Leia em 41 minutos.
Este texto foi lambido por 185 almas esse mês
O ZOAR E O RABINO SHIMON.
A maior, dentre as obras cabalísticas dos hebreus – o Zohar, – foi compilada pelo Rabino Shimon bem Yohai. De acordo com alguns críticos, esse trabalho foi feito alguns anos antes da era cristã; segundo outros, só após a destruição do templo. Todavia, ele só foi completado pelo filho de Shimon, o Rabino Eleazar, e por seu secretário, o Rabino Abba, pois a obra é tão imensa e os assuntos nela tratados são tão abstrusos, que nem mesmo a vida inteira desse Rabino, chamado o Príncipe dos cabalistas, seria suficiente para essa tarefa. Devido ao fato de se saber que ele possuía esse conhecimento, como o da Merkabah, que lhe assegurou o recebimento da “Palavra”, sua vida foi posta em perigo e ele teve de fugir para o deserto, onde viveu numa caverna durante doze anos, cercado por discípulos fiéis, até a sua morte assinalada por sinais e maravilhas.
Na venerável seita dos tannaim, os homens sábios, houve aqueles que ensinaram, na prática, os segredos e iniciaram alguns discípulos no grande mistério final. Mas o Mishnah Hagîgâh, segunda seção, diz que o conteúdo da Merkabah “só deve ser confiado aos sábios anciães”. A Gemara [do Hagîgâh] é ainda mais dogmática. “Os segredos mais importantes dos mistérios não eram revelados a todos os sacerdotes. Só os iniciados os recebiam”. E vemos então que o mesmo grande sigilo prevalecia em toda religião antiga.
Como vemos, nem o Zohar nem qualquer outro tratado cabalístico contém doutrina puramente judaica a própria, sendo um resultado de milênios de pensamentos, é patrimônio comum dos adeptos de todas as nações que viram o Sol. Não obstante, o Zohar ensina mais ocultismo prático do que qualquer outra obra sobre esse assunto; não como ele foi traduzido e comentado por vários críticos, mas com os sinais secretos de suas margens. Esses sinais contem as instruções ocultas necessárias às interpretações metafísicas e aos absurdos aparentes em que acreditou tão completamente Josefo, que nunca foi iniciado e que expôs a letra morta tal como a recebera.
A verdadeira magia prática contida no Zohar e em outras obras cabalísticas só deve ser utilizada por aqueles que as podem ler interiormente. Os apóstolos cristãos – pelo menos aqueles que operavam “milagres”
(*) à vontade – deviam estar inteirados desta ciência.
São João alude claramente à poderosa “cornalina branca” – uma gema bastante conhecida pelos adeptos como “alba petra” ou pedra da iniciação, sobre a qual se gravava quase sempre a palavra “prêmio” e que era dada ao candidato que vencia com sucesso as provas preliminares por que um neófito deveria passar. O fato é que nada menos do que o Livro de Jó, bem como o Apocalipse, é simplesmente uma narrativa alegórica dos mistérios e da iniciação ali de um candidato, que é o próprio João. Nenhum maçom de grau superior, versado nos diferentes graus, o compreenderá de maneira diferente. Os números sete, doze e outros são outras tantas luzes lançadas sobre a obscuridade da obra. Paracelso afirmava a mesma coisa alguns séculos atrás. E quando vemos “o semelhante ao Filho de um homem” dizer (Apocalipse II, 17): “ao vencedor darei de comer o maná oculto e uma PEDRA BRANCA com um novo nome escrito” – a palavra – “que não conhece senão quem o recebe”, qual Mestre maçom titubeará em reconhecer essas palavras “JAH-BUH- UN”.
HÓSTIA, UMA TRADIÇÃO PRÉ-CRISTÃ.
Nos mistérios míticos pré-cristãos, os candidatos que triunfavam intrepidamente das “doze provas”, que precediam a iniciação, recebiam um pequeno bolo redondo ou hóstia de pão àzimo que simbolizava, em um dos seus significados, o disco solar, e era tido como pão celeste ou “maná” e que tinha figuras desenhadas sobre ele. Um carneiro ou um touro era morto e, com o seu sangue, o candidato era aspergido, como no caso da iniciação do imperador Juliano. As sete regras ou mistérios – representados no Apocalipse como sete selos que são abertos “em ordem” – eram então confiados ao “nascido de novo”. Não há dúvida de que o Vidente de Patmos referia-se a essa cerimônia.
A origem dos amuletos católicos romanos e das “relíquias” abençoadas pelo Papa é a mesma do “Conjuro Efésio”, ou caracteres mágicos gravados numa pedra ou desenhados sobre um pedaço de pergaminho, dos amuletos judaicos com versículos da Lei, chamados phylacteria, e dos encantamentos maometanos com versos do Corão. Todos eles usados como conjuros mágicos protetores e utilizados por todos os crentes. Epifânio, o digno ex-marcosiano, que fala desses encantamentos – quando eram usados pelos maniqueus como amuletos, isto é, coisas colocadas ao redor do pescoço (periapta) – e dessas “encantações e trapaças semelhantes”, não pode lançar uma nódoa sobre a “trapaça” dos cristãos e dos gnósticos sem incluir aí os amuletos católicos romanos e papais.
Devemos um capítulo aos jesuítas neste capítulo sobre as sociedades secretas, pois mais do que qualquer outra, eles são um corpo secreto e têm uma velha ligação mais estreita com a Maçonaria atual – na França e na Alemanha pelo menos – do que as pessoas geralmente sabem. O clamor de uma moralidade pública ultrajada ergueu-se contra essa Ordem desde o seu nascimento. Apenas quinze anos haviam passado desde a bula [papal] que promulgara a sua constituição, quando os seus membros começaram a ser transferidos de um lugar para outro. Portugal e os Países-Baixos desfizeram-se deles em 1578; a França em 1594; Veneza em 1606; Nápoles em 1622. De São Petersburgo, eles foram expulsos em 1816, e, de toda a Rússia, em 1820.
Os jesuítas causaram mais danos morais neste mundo do que todos os exércitos infernais do mítico Satã. Toda extravagância dessa observação desaparecerá quando os nossos leitores da América, que sabem pouco sobre eles, forem inteirados dos seus princípios (principia) e regras que constam de várias obras escritas pelos próprios jesuítas. Pedimos licença para lembrar ao público que cada uma das afirmações foram extraídas de manuscritos autênticos ou fólios impressos por esse distinto corpo. Muitas delas foram copiadas de um grande Quarto publicado, verificado e coligido pelos Comissários do Parlamento Francês. As afirmações ali reunidas foram apresentadas ao Rei a fim de que, como enuncia o Arrest du Parlement du 5 Mars 1762, “o filho mais velho da Igreja fosse conscientizado da perversidade dessa doutrina. (…) Uma doutrina que autoriza o Roubo, a Mentira, o Perjúrio, a Impureza, toda Paixão e Crime, que ensina o Homicídio, o Parricídio e o Regicídio, destruindo a religião a fim de substituí-la pela superstição, favorecendo a Feitiçaria, a Blasfêmia, a Irreligião e a Idolatria (…), etc.” Examinemos as idéias dos jesuítas sobre a magia. Escrevendo a esse respeito em suas instruções secretas, Antonio Escobar diz:
“É lícito (…) fazer uso da ciência adquirida por meio do auxílio do diabo, desde que seja preservada e não utilizada em proveito do diabo, pois o conhecimento é bom em si mesmo e o pecado de adquiri-lo foi eliminado”. Portanto, por que um jesuíta não enganaria o Diabo, já que engana tão bem os leigos?
“Os astrólogos e os adivinhos estão ou não obrigados a restituir o prêmio de sua adivinhação, quando o evento não se realizar? Eu reconheço” – observa o bom Padre Escobar – “que a primeira opinião não agrada de maneira alguma, porque, quando o astrólogo ou adivinho exerceu toda diligência na arte diabólica que é essencial a seu propósito, ele cumpriu a sua tarefa, seja qual for o resultado. Assim como o médico (…) não é obrigado a restituir os honorários (…) se o paciente morrer, tampouco o astrólogo deve devolver os seus (…) exceto quando ele não se esforçou ou ignora sua arte diabólica, porque, quando ele se empenha, ele não falha”.
Essa nobre fraternidade, à qual muitos pregadores têm negado veementemente o fato de ser secreta, tem provado sê-lo. Suas constituições foram traduzidas, para o latim pelo jesuíta Polanco e impressas, no Colégio da Companhia, em Roma, em 1558. “Elas foram zelosamente mantidas em segredo e a maior parte
dos próprios jesuítas só conhecia extratos delas. Elas nunca foram reveladas antes de 1761, quando publicadas pelo Parlamento Francês [em 1761, 1762], no famoso processo do Padre La Valette”. Os graus da Ordem são: I. Noviços; II. Irmãos Leigos ou Coadjuvantes temporais; III. Escolásticos; IV. Coadjuvantes espirituais; V. Professos de Três Votos; VI. Professos de Cinco Votos. “Há também uma classe secreta, conhecida apenas do Geral e de alguns poucos jesuítas fieis, que, talvez mais do que qualquer outra, tenha contribuído para o poder terrível e misterioso da Ordem”, diz Nicolini. Os jesuítas reconhecem, dentre as maiores consecuções de sua Ordem, o fato de Loiola ter conseguido, por um memorial especial do Papa, uma petição para a reorganização daquele instrumento abominável e repugnante de carnificina por atacado – o infame tribunal da Inquisição.
Mas devemos ver quais são as suas regras principais. Diz MacKenzie: “A Ordem possui sinais secretos e senhas diferentes para cada um dos graus a que os membros pertencem e, como não levam nenhuma vestimenta particular, é difícil reconhecê-los, a menos que eles próprios se revelem como membros da Ordem; eles podem apresentar-se como protestantes ou católicos, democratas ou aristocratas, infiéis ou beatos, segundo a missão especial que lhes foi confiada. Seus espiões estão por toda parte, pertencem a todas as classes da sociedade e podem parecer cultos e sábios ou simplórios e mentecaptos, conforme mandam as regras. Há jesuítas de ambos os sexos e de todas as idades; é bastante conhecido o fato de que membros da Ordem, de família distinta e de educação refinada, trabalham como criados para famílias protestantes e fazem outras coisas de natureza similar para melhor servir aos interesses da Sociedade.
SIMÃO O MAGO DISCÍPULO DA SAMÁRIA.
Simão, o Mago, era sem dúvida um discípulo dos tannaim da Samaria; a reputação que adquiriu com os seus prodígios, que lhe valeram o título de “o Grande Poder de Deus”, testemunha eloqüente em favor da habilidade dos seus mestres. As calúnias tão cuidadosamente disseminadas contra ele pelos autores e compiladores desconhecidos dos Atos e de outros escritos não podem danificar a verdade a ponto de ocultar o fato de que nenhum cristão podia rivalizar com ele em ações taumatúrgicas. É absolutamente ridícula a história de que ele, durante um vôo aéreo, teria caído e quebrado as pernas e cometido suicídio. Em vez de pedir mentalmente que isso acontecesse, por que os apóstolos não pediam que lhes fosse permitido superar Simão em maravilhas e milagres, para assim provarem facilmente a superioridade de seu poder e converterem milhões ao Cristianismo? A posteridade só ouviu um lado da história. Tivessem tido os discípulos de Simão uma única oportunidade, e acharíamos, talvez, que foi Pedro que quebrou as suas pernas, se não soubéssemos que esse apóstolo era prudente demais para se aventurar até Roma. Segundo a confissão de muitos escritores eclesiásticos, nenhum apóstolo operou essas “maravilhas sobrenaturais”. Naturalmente as pessoas piedosas dirão que isso prova precisamente que foi o “Diabo” que operou por intermédio de Simão.
Simão foi acusado de blasfêmia contra o Espírito Santo, porque o apresentou como o “Espírito Santo, a Mens (Inteligência) ou a mãe de tudo”. Mas encontramos a mesma expressão no Livro de Enoc, em que, em contraposição ao “Filho do Homem”, ele diz “Filho da Mulher”. No Codex dos nazarenos, e no Zohar, bem como nos Livros de Hermes, a expressão é usual; e até no apócrifo Evangelho dos Hebreus lemos que o próprio Jesus admitiu o sexo do Espírito Santo ao usar a expressão “Minha mãe, o Pneuma Santo”.
Como é possível, então, acusar Simão, o Mago, de ser ele um blasfemador, se ele apenas fez aquilo que a sua consciência invencivelmente lhe ordenou ser verdadeiro? E, em que aspecto os hereges, ou mesmo os infiéis da pior espécie, são mais repreensíveis do que os jesuítas – os de Caen, por exemplo – que dizem:
“(A religião cristã) é (…) evidentemente crível, mas não evidentemente verdadeira. Ela é evidentemente crível, pois é evidente que quem quer que a abrace é prudente. Ela não é evidentemente verdadeira, porque ou ela ensina obscuramente ou as coisas que ela ensina são obscuras. E aqueles que afirmam que a religião cristã é evidentemente verdadeira vêem-se obrigados a confessar que ela é evidentemente falsa (Posição 5).
“Donde se infere –
“1. Que não é evidente – que haja agora qualquer religião verdadeira no mundo.
“2. Que não é evidente – que, de todas as religiões existente sobre a terra, a religião católica seja a única verdadeira; viajastes por todos os países do mundo, ou conheceis as religiões que aí se professam? (..)
(……………………………………………………………………………………………………………………..)
“4. Que não é evidente que as previsões dos profetas fossem fundadas por inspiração de Deus; pois que refutação faríeis contra mim, se nego que eram profecias verdadeiras, ou se afirmo que eram apenas conjecturas?
“5. Que não é evidente que os milagres eram reais, que foram elaborados por Cristo; embora ninguém possa prudentemente negá-los (Posição 6).
“Tampouco é necessária aos cristãos uma crença explícita em Jesus Cristo, na Trindade, em todos os Artigos de Fé e no Decálogo. A única crença explícita que era necessária aos últimos (os cristãos) é 1, Em Deus; 2, Em um Deus recompensador”(Posição 8).
A profecia de Hermes é menos equívoca do que as alegadas profecias de Isaias, que facilitaram um pretexto para que se qualificasse de demônios, os deuses de todas as nações. Mas os fatos são mais fortes, às vezes, do que a fé mais robusta. Tudo que os judeus aprenderam, eles o receberam de nações mais velhas que a deles. Os magos caldaicos foram os seus mestres na doutrina secreta e foi durante o cativeiro da Babilônia que aprenderam os preceitos, tanto metafísicos, quanto práticos. Plínio menciona três escolas de magos: uma fundada em uma época desconhecida; outra, estabelecida por Osthanes e Zoroastro; a terceira, por Moisés e Jennes. E todo o conhecimento possuído por essas escolas diferentes, fossem elas mágicas, egípcias ou judaicas, derivou da Índia, ou antes de ambos os lados do Himalaia. Mais do que um segredo perdido repousa sob as vastas extensões de areia do deserto de Gobi, no Turquestão Oriental e os sábios do Khotan preservam tradições estranhas e o conhecimento da Alquimia.
A ALMA UM SER OBJETIVO POR SI MESMA.
O Barão Bunsen demostra que “a origem das preces e dos hinos antigos do Livro dos Mortos egípcios é anterior a Menes e pertence, provavelmente, à dinastia pré-menita de Abydos, entre 3100 e 4500 a.C.”. O erudito egiptólogo remonta a era de Menes, ou Império Nacional, ao ano 3059 a.C. e demonstra que “o sistema de adoração e da mitologia osiriana já estava formado” antes da era de Menes.
Encontramos nos hinos dessa época pré-edênica cientificamente estabelecida (pois Bunsen leva muitos séculos para trás o ano da criação do mundo, 4.004 a.C., fixado pela cronologia bíblica) lições precisas de moralidade, idênticas em substância e na forma e na expressão muito parecidas, com aquelas que foram pregadas pôr Jesus no seu Sermão da Montanha. É o que se pode inferir das investigações levadas a efeito pelos egiptólogos e hierologistas mais eminentes. “As inscrições da décima segunda Dinastia estão plenas de formas ritualistas”, diz Bunsen. Extratos dos Livros Herméticos foram encontrados em monumentos das dinastias mais antigas e “não são incomuns os trechos de um ritual antigo, nos da décima segunda dinastia. (…) Alimentar o faminto, dar de beber ao sedento, vestir o nu, cremar o morto (…) constituíam a primeira tarefa de um homem piedoso (…). A doutrina da imortalidade da alma é tão antiga quanto ao período de 3100 e 4500 a.C..
É mais antiga ainda, talvez. Ela data da época em que a alma era um ser objetivo e, portanto, não podia ser negada pôr si mesma; em que a Humanidade era uma raça espiritual e a morte não existia. Por volta do declínio do ciclo da vida, o homem-espírito etéreo caiu no doce cochilo da inconsciência temporária em uma esfera para despertar na luz ainda mais brilhante de um esfera mais elevada. Mas ao passo que o homem espiritual se esforça continuamente para ascender cada vez mais à sua fonte de origem, passando pelos ciclos e esferas da vida individual, o homem físico tem de descer com o grande ciclo da criação universal até se revestir das vestes terrestres. Então a alma foi de tal maneira sepultada sob a vestimenta física, na tentativa de reafirmar a sua existência, exceto nos casos de naturezas mais espirituais, que, em cada ciclo, ela se tornou cada vez mais rara. Embora nenhuma das nações pré-histórica tivesse pensado em negar a existência ou a imortalidade do homem interior, o “Eu” Real. Devemos ter em mente os ensinamentos dos antigos filósofos: só o Espírito é Imortal – a alma, per se, não é eterna, nem divina. Quando ligada muito estritamente ao cérebro físico do seu envoltório terrestre, torna-se gradualmente uma mente finita, o mero princípio da vida animal e senciente, o nephesh da Bíblia hebraica.
A doutrina da natureza trina do homem está tão claramente definida nos livros herméticos quanto no sistema platônico, ou ainda nas filosofias budista e bramânica. E este é um dos ensinamentos mais importantes e menos conhecido das doutrinas da ciência hermética.
Os mistérios egípcios, tão imperfeitamente conhecidos pelo mundo, e aos quais poucas e breves alusões são feitas nas Metamorfoses de Apuleio, ensinaram as maiores virtudes. Eles revelaram ao aspirante aos mistérios “mais elevados” da iniciação aquilo que muitos dos nossos estudantes hermetistas modernos procuram em vão nos livros cabalísticos e que os ensinamentos obscuros da Igreja, sob a direção da Ordem dos Jesuítas, nunca poderão revelar. Comparar, então, as antigas sociedades secretas dos hierofantes, com as alucinações artificialmente produzidas desses poucos seguidores de Loiola, por mais sinceros que eles fossem no começo de sua carreira, é um insulto para com as primeiras. Um dos obstáculos mais difíceis para a iniciação, entre os egípcios, como entre os gregos, era ter cometido um assassinato em qualquer grau. Um dos maiores títulos para admissão na Ordem dos Jesuítas é um assassinato em defesa do jesuitismo. “As crianças podem matar os seus pais, se estes as compelirem a abandonara fé católica.”
JULGAMENTO DA ALMA PELOS EGÍPCIOS, APÓS A MORTE FÍSICA.
No Egito, todas as cidades importantes estavam separadas do cemitério por um lago sagrado. A mesma cerimônia de julgamento que o Livro dos Mortos descreve como ocorrendo no mundo do Espírito era realizada na terra, durante o sepultamento da múmia. Quarenta e dois juizes ou assessores reuniam-se na margem do lago e julgavam a “alma” falecida segundo as suas ações praticadas quando estava no corpo; só depois de uma aprovação unânime por parte do júri post-mortem é que o barqueiro, que representava o Espírito da Morte, poderia levar o corpo do defunto absolvido até o local do seu repouso. Depois, os sacerdotes retornavam aos recintos sagrados e instruíam os neófitos sobre o provável drama solene que se desenrolava no reino invisível para o qual a alma se dirigia. A imortalidade do espírito era fortemente inculcada pelo Al-om-jah. O Crata Repoa descreve, como segue, os sete graus da iniciação.
Depois de um julgamento preliminar em Tebas, onde o neófito deveria passar por muitas provas, chamadas de “Doze provas”, era-lhe ordenado governar suas paixões e nunca, em momento algum, deveria afastar de seu pensamento a idéia de Deus. Depois, como um símbolo da peregrinação da alma impura, ele devia subir várias escalas e vagar às escuras numa caverna com muitas portas, todas fechadas. Se triunfava dessas terríveis provas, recebia o grau de Pastophoros, sendo que o segundo e o terceiro grau eram chamados de Neocoris e Melanêphoros. Levado a uma vasta cripta subterrânea abundantemente povoada de múmias ali colocadas com muito aparato, ele era deixado defronte a um ataúde que continha o corpo mutilado de Osíris coberto de sangue. Esse era o salão chamado “Portão da Morte” e com certeza é a esse mistério que aludem algumas passagens do Livro de Jó (XXXVIII, 17) e porções da Bíblia quando nela se fala desses portões. No capítulo X, damos a interpretação esotérica do Livro de Jó, que é um poema da iniciação par excellence.
“Os portões da morte se abriram para vós?
Ou vistes as portas da sombra da morte?”
pergunta o “Senhor” – isto é, o Al-om-jah, o Iniciador – de Jó, aludindo a esse terceiro grau da iniciação.
Quando o neófito vencia os terrores desse julgamento, era conduzido ao “Salão dos Espíritos” para ser por eles julgados. Entre as regras nas quais era instruído, era-lhe ordenado “nunca desejar ou procurar vingança; estar sempre pronto a ajudar um irmão em perigo, mesmo com risco de sua própria vida; enterrar todos os mortos; honrar seus pais acima de tudo; respeitar os anciães e proteger os mais fracos que ele e, finalmente, ter sempre em mente a hora da morte e a da ressurreição num corpo novo e imperecível”. Pureza e castidade eram altamente recomendadas e o adultério era punido com a morte.
Então o neófito egípcio tornava-se um Kistophoros. Nesse grau, o nome-mistério IAÔ era comunicado a ele. O quinto grau era o de Balahate e então ele era instruído por Hórus em alquimia, chemi. No sexto, era-lhe ensinada a dança sacerdotal no círculo, ocasião em que era instruído em astronomia, pois a dança representava o curso dos planetas. No sétimo grau, era iniciado nos mistérios finais. Após uma aprovação final num edifício isolado, o Astrônomos, como era agora chamado, emergia desses aposentos sagrados chamados Maneras e recebia uma cruz – o Tao – que, por ocasião de sua morte, devia ser colocada sobre o peito. Ele era um hierofante.
OS RITUAIS DOS EGÍPCIOS.
No Ritual Funerário dos egípcios, encontrado entre os hinos do Livro dos Mortos, e que é chamado por Bunsen de “esse livro precioso e misterioso”, lemos um discurso do defunto, agora sob a forma de Hórus, que detalha tudo e que ele realizou para seu pai Osíris. Entre outras coisas, a divindade diz:
“30 Dei-vos Espírito.
31 Dei-vos Alma.
32 Dei-vos poder.
33 Dei-vos [força]”.
Em outro lugar, a entidade, chamada de “Pai” pela alma desencarnada, representa o “espírito” do homem; pois o versículo diz: “Fiz minha alma falar com seu Pai”, seu Espírito.
Os egípcios consideravam o seu Ritual como uma inspiração essencialmente Divina; em síntese, o mesmo que os hindus modernos em relação aos Vedas e os judeus modernos quanto aos livros mosaicos. Bunsen e Lepsius mostram que o termo hermético significa inspirado, porque é Thoth, a própria Divindade, que fala e revela ao seu eleito entre os homens a vontade de Deus e os arcanos das coisas divinas. Nesses livros há passagens inteiras que se diz terem sido “escritas pelo próprio dedo de Thoth, são obras e composição do grande Deus”. “Num período posterior, o seu caráter hermético ainda é mais distintamente reconhecido e, num ataúde da 26º Dinastia, Hórus anuncia ao morto que ‘o próprio Thoth lhe trouxe os livros das suas obras divinas’, ou escritos herméticos”.
Dado que sabemos que Moisés era um sacerdote egípcio, ou pelo menos ele era versado em toda a sua sabedoria, não devemos nos espantar que ele escrevesse no Deuteronômio (IX, 10) que “E o Senhor me entregou duas tábuas de pedra escritas pelo dedo de DEUS”; ou que leiamos no Êxodo, XXXI, 18 que “E Ele [o Senhor] deu a Moisés (…) duas tábuas do testamento, tábuas de pedra, escrita pelo dedo de Deus”.
Nas noções egípcias, como nas de todas as outras fés fundamentais na filosofia, o homem não era apenas, como afirmam os cristãos uma união de alma e corpo; ele era uma trindade de que o espírito fazia parte. Além disso, aquela doutrina o considerava composto de kha – corpo; khaba – forma astral, ou sombra; ka – alma animal ou princípio vital; ba – a alma superior; e akh – inteligência terrestre. Havia ainda um sexto princípio chamado sha – ou múmia; mas as suas funções só tinham início após a morte do corpo. Após a devida purificação, durante a qual a alma, separada do seu corpo, visitava com freqüência o cadáver
mumificado do seu corpo físico, essa alma astral “tornava-se um Deus”, pois ela era finalmente absorvida na Alma do mundo”. Transformava-se numa das divindades criadoras, “o deus do Phtah”, o Demiurgo, um nome genérico para os criadores do mundo, traduzido na Bíblia como Elohim. No Ritual, a alma boa ou purificada, “em conjunto com seu espírito superior ou não-criado”, é mais ou menos a vítima da influência tenebrosa do dragão Apophis. Se chegou ao conhecimento final dos mistérios celestiais e infernais – a gnoses, isto é, reunião completa com o espírito -, ela triunfará dos seus inimigos; se não, a alma não pode escapar à sua segunda morte. Essa morte é a dissolução gradual da forma astral nos seus elementos primários, aos quais já aludimos diversas vezes ao longo desta obra. Mas essa sorte terrível pode ser evitada pelo conhecimento do “Nome Misterioso” – a “Palavra”, dizem os cabalistas.
Mas, então qual a pena vinculada à negligência do seu conhecimento? Quando um homem leva uma vida naturalmente pura e virtuosa, não há castigo algum, exceto uma permanência no mundo dos espíritos até que se encontre suficientemente purificado para recebê-la do seu “Senhor” Espiritual, um da Hoste poderosa. Por outro lado, se a “alma” *, enquanto um princípio semi-animal queda-se imóvel e cresce inconsciente de sua metade subjetiva – o Senhor – e proporcionalmente ao desenvolvimento sensual do cérebro e dos nervos, ela mais cedo ou mais tarde se esquecerá da sua missão divina na Terra. Como o Vurdalak, ou Vampiro, do conto sérvio, o cérebro se alimenta e vive e se fortifica às expensas do seu parente espiritual. Então, a alma já semi-inconsciente, agora completamente embriagada pelos vapores da vida terrena, perde os sentidos e a esperança de redenção. É incapaz de vislumbrar o esplendor do espírito superior, de ouvir as admoestações do “Anjo guardião” e de seu “Deus”. Ela só pretende o desenvolvimento e uma compreensão mais completa da vida natural, terrena; e, assim, só pode descobri os mistérios da natureza física. Suas penas e seus temores, sua esperança e sua alegria – tudo isso está estritamente ligado à sua existência terrestre. Ela ignora tudo o que pode ser demostrado pelos órgãos de ação ou sensação. Começa por se tornar virtualmente morta; morre completamente. Está aniquilada. Tal catástrofe pode ocorrer, muitas vezes, muitos anos antes da separação final do princípio vital do corpo. Quando chega a morte, seu férreo e perigoso domínio se debate com a vida; mas há mais alma a liberar. A única essência dessa última já foi absorvida pelo sistema vital do homem físico. A morte implacável libera apenas um cadáver espiritual; no melhor dos casos, um idiota. Incapaz de se elevar para regiões mais altas ou de despertar da letargia, ela se dissolve rapidamente nos elementos da atmosfera terrestre.
Os videntes, homens corretos que lograram a ciência mais elevada do homem interior e do conhecimento da verdade, têm, como Marco Antônio, recebido instruções “dos deuses”, em sonhos ou por outros meios. Auxiliados pelos espíritos mais puros, aqueles que moram nas “regiões da bem-aventurança eterna”, eles observam o processo e advertiram repetidamente a Humanidade. O ceticismo pode provocar com zombarias; a fé, baseada no conhecimento e na ciência espiritual, acredita e afirma.
No século atravessamos amiúdam-se os casos dessas mortes de almas. A todo momento tropeçamos com homens e mulheres desalmados. Não é estranho, portanto, no presente estado de coisas, o gigantesco fracasso dos últimos esforços de Hegel e Schelling no sentido de elaborar a construção metafísica de um sistema. Quando os fatos, palpáveis e tangíveis do Espiritismo fenomenal, acontecem todo o dia e a toda hora e, não obstante, são negados pela maior parte das nações “civilizadas”, existe pouca chance para a aceitação de uma metafísica puramente abstrata por parte dessa massa sempre crescente de materialistas.
A PALAVRA PERDIDA.
No livro intitulado La manifestation à la lumière, de Champollion, há um capítulo sobre o Ritual que está cheio de diálogos misteriosos que a alma mantém com vários “Poderes”. Num desses diálogos é mais do que expressiva a potencialidade da “Palavra”. A cena ocorre na “Câmara das Duas Verdades”. O “Portal”, a “Câmara da Verdade”, e mesmo as várias partes do portão, dirigem-se à alma, que se apresenta para admissão. Todos lha negam, a menos que ela lhes pronuncie os nomes misteriosos. Que estudiosos das Doutrinas Secretas não reconheceria nesses nomes a identidade, em significação e propósito, com aqueles que se encontram nos Vedas, nas últimas obras dos brâmanes e na Cabala?
Magos, cabalistas, místicos, neoplatônicos e teurgos de Alexandria, que ultrapassaram os cristãos em suas consecuções na ciência secreta; brâmanes ou samaneus (xamãs) da Antigüidade e brâmanes modernos; budistas e lamaístas – todos eles declararam que um determinado poder se agrega a esses vários nomes, que pertencem a uma única Palavra inefável. Mostramos, por experiência própria, quão profundamente está enraizada até em nossos dias na mente popular de toda a Rússia a crença de que a Palavra opera “milagres” e está no centro de toda façanha mágica. Os cabalistas conectam misteriosamente a Fé com ela. Assim fizeram os apóstolos baseando as suas afirmações nas palavras de Jesus, que diz: “Se tiverdes fé, como um grão de mostarda (…) nada vos será impossível” [Mateus, XVII, 20]; e Paulo, repetindo as palavras de Moisés, afirma que “perto está a PALAVRA na tua boca e no teu coração esta é a palavra da fé (Romanos, X, 8). Mas quem, exceto os iniciados, pois orgulhar-se de compreender sua significação total?
A FORÇA CONTIDA NOS MANTRAS.
A força contida nos Mantras e na Vâch dos brâmanes é tão acreditada hoje quanto no começo do período védico. O “Inefável Nome” de todo e de toda religião relaciona-se aquilo que os maçons afirmam se os caracteres misteriosos que simbolizam os nomes ou tributos pelos quais a Divindade era conhecida pelos iniciados. A Palavra Omnífica traçada por Enoch nos dois deltas de ouro puríssimo, sobre os quais gravou dois dos caracteres misteriosos, talvez seja mais conhecida pelos “gentios” humildes e incultos do que pelos Grão-sacerdotes e Grão Z. dos Capítulos Supremos da Europa e da América. Mas não entendemos porque os companheiros da Arca Real lamentariam tão amarga e tão continuamente a sua perda. A palavra M. M., como eles mesmo dirão, só contém consoantes. Por isso, duvidamos que algum deles tenha aprendido a pronuncia-la, ou a tivessem aprendido se, em vez de a corromper, ela tivesse sido extraída da abóbada secreta”. Todavia, acredita-se que o neto de Ham conduziu ao país de Mezraim o delta sagrado do Patriarca Enoch. Portanto, é só no Egito e no Oriente que a “Palavra” misteriosa deve ser procurada.
OS TEMPLÁRIOS MODERNOS.
Os templários modernos e antigos não existe, no melhor dos casos, outra analogia senão a adoção de certos ritos e certas cerimônia de caráter puramente eclesiásticos astutamente incorporados pelos clero à Grande Ordem antiga. Após essa desconsagração, ela foi perdendo gradualmente seu caráter primitivo e simples até a sua ruína total. Fundada em 1118 pelos cavalheiros Hugues de Payens e Geoffoy de Saint-Adhémar, com o fito nominal de proteger os peregrinos, o seu verdadeiro objetivo era a restauração do primitivo culto secreto. A versão da história de Jesus e do Cristianismo primitivo foi revelada a Hugues des Payens pelo Grande-Pontífice da Ordem do Templo (da seita nazarena ou joanita), chamado Teocletes, que a ensinou depois a outros cavalheiros da Palestina, dentre os membros mais elevados e mais intelectuais da seita de São João, que foram indiciados nos seus mistérios. A liberdade de pensamento intelectual e a restauração de uma religião universal eram seu objetivo secreto. Presos ao voto de obediência, pobreza e castidade, eles foram no início os verdadeiros cavalheiros de João Batista, vivendo no deserto e se alimentando de mel e gafanhotos. Assim a tradição e a versão cabalística verdadeira.
É um erro afirmar que a Ordem só se tornou anticatólica posteriormente. Ela o era desde o princípio e a cruz vermelha sobre manto branco, a veste da Ordem, tinha a mesma significação para os iniciados de todos os outros países. Ela apontava para os quatro pontos cardeais do compasso e era o emblema do universo. Quando, mais tarde, a Irmandade foi transformada numa Loja, os templários, a fim de escapar às perseguições, tinham de realizar as suas próprias cerimônias no maior segredo, geralmente no salão de alguma corporação, mais freqüentemente em cavernas isoladas ou choças erguidas no meio de bosques, ao passo que a forma eclesiástica de culto era celebrada publicamente nas capelas pertencentes à Ordem.
Embora fossem infamemente caluniosa muitas das acusações feitas contra eles por ordem de Felipe IV, os seus pontos principais eram corretos, do ponto de vista do que é considerado como heresia pela Igreja. Os templários atuais, adentrando tão estritamente como fazem à Bíblia, não podem pertencer ser descendentes diretos daqueles que não acreditam em Cristo, seja como homem-Deus, seja como o Salvador do mundo; que rejeitavam o milagre do seu nascimento e os que foram operados por ele; que não acreditam na transubstanciação, nos santos, nas relíquias sagradas, no purgatório, etc. O Jesus Cristo era, em sua opinião, um falso profeta, mas o homem Jesus era um Irmão. Consideravam João Batista com seu patrono, mas nunca o tiveram no conceito em que o tem a Bíblia. Reverenciavam as doutrinas da Alquimia, da Astrologia, da Magia, dos talismã cabalísticos e seguiam os ensinamentos secretos dos seus chefes do Oriente. “No último século”, diz Findel, “quando a Franco-maçonaria supôs erroneamente ser uma filha do templarismo, era muito difícil acreditar na inocência da Ordem dos cavalheiros templários. (…) Com essa intenção, não só lendas e acontecimentos sem registro foram fabricados, mas também se tentou sufocar a verdade.
A verdade é que a maçonaria moderna difere muito radicalmente daquilo que foi uma vez a fraternidade secreta universal na época em que os adoradores brâmanicos do AUM intercambiavam sinais e senhas com os devotos do TUM e em que os adeptos de todos os países da terra eram “Irmãos”.
Qual era, pois, esse nome misterioso, essa “palavra” poderosa por cuja potência os hindus e os iniciados caldeus e egípcios operavam maravilhas? No capítulo CXV do Ritual Funerário egípcio, intitulado “O Capítulo da Vinda do Céu (…) e do Conhecimento das Almas de Annu (Heliópolis), Hórus diz: “Conheci as Almas de Annu. Os mais gloriosos não passarão (…) a menos que os deuses me dêem a PALAVRA”. Em outro hino, a alma, transformada, exclama: “Que me seja aberto o caminho para Re-stau. Eu sou o Supremo, vestido como Supremo. Eu cheguei! Eu cheguei! Deliciosos me são os reis de Osíris. Crio à água [pelo poder da Palavra]. (…) Não vi os segredos ocultos (…) Confiei no Sol. Sou puro. Sou adorado por minha pureza” (CXVII-CXIX, Capítulo da ida ao Re-stau e do regresso de lá). Em outro lugar, o envoltório da múmia expressa o seguinte: “Sou o Grande Deus [espírito] que existe por si mesmo, o criador do Seu Nome (…) sei o nome desse Grande Deus que está aí” [cap. XVII].
Os inimigos de Jesus o acusam de ter operado milagres e os seus próprios apóstolos o apresentam como um expulsador de demônios por graças do poder do INEFÁVEL NOME. Os primeiros acreditam firmemente que Jesus o roubou do Santuário. “E ele expulsou os espíritos com sua espada e curou todos os que estavam doentes” (Mateus, XVIII, 16). Quando os governadores judaicos perguntaram a Pedro (Atos, IV, 7-10). “Graças a que poder, ou graças a que nome, vós o fizestes?”, Pedro responde: “Graças ao NOME de Jesus Cristo de Nazaré”. Mas este nome significa o nome de Cristo, como os intérpretes nos querem fazer
acreditar, ou ele significa “graças ao NOME que estava de posse de Jesus de Nazaré”, o iniciado, que foi acusado pelos judeus de tê-lo aprendido, porém que só o aprendeu com a iniciação! Além disso, ele afirma repetidamente que tudo o que faz, ele o faz em “Nome de Seu Pai”, não em seu próprio.
O TEMPLO DO REI SALOMÃO.
Se houve ou não um templo real com esse nome – que os arqueólogos decidam; mas nenhum erudito versado no jargão antigo e medieval dos cabalistas e alquimistas duvidará de que a descrição detalhada de 1 Reis é puramente alegórica. A construção do Templo de Salomão é a representação simbólica da aquisição gradual da sabedoria secreta ou magia; a ereção e o desenvolvimento do espiritual a partir do terreno; a manifestação do poder e do esplendor do espírito no mundo físico por meio da sabedoria e do gênio do construtor. Esse, ao se tornar um adepto, é um rei mais poderoso do que o próprio Salomão, o emblema do sol ou a própria LUZ – a luz do mundo subjetivo real, brilhando na escuridão do universo objetivo. Esse é o “Templo” que deve ser edificado sem que o som do martelo ou de qualquer ferramenta seja ouvido na casa enquanto esteja “em construção”.
No Oriente, essa ciência chama-se, em alguns lugares, o Templo “de sete pisos” e, em outros, o “de nove pisos”; cada piso corresponde alegoricamente a um grau do conhecimento adquirido. Em todos os países do Oriente, onde quer que a magia e a religião-sabedoria seja estudada, seus praticantes e estudiosos são conhecidos por Construtores – pois eles constróem o templo do conhecimento, da ciência secreta. Os adeptos ativos são chamados de Construtores operativos, ao passo que os estudantes, ou neófitos, são denominados especulativos ou teóricos. Os primeiros exemplificam em obras e seu controle sobre as forças da natureza inanimada e animada; os outros estão se aperfeiçoando nos rudimentos da ciência sagrada.
A frase atribuída a Jesus – “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” -, desfigurada como está por traduções errôneas ou interpretações incorretas, indica claramente o seu significado real. Já mostramos a significação de Peter e de Petra para os hierofantes – a interpretação transmitida pelo iniciador ao futuro intérprete escolhido. Uma vez familiarizado com seu conteúdo misterioso, que lhe revelava os mistérios da criação, o iniciado tornava-se um construtor, pois se inteirava do dodecahedron, ou a figura geométrica com que o universo foi construído. Ao que apresenta em iniciações prévias a respeito do uso da regra e dos princípios arquitetónicos acrescentava-se uma cruz, cujas linhas perpendicular e horizontal se sobrepunham para formar a fundação do templo espiritual e cuja intercessão, ou ponto central primordial, representava o elemento de todas as existências, a primeira idéia concreta da divindade. A partir desse momento ele podia, como Mestre-construtor (ver 1 Coríntios, III, 10), erigir um templo de sabedoria, naquela pedra de Petra, para si mesmo; e, tendo-o construído, permitir que “outros ali construíssem”.
O hierofante egípcio recebia uma capacete quadrado, que devia vestir sempre, e um esquadro (ver as insígnias dos maçons), sem os quais não podia apresentar-se em nenhuma cerimônia. O Tao perfeito formado pela perpendicular (raio masculino descendente, ou espírito), uma linha horizontal (ou matéria, raio feminino) e o círculo mundano eram atributos de Ísis, e, só por ocasião da sua morte, a cruz egípcia era colocada sobre o peito da múmia do iniciado. Esses capacetes quadrados são usados até hoje pelos sacerdotes armênios. É verdadeiramente estranha a pretensão de que a cruz seja um símbolo genuinamente cristão introduzido em nossa era, quando se sabe que Ezequiel marca com o signa thao (como está traduzido na Vulgata) as testas dos homens de Jud emiam ao Senhor (Ezequiel, IX, 4). No hebraico antigo, esse sinal era traçado assim: (Cruz inclinada para a direita), mas, nos hieróglifos egípcios originais, como uma cruz cristã perfeita. Também no Apocalipse, o “Alfa e o Ômega” (espírito e matéria), o primeiro e o último, estampa o nome de seu Pai nas testas dos eleitos. (Apocalipse, VII, 2, 3; XXIV, 1.)
E se nossos argumentos estiverem errados, se Jesus não era um iniciado, um Mestre-contrutor, ou Mestre-maçom, como agora é chamado, como é que nas catedrais mais antigas encontramos a sua efígie com as insígnias maçonicas? Na Catedral de Santa Sroce, em Florença, sobre o porta principal, pode-se ver a figura de Cristo segurando um esquadro perfeito em sua mão.
Os “mestres-construtores” sobreviventes da arte operativa do Templo verdadeiro andam literalmente seminus e semidescobertos – não por causa de uma cerimônia pueril, mas porque, como o “Filho do homem”, eles não têm onde reclinar a cabeça – embora sejam os possuidores vivos da “Palavra”. Serve-lhes de “reboque” o cordão triplo sagrado de certos brâmanes-sannyâsins, ou o fio com que certos lamas penduram suas pedras yu que, embora pareçam talismãs sem valor, nenhum deles trocaria por todas as riquezas de Salomão e da rainha de Sabá. A vareta de bambu de sete nos do faquir pode tornar-se tão poderosa quanto a vara de Moisés “que foi criada no crepúsculo e sobre a qual foi gravado o grande e glorioso NOME, por cujo poder operou maravilhas em Mizraim”.
Verdadeiramente, a magna e omnífica palavra da Arca Real, “por longo tempo perdida mas agora encontrada”, cumpriu sua promessa profética. A senha desse grau já não é “SOU O QUE SOU”. É apenas “Fui mas não sou!”
A PALAVRA JEHOVAH, SEU SIGNIFICADO.
Forneceremos algumas provas do que afirmamos, e demostrar que a palavra Jehovah, tão cara aos maçons, poderá substituir, mas nunca ser idêntica ao nome mirífico perdido. Os cabalistas sabem disso tão perfeitamente, que, em sua cuidadosa etimologia de mostrar sem sombra de dúvida que se trata de apenas um dos muitos sucedâneos do Nome real e que é composto do nome duplo do primeiro andrógino – Adão e Eva (ou Yodh), Vau e He-va – a serpente fêmea como um símbolo da Inteligência Divina que procede do Espírito Criador. Assim, Jehovah não é o Inefável Nome. Se Moisés tivesse dado ao Faraó o “nome” verdadeiro, este último não teria respondido como o fez, pois os Reis-Iniciados egípcios o conheciam tão bem quanto Moisés, que o aprendera com eles. O “Nome” era àquela época propriedade comum dos adeptos de todas as nações do mundo e o Faraó certamente o conhecia, pois é mencionado no Livro dos mortos. Mas, em vez disso, Moisés (se aceitarmos literalmente a alegoria do Êxodo) dá ao Faraó o nome Yeva, expressão ou forma do nome divino usada por todos os Targuns. Donde a resposta do Faraó: “Quem é este Yeva, para que eu obedeça, a sua voz e deixe Israel sair?”
“Jehovah” data apenas da inovação masorética. Quando os rabinos, com temor de que pudessem perder as chaves de suas próprias doutrinas, compostas até então exclusivamente de consoantes, começaram a inserir os pontos representativos das vogais nos seus manuscritos, eles ignoravam completamente a pronúncia verdadeira do NOME. Em conseqüência, deram-lhe o som de Adonai e a grafia Ja-ho-vah. Assim, esta última é apenas uma fantasia, uma adulteração do Inefável Nome. E como eles o podiam conhecer? Certamente, em cada nação, os sumos sacerdotes o tinham em sua posse e o transmitiam aos seus sucessores, como o faz o Brahmâtma hindu antes da sua morte. Unicamente uma vez ao ano, no dia da expiação, permitia-se que o sumo sacerdote o pronunciasse num sussurro. Passando por trás do véu, indo a câmara interior do santuário, o Santo dos Santos, com lábios trêmulos e olhos baixos – ele invocava o NOME terrível. A cruel perseguição movida contra os cabalistas, que receberam as sílabas preciosas como prêmio de toda uma vida de santidade, deveu-se à suspeita de que eles abusariam dele.
A CABALA ORIENTAL E A “DOUTRINA SECRETA”.
Os Evangelhos apócrifos e Jasher são uma série de contos religiosos, em que um milagre sucede a outro milagre, e se narram as lendas populares como foram criadas pela primeira vez, sem considerar qualquer cronologia ou dogma. Ambos são pedras angulares das religiões mosaica e cristã. É evidente que existia um Livro de Jasher anterior ao Pentateuco mosaico, pois ele é mencionado em Josué, Isaías e 2 Samuel.
Em nenhum outro lugar se mostra tão claramente a diferença entre os eloístas e os jeovistas. Jehovah é aqui aquilo mesmo que dele falam os ofitas, um Filho de Ialdabaôth, ou Saturno. Neste Livro, os magos egípcios, quando o Faraó lhes perguntou “Quem é esse de que Moisés fala como o Eu sou?”, respondem que “temos ouvido que o Deus dos hebreus é um filho do sábio, o filho de reis antigos” (cap. LXXXIX, 45). Pois bem, aqueles que afirmam que Jasher é uma fantasia do século XII – e nós acreditamos firmemente nisso – deveriam explicar o curioso fato de que, ao passo que o texto acima não se encontra na Bíblia a resposta a ele está, e está, além disso, vazada em termos inequívocos. Em Isaías, XIX, 11, o “Senhor Deus” lamenta-se furiosamente ao profeta e diz: “Certamente os príncipes de Zoan são tolos, o conselho dos sábios conselheiros do Faraó está-se tornando estúpido; como direis ao Faraó que eu sou o filho do sábio, o filho de antigos reis?” – o que é evidentemente uma réplica. Em Josué, X, 13, faz-se uma referência a Jasher, em corroboração da asserção ultrajante de que o Sol e a Lua estavam parados até que o povo se vingasse. “Não está escrito no Livro de Jasher?” diz o texto. E em 2 Samuel, I, 18, o mesmo livro é novamente citado. “Vede”, diz ele, “está escrito no Livro de Jasher”. Evidentemente, Jasher deve ter existido; devia ser considerado uma autoridade; deve ter sido mais velho que Josué; e, dado que o versículo de Isaías aponta infalivelmente para a passagem citada acima, temos pelo menos, com muita razão, de aceitar a edição corrente de Jasher como uma transcrição, um excerto ou um compilação da obra original, como temos de reverenciar o Pentateuco septuagista como os anais sagrados hebraicos primitivos.
De qualquer modo, Jeová não é o Ancião dos Anciães a que alude o Zohar, pois o vemos, nesse livro, aconselhando-se com Deus Pai em relação à criação do Mundo. “O senhor da obra falou ao Senhor. Façamos o homem à nossa imagem” (Zohar, I, fol. 25). Jeová é apenas o Metatron e talvez nem seja o mais superior dos Aeons, mas apenas deles, pois aquele a quem Onkelos chama Memra, a “Palavra”, não é o Jeová exotérico da Bíblia, nem Yahve, o Ser Supremo.
Foi o sigilo dos cabalistas primitivos, ansiosos por esconder à profanação o Nome verdadeiro, e, mais tarde, a prudência que os alquimistas e os ocultistas medievais foram compelidos a adotar para salvar suas vidas – foi isso que causou a confusão inextricável dos Nomes divinos. Foi isso o que levou o povo a aceitar o Jeová da Bíblia como o nome do “Deus vivente Único”. Todo ancião ou profeta judeu, e até mesmo outros homens de qualquer importância, conhecem a diferença; mas, como a diferença reside na vocalização do “nome”, e a sua pronúncia correta leva à morte, nenhum iniciado o revelou ao povo comum, pois não queria arriscar a sua vida ao ensiná-lo. Assim, a divindade sinaítica foi aos poucos sendo considerada idêntica a “Aquele cujo nome só é conhecido do sábio”. Quando Capellus traduz “quem quer que pronuncie o nome de Johovah sofrerá pena de morte”, ele comete dois erros. O primeiro ao acrescentar a letra final h ao nome, se ele quer que essa divindade seja considerada masculina ou andrógina, pois a letra torna o nome feminino, como realmente devia ser, considerado que é um dos nomes de Binah, a terceira emanação; seu segundo erro está em afirmar que a palavra nokeb significa apenas pronunciar distintamente. Em conseqüência, o nome bíblico Jehovah deve ser considerado apenas um sucedâneo que, pertencendo a um dos “poderes”, veio a ser visto como do “Eterno”. Há um erro evidente (um dos muitos) em um dos textos do Levítico, que foi corrigido por Cahen e que prova que a interdição não concernia de maneira alguma ao nome exotérico de Jehovah, cujos numerosos nomes também podiam ser pronunciados sem se incorrer em qualquer pena de morte. Na viciosa versão inglesa, a tradução diz: “E aquele que blasfemar o nome do Senhor, será certamente condenado à morte”, Levítico, XXIV, 6. Cahen traduz mais corretamente por: “E aquele que blasfemar o nome do Eterno, será condenado”, etc. O “Eterno” é algo mais elevado do que o “Senhor” exotérico e pessoal.
Como nas nações gentias, os símbolos dos israelitas estavam relacionados, direta e indiretamente, ao culto do Sol. O Jehovah exotérico da Bíblia é um deus dual, como os outros deuses; e o fato de Davi – que ignora completamente Moisés – glorificar seu “Senhor” e lhe assegurar que o “Senhor é um grande Deus, e um grande Rei acima de todos os deuses”, deve ter grande importância para os descendentes de Jacó e de Davi, mas seu Deus nacional não nos interessa de maneira alguma. Para nós, o “Senhor Deus” de Israel merece o mesmo respeito que Brahmâ, Zeus ou qualquer outra divindade secundária. Mas recusamos, muito enfaticamente, reconhecer nele a Divindade adorada por Moisés ou o “Pai” de Jesus, ou mesmo o “Inefável Nome” dos cabalistas. Jehovah talvez seja um dos Elohim, que estavam implicados na formação (que não é criação) do universo, um dos arquitetos que construíram a partir da matéria preexistente, mas ele nunca foi a Causa “Incognoscível” que criou (bara) na noite da Eternidade. Esses Elohim primeiro formam e bendizem, para depois amaldiçoar e destruir; como um desses Poderes, Jehovah é alternadamente benéfico; num momento ele pune e depois se arrepende. É o contratripo de muitos dos patriarcas – de Esaú e de Jacó, os gêmeos alegóricos, emblemas do duplo princípio manifestado da Natureza. É assim que Jacó, que é Israel, é a coluna esquerda – o princípio feminino de Esaú, que é a coluna direita e o princípio masculino. Quando luta com Malach-Iho, o Senhor, é este que se transforma na coluna direita, a quem Jacó-Israel chama Deus, embora os intérpretes da Bíblia tenham tentado transforma-lo num mero “anjo do Senhor” (Gênese, XXXII). Jacó vence-o – como a matéria costuma vencer o espírito – mas seu músculo é deslocado na luta.
O nome de Israel deriva de Isaral ou Asar, o Deus-Sol, conhecido como Suryal, Sûrya e Sur. Isra-el significa “o que luta com Deus”. “O Sol que acende sobre Jacó-Israel” é o Deus-Sol Isaral, que fecunda a matéria ou Terra, representada pelo Jacó-feminino. Como de costume, a alegoria tem mais de um significado
oculto na Cabala. Esaú, Aesaou, Asu também é o Sol. Como o “Senhor”, Esaú luta com Jacó e não vence. O Deus-Sol primeiro luta contra ele e depois se eleva sobre ele em sinal de aliança.
“E quando passou por Penuel, o Sol se ergueu sobre ele e ele [Jacó] coxeava de uma perna” (Gênese, XXXII, 31). Israel-Jacó, oposto ao seu irmão Esaú, é Samael e “os nomes Samael e Azâzêl e Satã” (o opositor).
Se nos afirmassem que Moisés não estava familiarizado com a filosofia hindu e, portanto, não pôde tomar Siva, regenerador e destruidor, como modelo para o seu Jehovah, então teríamos de admitir que havia alguma intuição universal miraculosa que propiciou que toda a nação escolhesse para sua divindade nacional exotérica o tipo dual que encontramos no “Senhor Deus” de Israel. Todas estas fábulas falam por si mesmas. Shiva, Jehovah, Osíris – todos são símbolos do princípio ativo da Natureza par excellence. São as forças que presidem a formação ou regeneração da matéria e a sua destruição. São os tipos da Vida e da Morte, sempre fecundados e decompondo sob a influência da anima mundi, Alma intelectual Universal, espírito invisível mas onipresente que está por trás da correlação de forças cegas. Só esse espírito é imutável; portanto as forças do universo, causa e efeito, estão sempre em harmonia perfeita com essa grande Lei Imutável. A Vida Espiritual é o princípio primordial superior; a Vida Física é o princípio Primordial inferior, mas eles são apenas uma única vida em seu aspecto dual. Quando o Espírito se desliga completamente dos grilhões da correlação e sua essência se torna pura para se reunir à CAUSA, ele pode – quem pode dizer se ele realmente o deseja – vislumbrar a Verdade Eterna. Até então, não construamos ídolos à nossa imagem e não confundamos a sombra com a Luz Eterna.
Isis Sem Véu – VOLUME IV – TEOLOGIA II
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.