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Alquimia

Alquimia na França hoje

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por Joel Tetard

Esta visão geral baseia-se principalmente no livro “Fulcanelli Dévoilé”, escrito por Geneviève Dubois (Editora Dervy, 91 bd Saint Germain, 75006 Paris), que oferece uma introdução bastante satisfatória ao tema.

Durante a maior parte do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, houve na França um grande interesse pela alquimia, assim como pelo esoterismo em geral. Um número significativo de escritores (como Victor Hugo e Balzac), poetas (como Verlaine) e cientistas (como Chevreul e Berthelot), vindos de todos os estratos sociais, declaravam ter um forte interesse por essa Arte.

Embora a Alquimia seja mais uma jornada individual do que uma prática coletiva, vários grupos dedicados a essa Arte foram fundados.

Entre os mais conhecidos, destacam-se a Société Alchimique de France, a École Hermétique e o Groupe Indépendant d’Études Ésotériques.

É importante observar que algumas dessas pesquisas não eram consideradas por seus próprios promotores como trabalhos alquímicos tradicionais ou “puros”.

Por exemplo, Jollivet Castelot, que liderava a Société Alchimique de France, falava apenas de “hiperquimia”, um método de obtenção de ouro por vias químicas. Isso está relacionado ao grande número de receitas alquímicas conhecidas como petits particuliers (ver, por exemplo, a fórmula de Vigenère baseada na superfusão do chumbo).

A maioria desses grupos alquímicos estava ligada a irmandades neorrosecrucianas. Outros grupos possivelmente existiram, mas não há informações disponíveis sobre eles.

A Primeira Guerra Mundial interrompeu as atividades desses grupos e pôs fim ao primeiro renascimento da alquimia na França.

Em 1926, “Les Mystères des Cathédrales” e, em 1930, “Les Demeures Philosophales”, ambos assinados por Fulcanelli, foram publicados sem causar grande repercussão. Os dois livros, de fato escritos por Canseliet (1899–1982) com base nas anotações de seu Mestre, foram dedicados a uma misteriosa Fraternité d’Héliopolis.

Nesse mesmo período, Schwaller de Lubicz (1887–1962), mais conhecido por seus trabalhos sobre egiptologia, reuniu um pequeno grupo de amigos (chamado Les Veilleurs, ou “os Vigilantes”) e fundou uma espécie de comunidade dedicada à alquimia perto de Saint-Moritz. Esse grupo encerrou suas atividades em 1927, quando Schwaller se casou e mudou-se para o sul da França.

Segundo G. Dubois, Schwaller trabalhou com alquimia juntamente com Jean-Julien Champagne (um pintor que supostamente seria o verdadeiro Fulcanelli e que ilustrou os dois livros publicados).

Em 1937, Jacques Bergier encontrou um alquimista que dizia ser Fulcanelli (nascido em 1839, segundo E. Canseliet…). Esse homem alertou Bergier sobre as pesquisas envolvendo o átomo, que poderiam representar um perigo para a humanidade.

Enquanto isso, Eugène Canseliet começou a publicar diversos artigos e passou a ser cada vez mais conhecido como o único discípulo “oficial” de Fulcanelli. Alguns desses textos foram reunidos e publicados no livro “Alchimie” (1964).

Em 1960, Jacques Bergier e Louis Pauwels publicaram “Le Matin des Magiciens”, obra que teve um papel fundamental no segundo renascimento da alquimia na França. O livro contribuiu para difundir amplamente o nome de Fulcanelli.

“Les Mystères des Cathédrales” foi reeditado em 1964, com um sucesso inesperado.

“Les Demeures Philosophales” foi reeditado em 1965, seguido de novos livros de Canseliet: “Mutus Liber” (1967), “L’Alchimie expliquée sur ses textes classiques”, considerado seu testamento filosófico (1971), “Trois anciens traités d’alchimie” (1971), “Alchimie” (reeditado em 1978) e “L’hermétisme dans la vie de Swift et dans ses voyages” (1983).

A obra de Canseliet deu início a novos estudos e ao crescimento no número de livros e artigos sobre o tema. Por exemplo, Atorene publicou “Le Laboratoire Alchimique” (Guy Trédaniel, Editions de la Maisnie), em 1980, uma fonte importante sobre a alquimia prática.

Até sua morte, em 1982, Eugène Canseliet foi um guia para uma nova geração interessada em alquimia: alguns de seus alunos tiveram papel relevante na alquimia francesa nos anos 1980 (como J. Laplace, Solazaref, P. Rivière, Atorene…).

A ALQUIMIA NA FRANÇA HOJE

Graças a Canseliet, muitas pessoas passaram a se interessar por alquimia.

Segundo livreiros, fornecedores de equipamentos científicos e outras fontes (como vendedores de minérios brutos, por exemplo), a alquimia prática envolveria cerca de mil pessoas na França. Alguns dos “amoureux de Science” (amantes da alquimia) franceses estariam dedicados a essa Arte em tempo integral, e poucos teriam alcançado a etapa das Águias da Segunda Obra, possuindo a “Rêmora”…

Os grupos a seguir são (ou foram) dedicados a diferentes aspectos da alquimia: teoria, especulação, prática e espiritualidade.

Observação: não faço parte de nenhum desses grupos. Apenas tive contato com pessoas que estão (ou estiveram) ligadas a alguns deles. Por esse motivo, não posso fornecer detalhes sobre a estrutura desses grupos. Também por isso, prefiro apresentar apenas fatos, sem comentários pessoais ou subjetivos.

2PHILOSOPHES DE LA NATURE

Philosophes de la Nature foi uma organização sem fins lucrativos fundada por Jean Dubuis em 1979. Ela oferecia cursos sobre esoterismo, cabala, alquimia e medicina tradicional.

O ensino da alquimia baseava-se principalmente nos trabalhos de Frater Albertus (Richard Riedel) e do próprio J. Dubuis, dividido em duas partes: espagiria (alquimia vegetal, principalmente) e alquimia mineral.

A organização promovia encontros, sessões práticas e fornecia material de laboratório e ervas a preços acessíveis para seus membros.

O foco principal dos Philosophes de la Nature era a espagiria e o “Caminho das Amálgamas” ou Caminho de Flamel.

Devido a problemas internos, a organização suspendeu suas atividades em 1995.

Último endereço conhecido: 12 avenue Olivier, F-92250 La Garenne-Colombe.

FILIAÇÃO SOLAZAREF (ou “Les Amoureux de Science”)

Solazaref era anteriormente conhecido pelo nome artístico de Pierre d’Ouche (isto é, “Pedra de Ouche”, uma antiga mina de antimônio). Físico de formação, manteve estreita relação com E. Canseliet.

No início dos anos 1980, decidiu tornar-se ceramista, produzindo materiais alquímicos como retortas e cadinhos.

Cerca de cinquenta pessoas decidiram seguir Solazaref e viver próximas a Riom, no centro da França. “Introitus ad Philosophorum Lapidem”, publicado logo após a morte de Canseliet, foi dedicado ao Caminho Seco do antimônio, conforme ensinado pelo discípulo de Fulcanelli.

Outros livros seguiram, focando principalmente no Caminho Breve, que seria relacionado às tradições germânicas e celtas. Para os trabalhos nesse Caminho, os companheiros de Solazaref utilizam “energias fortes”, como calor solar, explosivos ou raios…

Apesar de inicialmente se dedicarem ao “Caminho Seco da Estibina”, principal linha conhecida na alquimia desde Fulcanelli e Canseliet, afirmavam que esse caminho era uma armadilha criada por maçons e judeus.

Devido a essa posição política próxima à Frente Nacional de Le Pen e aos ataques contra algumas figuras do meio alquímico (a filha de Canseliet, a Igreja de Caro, etc.), o grupo foi duramente criticado.

A filiação de Solazaref cresceu rapidamente (cerca de 500 pessoas em contato com eles na Europa), e subgrupos foram criados na Bélgica, Itália e EUA.

Contudo, o grupo parece ter se dividido no ano passado, e alguns membros criaram uma nova organização, voltada para a Tradição do Norte e sem ligação com a alquimia.

Último endereço conhecido: c/o Michel Chalon, La Tour Serviat, F-63410 Manzat.

 Frères Aînés de la Rose-Croix (F.A.R.C.)

Durante os anos 60, foi fundado o Temple Initiatique Alchimique d’Ajunta por Jean Deleuvre, também conhecido como Kamala-Jnan. [Nota do Tradutor: O nome “Deleuvre” parece ser um pseudônimo, e pode ser entendido como “do Trabalho”, em alusão à Obra alquímica.] Um livro foi publicado com fotografias mostrando as principais etapas do trabalho alquímico (Caminho do Cinábrio).

Após a morte de Deleuvre, Etienne Roger Caro tornou-se o novo líder do grupo e mudou o nome do Temple d’Ajunta para Frères Aînés de la Rose-Croix (F.A.R.C.). Em 1973, a organização decidiu entrar em um estado de “sono” por 25 anos, a fim de alinhar-se com tradições rosacruzes (?).

Na prática, em 1972, Etienne Roger Caro criou uma nova organização: a Église Universelle de la Nouvelle Alliance. Essa última parece ter cessado suas práticas alquímicas após a morte de Caro.

É possível escrever para Daniel Caro (filho de Roger Caro) e encomendar alguns livros publicados pelo Templo de Ajunta. O endereço é:

Daniel Caro
Bâtiment D. Chambrun
270 avenue de Pessicart
06100 Nice – França


SPAGY-NATURE

Esse grupo é mais voltado à espagiria, seguindo os escritos de Paracelso, do que à alquimia propriamente dita, embora alguns membros tenham trabalhado com antimônio seguindo os ensinamentos de Fulcanelli e M. Canseliet.

Patrick Rivière é o líder do grupo. Segundo seus livros (“Alchimie et Spagyrie”), o Spagy-Nature estaria ligado à organização CHR+CHM, que parece ser uma fraternidade neorrosecruz tradicional.

Patrick Rivière publicou diversos livros sobre teoria e prática da alquimia e da espagiria, os quais podem servir como introdução aos trabalhos atuais.

Último endereço conhecido:
Spagy-Nature, c/o P. Rivière
Les Soubadisses, F-82100 Granvillar – França

CONCLUSÃO

Outros grupos certamente existem, mas não tenho informações sobre eles. Na verdade, a maioria dos alquimistas franceses trabalha atualmente de forma individual ou mantém relações amigáveis, porém informais, com seus “colegas”.

La Tourbe des Philosophes, uma publicação sem fins lucrativos e não periódica (realmente!), representa um elo importante — embora frágil — entre todos os amigos da alquimia na França.

Devido à falta de artigos, esta revista está agora em sério risco de desaparecer.

ENTÃO, POR FAVOR, ENVIE SUAS PUBLICAÇÕES, ARTIGOS OU COMENTÁRIOS SOBRE NOVOS LIVROS PARA ESTA REVISTA!!! (mesmo que em inglês!)

Você pode encontrar essa interessante publicação e enviar seus textos para:

La Table d’Émeraude

A maioria dos livros citados acima pode ser encontrada nas seguintes livrarias:

La Table d’Émeraude
21 rue de la Huchette
75005 Paris – França
Tel: +33 (1) 43 54 90 96
Fax: +33 (1) 40 51 02 67

Librairie du Graal
15 rue J-J Rousseau
75001 Paris – França
Tel: +33 (1) 42 36 07 60
Fax: +33 (1) 42 36 45 58

A Librairie du Graal é outra excelente livraria que fornece obras relacionadas à alquimia. Publicam um catálogo trimestral (disponível por e-mail) com uma lista de livros antigos sobre alquimia, espagiria e outros assuntos (astrologia, cabala, etc.).


ADENDO À PRIMEIRA VERSÃO DO TEXTO

Outras publicações sobre alquimia estão disponíveis na França:

CHRYSOPOEIA
Esta revista é publicada pela Société d’Étude de l’Histoire de l’Alchimie, ligada à Universidade Francesa (CNRS):
45, rue Saint-Maur
75011 Paris – França
Esta revista publica textos retirados de manuscritos e livros esgotados.


LE CURIEUX DE NATURE
– Pequena Enciclopédia de Estudos Filosóficos –
Jean Laplace esteve em contato com Canseliet e escreveu diversos livros sobre alquimia.
Publicou quatro fanzines sobre alquimia, espagiria, egiptologia e medicina.
Podem ser encomendados de:

Jean Laplace
Marignaostr. 26
CH-4059 Basel – Suíça


Outros endereços interessantes:

L’Intersigne
66 rue du Cherche-Midi
75006 Paris – França
Tel: +33 (1) 45 44 24 54
Catálogos disponíveis desta livraria, especializada em livros raros e antigos sobre alquimia e assuntos correlatos (ciências como química, botânica etc.).


Atlantis
30 rue de la Marseillaise
94300 Vincennes – França
Essa revista foi fundada em 1926 por Paul Le Cour e é dedicada ao estudo de Atlântida.
Embora não seja especializada em alquimia, a Atlantis publica importantes artigos sobre o tema escritos por Canseliet e alguns de seus “discípulos”: René Alleau, Séverin Battefroid, Guy Béatrice, entre outros. Grande parte do livro “Alchimie”, de Canseliet, foi composta de artigos originalmente publicados nessa revista.


3e Millénaire
B.P. 40
75661 Paris Cedex 14 – França
Essa revista é publicada por uma associação sem fins lucrativos dedicada a diversos temas ligados à “Nova Era”. Uma edição especial (nº 35) sobre alquimia foi publicada recentemente.

Nessa edição, destaco dois artigos interessantes:

  • O primeiro, de Albert Cau, oferece uma breve introdução aos seus trabalhos com pitchblenda.

  • O segundo, de Jacques Trieli, é um panorama (muito) rápido sobre o Caminho do Cinábrio conforme mostrado por Caro (ver acima). Também são publicadas algumas imagens interessantes.


Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.

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