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O vodu é uma religião de matriz africana (tal como o hoodoo, candomblé, santeria, conjure, batuque, etc), tem sua origem na região de Benin, no Reino de Dahomean, na África Ocidental, no século XV, mas diferentes nuances do mesmo se expandiram para outras regiões dentro da própria África.
O vodu é uma junção de diferentes tradições, sendo elas a tradição Yoruba, Fon e Ewe. Em diferentes locais os nomes podem variar, sendo Vodoun no Benin, no Togo Vodou e no Haiti é Vaudou.
Devido a grande diáspora ocorrida na época da escravidão, onde negros foram forçadamente arrancados de suas terras e trazidos as Américas, os mesmos trouxeram consigo sua tradição religiosa, de forma oral (pois assim eram passados os conhecimentos religiosos em religiões de matriz afro, ainda que hoje tenhamos muito material escrito confiável sobre).
Alocados para diferentes partes da América, as práticas do vodu sofreram interferências de acordo com o local, mudando determinados traços, ritos e formas de culto.
Por causa da diáspora e de influências externas, as práticas encontradas em diferentes regiões (Haiti, Cuba, Jamaica, Porto Rico, Brasil, Estados Unidos, Belize, Bahamas e República Dominicana), encontram muitíssima similaridade mas não necessariamente irão convergir quanto nass entidades cultuadas.
Na América como um todo, encontramos como principal influência o catolicismo em forma de sincretismo, devido a imposição do catolicismo como religião, catequização forçada e a proibição de práticas dentro do vodu sob pena de morte. O resultado disso foi o sincretismo dos nomes e aspectos dos espíritos do vodu para aqueles dos santos católicos. O uso de salmos foi incluído em determinadas práticas (como Uncrossing, uma prática do conjure), além do uso de velas.
E foi assim que o vodu sobreviveu.
Outra influência encontrada é a dos nativos indígenas (os primeiros seres humanos escravizados nas américas) onde os mesmos compartilharam seus conhecimentos de fitoterapia que foram agregados nas práticas do vodu.
Em Nova Orleans, a presença dos franceses e seus perfumes também influenciou grandemente as práticas dentro do vodu, quando os ingredientes usados nos perfumes franceses foram inseridos em algumas práticas.
Já a inclusão de óleos dentro das práticas foi de influencia indiana.
O vodu é uma prática religiosa fluída, adaptável e sincrética, não fazendo distinção sobre a raça daquele que o pratica ou sua ancestralidade.
Uma pessoa não depende de uma iniciação para que possa praticar vodu.
E com tantos conhecimentos agregados m tradição, certas práticas podem ser executadas em casa.
Surge assim o conjure, uma prática dentro do vodu de Nova Orleans, com novos ritos, pós, óleos, perfumes, ritos com santos em altares, enfim, é possível ver claramente como o vodu bebeu de diversas fontes.
Mas também temos sacerdotes dentro do vodu, especialmente dentro do vodu haitiano (Sèvis Gine) e nesse caso sim haverão iniciações e cargos específicos serão ocupados pelos iniciados obedecendo uma hierarquia similar a do candomblé.
Das divindades.
Vodu significa “espírito de Deus”. Para o vodu, o mundo imaterial é povoado por nossos ancestrais, espíritos e deuses.
No vodu de Nova Orleans temos a figura de um deus supremo, chamado de Bon Dieu (Bom Deus).
Já no Haiti temos Bondye ou Gran Mèt (Grande Mãe), a grande criadora do universo e tudo o que nele há e a mantenedora da ordem universal.
E abaixo deles temos poderosos espíritos chamados Loas ou Lwas que se traduzem como espíritos ou mistérios.
Similares aos Orixás, os Loas são cultuados, lhes são oferecidas comidas, são desenhados seus vévés, suas cores são vestidas e suas músicas tocadas.
Os Loas são divididos em grupos (ou famílias), o que nos permite melhor compreensão sobre os mesmos.
● Família Radá:
São Loas ligados ao período da criação do universo e sua cor é o branco.
São eles: Papa Legba, Ayizan Velekete, Papa Loko, Dambalah, Aido Wedo, Met Agwe, La Siren, Ezili Freda Dahomey, Azaka, Bossu e Silibo.
● Família Ogoun:
Esta família é formada por Loas das tradições Yoruba e Nagô.
São eles: Ogoun Feraille, Ogoun Shango, Ogoun Ossange, Ogoun Djansan e Ogoun Oshala.
● Família Ghede:
Família formada pelos Loas mortos, suas cores são roxo e preto, podem ser combativos e rudes.
São eles: Baron Samedi, Baron Cemitiére, Baron La Croix, Baron Kriminel e Maman Brigitte.
● Família Petro:
Formada por Loas da região do Congo e parte da região ocidental africana.
São considerados bons protetores, ferozes e agressivos com seus adversários, sua cor é vermelha.
São eles: Ezili Dantor, Marinete Bwa Chec, Karrefour ou Kalfour e Simbi.
Dos vévés.
Vévés são símbolos, cada um deles representa um Loa, os mesmos são desenhados no chão, usando de itens como farinha de milho, farinha de trigo, fubá, talco, pó de tijolo, pó de carvão ou pólvora, dependendo da finalidade do rito. E os mesmos são usados como portais para trazer os Loas a terra.
Os sacrifícios e oferendas são normalmente posicionados em cima do vévé.
Em cerimônias dentro do vodu, temos o uso de tambores, que são tocados de forma específica e cadenciada para cada um dos Loas, as músicas variam e o objetivo aqui é induzir o transe mediúnico, onde o fenômeno de incorporação ocorre, com o médium recebendo o Loa e dançando. Outros itens usados nessas cerimônias são máscaras, bastões e garrafas.
Durante as consultas realizadas pelos padres vodus deve ser ofertada bebida alcoólica a fim de agradar a entidade.
Os voduistas haitianos, não acreditam em paraíso ou inferno, a crença deles é a da existência de reencarnação, segundo o vodu cada um de nós retornará 16 vezes na terra, 8 como uma mulher e 8 como um homem.
E para os praticantes vodu de forma geral, os Loas, independente de seus aspectos, são seres essencialmente maus, pois os mesmos só realizam os desejos do ser humano, portanto a maldade parte do ser humano.
Conclusão
Podemos perceber portanto que a palavra chave aqui é adaptabilidade, como forma de trazer suas práticas consigo durante a grande diáspora foi através da tradição oral, é como sempre, parte se perde, parte sofre influência, seja de forma sutil ou com o uso de extrema violência.
Mas a tradição veio, se fez presente, deu força aqueles que acreditavam e assim perdurou, se espalhou e hoje estamos aqui, lendo essa matéria que conta sobre uma tradição que veio de luta, resiliência e que se adaptou de forma a sobreviver, o que é formidável.
Por hoje ficamos por aqui, façam parte do problema.
Rafaella Fernandez. Taróloga. Praticante de magia natural e cerimonial. Colaboradora nos projetos: Morte Súbita, enochiano.com.br, lemegeton.com.br e trithemius.com.br
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