Este texto foi lambido por 158 almas esse mês
Apesar deste numeroso grupo de deuses, em sua essência, para surpresa de muitos, o Candomblé e as religiões africanas em solo nativo [África] é monoteísta. Não há contradição: a mesma coisa acontece no catolicismo, onde a crença no Deus único não impede o culto aos santos; no hinduísmo, que apesar de da unicidade de Brahma, tem um panteão de divindades menores ainda maior que o africano; ou no islamismo, que embora insista na supremacia de Alá possui uma cultura de devoção a inúmeros homens-santos. Ao que parece, os homens religiosos de todo o mundo necessitam dessas figuras intermediadoras entre as necessidades mundanas e a potência do Deus supremo.
O deus único dos Africanos muda de nome conforme a nação que o cultua; peculiaridades lingüísticas… Para a nação Ketu [do Benim, sudoeste africano, região do Golfo da Giné], é Olorum [olo=senhor, criador; orun=espaço celeste/astral, o além, outro plano, também chamado Oxalá]. Para os Bantu, é Zambi ou Zambiapongo; entre os Fon, é Mawu e assim por diante. Este é Criador do mundo. Da mesma forma, Orixá é nomenclatura de deuses para os ioruba; para os Fon são Voduns e Nkisis, para os bantu. No fundo, é a mesma coisa com nomes diferentes: Deus Supremo e deuses auxiliares. O sincretismo dos orixás com os santos católicos é bem conhecido: foi um artifício usado pelos escravos para disfarçar o culto aos deuses africanos, substituindo nomes e imagens pelos mais ou menos equivalentes dos cristianismo.
A origem dos orixás também não difere da origem dos deuses de outras religiões: são ancestrais, pessoas proeminentes que viveram em tempos passados e foram transformados em mitos em virtudes de seus feitos e qualidades especiais. Um caso clássico é orixá Xangô, representante do fogo e do trovão, regente da Justiça. Uma das versões de sua lenda conta que o rei guerreiro era adorado em sua nação até o dia em que caiu em desgraça popular.
Perdendo o prestígio, inconformado, teria fugido, embrenhando-se na mata onde se enforcou. Todavia, os líderes resolveram ocultar ao povo a triste verdade e espalharam a versão de que o rei tinha simplesmente sumido. O mistério, excitante infalível do imaginário acabou mitificando a figura de Xangô que, deste modo, acabou sendo transformado em divindade. Processo semelhante acontece com os outros orixás. Quando não são ancestrais mitificados, são forças da natureza personificadas ou uma combinação das duas coisas, como pode ser constatado nas biografias lendárias de cada orixá. A listagem abaixo relaciona os principais atributos das 16 divindades:
Orixá | Atribuição | Sexo | Elemento Natural | Patronagem |
Exu | orixá mensageiro, guardião das encruzilhadas e da entrada das casas | M | minério de ferro | comunicação, transformação, potência sexual |
Ogum | orixá da metalurgia, da agricultura e da guerra | M | ferro forjado | estradas abertas,
ocupações manuais, soldados e polícia |
Oxóssi ou Odé
|
orixá da caça (fauna) | M | florestas | fartura de alimentos |
Ossaim | orixá da vegetação (flora) | M | folhas | eficácia dos remédios e da medicina |
Oxumarê | orixá do arco-íris | M e F (andrógino) | chuva e condições atmosféricas | riqueza que provém das colheitas (chuva) |
Obaluaiê ou Omulu | orixá da varíola, pragas e doenças | M | terra, solo | cura de doenças físicas |
Xangô | orixá do trovão | M | trovão e pedras (pedra de raio) | governo, justiça,tribunais,ocupações burocrática |
Oiá ou Iansã | orixá do relâmpago, dona dos espíritos dos mortos | F | relâmpagos, raios, vento tempestade | sensualidade, amor carnal, desastres atmosféricos |
Obá | orixá dos rios | F | rios | trabalho doméstico e o poder da mulher |
Oxum | orixá da água doce e dos metais preciosos | F | rios, lagoas e cachoeiras | amor, ouro, fertilidade, gestação, vaidade |
Logun-Edé
|
orixás dos rios que correm nas florestas | M ou F (alternadamente) | rios e florestas | o mesmo que Oxum e Oxóssi, seus pais |
Euá | orixá das fontes | F | nascentes e riachos | harmonia doméstica |
Iemanjá | orixá das grandes águas, do mar | F | mar, grandes rios | maternidade, família, saúde mental |
Nanã | orixá da lama do fundo das águas | F | lama, pântanos | educação, senioridade e morte |
Oxaguiã (Oxalá Jovem) | orixá da criação (criação da cultura material) | M | ar | cultura material, sobrevivência |
Oxalufã (Oxalá Velho) | orixá da criação (criação da humanidade) | M e F (princípio da Criação) | ar | o sopro da vida |
* Tabela formulada por PRANDI, Reginaldo. “ O que você precisa ler para saber quase tudo sobre as religiões afro-brasileiras“
Com sua teologia repleta de controvérsias o candomblé, em muitos centros de culto, como mencionado acima, admite apenas 12 orixás excetuando Oxalá, o outro nome para Olorum, o Deus Supremo. Esses 12 são:
01.Exú [Esú]
02.Ògùn [Ogum]
03.Osòòsi [Oxossi]
04.Ôsumarê [Oxumaré]
05.Obalúwaiyé [Obaluaye ou Omolu]
06.Ósanyin [Ossaim]
07.Sàngó [Xangô]
08.Ôsum [Oxum]
09.Oya [Iansã]
10. Lògún Odé [Logunedé]
11. Nanã
12.Yemoja [Yemanjá]
por Ligia Cabús
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.