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Olorun – O Criador de Todas as Coisas
No princípio não havia nada, somente havia Olorun, e ele era o Único existindo na Eternidade e no Infinito. Porém, Olorun se sentiu só e entediado. Sua plenitude era silenciosa e vazia. Por isso, Olorun, que era o Universo, fragmentou a si mesmo [o Big-Bang?…] transformando o Uni-verso em Multi-verso e a primeira obra dessa criação foi o Espaço; depois, o Tempo, a seguir a Água ou Umidade e, então, surgiu o Fogo, que é a energia, origem a todas as coisas e essa energia chamou-se Obatalá [primeiro Odu], a primeira inteligência cósmica.
Dessa inteligência começaram a surgir todos os Seres que existem: os primeiros eram energia pura, inteligências também, semelhantes em essência ao próprio Obatalá mas diferentes qualidades e atribuições. Estas inteligências são chamadas Odus. Os seres criados pelos Odus foram feitos do giro da energia que produzia matéria de diferentes densidades e qualidades. A primeira inteligência emanada por Obatalá foi Yeyemowo, e era feminina. Dos poderes reunidos de Obatalá e Yeyemowo surgiu Orunmilá, Senhor do Conhecimento e da Sabedoria. Orunmilá gerou Ifá e a ele confiou a tarefa de presidir o Destino de todas as coisas e todos os Seres.
Obatalá, auxiliado por sua companheira Yeyemowo, gerou muitos outros Odus e estes Odus, que somavam doze, produziram outros mais até que, finalmente, engendraram a primeira criatura divina: Oxalá, o primeiro orixá, o primeiro deus, encarregado de produzir a realidade manifestada: Oxalá, então criou todos os mundos, planetas e estrelas no espaço de Olorun, criou a Terra e ainda a ele coube povoar este mundo com todas as plantas, todos os animais, todas as águas, salgadas e doces, todos os solos, os firmes e pantanosos. Mas era uma tarefa grandiosa e para auxiliar Oxalá, os Odus fizeram surgir todos os outros orixás e a cada um foi dada a tarefa de presidir um reino da Natureza criada pelas idéias que os Odus sussurravam nos ouvidos de Oxalá e dos outros orixás.
O homem foi o último Ser terreno criado e todas as potências que já existiam foram acionadas nesta criação: seu corpo foi modelado com barro, por Oxalá; Ajalá fez a cabeça; a vida lhe foi insuflada pelo sopro de Olodummarê; Obatalá deu-lhe o espírito; e Orunmilá traçou seu destino. Cada homem tem uma sina diferente que deve cumprir guiado por seu orixá, por sua divindade pessoal.
* Texto de referência: Awô: O Mistério dos Orixás por Gisèle Omindarewá Cossard – Iyalorisá Omindarewá
“Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás“.
Lendas Africanas dos Orixás, Pierre Verger
Oxalá-Oxaguiã – O Jovem
Oxalá é o primogênito entre todos os orixás: foi o primeiro a ser criado por Olorum através da energia dos Odus, as inteligências cósmicas. É considerado pai dos orixás mais importantes. A ele foi dada a incumbência de criar a natureza da terra e povoá-la com seres vivos. Todavia, Oxalá dirigiu-se a este mundo sem consultar o oráculo, e por isso foi amaldiçoado por Exú que insuflou no deus uma sede incontrolável. Oxalá procurava uma fonte onde pudesse saciar essa sede e não encontrando nenhuma cindiu com seu bastão o tronco de uma palmeira e bebeu a seiva que escorria. Mas a seiva era um vinho e Oxalá, embriagado, acabou dormindo e boa parte de sua tarefa foi assumida por outros orixás. Quando acordou, somente restava criar o homem e esta foi a única coisa que Oxalá pôde fazer. Moldou os seres humanos usando argila e como ainda estivesse tonto pelo efeito do álcool cada pessoa criada era diferente da outra.
Oxalá-Oxaguiã tornou-se o Senhor da argila e dos artefatos feitos com esse material mas também rege o silêncio, a calma, a paz interior, as horas diurnas, o progresso, a cultura, a inteligência. Porém, o orixá apresenta dois aspectos distintos: Oxalá jovem e Oxalá velho. O jovem, bravo guerreiro, foi chamado Oxaguian, que significa “”Orixá comedor de inhame pilado”, simplesmente porque na juventude adorava comer inhame. Conta a lenda que Oxaguian veio para o Brasil no tempo da escravidão atravessando o oceano sobre o tronco de uma árvore. Na travessia, conheceu Yemanjá. Os dois se apaixonaram e tiveram um filho a quem chamaram Ogunjá.
Oxalá-Oxalufã, o Velho
O Oxalá velho anda curvado, apoiado em seu bastão, o opaxorô, feito de metal branco e ornamentado com a imagem de um pássaro, discos de metal e pequenos sinos. A ele pertencem as pessoas que possuem deficiências físicas e os preguiçosos, que se movem com a lentidão dos caramujos bem como os teimosos e os orgulhosos. Oxalufã não gosta de violência, nem aprecia comidas com sal ou a cor vermelha. Também odeia cavalos porque foi por causa desse animal que amargou uma prisão injusta por vários anos.
Exú
Patrono do comércio, da comunicação, das grandes transformações, guardião das cidades e das casas, portador do Axé [energia vital, luz espiritual] Exu é o Orixá mensageiro e executor da Lei do Carma [causa-efeito], aquele que abre [ou fecha] os caminhos dos mundos, do visível e do invisível. Filho de Orumilá, recebeu desta potência cósmica a regência do oráculo africano, o Jogo de Búzios. Por isso, toda consulta aos Búzios deve ser precedida de homenagens e oferendas a este Orixá. Muito alegre, é considerado um orixá brincalhão. É representado por uma figura humana de cócoras [agachado] portando um bastão fálico [semelhante a um pênis] provido de numerosos olhos [cerca de 17 olhos, no próprio corpo ou no bastão], indicativos do seu poder de vidência.
Nanã
É a orixá “grande-mãe”, precursora de todas as outras divindades africanas do candomblé associadas à fertilidade. Por isso, é relacionada à umidade dos pântanos, da lama argilosa de onde foi gerado o primeiro homem e para onde todos retornaram depois da morte do corpo físico. É guardiã dos Eguns [espíritos, dos mortos] e dos ancestrais. Seu mito, muito antigo, é anterior à chamada Idade do Ferro. Usa um cajado com a ponta curva, adornado com búzios e feito com palha da costa. Suas “aparições” nos Terreiros são esporádicas, de três em três anos. É associada às avós [no sincretismo, Santa Ana, mãe de Maria] e seu caráter é marcado pela calma, benevolência, dignidade e gentileza. Em seu aspecto negativo, pode ser rabugenta, ranzinza. Um episído cruel na mitologia de Nanã é que sendo mãe de Obaluayê [Omolu] rejeitou o filho ao nascer [um costume popular, questão cultural], abandonando-o na praia, quando viu que seu corpo era coberto de chagas.
Yemanjá
Yèyé omo ejá ─ “Mãe cujos filhos são peixes“, sua mitologia é repleta de contradições: seria filha de Olokun, um deus do mar no Benin e casada com Orunmilá [Senhor das Adivinhações]; depois, casada com o rei de Ifé, com quem teria tido dez filhos. A versão mais popular apresenta Yemanjá como esposa de Oxalá e mãe de todos os orixás, símbolo da fecundidade. É a rainha das águas salgadas; seu império são os mares e oceanos do mundo. Usa um leque com espelho ou simplesmente um espelho, o Abebe, símbolo da sua vaidade feminina e do poder multiplicador das imagens, outra simbologia para a fertilidade. Também é relacionada à saúde mental. Quando Nanã abandonou Omolu na praia, foi Yemanjá que o recolheu, curou seus males e o criou como filho. Sua magia controla as Yabás, feiticeiras africanas. Em seus aspectos negativos personifica a dissimulação, a chantagem emocional, a vingança.
Oxum
Orixá das águas doces: rios, lagos, córregos, cachoeiras, preside a irrigação e, por isso, está relacionada á fertilidade da terra, ao sucesso das atividades agrícolas que dependem destas águas. Protetora da gestação e das crianças, também é relacionada aos órgãos reprodutores femininos. Sua ligação com a fertilidade não se limita à procriação e transcende para a esfera das idéias. Oxum também preside o reino dos minerais, especificamente, os metais preciosos, ouro, prata, etc.. Ela é mestra no encantamento realizado através das palavras mas também é uma figura de beleza sedutora, superando Yemanjá em sensualidade. Ardilosa, usa seus predicados estéticos e dialéticos [lábia, conversa] para obter tudo o que deseja. Suas paixões são as jóias, os perfumes, as vestes deslumbrantes, as posições de destaque na sociedade.
Oxossi
Representado como um caçador, Oxossi, filho de Yemanjá, reina sobre a atividade da caça. É o senhor da floresta e dos animais que ali habitam. Por extensão, promove a fartura e a riqueza, posto que a caça foi a atividade primitiva de provisão das necessidades básicas de sobrevivência dos homens primitivos. Com sua magia, Oxossi domina os seres encantados das matas. Seus atributos são a astúcia e a cautela estratégica. Ele sabe esperar o momento certo de disparar sua flecha. Os protegidos desse orixá possuem o dom da esperteza, da rapidez e da iniciativa. São versáteis, podem desempenhar diferentes atividades e, muitas vezes, são artistas. São rebeldes, solitários e individualistas. Oxossi não teme Ikú − a morte.
Xangô
Raios e trovões, fogo, pedras, rochedos, terras áridas, estes são os domínios de Xangô. Seu metal é o cobre e ele usa o Oxé, machado de dois gumes. Xangô é belo e, vaidoso, sabe disso. Desposou Oxum, Obá e Iansã, esta última, sua predileta. O calor de Xangô é a energia vital e ele detesta o frio característico da morte. É o regente da justiça, aquele que soluciona as demandas, os litígios. É o algoz dos mentirosos, dos ladrões e bandidos. Dono de vontade enérgica, este orixá é altivo, é um rei. Seu lado negativo propicia o descontrole da ira, a cólera e a infidelidade nos relacionamentos amorosos.
Ogun
Ogunhê, é a saudação para o orixá que é o Senhor da Guerra, aquele que domina a potência do ferro e da forja que modela as ferramentas, extensões da força do braço desde um tempo imemorial: lanças, espadas, martelos, enxadas, correntes e até as moedas são os presentes de Ogun que alavancaram a Humanidade da barbárie para a Civilização. A bigorna onde os metais são modelados é um dos seus símbolos. Sua forte ligação com a tecnologia o faz padroeiro de todos artesãos: carpinteiros, escultores, maquinistas, mecânicos, etc.. Conhecedor dos caminhos e veredas, tão hábil quanto Exú, Ogun é, por excelência, um vencedor de obstáculos. Seu aspecto negativo é a violência sem limites e a ausência de misericórdia diante do inimigo.
Logun-Edé
Filho de Oxum e Oxossi, reúne atributos de seus pais e propicia, especialmente a riqueza e a fartura. Durante seis meses, vive com a mãe; os outros seis meses, com o pai. Sua mitologia conta que este orixá assume a essência feminina durante meio ano e a essência masculina no resto do tempo: é uma princesa das florestas e caçador das águas. Logun-Edé é um diplomata que favorece o equilíbrio de forças e a conciliação dos contrários. Em sua representação aparecem os símbolos maiores de Oxum e Oxossi: o Abebe e o Arco e Flecha. Seus protegidos são sinceros, perfeccionistas, versáteis em diversas situações e solidários. São capazes de ver o íntimo do ser das pessoas. Em seus aspectos negativos, podem ser facilmente irritáveis e têm a tendência de machucar os pés, as mãos e a cabeça. Seu culto está em vias de extinção.
Ewa
É uma das orixás de mitologia mais hermética. Também chamada de Senhora dos Horizontes, é protetora das virgens e dos virgens: sejam pessoas ou lugares onde ninguém jamais colocou os pés. Também é regente da alegria, do canto e das mudanças de estado das águas, do sólido gelo, ao líquido e o gasoso, gerando as nuvens que trazem as chuvas [talvez venha daí sua ligação com Iansã]. É Ewa quem dá formas às nuvens delineando as mais diferentes imagens. Ewa opera as transformações da Natureza, seja no botão de rosa que se abre em flor, seja na lagarta que rompe o casulo como borboleta. Alguns dizem que é irmã de Iansã e esposa de Oxumaré; outros afirmam que é a metade feminina de Oxumaré e uma terceira versão aponta Ewa como esposa de Omolu, que não podia ter filhos. Amiga de Ifá, recebeu como prenda a afinidade com as artes divinatórias. Seus atributos representativos são uma lança ou um arpão, a cobra e o leque.
Obá
Também chamada Obassy, Guardiã das Mulheres, Ewa é filha de iemanjá, fruto de sexo forçado da Rainha do Mar, quando foi violentada pelo próprio filho, Orugan. É uma das três esposas de Xangô. Ludibriada por Oxum, com quem disputava o amor de Xangô, mutilou a si mesma, cortando uma das orelhas: por isso usa um turbante, para esconder o defeito. É uma orixá guerreira que empunha espada, escudo e uma coroa de cobre. Relaciona-se aos rios, mas somente aqueles de águas revoltas. Protótipo da mulher forte e independente, é a propiciadora do sucesso profissional. Em seu aspecto negativo, é possessiva, ciumenta e carente, relacionada às desilusões amorosas.
Iansã ou Oyá
Nascida da água e do fogo, Iansã é Senhora dos Ventos e Tempestades [associada a Santa Bárbara]. A primeira esposa de Xangô teve inúmeros amantes. Simboliza as mulheres independentes que trabalham para se sustentar. Conhecedora dos mistérios dos Eguns, os Espíritos desencarnados, ela os conduz às portas de Orun, o mundo paralelo e apaga a memória das vidas passadas quando alguém vai renascer. Representa a inquietude, a autoridade, a dominação. Seus atributos são os chifres de boi ou búfalo e o irukerê, um cetro feito de rabo de boi ou cavalo que serve de guia na travessia dos mortos. Seus protegidos têm temperamento agitado e a vida marcada por mudanças rápidas, bruscas, como as tempestades que surgem, repentinas, em dias de sol.
Obaluayê ou Omolu
Filho de Nanã e Oxalá, Obaluayê {Dono da Terra] ou Omolu [Filho do Senhor], rejeitado pela mãe ao nascer por ter o corpo cheio de feridas, foi adotado e curado por Iemanjá. Sua face tornou-se tão resplandecente que tem de ser ocultada de todos pois, como o sol, pode cegar quem o contemplar diretamente [ao contrário do que dizem algumas lendas, que cobre o rosto para esconder suas marcas]. Vitimado por moléstia de pele na infância, Obaluayê tornou-se o Senhor das Doenças, o Senhor das Coisas Pútridas, detendo o poder de provocá-las ou curá-las, usando um instrumento denominado xarará [um feixe de palha da costa, búzios e conchas]. Também afasta espíritos obcessores e influências maléficas. Possui os segredos da terra e comanda os espíritos das árvores. Por conta de seu poder sobre a saúde é muito temido nos Terreiros. Veste-se com palha da costa e usa um cajado guarnecido com com três cabaças que contêm os segredos da Criação. Os filhos de Omolu são pessoas fechadas, sérias, caladas e quando falam vão direto ao ponto. São firmes, decididos e batalhadores e caridosos. Em seu aspecto negativo são irônicos, invejosos e se deixam tomar pela auto-piedade.
Oxumaré
Irmão de Omolu e Ossaim, este orixá é representado pelo arco-íris que, para ele, é uma escada, uma ponte entre o Céu e a Terra. Oxumaré é controlador do movimento e dos ciclos planetários. Macho e fêmea ao mesmo tempo, é a serpente que morde a própria cauda, o leminiscato [um oito deitado], símbolo do infinito. Proporciona riqueza, a vida longa, confere o dom da boa fortuna. Sua indumentária, multicolorida, inclui, como adereços, o braja [colar de búzios] trançado com três cabaças, uma lança pequena e duas cobras de ferro. Sua coroa [ade] também tem a forma de serpente. Seus tutelados são ambiciosos e buscam obstinadamente vencer na vida. São pacientes, perseverantes, calmos e corajosos mesmo na adversidade. Em sua manifestação negativa podem ser orgulhosos, arrogantes e dominadores.
Ossaim
O Conhecedor dos segredos, do Axé das ervas e da flora em geral [incluindo raízes e cascas] é um grande feiticeiro propiciador de curas e milagres que favorecem o corpo e o espírito. É um habitante das matas, ambiente sagrado que tem em Ossaim um protetor. Encantados, como os brasileiros, Curupira e Saci-Pererê são servos de Ossaim. Seu símbolo é uma haste de ferro com sete pontas e um pássaro na ponta do meio, representado uma árvore. O pássaro é o espião de Ossaim, que percorre o mundo contando ao orixá tudo o que ouve e vê. Aqueles que são regidos por Ossaim são equilibrados, controlados, imparciais em suas decisões, caseiros, pouco dados a relacionamentos amorosos. Assim como o orixá, são um tanto curandeiros, dominando a ciência dos de chás e remédios naturais.
por Ligia Cabús
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