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Xangô
Xangô é a Divindade que está assentada no polo positivo ou irradiante da 4ª. Linha de Umbanda, que é a da Justiça Divina.
Como Orixá Universal, Xangô traz a Qualidade da Justiça Divina e a irradia o tempo todo na Criação para dar equilíbrio, estabilidade e harmonia a tudo e a todos. É o Orixá do equilíbrio, da estabilidade e da razão. Sustenta e ampara os seres que vivem o Sentido da Justiça de forma equilibrada.
Seu campo preferencial de atuação é a razão. Absorvendo as Irradiações de Pai Xangô, o ser é purificado em seus sentimentos e se torna racional, ajuizado e um ótimo equilibrador do meio em que vive e dos seres à sua volta.
Podemos ver manifestações dessa Qualidade Divina através da atuação dos Caboclos de Xangô, que têm procedimentos justos, retos e equilibrados.
Na Linha da Justiça, Pai Xangô forma um par puro com o Orixá Feminino Egunitá, pois ambos atuam pelo elemento Fogo.
Além disso, Xangô também polariza com Iansã (Trono Feminino da Lei), formando com Ela uma Linha Mista, uma vez que atuam por elementos diferentes: Xangô é o Fogo e Iansã é o Ar que expande esse Fogo Divino. Isso acontece porque há uma ligação estreita entre Justiça e Lei e, portanto, também entre as atuações dos Orixás Regentes de cada uma dessas Linhas (Xangô e Egunitá na Linha da Justiça; Ogum e Iansã na Linha da Lei).
Xangô está em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, a vontade, a iniciativa. É a solidez, a organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer. Também é o sentido de realeza, o espírito nobre das pessoas, o poder de liderança.
O aspecto da razão aparece bem destacado no sincretismo de Xangô com São Jerônimo, pois na imagem umbandista de São Jerônimo se vê a figura de um leão colocado ao lado do Santo, onde o leão simboliza a razão acima do instinto, pois Xangô nos chama à razão. E aqui há outro aspecto interessante: essa imagem umbandista apresenta São Jerônimo segurando uma pedra na mão (que seria a pedra de raio de Xangô) e tendo no colo os Dez Mandamentos e um livro onde está escrito: “Juízo Final”. Essa presença dos Dez Mandamentos na imagem associa Xangô a Moisés, pois foi Moisés quem recebeu as Tábuas da Lei, nas quais os Dez Mandamentos teriam sido escritos a fogo pelas mãos de Deus, segundo a versão católica. Vale lembrar que na imagem católica de São Jerônimo este aparece segurando apenas a Bíblia, pois São Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim, de modo que os leigos pudessem entendê-la. Já na imagem umbandista de São Jerônimo, está o livro escrito “Juízo Final”, livro que seria “a Bíblia” de Xangô, uma referência direta à Justiça Divina que este Orixá representa.
Para Xangô, a Justiça está acima de tudo e sem ela nenhuma conquista vale a pena: o respeito pelo rei é mais importante que o medo. É o protetor dos juízes e operadores do Direito em geral.
Invocamos Pai Xangô para devolver o equilíbrio e a razão aos seres exageradamente emocionados e desequilibrados. Também para clamar pela Justiça Divina, visando ao corte de demandas cármicas, de magias negras etc., para recuperamos o equilíbrio e a saúde espiritual, mental, emocional e física. Além disso, tudo o que se refere a estudos, a disputas judiciais, a contratos e a documentos “trancados” pertence ao campo de atuação de Pai Xangô.
Quando pedimos a intervenção da Justiça Divina é preciso lembrar que ela vai atuar em primeiro lugar em nós mesmos, verificando o quanto temos sido justos com a nossa própria vida e com os nossos semelhantes. A balança da Justiça pesa os dois lados de uma questão. E a machadinha dupla de Xangô corta tudo que não esteja de acordo com a Justiça Divina, para só então trazer o equilíbrio, a razão e a estabilidade, sempre de acordo com a nossa necessidade e o nosso merecimento.
Na Umbanda, temos Pai Xangô Maior, que é o Trono Masculino da Justiça, integrante da Coroa Planetária. E temos os Xangôs da Pedra Branca, da Pedra Preta, das Sete Pedreiras, das Sete Montanhas etc., que regem imensas Linhas de Trabalho, ação e reação, como os Caboclos da Pedra Branca, Caboclos da Pedra Preta, Caboclos do Fogo. Esses “Xangôs” são Orixás Intermediadores e regem subníveis vibratórios ou polos cruzados por muitas correntes eletromagnéticas, onde atuam como aplicadores dos Mistérios Maiores, mas já em polos localizados em subníveis vibratórios.
Xangô é associado aos números 3, 6 e 12, bem como ao Sol e ao planeta Júpiter.
Seu primeiro elemento de atuação é o Fogo (que aquece, purifica, sustenta e acalenta) e o seu segundo elemento é o Ar (que expande o Fogo).
História- Xangô na África
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, a terra de origem de sua família materna, segundo algumas versões históricas.
Xangô gosta dos desafios, que aparecem nas saudações dos seus devotos, na África. Porém, o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por se tornar o quarto Alafim (rei) de Òyó, a capital política dos Nagôs-Yorubás, cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão, Dadá-Ajaká, com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão desagradavam Xangô e também o povo de Òyó, que o apoiou como o seu grande rei, até hoje lembrado. É preciso observar que tudo se passou numa sociedade tribal que vivia em constantes guerras e onde o rei precisava ser guerreiro, decidido e destemido. E Xangô é o rei que não aceita contestação, pois todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder é merecido.
O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois foi seu pai, Oranian, o fundador do reino. Xangô só fez apressar sua ascensão e foi o grande Alafim de Òyó porque tomava as decisões mais acertadas e sábias e demonstrou, acima de tudo, sua capacidade para o comando e um senso de justiça muito apurado. Suas medidas, embora impostas, eram sempre justas. Era um rei amado pelo povo, pois nos momentos de tensão respondia com eficiência e também assumia a postura de um pai. Muitas lendas destacam seu destemor e senso de justiça, sempre voltados para o bem coletivo.
Xangô é o irmão mais jovem de Dadá-Ajaká e também de Obaluayê. Contudo, mais do que os vínculos de parentesco, a ligação entre Xangô e Obaluayê vem da sua origem comum em Tapá, onde Obaluayê era mais antigo que Xangô. Por respeito ao mais velho, em alguns lugares Obaluayê recebe oferendas na véspera das celebrações para Xangô. Essa irmandade com Obaluayê vai explicar os mitos que dizem que Xangô tem aversão à doença, à morte e aos eguns e que manda seus filhos para Obaluayê e Omolu quando estão doentes ou para morrer: é que Obaluayê e Omolu regem o campo santo e são Orixás Curadores, sendo Obaluayê também o Senhor das Passagens.
Não se pode falar de Xangô sem falar de poder.
Xangô expressa a autoridade dos grandes governantes e também detém o poder mágico sobre o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. Seu poder mágico reside no raio, o fogo que corta o céu e destrói na Terra, mas que transforma, protege e ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô e serve inclusive para castigar os que não honram seu nome; daí a crença de que alguém que teve a casa atingida por um raio está sendo castigado por Xangô. Tudo é questão de interpretação: o fogo de Xangô e as suas pedras de raio removem os desequilíbrios localizados, para trazer o equilíbrio do todo ou o bem maior. Não se trata de castigo, mas da distribuição de Justiça e de retribuição. Diz um ditado popular: “quem deve paga e quem merece recebe”.
Tudo o que se relaciona com Xangô lembra realeza: suas vestes, sua riqueza, sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho. E Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.
Dizem as lendas que Xangô era um homem bonito e vaidoso. Conquistava as mulheres, só com o seu “olhar de fogo”. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou até o fim da vida. Oxum foi a segunda esposa e a mais amada.
A terceira foi Obá, que amou e não foi amada, sendo capaz de “cortar a orelha esquerda” por amor ao seu rei. Tudo isso para dizer que os Orixás se interrelacionam, atuam de forma conjunta e se complementam.
O símbolo mais tradicional de Xangô é o oxé, um machado de duas lâminas, que lembra o (símbolo) de Zeus, em Creta. Esse machado representaria um personagem carregando o fogo sobre a cabeça. Mas também lembra a cerimônia chamada ajere, na qual os iniciados de Xangô carregam na cabeça uma vasilha cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo; e ainda outra cerimônia, chamada àkàrà, durante a qual engolem mechas de algodão embebidas em azeite de dendê em combustão. Tudo isso remete à lenda segundo a qual Xangô tinha o poder de cuspir fogo, graças a um talismã que Iansã lhe trouxe do território Bariba.
Esse “talismã” de Iansã seria o elemento Ar, que Ela rege, e que expande o fogo.
Em algumas situações, além do oxé, Xangô também usa um làbà, uma bolsa grande de couro ornamentado, onde guarda seus èdùn àrà, que lança sobre a terra durante as tempestades. Os èdùn àrà são pedras neolíticas em forma de machado, as pedras de raio consideradas emanações de Xangô, e são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó) consagrado a Xangô. Outra vez a referência ao fogo e agora às pedras, fazendo lembrar a atuação contundente de Xangô: o fogo que queima e destrói, mas que acalenta e depois traz a razão, o equilíbrio e uma estabilidade firme como a das pedras, dando sustentação a tudo e a todos.
Em sua dança, chamada alujá, Xangô brande orgulhosamente seu oxé (machado). Assim que a cadência se acelera, ele faz um gesto de quem vai pegar, num làbá imaginário (làbá é a sua bolsa de couro), suas pedras de raio, para lançá-las sobre a terra.
Suas danças são acompanhadas por um tambor em forma de ampulheta (bàtá), que é pendurado no pescoço dos tocadores por uma tira de couro. Seus tocadores, os olúbatá, batem com uma tira de couro no lado menor do tambor para fazer vibrar o instrumento, e com a mão fazem pressões mais ou menos fortes do outro lado, para obter os tons da língua yorubá.
No Recife, o nome Xangô designa o conjunto de cultos africanos.
Lendas de Xangô
1- Xangô e seu Reino
Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro, cujo corpo era preto à direita e branco à esquerda. Homem valente à direita e à esquerda. Homem valente em casa e na guerra. Oranian fundou o Reino de Oyó, na terra dos Nagôs-Yorubás. Durante suas guerras, ele sempre passava por Empê, território Tapá, cujo rei fez uma aliança com Oranian e lhe deu a filha em casamento. Desta união nasceu Xangô.
Na sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava nenhuma reclamação. Só gostava de brincadeiras de guerra e de briga. Já crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas.
O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Ali chegando, despertou o temor do povo, que desejou mandá-lo embora, dada a sua aparência de guerreiro brutal, petulante e desordeiro. Mas Xangô os ameaçou com seu oxé. Sua respiração virou fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio.
Então, todos de Kossô vieram pedir-lhe clemência, gritando: “Kabiyesi Xangô, Kawo Kabiyesi Xangô Obá Kossô! (significado: Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!”). E assim Xangô tornou-se rei de Kossô, passando a fazer de tudo pela comunidade, com alma e dignidade.
Mas Xangô se cansou daquela vida calma e partiu novamente. Chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum, o terrível guerreiro e poderoso ferreiro. Ogum estava casado com Iansã, Senhora dos ventos e das tempestades, que toda manhã acompanhava e ajudava o marido, carregando suas ferramentas para a forja.
Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar. Vez por outra, Xangô olhava para Iansã que, furtivamente, também o espiava. Xangô era vaidoso e elegante. Impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tornou-se sua primeira mulher.
Xangô volta para Kossô, por pouco tempo. Depois segue com seus súditos para Oyó, o reino fundado por seu pai. Lá encontrou o trono ocupado pelo irmão mais velho, chamado Dadá-Ajaká, um rei pacífico, que amava a beleza e as artes.
Xangô instalou-se em Oyó, em um novo bairro que chamou de Kossô, assim conservando seu título de Obá Kossô (Rei de Kossô). Xangô guerreava para seu irmão e expandiu o reino de Oyó para os quatros cantos do mundo. Xangô então destronou Dadá-Ajaká e se fez rei, sendo assim saudado: “Kabiyesi Xangô Alafin Oyó Alayeluwa!” – que significa: Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e senhor do mundo.
Xangô construiu um palácio com cem colunas de bronze. Tinha um exército de cem mil cavaleiros. Vivia entre seus filhos e suas esposas: Iansã, sua primeira mulher, bonita e ciumenta; Oxum, sua segunda mulher, coquete e dengosa; e Obá, sua terceira mulher, robusta e trabalhadora.
Sete anos mais tarde veio o fim do seu reino: Xangô, acompanhado de Iansã, subiu a colina de Igbeti, cuja vista dominava seu palácio. Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios. Mas a fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio! Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros! Tudo havia sido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas…
Xangô, desesperado, e seguido apenas por Iansã, voltou para Tapá. Mas chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza, pela destruição de seu reino. Xangô então bateu violentamente com os pés no chão e afundou dentro da terra. Oxum e Obá se transformaram em rios. E todos se tornaram Orixás; sendo Xangô o Orixá do trovão.
E aqui se vê o ciclo da movimentação de Xangô pela Criação, pelos 7 Sentidos da Vida (pois 7 anos durou seu reinado) e sua atuação onde haja uma necessidade de justiça, de equilíbrio e de uma organização que beneficie a todos. E Xangô “viaja com os ares de Iansã”, sua primeira mulher; depois “encontra seu amor em Oxum”; então “recebe a força do trabalho dedicado e concentrado de Obá”; e finalmente “volta aos ares de Iansã para espalhar seu fogo e seus raios”, tornando-se um Orixá, ao mesmo tempo em que suas mulheres. Isso mostra, outra vez, o trabalho conjunto e simultâneo das Divindades de Deus em favor da nossa evolução.
2- A justiça de Xangô
Certa vez, Xangô e seus exércitos enfrentaram soldados inimigos que tinham ordens superiores de não fazer prisioneiros. As ordens eram para aniquilar o exército de Xangô. E assim foi feito: os que caíam prisioneiros eram mortos, mutilados, e tinham seus pedaços jogados ao pé da montanha onde Xangô estava.
Isso provocou a ira de Xangô que, num movimento rápido, bateu com seu machado na pedra, provocando faíscas que mais pareciam raios. Quanto mais ele batia, mais os raios ganhavam forças, e mais inimigos eram abatidos. Tantos foram os raios, que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Os ministros de Xangô pediam para os vencidos o mesmo tratamento que seus guerreiros haviam recebido: mutilação, destruição total.
Mas Xangô não concordou, dizendo: “- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça. Eram guerreiros cumprindo ordens. Seus líderes é que devem pagar!”
E levantou seu machado em direção ao céu, gerando uma série de raios dirigidos contra os líderes, destruindo-os completamente. Em seguida, libertou todos os prisioneiros que, fascinados pela sua maneira de agir, passaram a seguir Xangô e a fazer parte de seus exércitos.
Essa lenda fala do domínio de Xangô no campo da Justiça; a Justiça que não se engana e que alcança a tudo e a todos, na justa medida.
3-Oxalá – Pai de Xangô
Sàngò, filho de Obatalá, era um jovem rebelde e vez por outra saía pelo mundo botando fogo pela boca, queimando cidades e fazendo arruaça. Obatalá era informado de seus atos, recebendo queixas de todas as partes da terra, e alegava que o filho era assim por não ter sido criado junto dele; mas que algum dia conseguiria dominá-lo.
Certo dia, Sàngò estava na casa de Obá e deixou seu cavalo branco amarrado junto à porta da casa. Obatalá e Odudua passaram por lá, viram o animal e o levaram. Ao sair, Sàngò deu pela falta do animal e, enfurecido, saiu em sua busca, perguntando aqui e acolá. Numa vila próxima, informaram-lhe que dois velhos estavam levando consigo o animal, o que deixou Sàngò ainda mais colérico. Alcançou os dois velhos e, ao tentar agredi-los, percebeu que eram Obatalá e Odudua. Obatalá levantou seu opaxorô (cajado) e ordenou: “Sàngò kunlé, foribalé”.
Desarmado, Sàngò atirou-se ao chão, em total submissão a Obatalá. Tinha consigo seu colar de contas vermelhas, que Obatalá arrebentou, a elas misturando suas contas brancas e dizendo: “Isto é para que toda a terra saiba que você é meu filho”.
Daquele dia em diante, Sàngò submeteu-se às ordens do velho rei.
Essa lenda nos fala do campo de atuação de cada Orixá. Um Orixá não é maior que outro. Existe um “respeito” entre Eles. Cada Orixá tem uma atribuição na Criação, e assim devemos amá-los, respeitá-los e reverenciá-los.
4-Xangô entrega seus filhos a Obaluayê e Omolu
Diz uma lenda que, apesar de ser um grande guerreiro, justo e conquistador, Xangô detesta doenças, a morte e tudo aquilo que já morreu. É avesso a eguns. Admite-se até que seja uma espécie de “ímã de eguns”, daí sua aversão a eles.
Xangô costuma entregar a cabeça de seus filhos a Obaluayê e Omolu sete meses antes de morrerem, tal o grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.
Esse mito destaca o campo de atuação de Obaluayê e Omolu no campo santo e Suas regências sobre a doença, a morte e as passagens.
Características dos filhos de Xangô
Fisicamente, um filho de Xangô tem o corpo muito forte e com tendência à obesidade. Mas sua boa constituição óssea suporta o físico avantajado.
No positivo: Os filhos de Xangô têm muita energia, autoestima e a consciência de serem importantes e respeitáveis. São fortes, um tanto autoritários, ousados, cheios de iniciativa, obstinados, agem com estratégia e conseguem o que querem. Sua postura é sempre nobre, com a dignidade de um rei. Tudo o que fazem marca de alguma forma sua presença. Fazem questão de viver ao lado de muita gente e não gostam de ser esquecidos. Muito racionais e meditativos, quando emitem sua opinião é para encerrar o assunto. Conscientemente, são incapazes de ser injustos com alguém. O poder e o saber são os seus grandes objetivos.
Quem tem a proteção de Xangô sente que nada nem ninguém abatem um filho desse Orixá. Podem até conseguir levá-lo ao fundo do abismo, mas depois de algum tempo ele renasce com mais vigor e volta a enfrentar o mundo de peito aberto, sem medo.
Os filhos de Xangô estão sempre cercados de muitas mulheres. Mas a tendência é que aqueles que decidem ao seu lado sejam sempre homens. Quando se apaixonam, fazem de tudo para conquistar a pessoa amada. Têm um forte senso de justiça, sabem ouvir, ponderar e apaziguar. Não toleram mentiras, desonestidade e corrupção.
São passivos, racionais, meditativos, observadores, atentos, pouco falantes e geniais.
Apreciam a leitura, a música, os discursos, a boa companhia e a companhia de mulheres vivas e ligeiras, o aconchego do lar e a boa mesa. Gostam de se vestir bem, mas com sobriedade.
Não apreciam festas arrivistas, reuniões emotivas, companhias desequilibradas e pessoas apáticas, egoístas e soberbas.
No negativo: Tornam-se calados e fechados, não abrem mão das suas opiniões, são ranzinzas, vingativos e intratáveis.
Quando oferendar: Para pedir a cura de desequilíbrios emocionais, o desenvolvimento do senso de justiça e agir com a razão equilibrada; para obter o amparo da Justiça Divina em todas as situações de conflitos e quando estamos sendo alvo de magias negativas ou sofrendo atuações negativas cármicas; para obter auxílio em questões judiciais que estejam se arrastando; para obter a expansão equilibrada e estável dos nossos projetos de vida. Também para agradecer a proteção recebida em qualquer dessas situações.
Amaci: Água de cachoeira com hortelã macerada e curtida por três dias.
Oferenda: Velas brancas, vermelhas e marrons; cerveja escura, vinho tinto doce e licor de ambrosia; flores diversas (cravos vermelhos, flores do campo marrons ou vermelhas, palmas vermelhas, rosas vermelhas, etc.). Também é costume incluir-se numa oferenda para Xangô o dendê, pimentas dedo de moça e cumbucas com álcool, tudo simbolizando o elemento fogo.
Local para a oferenda: uma cachoeira, montanha ou pedreira.
Cozinha ritualística:
1) Amalá – É feito de várias maneiras. Dois exemplos: a) Cortar em lascas 12 quiabos e colocar numa gamela. Acrescentar 1 colher de sopa de açúcar cristal e cerca de 1 copo de água, aos poucos. Apoiar a gamela na altura do peito (tórax) e bater a mistura com a mão direita, saudando o Orixá e a Ele apresentando os elementos, e fazendo seus pedidos. A mistura vai “espumar” um pouco e vai engrossar ligeiramente; b) Amalá feito com quiabo cortado, que é acrescentado a um refogado de cebola ralada, camarão, sal, dendê (ou azeite doce). Oferecer numa gamela forrada com massa de acaçá ou recoberta de orégano.
2) Caruru: 250 g de camarão seco, 1 xícara de castanha de caju moída, igual medida de amendoim torrado e moído, 1 cebola ralada, 3 tomates sem pele e sem semente, 1 maço de cheiro verde picado, 1 litro de água fervente, 1 kg de quiabo cortado em cruz, sal e pimenta-do-reino, 1 xícara de dendê. Lave o camarão para retirar o excesso de sal e deixe de molho por 1 hora. Passe no liquidificador. Junte a castanha, o amendoim, a cebola e os tomates picados e bata de novo. Adicione o cheiro verde picadinho e reserve. Lave bem os quiabos, escorra, coloque-os em água fervente e ponha sal e pimenta. Ferva por 10 minutos. Acrescente a mistura de camarão e temperos. Deixe no fogo por 20 minutos, mexendo sempre. Nos 5 minutos finais, junte o dendê. Acompanhamentos: arroz, farofa de dendê, vatapá, xinxim de galinha. Servir numa gamela forrada com folhas de louro fresco e polvilhada com orégano.
3) Rabada com polenta- Ingredientes: tomate, cebola, pimenta dedo de moça, azeite de dendê (para os refogados); 1 rabada; 1 kg de quiabos; 1 polenta. Preparo: Refogar tomate, cebola e pimenta dedo de moça, num pouquinho de dendê. Cozinhar a rabada e separar o caldo. Preparar à parte uma polenta e colocar numa gamela. Colocar os pedaços da rabada sobre a polenta. No caldo que ficou do cozimento da rabada, cozinhar ligeiramente os quiabos cortados em rodelas. Separar 12 quiabos inteiros e crus, para a decoração. Colocar o quiabo refogado por cima da rabada que está na gamela. Decorar com os 12 quiabos inteiros, com as pontas para fora. Esses 12 quiabos simbolizam os 12 Ministros ou as 12 Qualidades de Xangô. Regar com um fio de dendê. Observação: Pode-se substituir a rabada por carne de peito de boi.
4) Quiabo refogado em rodelas e enfeitado com 12 camarões cozidos e passados no azeite de dendê.
5) Dobradinha temperada com cebola passada no dendê e enfeitada com 12 pimentas dedo de moça.
Alguns Caboclos de Xangô:
Caboclo 7 Montanhas (de Oxalá e Xangô), Caboclo 7 Pedreiras (Oxalá/Xangô), Caboclo da Pedra Preta (Xangô/Omolu), Caboclo da Pedra Branca (Oxalá/Xangô), Caboclo do Fogo, Caboclo Pedra do Sol, Caboclo Pedra de Fogo, Caboclo Rompe Montanha (Ogum/Xangô), Caboclo Rompe Serra (Ogum/Xangô), Caboclo Pedra Vermelha (Oxalá/Xangô), Caboclo do Sol, Caboclo Caramuru.
Alguns Exus de Xangô:
Exu Labareda, Exu Pedra Negra, Exu da Pedra Preta, Exu 7 Montanhas, Exu das Pedreiras, Exu do Fogo, Exu Pinga Fogo, Exu Brasa, Exu 7 Fagulhas, Exu Pedra do Fogo, Exu Corta-Fogo, Exu Pimenta, Exu 7 Pedreiras.
TRONO | Trono Masculino da Justiça |
Linha | Justiça |
Fator | Graduador (fator puro) e Equilibrador (fator misto) |
Essência | Ígnea. |
Elemento | Fogo e Ar |
Polariza com | Egunitá (formando um par puro no elemento Fogo) e também com Iansã (formando um par misto, onde Xangô é o Fogo e Iansã é o Ar). |
Cor | Marrom, dourado, vermelho, vermelho e branco. |
Fio de Contas | Marrons leitosas; ou marrons e vermelhas alternadas; ou vermelhas e brancas alternadas. |
Ferramentas | O machado de dois gumes (Oxé) e a balança |
Ervas | Alfavaca roxa, alumã, angelicó (mil homens), aperta-ruão, azedinha (trevo azedo, ou três corações), azougue, bananeira, beti cheiroso, boldo baiano (ou orô), cafeeiro, caferana, cavalinha (ou milho de cobra), caruru, cordão de frade, eritina (ou mulungu), erva das lavadeiras (ou melão de São Caetano), erva de São João, Erva de Santa Maria, erva grossa (ou fumo bravo), erva de bicho, erva tostão, goiabeira, hortelã, jarrinha, levante, manjericão roxo, mimo de Vênus (ou amor agarradinho), morangueiro, musgo de pedreira, nega-mina, noz moscada, panaceia, pára-raio, pau de colher (ou leiteira), pau-pereira, pessegueiro, pixirica (ou tapixirica), romã, sensitiva (ou dormideira), taioba, taquaruçu (ou bambu amarelo ou bambu dourado), tiririca, umbaúba, urucu, xequelê. |
Símbolos | O machado duplo ou de dois cortes (Oxê), a estrela de seis pontas, a balança, o Livro das Leis. |
Ponto na Natureza | As montanhas, as pedreiras, a beira da cachoeira |
Flores | Flores do campo marrons e vermelhas, cravos vermelhos e brancos, palmas e rosas vermelhas. |
Essências | Mirra, cravo. |
Pedras | Jaspe vermelho, bauxita, pedra do sol. Dia indicado para consagração: 4ª-feira. Hora indicada: 07 horas |
Metais e Minérios | Metais: Cobre, bronze, latão.
Minério: Pirita- Dia indicado para consagração: 5ª-feira- Hora indicada: 09 horas. |
Saúde | Próstata, testículos, ovários, rins, bexiga, intestinos grosso e delgado, apêndice, vértebras lombares, área pélvica e os líquidos do nosso organismo (sangue, sucos gástricos, esperma e o processo relacionado com o ciclo menstrual feminino). |
Planeta | Júpiter e Sol |
Dia da Semana | Quinta Feira |
Chacra | Umbilical |
Saudação | “Kaô Kabecile!” (ou Kawó kabiyèsílé!), que significa: “Venham ver o Rei descer sobre a terra!” |
Bebida | Cerveja preta, vinho tinto doce, vinho tinto seco, licor de ambrosia, água mineral |
Animais | Leão, tartaruga, carneiro |
Comidas | Goiaba vermelha, marmelo, limão, mamão, manga rosa, ameixa preta, pêssego, melão, melancia, abio, abricó, caqui, fruta do conde, cajá-manga (ou cajamanga), jambo, jerimum, quiabo. |
Números | 03, 06 e 12 |
Data Comemorativa | 24 de junho |
Sincretismo | São João Batista, celebrado em 24 de junho. Também São Jerônimo (Xangô Agodô). Alguns o sincretizam ainda com São Pedro e com Moisés. |
Incompatibilidades | Caranguejo, doenças. |
Qualidades | Alufan – Veste branco e suas ferramentas são prateadas. É idêntico a um Airá e às vezes é confundido com Oxalufan. Alafin – É o dono do palácio real, governante de Oyó. Vem numaparte de Oxalá e caminha com Oxaguian. Afonjá – É o Xangô da casa real de Oyó. Fulmina seus inimigos com o raio, pois recebeu o talismã mágico de Iansã, a mandado de Obatalá. Recebe oferendas com Iemanjá, sua mãe. Está sempre em disputa com Ogum, ora pelo amor da mãe, Iemanjá, ora pelo amor de Iansã, Oxum e Obá, suas eternas mulheres. É o Patrono de um dos terreiros mais tradicionais e antigos da Bahia, o Axé Opô Afonjá. Aganju – Significa terra firme. Tem perna de pau e é casado com Iemanjá. É o filho mais novo de Oranian. É aquele que leva o coração do inimigo na ponta da lança. Agogo / Agodo / Ogodo – Inclinado a dar ordens e a ser obedecido, foi ele quem raptou Obá. Recebe oferendas com Iemanjá. Segura dois Oxês (machados). Sua pedra de raio tem dois gumes. Lança raios e fogo sobre seu próprio reino e o destrói. Baru – Veste-se de marrom e branco. Recebeu de Oxalá um cavalo branco como presente. Passado um tempo, Oxalá voltou ao reino de Xangô Baru, onde foi aprisionado por sete anos num calabouço. Calado no seu sofrimento, Oxalá provocou a infertilidade da terra e das mulheres de Baru. Com a ajuda dos babalawôs, Xangô Baru descobriu seu pai, Oxalá, preso no palácio. Naquele dia mesmo, Baru e seu povo vestiram-se de branco e pediram perdão ao grande Orixá da Criação. Neste mito, Xangô surge como um rei humilde e solidário com a causa de seu povo. Badè – Corresponde ao Xangô jovem dos nagôs. É o irmão de Loko. Usa roupa azul com faixa atada atrás. Jakuta – É aquele que atira as pedras, é a encarnação dos raios e trovões. É a própria ira de Olorun, o Deus Criador. Seu reino foi atacado por guerreiros de povos distantes, quando seus súditos descansavam e dançavam ao som dos tambores. Houve muita correria, mortes e saques. Jakuta escapou para a montanha, seguido de seus conselheiros, de onde acompanhava o sofrimento de seu povo. Irado, chamou Iansã, sua mulher, que chegou com o vento, a tempestade e seus raios. Os raios de Iansã caíram como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fugiram em debandada. Mais uma vez, Jakuta foi acudido por Iansã, que lhe deu o poder sobre as pedras de raio. Koso ou Obakossô – Em sua passagem pela cidade de Kossô, Xangô recebe o nome de Obakossô, ou seja, o rei de Kossô. Depois de passar por Tapá, Xangô refugiou-se na cidade de Kossô, mas a dor de haver destruído seu povo o levou a suicidar-se. No momento da morte de Xangô, Iansã chegou ao Orum e, antes que Xangô se tornasse um egun, pediu a Olodumare que o transformasse num Orixá. E assim, diz o mito, Xangô tornou-se um Orixá. Oranifé – É o justiceiro reto e impiedoso, que mora na cidade de Ifé. É muito conhecido pelo seu temperamento imperioso e viril. Não perdoa os erros de seus filhos. Airá Intile – É o filho rebelde de Obatalá. É dele o mito que conta a primeira vez que Airá Intile se submeteu a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas que Obatalá desfez, alternando as contas encarnadas com as contas brancas dos seus próprios colares. Obatalá entregou a Intile o seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, todos saberiam que ele era seu filho. Para terminar, Obatalá fez com que Airá Intile o levasse de volta ao seu palácio pelo rio, carregando-o nas costas. escaldantes das fogueiras. Airá Mofe, Osi ou Adjaos – É o eterno companheiro de Oxaguiã. Os Airás são as qualidades de Xangôs muito velhos. Vestem-se de branco, usam segi (contas azuis), em lugar dos corais vermelhos, e são originários da região de Savê. Mas há quem considere que Airá seria um Orixá diferente, e não uma qualidade de Xangô. |
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Fonte:
https://umbandaedeus.blogspot.com/2014/05/xango-xango-e-divindade-que-esta.html?view=sidebar
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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