos nos alimentar de tudo diretamente: uma barra de cobre ou um lingote de ferro, por exemplo, não são alimentos em si. No entanto, em quantidades adequadas, esses elementos podem ser essenciais para o corpo humano. Esse princípio de assimilação e transformação rege não apenas os processos biológicos, mas também nossas escolhas e interações em várias esferas da vida. Como Paulo escreveu aos Coríntios: “Dei a vocês leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, ainda não estão em condições (…) Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, salvar alguns”.
Entretanto, o leite materno é muito mais do que apenas alimento. Estudos contemporâneos mostram que o leite materno humano possui oligossacarídeos que modulam o sistema imunológico e influenciam o desenvolvimento neurológico do bebê. Além dos nutrientes essenciais para o desenvolvimento da criança, ele contém anticorpos, células imunológicas, microbiota, hormônios e enzimas, sem falar dos benefícios emocionais e espirituais que oferece. Embora o leite animal possa nutrir uma criança, o leite materno humano oferece uma nutrição superior. Há algo mais profundo acontecendo: uma verdadeira troca de Natureza, que transcende a biologia.
Esse princípio se aplica não apenas aos corpos, mas também às ideias, comportamentos e relacionamentos. Após a primeira transformação, onde a nutriz se torna algo que pode ser assimilado pela criança, ocorre uma segunda transformação: a criança começa a adquirir a essência de quem a nutriu. Mitos também retratam essa relação simbiótica. Zeus, alimentado pelo leite da cabra Amalteia, incorporou sua fertilidade e generosidade, o que mais tarde fez com que todas as suas relações sexuais fossem férteis. Rômulo e Remo, amamentados por uma loba, herdaram sua ferocidade e força, fundando uma Roma robusta e indomável.
O caso de Hércules merece uma atenção especial. Embora nutrido pelo leite de Hera, sua inimiga, ele adquiriu força sobre-humana. Ao refletirmos sobre a história desse herói, surgem analogias fascinantes. Até o nome de sua mãe humana, Alcmena, tem ressonâncias fonéticas com “alquimia”.
Isso sugere que os heróis não nascem prontos, mas passam por uma série de transformações. O processo de transformação de Hércules começou no berço: ao ser amamentado pelo leite de Hera, ele ganhou a imortalidade e a força sobrenatural necessárias para cumprir seus doze trabalhos — que são, simbolicamente, análogos às doze operações da alquimia ou aos doze signos do zodíaco. O processo de nutrição e transformação que vemos em Hércules é, de fato, um princípio universal: aquilo que nos nutre define aquilo em que nos tornamos. Como até o materialista Feuerbach observou, “Der Mensch ist, was er isst” — “O homem é aquilo que come”. O que consumimos durante nossa formação é determinante para nossa natureza.
O ponto central é o seguinte: se você é um alquimista, você ainda está em formação. A Terra não foi sua nutridora, ela ainda é. Sua criação não se conclui aos vinte e poucos anos; ela se estende até o final da vida, quando, então, poderá dizer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, e finalmente descobrir o que lhe espera além do cadinho do corpo físico.
A arte da alquimia, portanto, não está separada da Natureza, mas trabalha em conjunto com ela, transformando o bruto em algo superior. Da mesma forma, em nossas vidas cotidianas, a escolha do que nos alimenta — seja física, emocional ou intelectualmente — define, em grande parte, quem somos e o que podemos nos tornar. O que o segundo emblema está nos dizendo é que a Terra é a mãe dos sábios.
A reflexão final é simples, mas profunda: a nossa mãe de leite já fez a parte dela se aproximando de nós, resta agora completarmos o trabalho e aproveitarmos essa oportunidade para nos tornarmos pessoas melhores. Os flagrantes desrespeitos ao meio ambiente tornam esse emblema hoje é ainda mais urgente que na época em que foi desenhado. Naquela época bastava reconhecê-la. Hoje precisamos parar de apunhalá-la.
Estamos ansiosos pelo leite de nossa mãe divina, assim como Hércules estava ao criar a Via Láctea? Estamos honrando esse leite nos alimentando de coisas que nos transformam positivamente e no processo nos tornando tão grandes como ela? Ou, ao contrário, estamos virando a costas para seu alimento e suas lições, colocando fogo em seus cabelos e nos fazendo de surdos aos seus gritos? Lembre-se disso ao comer, tomar banho ou respirar fundo.
Tudo vem dela.
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