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A EXISTÊNCIA E FORMAÇÃO DO UNIVERSO.
O primeiro era o princípio intelectual vivificador de todas as coisas; o caos, um princípio líquido informe, sem “forma ou sentido”; da união desses dois princípios veio a existir o universo, ou antes o mundo universal, a primeira divindade andrógina – cujo corpo é formado de matéria caótica – e a alma, feita de éter. De acordo com a fraseologia de um Fragmento de Herméias, “o caos, com esta união com o espírito, dotando- se de sentido, resplandeceu com prazer, e assim produziu a luz Protogonos (que-nasceu-primeiro)”. Esta é a trindade universal, baseada nas concepções metafísicas dos antigos, que, raciocinando por analogia, fizeram do homem, que é um composto de intelecto e de matéria, o microcosmo do macrocosmo, ou o grande universo.
Este universo visível de espírito e de matéria, é apenas imagem concreta da abstração ideal; foi construído com base no modelo da primeira IDÉIA divina. Assim, o nosso universo existiu desde a eternidade em estado latente. A alma que anima esse universo puramente espiritual é o Sol Central, a mais elevada Divindade em si mesma. Não foi esta Divindade que construiu a forma concreta da idéia, mas o Seu primogênito; e, assim como ela foi construída com base na figura geométrica do dodecaedro, o primogênito “agradou-se em empregar doze mil anos na sua criação”. Este número está indicado na cosmogonia tirrena, que mostra que o homem foi criado no sexto milênio. Isto está de acordo com a teoria egípcia de 6.000 “anos” (O leitor compreenderá que com “anos” se pretende dizer “eras”, não meros períodos de 30 meses lunares cada um), e com o cômputo hebraico. Sanchoniathon, na sua Cosmogonia, afirma que quando o vento (espírito) se torna enamorado dos seus próprios princípios (o caos), uma união íntima se estabelece, cuja conexão foi chamada Pothos, e da qual surgiu a semente de todas as coisas. E o caos não conheceu a sua própria produção, pois era desprovido de sentido; mas de seu abraço com o vento foi engendrado Môt, ou o Ilus (o lodo). É dele que procedem os esporos da criação e da geração do universo.
Os antigos, que contavam apenas quatro elementos, fizeram do éter o quinto. Em virtude de a sua essência ter-se tornado divina pela presença inobservada, foi ele considerado um intermediário entre este mundo e o próximo.
MANIFESTAÇÕES DA ALMA.
Tudo o que há de organizado neste mundo, as coisas visíveis como as invisíveis, tem um elemento que lhe é próprio. O peixe vive e respira na água; a planta consome o gás carbónico, que nos animais e nos homens produz a morte; alguns seres foram feitos para viver em camadas rarefeitas de ar, outros existem apenas nas mais densas. A vida, para alguns, depende da luz do Sol; para outros, da escuridão; e é assim que a sábia economia da Natureza adapta uma forma viva a cada condição de existência. Essas analogias permitem concluir não só que não existe uma porção desocupada na Natureza universal, mas também que para cada coisa que tem vida são fornecidas condições especiais, e, tendo sido fornecidas, elas são necessárias. Assim, admitindo-se que há um lado invisível, as condições fixas da Natureza autorizam a conclusão de que essa metade está ocupada, como também a outra; e de que cada grupo de seus ocupantes está provido das condições indispensáveis de existência. O fato de que há espíritos implica que haja uma diversidade de espíritos; pois os homens diferem, e os espíritos humanos são apenas homens desencarnados.
Dizer que todos os espíritos são semelhantes, ou foram feitos para viver na mesma atmosfera, ou que possuem poderes iguais, ou são governados pelas mesmas atrações – elétricas, magnéticas, ódicas, astrais, não importa quais -, é tão absurdo quanto dizer que todos os planetas têm a mesma natureza, ou que todos os animais são anfíbios, ou que todos os homens podem ser alimentados com a mesma comida. Muitíssimo mais razoável é supor que, dentre os espíritos, as naturezas mais grosseiras descerão às alturas mais profundas da atmosfera espiritual – em outras palavras, estarão mais próximas da Terra. Ao contrário, as mais puras estarão mais longe.
Porfírio apresenta-nos alguns fatos repugnantes cuja veracidade está consubstanciada na experiência de todo estudioso de Magia. “Tendo a alma”, diz ele, “mesmo após a morte, uma certa afeição pelo seu corpo, uma afinidade proporcional à violência com que a sua união foi rompida, vemos muitos espíritos errando em desespero em torno dos seus restos terrestres; vemo-los até mesmo procurando ansiosamente os restos pútridos de outros cadáveres e se recreiam no sangue recentemente vertido que parece infundir-lhes, por um momento, vida material.
“Os deuses e os anjos”, diz Jâmblico, “aparecem-nos na paz e na harmonia; os demônios maus fazem com que tudo se agite em confusão. (…) Quando às almas comuns, nos aparecem mais raramente, etc.”
“A alma humana (o corpo astral) é um demônio que a nossa linguagem pode chamar gênio”, diz Apuleio. “E um deus imortal, embora, em certo sentido, tenha nascido ao mesmo tempo que o corpo em que ela se encontra. Em conseqüência, podemos dizer que morre no mesmo sentido que dizemos que nasce”.
“A alma nasce neste mundo depois de deixar outro mundo (anima mundi), em que a sua existência precede aquela que conhecemos (na Terra). Assim, os deuses que consideram a sua conduta em todas as fases das várias existências e em seu conjunto punem-na às vezes por pecados cometidos durante uma vida anterior. Ela morre quando se separa de um corpo em que atravessou a sua vida como num barco frágil. E este é, se não me engano, o significado secreto da inscrição tumular, tão simples para o iniciado: `Aos deuses manes que viveram’. Mas essa espécie de morte não aniquila a alma; apenas a transforma num lêmure. Os lêmures são os manes ou fantasmas, que conhecemos sob o nome de lares. Quando eles se distanciam e nos propiciam uma proteção benéfica, nós honramos nelas as divindades protetoras do fogo doméstico; mas, se os seus crimes as sentenciam a errar, chamamo-los estão larvas. Eles se tornam uma praga para o perverso e o vão terror dos bons.”
Seria difícil tachar de ambigüidade essa linguagem, e, apesar disso, os reencarnacionistas citam Apuleio em apoio de sua teoria de que o homem passa por uma sucessão de nascimentos humanos físicos nesse planeta até que finalmente seja purgado das impurezas da sua natureza. Mas Apuleio diz muito claramente que chegamos a este mundo vindo de um outro, onde tivemos uma existência cuja lembrança perdemos. Da mesma maneira que um relógio passa de mão em mão e de sala em sala da fábrica, uma parte sendo acrescentada aqui e outra ali, até que a delicada máquina esteja perfeita, de acordo com o plano concebido na mente do mestre antes que a obra fosse iniciada – assim também, de acordo com a Filosofia antiga, a primeira concepção divina do homem toma forma pouco a pouco, nos muitos departamentos do ateliê universal, e o ser humano perfeito finalmente aparece em nossa paisagem.
Esta filosofia ensina a Natureza nunca deixa inacabada a sua obra; se frustra na primeira tentativa, ela tenta novamente. Quando ela faz evoluir um embrião humano, a intenção é que o homem se torne perfeito – física, intelectual e espiritualmente. O seu corpo deve crescer, amadurecer, desgastar-se e morrer; a sua mente deve expandir-se, amadurecer e ser harmoniosamente equilibrada; o seu espírito divino deve iluminar e confundir-se facilmente com o homem interior. Nenhum ser humano completa o seu grande círculo, ou o “círculo da necessidade”, até que tudo isso não tenha sido feito. Assim como os retardatários de uma corrida lutam e se fatigam logo no início enquanto o vitorioso atinge o seu objetivo, assim também, na corrida da imortalidade, algumas almas ultrapassam em velocidade todas as outras e chegam ao fim, enquanto as miríades de seus competidores lutam sob o fardo da matéria, próximo da reta de partida. Algumas, desafortunadas, caem, abandonam a corrida e perdem toda oportunidade de ganhar o prêmio; outras levantam-se e empenham-se de novo na corrida. É isso o que o hindu teme sobre todas as coisas – a transmigração e a
reencarnação em formas inferiores, mas contra esta contingência lhes deu Buddha remédio no menosprezo dos bens terrenos, a restrição dos sentidos, o domínio das paixões e a contemplação espiritual ou freqüente comunhão com Âtman ou a alma.
A ANTIGA DOUTRINA DA TRANSMIGRAÇÃO DA ALMA. A CAUSA DA REENCARNAÇÃO. O MUNDO DO NIRVANA.
A causa da reencarnação é a concupiscência e a ilusão que nos leva a ter como reais as coisas do mundo. Dos sentidos provêm a “alucinação”, que chamamos contato; “do contato, a sensação (também ilusória) da sensação, a concupiscência e da concupiscência a enfermidade, a decrepitude e a morte”.
“Assim, como as voltas de uma roda, há uma sucessão regular de mortes e nascimentos, cuja causa moral é o apego aos objetos existente, enquanto a causa instrumental é o karma [o poder que controla o Universo, imprimindo-lhe atividade, mérito e demérito]. Portanto, o grande objeto de todos os seres que se querem desembaraçar dos sofrimentos do nascimento sucessivos é encontrar a destruição da causa moral (…) o apego aos objetos existentes, ou o desejo do mal.(…) Aqueles em quem o desejo do mal está completamente destruído são chamados Arhats, que, em virtude de uma libertação, possuem faculdades taumatúrgicas. Em sua morte, o Arhat não se reencarna e invariavelmente atinge o Nirvana”. Nirvana é o mundo das causas, em que todos os efeitos enganadores ou as ilusões de nossos sentidos desaparecem. Nirvana é a esfera mais elevada que se pode atingir. Os Pitris (os espíritos pré-adâmicos) são considerados como reencarnados, pelo filósofo budista, se bem que num grau superior ao do homem da terra. Eles não morrem, por sua vez? Os seus corpos astrais não sofrem nem gozam, e não sentem a mesma maldição dos sentimentos ilusórios, como
durante a encarnação?
Aquilo que o Buddha ensinou no século VI a.C., na Índia, foi ensinado por Pitágoras depois na Grécia e na Itália. Gibbon mostra quão profundamente os fariseus estavam impressionados com essa crença na transmigração das almas. O círculo de necessidade egípcio está gravado de maneira indelével nos vetustos monumentos da Antiguidade. E Jesus, quando curava um doente, invariavelmente utilizava a seguinte expressão: “Teus pecados te são perdoados”. Isso é pura doutrina budista. “Os judeus disseram ao cego: `Tu nasceste completamente no pecado, e queres nos instruir’. A doutrina dos discípulos [de Cristo] é análoga à do `Mérito e Demérito’ dos budistas; pois os doentes se curavam se os seus pecados fossem perdoados.” Mas essa vida anterior em que os budistas acreditavam não é uma vida neste planeta, (Citação corrida pela própria H. P. B. “(…) não é uma vida no mesmo ciclo e na mesma personalidade.”) pois, mais do que qualquer outra pessoa, o filósofo budista apreciava a grande doutrina dos ciclos.
A SIGNIFICAÇÃO SECRETA DOS CICLOS E KALPAS. A MANIFESTAÇÃO DE BRAHMÂ.
As especulações de Dupuis, Volney e Godfrey Higgins sobre a significação secreta dos ciclos, ou dos kalpas e dos yugas dos bramânicos e dos budistas, pouco significaram, pois não possuíam a chave da doutrina espiritual esotérica neles contida. Nenhuma filosofia especulou sobre Deus como uma abstração mas considerou-O sob as Suas várias manifestações. A “Causa Primeira” da Bíblia dos hebreus, as “Monas” pitagóricas, a “Existência Una” do filósofo hindu e o “Ain-Soph” cabalístico – o Ilimitado – são idênticos. O Bhagavat hindu não cria; ele entra no ovo do mundo e emana dele como Brahmâ, da mesma maneira que a Díada pitagórica se desenvolve das Monas mais elevadas e solitárias. A Monas do filósofo de Samos é o Monas hindu (mente), “que não tem primeira causa (apûrva) ou causa material, nem está sujeito à destruição”. Brahmâ, como Prajâ-pati, manifesta-se antes de tudo como “doze corpos”, ou atributos, representados pelos doze deuses, que simbolizam: 1º) o Fogo; 2º) o Sol; 3º) o Soma, que dá a onisciência; 4º) todos os Seres Vivos; 5º) Vâyu, ou o éter material; 6º) a Morte, ou o corpo de destruição -Shiva; 7º)a Terra; 8º) o Céu; 9º) Agni, o Fogo Imaterial; 10º) Âditya, o Sol imaterial e feminino invisível; 11º) a Mente; 12º) o grande Ciclo Infinito, “que não pode ser interrompido”. Depois disso, Brahmâ se dissolve no Universo visível, de que cada átomo é ele mesmo. Feito isto, a Monas não-manifesta, indivisível e indefinida, retira-se para a solidão imperturbada e majestosa da sua unidade. A divindade manifesta, uma Díada em princípio, torna-se agora uma Tríada; a sua qualidade trina emana incessantemente poderes espirituais, que se tornam deuses imortais (Almas). Cada uma dessas Almas deve unir-se por sua vez a um ser Humano e, a partir do momento que surge a sua consciência, iniciar uma série de nascimentos e mortes. Um artista oriental tentou dar expressão pictórica à doutrina cabalista dos ciclos. O quadro cobre toda uma parede interior de um templo subterrâneo situado na proximidade de uma grande pagode budista e é extremamente sugestivo. Tentemos fornecer uma idéia do seu plano, tal como nos lembramos dele.
Imaginai um ponto no espaço como o ponto primordial; depois, como um compasso, traçai um círculo ao redor desse ponto; onde o começo e o fim da circunferência se unem, a emanação e a reabsorção também se encontram. O próprio círculo é composto de inumeráveis círculos menores, como os elos de um bracelete, e cada um desses elos menores forma o cinto da deusa que representa aquela esfera. Onde a curva do arco se aproxima do ponto extremo do semicírculo – o nadir do grande ciclo – em que o pintor místico situou o nosso planeta, a face de cada deusa sucessiva torna-se mais sombria e horripilante do que a imaginação européia possa conceber. Cada cinto está coberto de representações de plantas, animais e seres humanos, pertencentes à flora, à fauna e à antropologia dessa esfera em particular. Há uma certa distância entre casa uma dessas esferas, marcada propositalmente; pois, após o cumprimento dos círculos, através das diversas transmigrações, é atribuído à alma um templo de Nirvana temporário, um espaço de tempo em que o Âtman perde toda lembrança das penas passadas. O espaço etéreo intermediário é então preenchido com seres estranhos. Aqueles que se encontram entre o éter mais elevado e a Terra são as criaturas de “natureza mediana”, espíritos da Natureza ou, como os cabalistas às vezes os chamam, elementais.
Este quadro é ou uma cópia de uma quadro descrito para a posteridade por Berosus, o sacerdote do templo de Belo, na Babilônia, ou o original. Mas a parede está coberta precisamente de criaturas análogas àquelas que foram descritas pelo semidemônio, ou semideus, Oannes, o homem-peixe caldeu, (…) seres horripilantes, produzidos por um princípio duplo” – a luz astral e a matéria grosseira.
A MISTERIOSA DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO.
Apresentaremos, alguns fragmentos dessa misteriosa doutrina da reencarnação – tão distinta da metempsicose -, tal como nos foi dada por uma autoridade no assunto. A reencarnação, isto é, o aparecimento do mesmo indivíduo, ou antes, da sua Mônada astral, duas vezes no mesmo planeta (obs. corrigido por H.P.B. pg. 48 do volume I, onde escreve-se “planeta”, leia-se CICLO e PERSONALIDADE), não é uma regra da Natureza; trata-se de uma exceção. É precedida por uma violação das leis de harmonia da Natureza e só ocorre quando esta, tentando restaurar o seu equilíbrio perturbado, atira violentamente de volta à vida terrena a Mônada astral que foi expedida do círculo de necessidade por crime ou por acidente. Assim, em casos de aborto, de crianças que morrem antes de uma determinada idade e de idiotismo congênito e incurável, o plano original da Natureza de produzir um ser humano perfeito foi interrompido. Visto que a matéria grosseira de cada uma dessas entidades se desagrega na morte, pelo vasto reino do ser, o espírito imortal e a Mônada astral do indivíduo – posta esta última em reserva para animar um outro arcabouço; e a primeira, para projetar a sua luz divina sobre a organização corpórea – devem tentar, uma segunda vez, levar adiante o propósito da inteligência criadora.
Se a razão tanto se desenvolve a ponto de se tornar ativa e discriminadora, não há reencarnação nesta Terra, pois as três partes do homem trino se reuniram e ele é capaz de continuar o seu caminho. Mas quando o novo ser não passou da condição de uma Mônada, ou quando, como no caso de um idiota, a trindade não foi completada, a centelha imortal que o ilumina deve entrar novamente no plano terrestre porque ela falhou na sua tentativa. (É óbvio, que a “reencarnação imediata” é negada e que a matéria do indivíduo é a personalidade astral, ou o complexo pessoal astro-mental, que também pode ser chamado de Ego astral, e não a individualidade ou Ego Reencarnante. O leitor deve prestar muita atenção a essa diferença. n. do Org.). De outra maneira as almas mortais ou astrais, e as imortais e divinas, não poderiam progredir em uníssono e passar a uma esfera superior. O espírito segue uma linha paralela à da matéria; e a evolução espiritual se efetua conjunta e simultaneamente com a evolução física.
“Reencarnação
Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky, Editora Gruond, pág. 561.”
“É a doutrina do renascimento, no qual acreditava Jesus e seus apóstolos, como toda gente daqueles tempos, porém negada hoje pelos cristãos que parecem não compreender a doutrina de seus próprios Evangelhos, visto que a Reencarnação é ensinada claramente na Bíblia, como o é em todas as demais escrituras antigas.
Através do processo da Reencarnação, a entidade individual e imortal, a Tríada Superior, transmigra de um corpo para outro, reveste-se de sucessivas e novas formas ou personalidades transitórias, percorrendo assim, no curso de sua evolução, uma após outra, todas as faces da existência condicionada nos diversos reinos da Natureza, com o objetivo de ir entesourando as experiências relacionadas com as condições de vida inerentes a elas, até que, uma vez terminado o ciclo de renascimentos, esgotadas todas as experiências e adquirida a plena perfeição do SER, o Espírito Individual, completamente livre de todas as travas da matéria, alcança a Libertação e retorna a seu ponto de origem, abismando-se novamente no seio do Espírito Universal, como a gota d’água no oceano. A filosofia esotérica afirma, pois, a existência de um princípio imortal e individual, que habita e anima o corpo do homem e que, com a morte do corpo, passa a encarnar outro corpo, depois de um intervalo mais ou menos longo de vida subjetiva em outros planos. Desse modo, as vidas corporais sucessivas se enlaçam com outras tantas pérolas no fio, sendo este fio o princípio sempre vivo e as pérolas as numerosas e diversas existências ou vidas humanas na Terra.
A filosofia exotérica, admite que o Ego humano pode encarnar apenas em formas humanas, pois só estas oferecem as condições através das quais são possíveis as suas funções; jamais poderá viver em corpo animais nem retroceder ao bruto, porque isso seria ir contra a lei da evolução”. (N. C. Resumo do texto original)
A OITAVA ESFERA, O HADES ALEGÓRICO.
Mesmo os ocultistas ocidentais modernos a negam, embora seja universalmente aceita nos países orientais. Quando, por meio dos vícios, de crimes medonhos e das paixões animais, um espírito desencarnado cai na oitava esfera – o Hades alegórico, e o Gehenna da Bíblia -, a mais próxima da nossa Terra, ele pode, com o auxílio do vislumbre de razão e de consciência que lhe restou, arrepender-se; isto quer dizer que ele, exercendo o resto de seu poder de vontade, esforçar-se por se elevar e, como um homem que se afoga, voltar uma vez mais à superfície. Nos Oráculos caldaicos de Zoroastro encontramos este, que diz, como advertência à Humanidade:
“Não olheis para baixo, pois um precipício existe abaixo da Terra
Que se estende por uma descida de SETE degraus, sob os quais
Está o trono da horrenda necessidade”.
Uma ardente aspiração para se libertar dos seus males, um desejo bastante pronunciado hão de levá-lo uma vez mais à atmosfera da Terra. Aí ele vagueará e sofrerá mais ou menos uma solidão dolorosa. Os seus instintos hão de fazê-lo procurar com avidez o estabelecimento de contato com pessoas vivas. (…) Esses espíritos são os invisíveis, mas muito tangíveis, vampiros magnéticos; os demônios subjetivos tão bem conhecidos dos estáticos medievais, monjas e monges, e das “feiticeiras” tornadas tão famosas pelos The Witches’ Hammer; e de determinados clarividentes sensitivos, segundo as suas próprias confissões. Eles são os demônios sangüinários de Porfírio, as larvas e as lêmures dos antigos; os instrumentos diabólicos que enviaram tantas vítimas desafortunadas e fracas para a roda dentada e para a morte na fogueira. Orígenes
afirma que todos os demônios que possuíram os endemoniados mencionados no Novo Testamento são “espíritos” humanos. É porque Moisés sabia tão bem o que eles eram, e quão terríveis eram as conseqüências para as pessoas fracas que se submetiam às suas influencias, que ele editou a lei cruel e sanguinária contra as pretensas “feiticeiras”; mas Jesus, pelo de amor divino pela Humanidade, curou-as em vez de as matar. Mais tarde, o nosso clero, pretendendo ser o modelo dos princípios cristãos, segui a lei de Moisés e ignorou completamente a lei d’Aquele a quem chamavam seu “Deus Vivo”, queimando dezenas de milhares dessas pretensas “feiticeiras”.
SIGNIFICADO DO TERMO FEITIÇARIA.
Feitiçaria! Nome poderoso, que continha, no passado, a promessa da morte ignominiosa; e deve ser pronunciado, no presente, apenas para provar uma explosão de ridículo, uma avalanche de sarcasmos! Como é, então, que sempre existiram homens de inteligência e de erudição que nunca julgaram ser contrário à sua reputação de eruditos, ou à sua dignidade, afirmar publicamente a possibilidade de existência de algo como as “feiticeiras”, na correta acepção da palavra? Um desses intrépidos campeões foi Henry More, o erudito de Cambrigge, do século XVII.
As palavras witch [“feitiçaria”] e wizard [“mágico”], o Dr. More, significam nada mais do que homem sábio [wise Man] ou mulher sábia [wise woman]. Na palavra wizard, isso fica claro desde o primeiro momento; e “a dedução mais simples e menos laboriosa do nome witch provêm de wit, cujo adjetivo derivado seria wittigh ou wittich, e, por contração, mais tarde witch; da mesma maneira, o substantivo wit deriva do verbo to weet, `saber’. De modo que uma witch nada mais é do que uma mulher sábia; e que corresponde exatamente à palavra latina saga, na expressão sagae dictae anus quae multa sciunt de Festo”
A VULNERABILIDADE DE ALGUMAS “SOMBRAS”.
“Fecha a porta na cara do demônio, diz a Cabala, “e ele fugirá de ti, como se o perseguisses” – o que significa que não deveis dar guarida a esses espíritos de obsessão por atrai-los a uma atmosfera da mesma natureza.
Esses demônios tentam introduzir-se nos corpos dos simples de espírito e dos idiotas e aí permanecer até que sejam desalojados por uma vontade poderosa e pura. Jesus Apolônio e alguns dos seus apóstolos tinham o poder de afastar os demônios purificando a atmosfera interna e externa ao paciente, bem como de forçar o hóspede indesejável a se retirar. Certos sais voláteis lhes são particularmente desagradáveis; e o efeito de certas substâncias químicas vertidas num pires, colocados sob a cama pelo Sr. Varley, de Londres, com o objetivo de manter à distância, à noite, alguns fenômenos físicos, confirma esta grande verdade. Os espíritos humanos puros ou mesmo simplesmente inofensivos nada temem, pois, desembaraçados da matéria terrestre, os compostos terrestres não os podem afetar; tais espíritos são como um sopro. Não acontece a mesma coisa com as almas presas à Terra e aos espíritos da Natureza.
Isto se refere àquelas larvas terrestres carnais, espíritos humanos degradados, com que os antigos cabalistas alimentavam a esperança de reencarnação. Mas quando, ou como? Num momento conveniente, e se auxiliados por um sincero desejo de correção e de arrependimento, inspirado por uma pessoa forte e simpática, ou pela vontade de um adepto, ou mesmo um desejo que emana de um espírito pecador, contanto que seja poderoso o suficiente para fazê-lo romper o julgo da matéria pecaminosa. Perdendo toda a consciência, esta Mônada uma vez brilhante é apanhada uma outra vez no turbilhão de nossa evolução terrestre, e atravessa novamente os reinos subordinados e de novo respira na qualidade de uma criança. Seria impossível computar o tempo necessário para que se cumpra esse processo. Dado que não existe percepção do tempo na eternidade, qualquer tentativa seria apenas um trabalho inútil.
A PREPARAÇÃO DE ORÁCULOS.
A maneira de obter oráculos foi praticamente desde a mais alta Antigüidade. Na Índia, essa sublime letargia é chamada “o sono sagrado de ***. Trata-se de um esquecimento em que o paciente é dirigido por determinados processos mágicos, suplementares por goles de suco de soma. O corpo do que dorme permanece durante muitos dias num estado que se assemelha à morte, e pelo poder do adepto é purificado da sua terrenalidade e preparado para tornar-se o receptáculo do esplendor do Augoeides imortal. Nesse estado, o corpo dorme reflete a glória das esferas superiores, como um espelho reflete os raios do Sol. O que dorme não tem consciência do tempo que passa, mas, ao despertar, após quatro ou cinco dias de transe, imagina que dormiu apenas momentos. Ele não se lembrará jamais do que os seus lábios proferiram; mas, como é o espírito que os dirige, eles só podem pronunciar a verdade divina. Durante um lapso de tempo, essa pobreza impotente se faz o escrínio da presença sagrada e converte-se num oráculo mil vezes mais infalível do que a pitonisa asfixiada de Delfos; e, diferentemente do seu frenesi mântico, que foi exibido à multidão, este sono sagrado é testemunhado apenas no recinto sagrado por aqueles poucos adeptos que são dignos de comparecer à presença do ADONAI.
A descrição que faz Isaías da purificação necessária a um profeta para que ele se torne digno de ser o porta-voz do céu aplica-se perfeitamente ao caso de que tratamos. Empregando uma metáfora que lhe era familiar, ele diz: “Um dos serafins voou para mim trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada e purificado o teu pecado”.
ESPÍRITOS ELEMENTARES, TEM MEDO DA ESPADA.
Em Homero, temos Ulisses evocando o espírito do seu amigo, o adivinho Tirésias. Preparando-se para a cerimônia do “festival do sangue”, Ulisses saca da sua espada e dessa maneira assusta os milhares de fantasmas atraídos pelo sacrifício. O amigo, o tão esperado Tirésias, não ousa aproximar-se enquanto Ulisses mantém a arma apavorante na mão. Enéias prepara-se para descer ao reino das sombras, e, assim que se aproxima da entrada, a Sibila que o guia dita ao herói troiano o seu conselho e lhe ordena sacar da sua espada e abrir para si uma passagem através da multidão espessa de formas errantes:
Pselo, em sua obra, conta a história de sua cunhada que foi posta num estado muito assustador por um demônio elementar que a possuíra. Ela foi finalmente curada por um conjurador, um estrangeiro chamado Anaphalangis, que começou por ameaçar o ocupante invisível do seu corpo com uma espada nua, até que o desalojou. Pselo apresenta todo um catecismo da demonologia, em que se exprime nos seguintes termos, tanto quanto nos lembramos:
“Tuque invade viam, vaginaque eripe ferrum”.
Pselo, apresenta todo um catecismo da demonologia, em que exprime nos seguintes termos, tanto quanto nos lembramos:
“Quereis saber”, perguntou o conjurador, “se os corpos dos espíritos podem ser feridos por espadas ou por qualquer outra arma? Sim, eles podem. Qualquer substância dura que os golpeie pode causar-lhes uma dor sensível; e, embora os seus corpos não sejam feitos de nenhuma substância sólida ou firme, eles a sentem, pois, em seres dotados de sensibilidade, não são apenas os seus nervos que possuem a faculdade de sentir, mas também o espírito que reside neles (…) o corpo de um espírito pode ser sensível em seu todo, bem como em cada uma das suas partes. Sem o auxilio de qualquer organismo físico, o espírito vê, ouve e, se o tocardes, sente o vosso toque. Se os dividirdes em dois, ele sentirá a dor como qualquer homem vivo, pois ele também é matéria, embora seja esta tão refinada que se torna geralmente invisível aos nossos olhos. (…) Uma coisa, todavia, o distingue do homem vivo; a saber, o fato de que quando os membros de um homem são divididos, as suas partes não podem ser reunidas muito facilmente. Mas cortai um demônio em duas partes, e o vereis imediatamente se recompor. Assim como a água ou o ar se reúnem após a passagem de um corpo sólido, que não deixa nenhum sinal, nada atrás de si, assim também o corpo de um demônio condensa-se novamente, quando a arma penetrante é retirada da ferida. Mas cada incisão feita nele não lhe causa menos dor. Eis por que os demônios teme a ponta de uma espada ou de qualquer arma pontiaguda. Que aqueles que os queiram ver sangrar façam a experiência”.
Um dos eruditos mais sábios deste século, Bodin, o demonólogo, é da mesma opinião: os elementares humanos e cósmicos “são extremamente medrosos de espadas e de adagas”. Também esta é a opinião de Porfírio, de Jâmblico e de Platão. Plutarco menciona-o várias vezes. Os teurgos praticantes sabiam-no muito bem e agiam de acordo com a sua informação; e um grande número deles afirma que “os demônios sofrem com qualquer incisão que seja feita em seus corpos”.
FENÔMENOS, QUE PODEM OCORRER COM A ALMA.
Mas devemos abrir espaço agora para algumas narrativas dos filósofos antigos, que, ao mesmo tempo em que contam, vão nos explicando.
Em primeiro lugar, quanto às maravilhas, é preciso colocar Proclo. A sua lista de fatos, cuja maior parte ele apoia com citações de testemunhas – às vezes filósofos bastantes conhecidos -, é desconcertante. Ele registra, da sua época, muitos exemplos de pessoas mortas que foram encontradas em posição diferente nos seus sepulcros depois de terem sido colocadas sentadas ou em pé – fenômenos que ele atribuíam fato de elas serem larvas e que, diz “está relacionado pelos antigos de Aristeas, Epimênides e Hermodorus”. Cita quatro casos semelhantes extraídos da História de Clearco, o discípulo de Aristóteles. 1º) Clenyomus, o ateniense. 2º) Policreto, um homem ilustre entre os etólio. Este fato está relatado pelo historiador Naumachius, que diz que Plicreto morreu e retornou no nono mês após a sua morte. “Hiero, o efésio, e outros historiadores”, diz o seu tradutor, Taylor, “atestam a verdade desse fato”. 3º) Em Nocópolis, a mesma coisa aconteceu a um certo Eurynous, que ressuscitou no décimo-quinto dia após o seu enterro e viveu algum tempo depois disso levando um vida exemplar. 4º) Rufus, sacerdote da Tessálica, voltou à vida no terceiro dia após a sua morte, com o objetivo de proceder a algumas cerimônias sagradas que havia prometido realizar; cumpriu o prometido, e morreu novamente para nunca mais voltar.
Diz Proclo: “Muitos outros escritores antigos recolheram histórias de pessoas que morreram aparentemente e depois ressuscitaram; e entre eles o filósofo Demócrito, nos seus escritos relativos ao Hades, e o maravilhoso Conotes, conhecido por Platão. Pois a morte não era, como parecia, um abandono completo de toda a vida do corpo, mas uma cessação, caudada por algum golpe, ou talvez uma ferida. Mas os laços da alma ainda continuavam atados à medula, e o coração conservava em suas profundezas o empireuma da vida; tudo isto conservado, readquiria-se a vida, que se extinguira, em virtude de se estar novamente adaptado à animação”.
Ele diz ainda: “É evidente que é possível à alma deixar o corpo e voltar a entrar no corpo porque ele, que, de acordo com Clearchus, se serviu de uma vara que atrai a alma sobre um menino adormecido; e que convenceu Aristóteles, como Clearco relata em seu Tratado sobre o sono, de que a alma pode ser separada do corpo e de que ela entra num corpo e o usa como alojamento. Pois, golpeando o menino com a vara, ele atraiu e, como se diz, guiou a sua alma, com o objetivo de demonstrar que o corpo estava imóvel quando a alma [corpo astral] estava a uma certa distância dele, e que não lhe fizera nenhum mal. Mas a alma, guiada novamente para o corpo por meio da vara, deu-se conta, após a sua entrada, de tudo o que havia ocorrido. Nessas circunstancias, assim, os espectadores e Aristóteles se convenceram de que a alma é distinta e
separada do corpo”.
A DIFERENÇA ENTRE O MÉDIUM E O MÁGICO.
O mágico difere do feiticeiro no fato de que, enquanto este era um instrumento ignorante nas mãos dos demônios, o outro tornou-se se senhor pela intermediação poderosa de uma ciência, que só estava ao alcance de poucos, e a que estes seres eram incapazes de desobedecer”. Esta definição, estabelecida e conhecida desde os dias de Moisés.
O autor anônimo de Art. Magic, encontramo-lo o seguinte: “O leitor pode perguntar: em que consiste a diferença entre o médium e o mágico? (…) O médium é um ser por meio de cujo espírito astral outros espíritos se podem manifestar, fazendo sentir a sua presença por meio de diversos tipos de fenômenos. Seja qual for a natureza desses fenômenos, o médium é apenas um agente passivo em suas mãos. Ele não pode nem ordenar a sua presença, nem desejar a sua ausência; não pode nunca forçar a realização de qualquer ato especial, nem dirigir a sua natureza. O mágico, ao contrario, pode convocar e dispensar os espíritos de acordo com a sua vontade; pode realizar muitas façanhas de poder oculto através do seu próprio espírito; pode forçar a presença e a ajuda de espíritos de graus inferiores de ser do que o dele e efetuar transformações no reino da Natureza em corpos animados e inanimados”.
Este erudito autor esqueceu-se de assinalar uma distinção notável que existe na mediunidade, com a qual deve estar totalmente familiarizado. Os fenômenos físicos são o resultado da manifestação de forças, por meio do sistema físico do médium, pelas inteligências inobservadas, e não importa qual classe. Numa palavra, a mediunidade física depende de uma organização peculiar do sistema físico; a mediunidade espiritual, que é acompanhada de uma certa manifestação de fenômenos subjetivos e intelectuais, depende de uma organização peculiar da natureza espiritual do médium. Assim como o oleiro pode fazer de uma bola de argila um belo vaso e, de uma outra, uma vaso ruim, assim também, entre os médiuns físicos, o espírito astral plástico de um deles pode estar preparado para uma determinada classe de fenômenos, e o de outro, para uma classe diferente. Como regra geral, os médiuns que foram desenvolvidos para uma classe de fenômenos raramente mudam para uma outra, mas repetem a mesma performance ad infinitum.
A psicografia ou escrita direta de mensagens ditadas por espíritos é comum a ambas as formas de mediunidade. A escrita em si mesma é um fato físico objetivo, ao passo que os sentimentos que ela exprime podem ser do caráter mais nobre. Estes dependem inteiramente do estado moral do médium. Não se exige que ele tenha instrução alguma para escrever tratados filosóficos dignos de Aristóteles, nem que seja um poeta para escrever versos que fariam honra a Byron ou a Lamartine; mas deve-se exigir que a alma do médium seja suficientemente pura para servir de canal para os espíritos capazes de dar uma forma elevada a sentimentos desse gênero.
Que não podemos resistir aos desejo de citar algumas linhas de um dos escritos sânscritos, tanto mais que ele incorpora aquela porção da filosofia hermética a que se refere ao estado antecedente do homem, que descrevemos em outro lugar de maneira bem menos satisfatória.
A Filosofia hermética aponta os estados antecedentes do Homem.
“O homem vive em muitas outras terras antes de chegar a esta. Miríades de mundos nadam no espaço em que a alma em estado rudimentar faz as suas peregrinações, antes que chegue ao grande e brilhante planeta chamado Terra, cuja função gloriosa é conferir-lhe autoconsciência. Só neste ponto é que ele se torna homem; em qualquer outra etapa desta jornada vasta e selvagem ele é apenas um ser embrionário – uma forma evanescente e temporária de matéria -, uma criatura de cuja alma elevada e aprisionada uma parte, mas apenas uma parte, resplandece; uma forma rudimentar, com funções rudimentares, sempre vivendo, morrendo, mantendo uma existência espiritual passageira tão rudimentar quanto a forma material de que emergiu; uma borboleta despontando da crisálida, mas sempre, à medida que avança, em novos nascimentos, novas encarnações, para daqui a pouco morrer e viver novamente, mas ainda dando um passo à frente, outra para trás, sobre o caminho vertiginoso, apavorante, cansativo e acidentado, até que desperte uma vez mais – para viver uma vez mais e ser uma forma material, um algo de poeira, uma criatura de carne e osso, mas agora – um homem”.
UMA EXPERIÊNCIA PSÍQUICA.
Fomos testemunhas, certa vez, na Índia, de uma experiência de habilidade psíquica entre um venerável gosain (Faquir, mendigo) e um feiticeiro (Um prestidigitador, diga-se) que nos ocorre agora em relação a esse assunto. Estávamos discutindo sobre os poderes relativos dos Pitris dos faquires – espíritos pré-adamitas e aliados invisíveis dos prestidigitadores. Concordou-se em fazer uma experiência de habilidades, e o autor destas linhas foi escolhido como árbitro. Fazíamos a sesta, próximos de um pequeno lago da Índia setentrional. Sobre a superfície das águas cristalinas flutuavam inúmeras flores aquáticas e largas folhas brilhantes. Cada um dos contendores tomou uma dessas folhas. O faquir, apoiando a sua contra o seu peito, cruzou as mãos sobre ela e entrou em transe momentâneo. Colocou, então, a folha sobre a água, com a superfície superior voltada para baixo. O prestidigitador pretendia controlar o “senhor da água”, o espírito que reside na água gabou-se de forçar o poder a impedir que os Pitris manifestassem quaisquer fenômenos sobre a folha do faquir em seu elemento. Tomou a sua própria folha e a colocou sobre a água, depois de ter praticado sobre ela uma espécie de encantação selvagem. Ela, imediatamente, exibiu uma agitação violenta, ao passo que a outra folha continuava absolutamente imóvel. Ao final de alguns segundos, ambas as folhas foram retiradas. Sobre a folha do faquir vimos – uma indignação do prestidigitador – algo que se assemelha a desenhos geométricos formados de caracteres de um branco leitoso, como se os sucos da planta tivessem sido usados como um fluído corrosivo com que se pudesse escrever. Quando ela secou, e tivemos a oportunidade de examinar as linhas com cuidado, reconhecemos serem elas uma série de caracteres sânscritos elaborados com perfeição; o todo compunha uma frase que enfeixava um preceito de alta mortal. O faquir, acrescentou, não sabia ler nem escrever. Sobre a folha do prestidigitador, em vez de escrita, encontramos uma figura hedionda, demoníaca. Cada uma das folhas, portanto, trazia uma impressão ou um reflexo alegórico do caráter do contendor e indicava a qualidade de seres espirituais a que obedecia.
Isis Sem Véu – VOLUME II – CIÊNCIA II
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