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(Olhos fechados, estímulos externos ignorados; aspectos intelectuais)
Se a luz indiferenciada do Primeiro Bardo ou da Energia da Fonte for perdida, ondas luminosas de diferentes formas podem inundar a consciência. A mente da pessoa começa a identificar essas figuras, isto é, a rotulá-las e a experimentar revelações sobre o processo vital. [O Lama Govinda nos diz que Amoghasiddhi representa “… a misteriosa atividade de forças espirituais, que trabalham apartadas dos sentidos, invisíveis e imperceptíveis, com o objetivo de guiar o indivíduo (ou, mais propriamente, todos os seres vivos) em direção à maturidade do conhecimento e da libertação. A luz amarela de um sol (interior) invisível ao olhar humano (…) (no qual o espaço incompreensível do universo parece abrir-se a si mesmo) para o sereno e místico verde de Amoghasiddhi (…) No plano elementar, esta força todo-penetrante corresponde ao elemento do ar – o princípio de movimento e extensão, da vida e da respiração (prana).” Lama Govinda: Fundamentos do Misticismo Tibetano. Londres: E. P. Dutton & Co., Inc., 1959, p. 120.
O quinto dia do Bardo Thodol confronta o falecido com o Buda Bhagavan Amoghasiddhi, Conquistador Todo-Poderoso, do reino verde do norte da Realização Bem-Sucedida das Melhores Ações, assistido pela Mãe Divina, e por dois bodhisattvas[7] representando as funções mentais do “equilíbrio, imutabilidade, e foça todo-poderosa” e “iluminador das obscuridades”.]
Especificamente, o indivíduo é capturado num fluxo infindável de formas coloridas, imagens microbiológicas, acrobacias celulares, rodopios capilares. O córtex é ligado a processos moleculares que lhe são completamente novos e estranhos: uma Niágara de desenhos abstratos; a corrente da vida fluindo, fluindo.
Estas visões talvez possam ser descritas como puras sensações de processos celulares e subcelulares. É incerto se elas envolvem a retina ou/e o córtex visual, ou se são flashes de sensações moleculares, diretas, em outras áreas do sistema nervoso central. São subjetivamente descritas como visões interiores.
Outra classe de imagens de processos interiores envolve o som. Novamente, não sabemos se essas sensações se originam no aparelho auditivo e/ou no córtex auditivo, ou se são flashes de sensações moleculares diretas de outras áreas. São subjetivamente descritos como sons interiores: cliques, batidas, zumbidos, palmas, gemidos, assobios estridentes. [O Livro Tibetano inclui uma brilhante descrição dos ruídos dos processos interiores. “(…) inumeráveis (outros) tipos de instrumentos musicais, enchendo (de música) os sistemas do mundo e fazendo com que vibrem e tremam e balancem com sons tão poderosos que atordoam o cérebro (…)”
“Os lamas tibetanos, ao entoar seus rituais, empregam sete (ou oito) tipos de instrumentos musicais: grandes tambores, pratos (normalmente de metal), concha, sinos (como os pequenos sinos usados no serviço da missa cristã), tímpanos, pequenos clarinetes (soam como as gaitas de fole das Highlands escocesas), grandes trombetas e trombetas feitas de fêmures humanos. Embora o som combinado desses instrumentos esteja longe de ser melodioso, os lamas afirmam que eles psiquicamente produzem no devoto uma atitude de profunda veneração e fé, porque são homólogos aos sons naturais que ouve-se o corpo produzir quando os dedos são postos nos ouvidos para silenciar os sons exteriores. Fazendo isso, são ouvidos o som de batidas, como se um grande tambor estivesse sendo tocado; sons de batidas, como de pratos; um som sussurrante, como de vento se movendo pela floresta – como quando se escuta uma concha; um zumbido como o de sinos; um som agudo de bater palmas, como quando o tímpano é usado; um som de gemido, como o do clarinete; um som grave de gemido, como se produzido por uma grande trombeta; e um som estridente, como o da trombeta de Fêmur.”
“Isto não é apenas interessante como uma teoria da música sacra tibetana, mas dá a pista para a interpretação esotérica dos sons naturais simbólicos da Verdade (a que se refere o segundo parágrafo que se segue, e outras partes do nosso texto), que é dita ser, ou proceder das faculdades intelectuais dentro da mentalidade humana.” (Evans-Wentz, p.128)] Esses ruídos, como as visões, são sensações diretas livres de conceitos mentais. Unidades de energia molecular, dançantes, brutas.
As mentes entram e saem dessa corrente evolucionária, gerando revelações cosmológicas. Dúzias de insights darwinianos e míticos são comunicados à consciência. É permitido à pessoa olhar para trás no fluxo do tempo e perceber como a energia vital continuamente se manifesta em formas transitórias, sempre em mudança. Formas microscópicas se fundem a mitos criacionais primais. O espelho da consciência é seguro pela corrente da vida.
Enquanto a pessoa flutua com a corrente, ela recebe lições da cosmologia de bilhões de anos. Mas o empuxo da mente está sempre presente. A tendência de impor a ordem isolante, arbitrária, ao processo orgânico.
Às vezes o viajante sente que deve relatar a sua visão. Ele converte o fluxo vital num teste do borrão cósmico – tenta rotular cada forma. “agora vejo uma cauda de pavão. Agora cavaleiros mouros em armaduras coloridas. Oh, agora uma cachoeira de jóias. Agora, música chinesa. Agora, serpentes como se fossem colares, etc.” Verbalizações desse tipo enevoam a luz, interrompem o fluxo e não devem ser encorajadas.
Outra armadilha é aquela da imposição de uma interpretação sexual. O fluxo de energia dançante, brincalhão, é, no sentido mais reverente, sexual. Formas se unindo, girando umas com as outras, se reproduzindo. Eros em suas inumeráveis manifestações. Os tibetanos se referem às Bodhisattvas Pushpema, personificação das flores, e Lasema, a “Bela”, retratadas segurando um espelho em atitude coquete. Mantenha a consciência espontânea, pura, da Sabedoria-em-forma-de-Espelho. Ria alegremente das travessuras do processo vital, sempre a produzir formas em padrões atraentes para manter a dança em movimento. Se o viajante interpretar as visões de Eros nos termos de seus modelos pessoais de jogos sexuais, e tentar pensar ou planejar – “o que devo fazer? Que papel devo interpretar?” – é provável que ele escorregue para o terceiro Bardo. Tramas sexuais dominam sua consciência, o fluxo cai, empana-se o brilho do espelho, e ele renasce grosseiramente como um ser pensante e confuso.
Um outro impasse é a imposição de jogos de sintomas físicos ao fluxo biológico. As novas sensações somáticas podem ser interpretadas como sintomas. Se é novo, deve ser ruim. Qualquer órgão do corpo pode ser selecionado como o foco da “doença”. Pessoas cuja expectativa primária ao tomar uma substância psicodélica é médica são particularmente propensas a cair nesta armadilha. Médicos são, de fato, extremamente propensos e podem imaginar doenças coloridas e ataques fatais.
No caso dos psicodélicos mais amplamente usados (LSD, pscilocibina etc.), é seguro dizer que tais efeitos corporais praticamente nunca são efeito direto da droga. A droga age apenas sobre o cérebro e ativa padrões neurais centrais. Todos os sintomas físicos são criados pela mente. Indisposição física é um sinal de que o ego está lutando para manter ou recuperar o controle através da dissolução dos limites emocionais.
Se a pessoa se queixar de sintomas físicos como náusea ou dor, o guia deve ler para ela as è INSTRUÇÕES PARA SINTOMAS FÍSICOS.
O equivalente colérico, negativo, desta visão ocorre se o viajante reage com medo ao poderoso fluxo de formas vitais. Tal reação é atribuída ao resultado cumulado da interpretação de scripts dominada por raiva e estupidez. Um mundo infernal pode seguir-se como um pesadelo. As formas visuais aparecem como um confuso caos de objetos feios, baratos, típicos de lojas de R$ 1,99[8] , vulgares e inúteis. A pessoa pode ficar aterrorizada ante a perspectiva de ser tragada por eles. Os impressionantes sons podem ser ouvidos como ruídos de rangidos, horríveis e opressivos. A pessoa tentará escapar dessas percepções por meio de atividades externas agitadas (conversar, ficar andando em círculos etc.) ou através de atividade mental analítica e conceitual.
A experiência é a mesma, e interpretação intelectual é diferente. Em vez de revelação, há confusão; em vez de calma alegria, há medo. O guia, ao reconhecer que o viajante está em tal estado, pode ajudá-lo a se libertar, lendo-lhe as instruções.
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