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Texto de Kadmus Herschel. Traduzido por Caio Ferreira Peres.
Gostaria de dedicar algum tempo para considerar a concepção de viagem no tempo ocultista oferecida no livro The Voudon Gnostic Workbook, de Michael Bertiaux. Suponho que, se minhas considerações forem bem-sucedidas, não terei tirado nada de valor.
Michael nos dá 25 definições “em direção a uma psicologia zothyriana da viagem no tempo” na Parte Um, Capítulo Três, Seção Quatro sobre “A Aiwaz-Física” do The Voudon Gnostic Workbook. Essa é a única seção com a qual quero lidar por enquanto e, especificamente, apenas as nove primeiras definições que fornecem, creio eu, a base para toda a psicologia/metafísica do tempo. Aqui estão as primeiras 9 definições:
- “1. O inconsciente = o reino arquetípico de possibilidades que alimenta o presente (ego-id) e o passado (transcendental-id).
- O superconsciente = o reino arquetípico de possibilidades que alimenta o presente (ego-id) e o futuro (transcendental-ego).
- O ego transcendental = a parte futura do Self.
- O id transcendental = a parte passada do Self.
- O futuro está “dentro” do ego transcendental.
- O passado está “dentro” do id transcendental.
- Por causa da “ação” do ego transcendental, o superconsciente “aparece” como o futuro.
- Por causa da “ação” do id transcendental, o inconsciente “aparece” como o passado.
- A “ação” de tentar se conectar com o ego e o id cria linhas do tempo.”
Isso, por si só, já é suficiente para derreter o cérebro de qualquer pessoa, sem mencionar o Animus, a Anima e outros conceitos que aparecem em outras definições.
Deixe-me dizer algumas coisas aqui desde o início. Acredito que estamos sendo apresentados a uma concepção idealista do tempo. Embora Michael seja muito direto quanto a se basear em Jung, acho que ele também está se baseando fortemente no filósofo fenomenológico Edmund Husserl. Embora eu esteja familiarizado com Jung e Husserl, estou MUITO mais familiarizado com Husserl, portanto, vou me concentrar nele como base de minha interpretação.
Pode-se dizer, de certa forma, que para Husserl nossas experiências da realidade são constituídas na e pela própria consciência. A consciência, no entanto, em seu nível mais básico, não é algo individual e “subjetivo”, mas é entendida por Husserl como o Ego Transcendental. Uma das razões pelas quais encontramos a palavra “Transcendental” aqui é que esse “ego” não é entendido como o “seu” ou o “meu” ego, mas sim como um ego que transcende qualquer particularidade. É a partir desse ego universal que surgem nossos “egos empíricos” particulares e é nesse nível universal que eles se fundamentam. Em seu trabalho posterior, Husserl acabou chegando à conclusão de que o Ego Transcendental é o próprio tempo. Em outras palavras, a atividade básica constitutiva que está ocorrendo universalmente por parte da consciência universal e que permite todas as nossas experiências e consciências particulares é o fluir do tempo (considerado agora como uma ação do Ego Transcendental e não como algo que simplesmente acontece e que experimentamos passivamente).
Até agora, está bom o suficiente. Agora, a imagem de Michael acrescenta uma série de elementos (para Husserl, a estrutura de passado/presente/futuro é toda derivada das ações de retenção e protensão do Ego Transcendental). Mas, para começar, podemos ver como os elementos do tempo serão associados a vários elementos da psique (Transcendental e Universal). Então, vamos listar os elementos da psique (pelo menos como encontrados nas primeiras 9 definições) e ver que sentido podemos dar a eles. Temos:
o inconsciente, o superconsciente, o ego, o id
e
o ego transcendental, o id transcendental
O primeiro grupo é formado por todos os elementos que cada um de nós “tem” e que cada um de nós “é” individualmente. Posso falar do MEU id ou do MEU superconsciente. O segundo grupo, que se atém à natureza do transcendental, não é particular ou pessoal, mas universal. Aqui você pode pensar em termos de Consciência Universal e Inconsciente Coletivo. Essas são coisas das quais cada um de nós pode, de certa forma, fazer parte, mas não podemos “ter” ou “ser” um ego transcendental ou um id transcendental (na verdade, por suas próprias naturezas, só pode haver UM t-ego e um t-id).
Vamos parar por um momento e analisar, de forma geral, o que os termos básicos inconsciente, superconsciente, ego e id normalmente significariam em uma estrutura do tipo freudiana. O Id é o conjunto de impulsos e desejos. É um tipo de repositório de energia que agarra, arranha, precisa e não pensa (você pode pensar em um animal descontrolado ou em um bebê humano). Vale a pena observar que, para Freud, somos todos bissexuais (ou talvez omnissexuais) no nível básico das pulsões.
Estou interpretando o Superconsciente como o Superego, que é, grosso modo, o que poderíamos considerar nossa consciência. É o conjunto de normas repressivas da sociedade para as quais fomos treinados/criados. A principal ação na psique vem do superconsciente, que impede o id de realizar todos os seus desejos. É claro que, em algo como a psicanálise freudiana, o superconsciente é mais um inimigo do que qualquer outra coisa. Em geral, ele é superdesenvolvido, tirano e estabelece padrões e metas para “nós” que nunca podemos (ou realmente deveríamos) alcançar. A psicanálise geralmente consiste em fazer com que o maldito superconsciente se acalme para não nos deixar infelizes o tempo todo. A chave para o resto da história, no entanto, é que a psicanálise tem o que se pode chamar de modelo “hídrico” da psique. O Id não é apenas uma criança que pode ser obrigada a ficar quieta. Ele é energia (para Freud, é a Libido). Portanto, quando o Id tenta agarrar algo e o Superconsciente diz “Não”, a mão do Id não fica parada, a energia vai para algum lugar. Assim, temos a hipótese repressiva em que a energia do Id é forçada a encontrar outras liberações (em vez de estuprar e comer sem parar etc., nos envolvemos em várias saídas sociais (carreiras etc.) que são simplesmente sublimações de impulsos mais básicos). Essa, de fato, é a base da sociedade, a sublimação da energia do Id em vários canais controlados.
Muito bem. Agora, o próximo passo é que a pressão do superconsciente funciona principalmente por meio da vergonha, de modo que aprendemos em um nível básico que os impulsos do Id não são apenas ruins de serem satisfeitos, mas que são ruins até mesmo de serem tidos. O superconsciente busca reprimir a própria existência do Id e, assim, temos o inconsciente, que contém todas as várias energias, impulsos, desejos etc. que o superconsciente não permite que tenhamos consciência de possuir. A partir de toda essa estrutura, então, surge o ego como o eu ilusório que pensamos conscientemente que somos quando nossa natureza básica (Id) foi recanalizada ou ocultada por nosso treinamento social (superconsciente/superego).
Agora, Michael nos oferece o Ego Transcendental e o Id Transcendental também (por que não há Superconsciência Transcendental? Como seria essa coisa ou onde ela se originaria?). Juntos, talvez queiramos chamá-los de inconsciente coletivo (um pouco estranho, talvez, considerando que o Ego é supostamente consciente para Freud, mas, por outro lado, não era geralmente consciente para Husserl). O T-Ego, imagino, consistiria nas várias atividades constitutivas que mencionei anteriormente. O T-Id, alternativamente, seria a força motivacional para as atividades constitutivas do T-Ego. Isso é, de certa forma, o grande descuido de idealistas como Husserl e Hegel. Se admitirmos que tudo o que existe é algo como uma grande mente que se autodescobre, ainda assim ficamos, sempre, com a questão de por que algo como o Ego Transcendental faz alguma coisa. Se, para Husserl, o T-Ego é o Tempo, então por que o tempo flui? Agora, se a Mente Universal for entendida segundo o modelo do Ego/Id, então ela faz coisas porque ela mesma é composta de impulsos e desejos básicos (Id). Isso é algo parecido com a ideia de Schopenhauer de que a Vontade é tudo o que realmente existe. Para Michael Bertiaux, temos algo como Vontade (T-Id) e Estruturação (T-Ego) como o que existe basicamente e a partir do qual tudo o mais surge.
Agora, podemos fazer a conexão com o tempo? Com base nas definições, podemos dizer que o passado é o Id Transcendental, mas o passado é vivenciado como o Inconsciente. O futuro é o Ego Transcendental, mas é vivenciado como o Superconsciente. O presente é composto pelo Ego e pelo Id. (Observe que o presente não tem realidade transcendental. É, de certa forma, apenas uma aparência devido à interação transcendental do passado e do futuro. Isso também é verdade, de certa forma, para Husserl e seu aluno Heidegger).
Por que seria esse o caso?
Tanto o Id quanto o Inconsciente são aquilo de que não podemos escapar (eles representam as energias básicas de nossa psique e, em última análise, nossas naturezas básicas). Entretanto, eles também são aquilo do qual estamos constantemente tentando nos afastar e, muitas vezes, o que estamos tentando esquecer ou superar. Isso se encaixa muito bem com o passado. O passado é o que nos torna o que somos, não podemos existir sem o nosso passado e sempre dependemos de sua existência, mesmo quando o esquecemos. O passado é o que motiva todas as nossas ações (a energia/libido do Id) e também, muitas vezes, o que nossas ações buscam superar. Portanto, transcendentalmente, o passado (como o passado em geral) é o Id Transcendental que motiva o movimento do tempo, enquanto isso é vivenciado pessoalmente em termos do inconsciente (memórias e significados nebulosos, medos cuja origem não entendemos, sonhos que remetem ao esquecido etc.). De fato, a própria história que contei sobre a maneira pela qual os elementos da psique pessoal se formam entre si localiza o inconsciente em algo como um “id consciente de outrora” que foi esmagado na obscuridade. Agora, quando consideramos que o Id Transcendental é supostamente “o passado do eu” e não apenas o passado em geral, podemos começar a pensar sobre nossa origem em algo como a lama primordial dos impulsos e desejos do próprio universo. Nós surgimos a partir da agitação aleatória da energia que é a existência.
Agora, considere o futuro, que é o reino das metas, motivos, planos e ambições. Todas essas coisas são o elemento do superconsciente. É para o futuro que olhamos ao considerar o que devemos ou não fazer ou ser. Agora, o Ego Transcendental é identificado por Bertiaux (em algum lugar que não consigo encontrar agora, droga) como o mesmo que o “Eu Superior”, “Eu Divino” e assim por diante. Isso faz sentido quando percebemos que o Ego Transcendental em um modelo idealista completo é Deus. Ele cria tudo o que existe e é o evento contínuo da existência do qual tudo é uma parte. Portanto, o Ego Transcendental é o ponto final de qualquer desenvolvimento pessoal possível. É a conclusão e a plenitude que almejamos e, portanto, não é apenas o futuro em geral, mas também o nosso futuro pessoal. É claro que, se você pensar em termos como “Eu Superior” ou “Eu Verdadeiro”, poderá ver por que isso se manifestaria no nível pessoal específico em termos do superconsciente (a própria ideia de que existem coisas mais elevadas, melhores ou mais verdadeiras é um artefato do superconsciente).
Portanto, começamos no nível do id transcendental e nos tornamos ego-id particulares que experimentam o nível transcendental em termos de nosso inconsciente e superconsciente particulares, ao mesmo tempo em que almejamos e nos movemos em direção ao Ego Transcendental (unidade universal etc.). Essa luta para conectar “o ego e o id”, que, em minha opinião, significa tanto o Ego e o Id Transcendentais quanto nossos próprios egos e ids, que também engloba uma luta para conectar o universal/transcendental ao pessoal/particular, é o que constitui o fluxo e a experiência de linhas de tempo específicas.
O ponto final, então, é que, como o tempo é constituído por elementos de consciência (tanto particulares quanto transcendentais/universais) aos quais podemos potencialmente ter acesso, o próprio tempo é manipulável e está disponível para nós em sua totalidade. As formas corretas de meditação, ritual, manipulação da energia consciente, mudanças de consciência etc. podem abrir as portas para a viagem no tempo. Essa é, sem dúvida, a parte mais interessante, a questão de como alguém poderia usar a estrutura complexa que tentamos elucidar acima para chegar a resultados concretos. Essa também é uma questão que teremos de explorar no futuro.
Link para o original: https://starandsystem.blogspot.com/2013/08/voudon-gnostic-time-travel.html?m=0
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