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Sitra Achra

Quem é John Galt?

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Em 1991 a biblioteca do congresso americano recebeu a missão de descobrir qual havia sido o livro que mais influenciara a vida das pessoas. A “Bíblia” ficou com o primeiro lugar, “Quem é John Galt?” ficou com o segundo lugar. O livro da escritora russa Ayn Rand foi lançado na década de 1950 e até hoje já vendeu milhões de exemplares ganhando dos críticos o título de “Guerra e Paz” do capitalismo.

Abaixo alguns excertos de ‘A Revolta de Atlas’ de Ayn Rand 

 

Há  doze  anos  vocês  se  perguntam:  “Quem  é  John  Galt?”  Quem  está falando  é  John  Galt.  Eu  sou  o  homem  que  ama  a  vida.  Eu  sou  o  homem que  não sacrifica  seu amor  nem  seus  valores. Sou  o  homem  que roubou tuas  vítimas  e assim destruiu o teu mundo. E se você deseja saber por que estas perecendo ± você, que teme o conhecimento ± Eu sou o homem que agora vai te dizer. 

  

Você  ouviu  dizer  que  vivemos  uma  crise  moral. Você  mesmo  disse  isso:  por  medo,  ou por  esperança  de  que  essas  palavras  não  tivessem  significado  real.  Você  tem  se queixado  que  a  natureza  humana  está  destruindo  o  mundo,  e  chegou  a  dizer  que  a maldição  da natureza humana é a de negar-se a praticar as virtudes que você demanda. Porque,  para  você,  a  virtude  consiste  no  sacrifício.  Você  demandou  mais  sacrifício  a cada  desastre  seguido.  Em  nome  da  volta  da  moralidade,  você  tem  sacrificado  todos aqueles  que  você  acredita  serem  a  causa  do  seu  sofrimento.  Você  tem  sacrificado  a razão  pela fé.  Você tem  sacrificado a riqueza  pela  necessidade.  Você tem  sacrificado  a tua  auto-estima  pela  negação  de  você  mesmo.  Você  tem  sacrificado  a  felicidade  pelo dever. Você tem destruído tudo aquilo que considera o mal e tem obtido tudo aquilo que considera bom. Porque, então, você está horrorizado ao ver o mundo ao seu redor?   

  

Esse mundo não é o produto dos teus pecados, e sim, o produto de suas virtudes. É o seu ideal  moral  trazido  para  a  realidade  na  sua  absoluta  e  total  perfeição.  Você  tem  lutado por  ele,  você  tem  sonhado  com  ele,  você  tem  desejado  e  eu,  eu  sou  quem  tem  te concedido  esse  desejo.  Seu  ideal  tinha  um  inimigo  implacável  e  teu  código  moral  foi desenhado para destruí-lo. Eu eliminei esse inimigo. Eu retirei ele do teu  caminho e do teu  alcance.  Eu  eliminei a  fonte  de  todo  o  ‘mal’,  que  você  estava sacrificando  um  por um.  Eu  coloquei  um  fim  a  sua  batalha.  Eu  desliguei  o  seu  motor.  Eu  retirei  do  seu mundo a razão humana.   

  

Você  diz  que  o  homem  não  vive  graças  a  sua  mente?  Eu  removi  todos  aqueles  que assim  fazem.  Você  diz  que  a  mente  é  impotente?  Eu  removi  todos  aqueles  cuja  mente não  é impotente. Você  diz  que há valores  maiores que a razão? Eu removi aqueles quenão  acham  isso.  Por  que  você  tem  arrastado  para  o  teu  altar  de  sacrifício  os  homens capazes  de  viver  com  justiça, independência, razão, riqueza  e  auto-estima. Eu te  venci: Eu  os  alcancei  primeiro.  Eu  expliquei  a  eles  a  natureza  do  teu  jogo  e  do  teu  código moral, que em sua generosa inocência não haviam sido capazes de compreender. Eu os ensinei a viver segundo uma outra moral: a minha. É a minha moral que eles decidiram seguir.   

  

Todos  os  homens  que  sumiram ±  aqueles  que  você  odiava,  mas  temia  perder –fui  eu quem  tirou  eles  de  você.  Não  tente  nos  encontrar.  Nós  não  queremos  ser  encontrados. Não  digas  que  necessitas  da  gente.  Não  consideramos  necessidade  um  direito.  Não  nos implore para retornarmos. Nós, os homens da razão, estamos em greve. Nossa greve não consiste  em  fazer  exigências,  mas  em  concedê-las. Nós somos  malditos  de acordo  com sua  moral.  Decidimos  não  lhe  fazer  mais  mal.  Nós  somos  inúteis  de  acordo  com  tua economia.  Decidimos  não  te  explorar  mais.  Nós  somos  perigosos  e  deveríamos  estar presos,  de  acordo  com  sua  política.  Nós  decidimos  não  te  colocar  em  perigo,  nem continuar acorrentados. Não temos nenhuma  exigência a te fazer. Você não tem  nada a oferecer. Nós não precisamos de você. E agora você lamenta de que não é isso que você queria? Um  mundo insensato em ruínas não  era o teu objetivo? Você  não queria que te abandonássemos? Você é um canibal moral.   

  

Durante  séculos  de  calamidades  e  desastres  causados  pelo  teu  código  moral,  você  se queixa  de  que  o  teu  código  foi  quebrado;  e  que  as  calamidades  eram  castigos  por haverem  transgredido,  porque  os  homens  eram  demasiadamente  estúpidos  e  egoístas para  derramar  todo  o  sangue  necessário.  Você  detestou  o  homem.  Você  detestou  a existência. Você detestou a Terra, mas nunca se atreveu a questionar o teu código. Você seguiu  insistindo  que  o  teu  código  era  nobre,  mas  a  natureza  humana  não  é suficientemente  boa  para  praticá-lo.  E  ninguém  se  ergueu  para  perguntar:  Bom? Segundo qual critério? Eu sou o homem que tem feito essa pergunta.   

  

Sim,  essa é uma era de crise  moral. Sim, você  está sendo castigado por suas  maldades, mas  dessa  vez  não  é  o  homem  que  esta sendo  julgado,  e  não  é a  natureza  humana  que carregará  a  culpa.  É  o  seu  código  moral  que  esta  se  esgotando.  Seu  código  moral  tem alcançado  o  seu  clímax:  um  caminho  sem  saída  ao  seu  destino  final.  E  se  você  deseja seguir  vivendo,  o  que  você  agora  precisa  não  é  voltar  para  a  moralidade,  mas  sim, descobri-la. 

  

Os únicos conceitos de moralidade que vocês conhecem são o místico e o social. Vocês aprenderam que a moralidade é um código de comportamento imposto pelo capricho de um poder  sobrenatural ou pelo capricho  da sociedade, para servir os desígnios de Deus ou  o  bem-estar  do  próximo, para agradar a uma autoridade  do  outro  mundo  ou  da  casa 

ao  lado  –  mas  não  para  servir  a  sua  própria  vida  e  o  seu  próprio  prazer.  Vocês aprenderam  que  o  seu  próprio  prazer  se  encontra  na  imoralidade,  os  seus  próprios interesses residem no mal, e que todo código moral tem que ser voltado não para vocês, mas contra vocês, não para promover a vida, mas para abatê-la.   

  

Durante séculos, a luta da moralidade foi travada entre aqueles que afirmavam que a sua vida  pertence  a  Deus  e  aqueles  que  afirmavam  que  ela  pertence  ao  próximo –  entre aqueles que pregavam que o bem é sacrificar-se em nome de fantasmas no céu e aqueles que  pregavam  que  o  bem  é  sacrificar-se  em  nome  dos  incompetentes  na  terra.  E ninguém  veio para dizer-lhes que a sua vida pertence a vocês, e que o bem consiste em vivê-la.   

  

Ambas  as  partes  em  conflito  (místicos  e  coletivistas)  estavam  de  acordo  quanto  a  uma coisa:  a  moral  exige  que  se  abandone  o interesse  próprio  e  a  mente,  a  moral  e  a  vida prática são  conflitantes, a  moralidade  não  faz  parte  do  domínio  da razão,  e sim  da  fé  e da  força.  Ambas  as  partes  concordavam  que  não  é  possível  haver  uma  moralidade racional,  que  não  há  certo  e  errado  na  razão –  que  na  razão  não  há  razão  para  se  agir conforme a moral.   

  

Ainda  que  brigassem  por  vários  motivos, todos  os  moralistas se  uniam  na  luta  contra a mente  do  homem.  Era  a  mente  do  homem  que  todos  os  sistemas  e  dogmas  deles visavam a  saquear  e a  destruir.  Agora  vocês têm  que  optar:  ou  morrer  ou aprender  que ser contra a mente é ser contra a vida.   

  

A  mente  do  homem  é  o  instrumento  básico  de  sua  sobrevivência.  A  vida  lhe  é concedida, mas não a sobrevivência. Seu corpo lhe é concedido, mas não o seu sustento. Sua  mente lhe  é concedida,  mas não  o seu conteúdo. Para permanecer vivo, ele tem  de agir,  e  para  que  possa agir,  ele tem  que  conhecer  a  natureza  e  o  propósito  de  sua ação. Ele não pode obter seu alimento sem conhecer qual é seu alimento  e como tem  de agir para obtê-lo. Não pode cavar um buraco, nem construir um ciclotron, sem conhecer seu objetivo e os meios de atingi-lo. Para permanecer vivo, ele tem de pensar.   

  

(…)   

  

A felicidade  é  o  estado  de  sucesso  na  vida; a  dor  é  um agente  da  morte.  A  felicidade  é aquele  estado  da  consciência  que  decorre  da  realização  dos  valores  que  se  têm.  Uma moralidade que ousa dizer-lhes que vocês devem procurar a felicidade na renúncia à sua felicidade  –  valorizar  o  fracasso  de  seus  valores  –  é  uma  insolente  negação  da moralidade.  Uma  doutrina  que  lhes  dá  como  ideal  o  papel  de  animal  a  ser  sacrificado em  holocausto  no  altar  dos  outros  lhes  dá  a  morte  como  padrão.  Por  obra  e  graça  da realidade e da natureza da vida, o homem – todo homem – é um fim em si, existe por si, e a realização de sua própria felicidade é seu mais elevado objetivo moral.162   

  

Mas  nem  a  vida  nem  a  felicidade  podem  ser  alcançadas  pela  busca  de  caprichos irracionais.  Assim  como  o  homem  é  livre  para  tentar  sobreviver  de  qualquer  maneira aleatória  –  mas  há  de  morrer  se  não  viver  de  acordo  com  as  exigências  da  natureza – assim também ele é livre para buscar sua felicidade em qualquer fraude irracional; nesse caso, porém, a tortura da frustração é tudo que ele encontrará, a menos que ele busque a felicidade própria do homem. O objetivo da moralidade é ensinar não a sofrer e morrer, e sim a gozar a vida e viver.   

  

(…)   

  

Não,  vocês  não  são  obrigados  a  viver  como  homens;  esse  é  um  ato  de  escolha  moral. Mas vocês não podem viver como nenhuma outra coisa – e a alternativa é esse estado de morto-vivo  que  vocês  agora  vêem  dentro  de  si  próprios  e  a  seu  redor,  esse  estado  de coisa incapaz de existir, que não é  mais humano e é algo  menos que um animal, que só conhece a dor e se arrasta na agonia da autodestruição irracional.   

  

Não,  vocês  não  são  obrigados  a  pensar;  esse  é  um  ato  de  escolha  moral.  Mas  alguém teve  de  pensar  para  mantê-los  vivos;  se  vocês  optam  pela  inconsequência,  vocês fraudam a existência e repassam esse déficit para algum homem moralmente correto, na esperança de que ele sacrifique seu próprio bem para que vocês possam sobreviver a seu 

próprio mal.   

  

Não,  vocês  não  são  obrigados  a  ser  homens;  mas  hoje  em  dia  aqueles  que  o  são  não estão mais aí. Eu retirei do mundo de vocês seus meios de sobrevivência – suas vítimas.   

  

(…)   

  

Do  mesmo  modo como sustento  minha vida não por  meio do roubo nem  de esmolas,  e sim  pelo  meu  próprio  esforço,  assim  também  não  tento  basear  minha  felicidade  na desgraça dos outros nem  nos favores que  os outros me concedam, porém a ela faço juz por  minhas  próprias  realizações.  Do  mesmo  modo  como  não  considero  o  prazer  dos 

outros  o  objetivo  da  minha  vida, assim também  não  considero  o  meu  prazer  o  objetivo das vidas dos outros. Do mesmo modo como não há contradições nos meus valores nem conflitos  nos  meus  desejos –  assim  também  não  há  vítimas  nem  conflitos  de  interesse entre homens racionais, homens  que  não desejam o imerecido  nem se  encaram uns aos outros com uma volúpia de canibal, homens que nem fazem sacrifícios nem os aceitam.   

  

(…)   

  

Vocês  me  perguntam  que  obrigação  moral  eu  tenho  para  com  os  meus  semelhantes? Nenhuma  –  senão  aquela  que  devo  a  mim  mesmo,  aos  objetivos  materiais  e  a  toda  a existência:  a  racionalidade.  Trato  os  homens  como  requerem  minha  natureza  e  às exigências  deles:  por  meio  da  razão.  Não  busco  nem  desejo  nada  deles  senão  os relacionamentos  nos  quais  eles  escolham  entrar  por  livre  e  espontânea  vontade.  Só  sei lidar  com  suas  mentes –  e  assim  mesmo  quando  isso  é  do  meu  interesse –  quando  eles vêem  que  meu interesse coincide com  o deles. Quando isto não acontece, não entro  em relação alguma; quem discordar de  mim que siga o seu caminho, que eu não  me desvio 

do  meu. Só venço por  meio  da lógica, e só a lógica me rendo. Não abro  mão de  minha razão, nem lido com homens que abrem mão da sua. Nada tenho a ganhar com idiotas e covardes;  não  tento  ganhar  nada  dos  vícios  humanos:  a  estupidez,  a  desonestidade,  o medo.  O  único  valor  que  os  homens  podem  me  oferecer  é  o  produto  de  sua  mente. 

Quando discordo de um homem racional, deixo que a realidade seja nosso árbitro final;se  eu  estiver  certo,  ele  aprenderá; se  eu  estiver  errado, aprenderei;  um  de  nós  ganhará, porém nós dois lucraremos.   

  

(…)   

  

É apenas como retaliação que a força pode ser usada – e somente contra a pessoa que foi a  primeira  a  usá-la.  Não,  não  compartilho  da  maldade  dela  nem  me  rebaixo  ao  seu conceito  de  moralidade:  apenas  lhe  concedo  sua  escolha,  a  destruição,  a  única destruição  que  ela  tinha  o  direito  de  escolher:  a  dela  mesma.  Ela  usa  a  força  para  se apossar  de  um  valor;  eu  a  uso  apenas  para  destruir  a  destruição.  O  assaltante  tenta enriquecer  matando-me;  eu  não  me  torno  mais  rico  quando  mato  o  assaltante.  Não busco valores por meio do mal, nem submeto meus valores ao mal.   

  

(…)   

  

Vocês  que  cultuam  o  zero  –  vocês  jamais  descobriram  que  realizar  a  vida  não  é equivalente  a  evitar a  morte.  O  prazer  não  é  ‘a ausência  da  dor’, a  inteligência  não  é  ‘a ausência  da  estupidez’,  a  luz  não  é  ‘a  ausência  da  escuridão’,  uma  entidade  não  é  ‘a ausência de uma nulidade’. Construir não  é coisa que se realize simplesmente pelo fato de  não  demolir;  não adianta  passar séculos  parado,  sem  demolir:  nem  sequer  uma  viga se  erguerá  –  e  agora  vocês  não  podem  mais  dizer  a  mim, o  produtor:  ‘Produza  e  nos alimente,  que  em  troca  nós  não  destruiremos  sua  produção’,  pois  eu  responderei,  em nome  de  todas  as  vítimas  que  vocês  fizeram:  Morram  com  o  seu  próprio  vazio.  A existência  não  é  uma  negação  de  negações.  O  mal,  e  não  o  valor  (bem),  é  que  é  uma ausência  e  uma  negação;  o  mal  é  impotente,  e  só  dispõe  do  poder  que  lhe  permitimos arrancar de nós. Morram, porque aprendemos que um zero não pode hipotecar a vida.   

  

Vocês  querem  esquivar-se  da  dor.  Nós  queremos  atingir  a  felicidade.  Vocês  existem para evitar o castigo. Nós existimos para fazer jus às recompensas. As ameaças não nos farão  trabalhar;  o  medo  não  é  nosso  incentivo.  Não  queremos  evitar  a  morte  e  sim viver.   

  

(…)   

  

O bem, dizem  os  místicos do espírito,  é Deus, um ser cuja única definição é estar além do poder de concepção do homem – definição essa que invalida a consciência do homem e  anula  seus  conceitos  de  existência.  O  bem,  dizem  os  místicos  dos  músculos,  é  a Sociedade – algo que eles definem como um organismo que não possui forma física, um super-ser  que  não  se  concretiza  em  nenhum  indivíduo  específico  e  sim  em  todos  em geral,  mas  nunca  em  vocês.  A  mente  do  homem,  dizem  os  místicos  do  espírito,  deve subordinar-se  à  vontade  de  Deus.  O  padrão  de  valor  do  homem,  dizem  os  místicos  do espírito, é o bel-prazer de Deus, cujos padrões estão além do poder de compreensão  do homem  e  têm  de  ser  aceitos  pela  fé.  O  padrão  de  valor  do  homem,  dizem  os  místicos dos músculos, é o bel-prazer da Sociedade, cujos padrões estão além do direito de julgar do homem e têm que ser obedecidos como um absoluto. O objetivo da vida do homem, dizem  ambos,  é  se  tornar  um  zumbi  abjeto  que  serve  um  objetivo  que  ele  desconhece, por  motivos  que  ele  não  pode  questionar.  Sua  recompensa,  dizem  os  místicos  do espírito, lhe será dada após a  morte. Sua recompensa, dizem  os  místicos dos  músculos, será dada aqui mesmo na terra – a seus bisnetos.   

  

O  egoísmo –  dizem  ambos –  é  o  mal  do  homem.  O  bem  do  homem –  dizem  ambos –  é abrir  mão  de  seus  desejos  individuais,  negar-se  a  si  próprio,  renunciar  a  si  próprio, render-se; o bem do homem é negar a vida que ele vive. O sacrifício – exclamam ambos – é a essência da moralidade, a mais elevada virtude ao alcance do homem.   

  

Todo aquele que está agora ao alcance da minha voz, todo aquele que seja vítima e não assassino,  que  está  me  ouvindo  falar ao  pé  do  leito  de  morte  da sua  mente, a um  passo daquele abismo negro no qual vocês agora estão se afogando, e se ainda resta em vocês o poder de lutar para não perderem os últimos vestígios daquilo que vocês tinham como seu – usem-no agora. A palavra que o destruiu é sacrifício. Use o que resta da sua força para entenderem o significado dessa palavra. Vocês ainda estão vivos. Vocês ainda têm uma chance.   

  

  

(…)   

  

Se  vocês  querem  salvar  os  últimos  vestígios  de  sua  dignidade,  não  chamem  as  suas melhores  ações  de  ‘sacrifícios’:  esta  palavra  os  rotula  de  imorais.  Se  uma  mãe  compra comida  para  seu  filho  que  tem  fome  em  vez  de  um  chapéu  para  si  própria,  isso  não  é sacrifício: ela dá mais valor ao filho do que ao chapéu; porém isso é um sacrifício para o tipo  de  mãe  que  dá  mais  valor  ao  chapéu,  que  preferia  ver  o  próprio  filho  morrer  de fome, e só lhe dá comida por obrigação. Se um  homem  morrer lutando por sua própria liberdade, isso não é sacrifício: ele não está disposto a viver como escravo; porém isso é um  sacrifício  para  o  tipo  de  homem  que  está  disposto  a  viver  como  escravo.  Se  um homem  se  recusa  a  vender  suas  convicções,  isso  não  é  um  sacrifício,  a  menos  que  ele 

seja o tipo de homem que não tem convicções.   

  

(…)   

  

Por que é imoral produzir um valor e ficar com ele, mas não o é dá-lo aos outros? E se é imoral para vocês ficar com esse valor, por que não é imoral para os outros aceitá-lo? Se vocês são altruístas e  virtuosos quando o  dão, eles não serão  egoístas e  maus quando  o aceitam? Então a virtude consiste em servir o vício? Então o objetivo  moral dos bons  é imolar-se em benefício dos maus?   

  

A  resposta  de  que  vocês  se  esquivam,  a  resposta  monstruosa  é:  Não,  os  que  recebem não são maus, desde que eles não mereçam o valor que vocês lhes deram. Não é imoral para  eles  aceitar  a  dádiva,  desde  que  eles  sejam  incapazes  de  produzi-la,  incapazes  de merecê-la, incapazes de lhes dar algo  em troca. Não é imoral para eles encontrar prazer nela, desde que eles não a obtenham por direito.   

  

(…)   

  

Assim  como  não  pode  haver  riqueza  sem  causa,  assim  também  não  pode  haver  amor sem causa, nem  nenhuma emoção sem causa. Uma emoção é uma reação a um aspecto da realidade,  uma  estimativa  ditada  pelos seus  padrões: Amar  é  *valorizar*.  O  homem que  diz  que  é  possível  valorizar  sem  valores,  amar  aqueles  que  vocês  consideramdesprovidos de valor, é o homem que afirma que é possível enriquecer consumindo sem produzir, e que papel-moed a é tão valioso quanto ouro.   

  

(…)   

  

O  amor  é  a  manifestação  dos  valores  que  se  têm,  a  maior  recompensa  a  que  se  pode fazer jus através das qualidades  morais que se atingiram no caráter e na própria pessoa, o preço emocional pago por um homem pelo prazer que lhe proporcionam as virtudes de outro.  A  sua  moralidade  exige  que  vocês  divorciem  o  seu  amor  dos  seus  valores  e  o entreguem  a  qualquer  vagabundo,  não  como  uma  resposta a  seu  valor,  e  sim  como  um resposta  à  sua  necessidade;  não  como  recompensa,  mas  como  esmola;  não  como remuneração de virtudes,  mas como um cheque em branco concedido aos vícios. A sua moralidade lhes diz que o objetivo do amor é liberá-los das amarras da moralidade, que o amor  é superior ao  discernimento  moral, que  o verdadeiro amor transcende, perdoa  e sobrevive  a  toda  espécie  de  erro  em  seu  objeto,  e  quanto  maior  o  amor,  maior  a depravação  permitida  ao  amado.  Amar  um  homem  por  suas  virtudes  é  mesquinho  e humano,  diz  esta  moralidade;  amá-lo  por seus  defeitos  é  divino.  Amar aqueles  que são merecedores  de  valor  não  passa  de  interesse;  amar  os  que  não  merecem  amor  é sacrifício.   

  

(…)   

  

Qual  a  natureza  daquele  mundo  superior  ao  qual  vocês  sacrificam  esse  mundo  que realmente  existe?  Os  místicos  do  espírito  amaldiçoam  a  matéria,  os  místicos  da Sociedade amaldiçoam o lucro. Aqueles querem que os homens lucrem renunciando ao mundo;  estes,  que  os  homens  herdem  o  mundo  renunciando  ao  lucro.  Os  mundos  sem matéria e sem lucros por eles propostos são terras em que nos rios correr café com leite, brota vinho das pedras quando eles assim ordenam, caem pastéis do céu quando abrem a boca.  No  mundo  material  em  que  vivemos,  em  que as  pessoas  correm  atrás  do  lucro,  é necessário  um  investimento  enorme  de  virtude –  de  inteligência,  integridade,  energia  e capacidade – para construir uma ferrovia de um quilômetro de extensão; no  mundo sem matéria  e  sem  lucro  que  os  místicos  propõem,  viaja-se  de  um  planeta  a  outro  graças  à formulação  de  um  desejo.  Se  uma  pessoa  honesta  lhes  pergunta  ‘Como?’  –  eles respondem, com indignação e escárnio, que ‘como’ é um conceito de realistas vulgares; o  conceito  dos  espíritos superiores  é ‘de algum  modo’.  Neste  nosso  mundo  circunscrito pela matéria e o lucro, as recompensa requerem o pensamento; num mundo libertado de tais restrições, basta desejar.   

  

(…)   

  

Toda  vez  que  vocês  se  revoltam  contra  a  causalidade,  o  que  os  motiva  é  o  desejo fraudulento  não  de  escapar  dela,  mas,  o  que  é  pior,  de  invertê-la.  Vocês  querem  amor imerecido,  como  se  amor,  que  é  efeito,  lher  pudesse  atribuir  valor  pessoal,  que  é  a causa;  querem  admiração  imerecida,  como  se  a  admiração,  o  efeito,  pudesse  lhes conferir  virtude,  a  causa;  querem  riquezas  imerecidas,  como  se  a  riqueza,  o  efeito, pudesse  lhes  conferir  capacidade,  a  causa;  imploram  por  piedade,  PIEDADE  não justiça,  como  se  um  perdão  imerecido  pudesse  ter  o  efeito  de  apagar  a  causa  do  seu pedido  de  misericórdia.  E  para  permitirem  estas  suas  falsificações  mesquinhas,  vocês defendem as doutrinas de seus mestres, enquanto eles andam por aí proclamando que osgastos,  que  são  o  efeito,  é  que  criam  as  riquezas,  que  é  a  causa;  que  as  máquinas,  o efeito, criam a inteligência, a causa; que os seus desejos sexuais, o efeito, criam os seus valores filosóficos, a causa.   

  

(…)   

  

A  vida  entre  vocês  é  um  gigantesco  fingimento,  uma  farsa  que um  representa  para  o outro,  cada  um  se  achando  o  único  diferente,  o  único  culpado,  cada  um  atribuindo  a autoridade  moral  ao  incognoscível  que  só  os  outros  conhecem,  cada  um  falseando  arealidade  que  acha  que  os  outros  querem  que  ele  falseie,  nenhum  com  a coragem  de quebrar o círculo vicioso.   

  

(…)   

  

Para vocês, a moralidade é um espantalho constituído de dever, tédio, castigo e dor, um cruzamento  da  primeira  professora  que  vocês  tiveram  no  primário  com  o  coletor  de impostos  de  agora,  um  espantalho  colocado  num  campo  estéril,  sacudindo  uma  vara para espantar os seus prazeres – e prazer, para vocês  é um cérebro empapado de álcool, uma  prostituta  animalesca,  o  estupor  de  um  imbecil  que  aposta  dinheiro  numa  corrida de animais, pois o prazer não pode ser algo moralmente correto.   

  

(…)   

  

Aceitem  o fato  de  que  vocês  não são  oniscientes,  mas saibam  que  bancar  o  zumbi  não vai torná-los oniscientes; aceitem o fato de que a sua mente é falível, mas admitam que livrar-se da mente não vai torná-los infalíveis; aceitem o fato de que um erro que vocês cometeram  por  iniciativa  própria  é  mais  seguro  do  que  dez  verdades  aceitas  por  fé, porque a sua iniciativa lhes dá os meios de corrigi-lo, enquanto a mera aceitação destrói a sua capacidade de distinguir a verdade do erro. Substituam o seu sonho de autômatos oniscientes, aceitem  o  fato  de  que todo  conhecimento  que  o  homem  adquire  é  fruto  de sua  própria  vontade  e  de  seu  próprio  esforço,  e  que  isto  é  que  o  distingue  no  universo, esta é a sua natureza, sua moralidade, sua glória.   

  

(…)   

  

Aquilo  que  vocês  não  sabem  não  pode  representar  uma  acusação  moral  contra  vocês; mas  aquilo  que  vocês  se  recusam  a  saber  é  marca  da  infâmia  que  cresce  na  sua  alma. Tenham  toda  a  tolerância  possível  com  os  erros  de  conhecimento;  não  perdoem nem aceitem nenhum deslize moral.   

  

(…)   

  

Um passo básico na aprendizagem do amor-próprio é encarar como sinal de canibalismo toda *exigência* de ajuda. O homem que exige ajuda de vocês está afirmando que a sua vida  é  propriedade  dele  –  e  por  mais  repugnante  que  isso  seja,  há  algo  ainda  mais repugnante: concordar e aceitar. Perguntam vocês: é bom ajudar outro homem? Não, se ele afirma que se trata de um direito dele ou de um dever moral seu; sim, se isto é o que vocês desejam, com base  no prazer egoísta que lhes proporciona o  *valor* da pessoa  e da  *luta* do outro. O sofrimento, enquanto tal, não é valor. Só a luta do homem contra o sofrimento o é.   

  

(…)   

  

Direitos são um conceito moral – e a moral é uma questão de escolha. Os homens têm a liberdade de não optar pela sobrevivência do homem como padrão de sua  moralidade  e de  suas  leis,  mas  não  a  de  esquivar-se  do fato  de  que a alternativa  é  uma  sociedade  de canibais,  que  existe  por  algum  tempo  devorando  o  que  ela  tem  de  melhor  e  depois  cai como  um  corpo  canceroso,  quando  os  saudáveis  já  foram  comidos  pelos  doentes, quando  os  racionais  já  foram  consumidos  pelos  irracionais.  Este  sempre  foi  o  destino histórico das sociedades, mas vocês se esquivaram do conhecimento da causa. 

  

(…)   

 

Vocês  resolveram  achar que  era  injusto  que  nós,  que  retiramos  vocês  das  choupanas  e lhes demos apartamentos  modernos, rádios, cinemas e automóveis, tivéssemos palácios e  iates  –  resolveram  que  vocês  tinham  direito  a  receber  seu  salário,  mas  nós  não tínhamos  direito  de receber  nossos  lucros;  que  vocês  não  queriam  que  lidássemos  com as suas mentes e sim com as suas armas, mas nossa resposta foi: ‘pois que se danem!’ E foi o que de fato aconteceu. Vocês se danaram.   

(…)

Seu mundo é somente o produto dos seus sacrifícios. Enquanto você estava arrastando para os altares do sacrifício os homens que tornaram possível sua felicidade, eu o venci. Eu cheguei primeiro e contei para eles o jogo que você estava jogando e onde isso iria os levar. Eu expliquei as consequências da sua moralidade de ‘amor entre irmãos’, que eles tinham sido inocentemente generosos demais para entender. Você não irá encontrá-los agora, quando você precisa deles mais do que nunca. 

 

Nós estamos em greve contra seu credo de recompensas não merecidas e deveres não recompensados. Se você quer saber como eu os fiz desistir, eu contei a eles exatamente o que estou dizendo a você esta noite. Eu ensinei para eles a moralidade da Razão – que era certo buscar a própria felicidade como principal sentido da vida. Eu não considero o prazer de outros como o sentido da minha vida, nem considero que meu prazer deva ser o sentido da vida de outra pessoa. 

 

Eu sou um comerciante. Eu obtenho tudo o que tenho em troca das coisas que eu produzo. Eu não peço nada mais nem nada menos do que eu fiz por merecer. Isto é justiça. A força é um grande mal que não tem lugar num mundo racional. Não se pode jamais forçar um ser humano a agir contra seu próprio julgamento. Se você nega a um homem o direito de raciocinar, você deve negar seu próprio direito ao seu próprio julgamento. No entanto você permitiu que seu mundo seja governado por meio da força, por homens que alegam que medo e alegria são incentivos similares, mas medo e força são mais práticos. 

 

Você permitiu que tais homens ocupassem posições de poder no seu mundo pregando que todos os homens são maus desde o nascimento. Quando homens acreditam nisso, eles não vêem nada errado em agir como quiserem. O nome desse absurdo é ‘pecado original’. Isso é impossível: o que está fora da possibilidade de escolha está também fora do alcance da moralidade. Chamar de pecado algo que independe da escolha do homem é fazer piada da justiça. Dizer que os homens nascem com livre arbítrio mas com uma tendência à maldade é ridículo. Se a tendência é uma escolha, não veio ao nascer. Se a tendência não é uma escolha, então o homem não tem livre-arbítrio. 

 

E então surge a sua moralidade de ‘amor entre irmãos’. Porque é moral servir aos outros, mas não a você mesmo? Se a felicidade é um valor, porque é moral quando sentida pelos outros, mas não por você? Porque é imoral produzir uma coisa de valor e guardar para si mesmo, quando é moral para os outros, que não a produziram, aceitá-la? Se há virtude em dar, não é então egoísmo receber? 

 

Sua aceitação do código do altruísmo faz você temer o homem que tem um dólar a menos que você porque isso faz você sentir que esse dólar é, por direito, dele. Você odeia o homem com um dólar a mais que você porque o dólar que ele está guardando é seu por direito. Seu código tornou impossível saber quando é hora de dar e quando é hora de tomar. 

 

Você sabe que não pode dar tudo o que tem e morrer de fome. Você se forçou a viver com uma culpa irracional e não merecida. É apropriado ajudar outro homem? Não, se ele cobra isso como se fosse um direito dele ou como algo que você deve a ele. Sim, se é a sua própria escolha, baseada no seu julgamento do valor daquela pessoa e suas dificuldades. Este país não foi construído por homens que buscavam coisas grátis. Na sua brilhante juventude, este país mostrou ao resto do mundo que a grandeza era possível ao Homem e que felicidade era possível na Terra. 

 

Então o país começou a se desculpar por sua grandeza e começou a dar sua riqueza, sentindo-se culpado por ter produzido mais que seus vizinhos. Há 12 anos atrás eu percebi o que estava errado no mundo e onde a batalha pela Vida tinha que ser lutada. Eu vi que o inimigo era uma moralidade invertida e que minha aceitação desta moralidade era seu único poder. Eu fui o primeiro dos homens que se recusaram a desistir de buscar sua própria felicidade porque eu não queria apenas servir aos outros. 

 

Para aqueles de vocês que ainda guardam um resquício de dignidade e a vontade de viver suas vidas por vocês mesmos, ainda há chance de fazer a mesma escolha. Examine seus valores e entenda que você deve escolher um lado. Qualquer meio-termo entre o bem e o mal somente serve para ferir os bons e ajudar os maus. 

 

Se você entendeu o que eu disse, pare de apoiar seus destruidores. Não aceite a filosofia deles. Seus destruidores seguram você por causa de sua resistência, sua generosidade, sua inocência e seu amor. Não destrua a si mesmo para ajudar a construir o tipo de mundo que você vê ao seu redor. Em nome do melhor que há em você, não sacrifique o mundo por aqueles que irão tomar sua felicidade por causa dele. 

 

O mundo irá mudar quando você estiver pronto para pronunciar este juramento: 

 

Eu juro pela minha Vida e pelo meu amor por ela que nunca irei viver em função de outro homem, nem vou pedir a outro homem que viva em função de mim. 

por Ayn Rand


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