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Não somos adeptos de manifestações públicas sobre o desenvolvimento religioso fora do nosso círculo interno. No entanto, tomamos conhecimento de algumas declarações explícitas que nos levaram a refletir sobre uma possível exposição da nossa maneira de conduzir o culto. É provável que isso afete profundamente os autores dessas declarações, mas, infelizmente, trata-se de uma norma amplamente aceita nos círculos ocultistas, especialmente dentro do L.H.P. (Left-Hand Path): “Só a verdade e a força prevalecem!”. Assim, abordaremos alguns temas controversos com determinação e não mediremos esforços para demonstrar que dentro de um mesmo culto existem diversidades de pensamentos e ações.
A Quimbanda é uma forma de culto aos mortos. Na história da humanidade, a morte e o pós-morte sempre foram grandes tabus. Essa profundidade nos “poços mortuários” tendia a levar à exclusão social. Esse cenário talvez tenha sido mais evidente no Ocidente, mas certos detalhes não são pertinentes aqui. O que realmente importa é entender a Quimbanda como marginalizada. A Quimbanda (Culto aos Exus), como é conhecida hoje, não surgiu de maneira plenamente formada. Diversas influências e modalidades de culto foram necessárias para sua existência, e é, sem dúvida, uma expressão religiosa ainda em formação. O dinamismo e a fundamentação eclética são o que tornaram essa fé multifacetada. Obviamente, a Quimbanda ainda é marginalizada pela sociedade, tanto pelo culto à morte e aos mortos quanto pelos tabus que envolvem a fé no “Diabo” e os sacrifícios sangrentos. No entanto, a massa, guiada por princípios demiúrgicos, vê qualquer expressão religiosa contrária a seus interesses como marginal, a ponto de haver inúmeros relatos de terreiros de Candomblé que foram alvos de invasões policiais durante suas liturgias. Isso torna todas as religiões “não convencionais” em ritos marginalizados.
O termo “marginal” é frequentemente mal interpretado. Pode referir-se aos “fora-da-lei”, vagabundos, desocupados, ou aqueles que vivem à margem da sociedade e não aceitam regras e princípios pré-estabelecidos. Portanto, os defensores de um “Culto Marginal” desejam ser vistos como adoradores “fora-da-lei”. Que lei? Até onde sabemos, no ordenamento jurídico brasileiro, não há nenhuma cláusula que condene um Quimbandeiro ao Santo Ofício ou aplique a pena de morte aos adoradores do Diabo. Se falarmos de leis espirituais, aí sim, concordaria, porém, a única lei que existe contra a Quimbanda aplica-se igualmente aos demais cultos que fazem uso do sacrifício ou possuem itens expressamente proibidos por lei. Ninguém é preso por cultuar Exu ou até mesmo os Senhores e Senhoras Opositores. A marginalização ocorre apenas por conceitos morais e éticos intrínsecos às pessoas, que afetam apenas o que podem compreender. Existe uma diferença crucial entre ser marginal e ser oculto.
Nossos antepassados que se rebelaram contra o sistema escravista eram marginalizados pela violência com que as leis eram impostas e aplicadas, tornando-os vítimas da covardia. Por isso, eles se escondiam longe dos centros urbanos e impunham terror aos senhores de engenho como forma de proteção.
Qualquer pessoa que mantenha uma página na internet sobre Quimbanda será marginalizada se expuser sua identidade. Ter um terreiro/templo de Quimbanda oculto para poucas pessoas não significa que esteja isento de influências externas. Esconder-se é diferente de ser marginal; é um ato de proteção contra ações covardes baseadas em conceitos morais. Muitos terreiros ocultos e proibidos escondem em seu interior formas de culto no mínimo questionáveis e repletas de inconsistências conceituais. Frequentemente, vemos pessoas afirmarem ser “quimbandeiros puros”, mas quando questionadas sobre seu templo ou seus fundamentos, perdem-se em desculpas e na camuflagem de arautos revolucionários.
O Povo de Exu deu um basta nessas pessoas quando expôs a Quimbanda ao mundo. Esse crescimento ocorreu por diversos motivos que podemos listar:
- Desmistificação e separação da Umbanda;
- Abertura para novos pensamentos;
- Possibilidade de estudo;
- Abordagem esotérica de conceitos antigos;
- Fusão cultural;
- Explicação da ritualística.
Um amigo recentemente escreveu que a Quimbanda é o lado sombrio da Umbanda, e realmente temos que concordar quando observamos as fotos e opiniões de algumas ordens, grupos e adeptos que utilizam imagens de gesso e tridentes pré-moldados como palco de suas mais belas fotos. As imagens têm sua importância, assim como os garfos, mas estão longe de ser o foco central do culto aos Exus e Pombagiras.
Como este texto não é sobre fundamentos, deixamos claro que discutir um pouco sobre a Quimbanda não a torna menos marginalizada. Se assim não fosse, não teríamos lançado apenas poucas cópias do nosso livro, pois ao apresentá-lo às editoras, muitos o consideraram muito extenso e agressivo. Como somos ação e movimento, abrimos nossa própria editora e custeamos tudo! Ninguém iria interferir nos nossos objetivos! Por isso que o livro acabou sendo caro, mas temos a certeza de que mesmo aqueles que não têm dinheiro em abundância se esforçam e compram o livro em busca de respostas. Afinal, quantos livros sobre Quimbanda (Quimbanda de verdade) estão escritos na língua mãe da religião? Nós não cultuamos diabos estrangeiros, somos amantes e zeladores de Exu e Pombagira, os legítimos espíritos demonizados do Brasil.
Escrever sobre um tema não o torna popular. Acreditamos que as pessoas falarem sobre a Quimbanda e até praticarem-na não torna o culto obsoleto, pelo contrário, demos voz ao grito de muitos! O que as pessoas pensam de nós pouco importa, mas discutir sobre a Quimbanda pode gerar debates intermináveis. Que corrente espiritual não fez alusão ao seu trabalho, ou melhor, não manteve ativa na internet uma página com seus ideais?
A abertura da Quimbanda e as novas formas de vê-la atraíram ocultistas que anteriormente rejeitavam essa expressão religiosa. Por quê? Ora, uma pessoa acostumada a desvendar e vivenciar forças extremas não queria se associar a certos grupos marginalizados para aprender sobre Exu. Espírito é espírito; se evocado ou invocado corretamente, responderá às questões levantadas. Não existe nenhum mistério que não possa ser revelado, assim como nenhum grupo ou pessoa é dono da religião. Ocorre que magistas sérios, e às vezes não tão sérios, perceberam que o Culto a Exu era e poderia ser muito mais abrangente do que o simplismo impunha, até porque 99% das Casas que afirmam cultuar Quimbanda têm cultos paralelos.
Um grupo tem uma personalidade. Não existe união de pessoas opostas que gere bons frutos, pois para que certas coisas funcionem não podem existir barreiras constantes e mesmo que haja atrito, isso não pode ser motivo de paralisação. Assim, algumas pessoas que antes “torciam o nariz” para a Quimbanda perceberam que poderiam aplicar e receber muita gnose. Na Quimbanda Brasileira, o tempo do adepto não é o elemento fundamental para sua evolução. (Dizemos isso em termos comparativos com outras religiões de origem mista). Não mencionamos isso em razão da classe social das pessoas, até porque a Quimbanda nunca afirmou que devemos ser pobres ou ricos para cultuar Exu. Inclusive temos uma ideia/conceito bastante clara sobre esse assunto e talvez esse seja o momento certo para discuti-la.
Muitas casas de Quimbanda estão em bairros pobres do Brasil, assim como outras estão em bairros nobres. Qual a diferença entre ambas? Nenhuma! Se o dirigente for competente, ele poderá vivenciar suas convicções em ambos os locais. No entanto, os ‘marginais’ acham bonito fazer um discurso utópico sobre esse assunto, alegando que o dinheiro esconde a pobreza interior. Ah, quanta hipocrisia! Se Exu é caminho, por que a vida de um adepto deveria ser estagnada? Concordamos que o caminho da Quimbanda não é material, mas o culto também gera reflexos nesse sentido. Ser pobre por opção é uma coisa; ser pobre porque a vida impõe é outra. Se você tem Exu e ele está devidamente zelado, ocorre a movimentação entre os Reinos. Nenhum espírito ancestral (como entendemos Exu) quer ver seu protegido na miséria. Vivemos em um mundo onde o dinheiro determina se passaremos ou não fome e se um espírito que rege a evolução do homem e já viveu na Terra material (portanto, conhece causas e consequências) pode interferir nesse caminho. Não estamos falando de riqueza e ostentação, falamos sobre as coisas básicas da vida e das chances de vitória em um meio tão agressivo. Se dinheiro não existisse na Quimbanda, não falaríamos no Exu Chama Dinheiro e no Exu do Ouro. Não podemos esquecer do Senhor Exu Destranca Ruas, que também zela pelos caminhos abertos. Só falta alegarem que esses Senhores não fazem parte da Quimbanda, pois dentro de seus enredos particulares e monstruosos só temos espaço para o Senhor Sangue, destruição e aniquilação. (cômico)
Vida material e Quimbanda costumam se esbarrar quando o assunto é viver da religião. O ato de vender feitiçaria é tão ou mais antigo que a própria religião. As pessoas que criticam essas práticas deveriam estudar sobre os antigos feiticeiros e suas obras. Existem inúmeros relatos que falam sobre isso, inclusive documentos oficiais. A tradição continua, mas hoje temos um pensamento neo-umbandista que proíbe as pessoas de procurarem os especialistas na arte oculta para resolverem seus problemas. Entre suas alegações, afirmam que a Quimbanda tornou-se um comércio… Tratando sobre esse assunto, o comércio não é um erro. Vender artigos religiosos só se torna errado quando feito por um Quimbandeiro? Pois bem, se desde a época dos balangandãs existia o comércio de artigos consagrados, hoje tornou-se errado? Vender um óleo carregado de forças é uma forma de denegrir os antepassados? Nem vou entrar nesse mérito porque é completamente ridículo e sem nexo. Vender a religião é publicar algo relevante apenas em inglês, propagar mentiras, posar e principalmente falar sobre coisas das quais não se tem conhecimento.
É lamentável ver como pseudos praticantes têm poder de manipular as pessoas. Acredito que seja esse o motivo pelo qual temos o apoio de tantas pessoas e de ordens sérias e renomadas internacionalmente. Visão e trabalho! Quando escrevemos algo, gostamos de fundamentar, de explorar as possibilidades e estamos prontos para debates e palavras contrárias. Preferimos não gastar nosso tempo com isso, porém, que seja de acordo com a vontade maior, afinal, Exu bagunça para depois arrumar!
Por fim, gostaríamos de deixar claro que nosso Templo não realiza trabalhos! Alguns sacerdotes o fazem, mas o Templo em si não. Também gostaríamos de informar que estão abertas as inscrições para a nova turma de estudos. Detalhe: tudo gratuito. Se algo for cobrado, será apenas aquilo que se gasta.
Quimbanda não é rock, Quimbanda não está vinculada ao rock (estilo musical) e nunca estará. Aqueles que, por ideologia ou gosto pessoal, estão vinculados ao movimento sabem que música e religião NUNCA se misturam! Não seja apenas fã, seja um adepto verdadeiro!
Alimente sua alma com mais:
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