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São Cipriano
Antióquia – Justina era uma jovem e bela virgem pagã, filha de um sacerdote dos ídolos. Sua janela dava para o pátio vizinho da igreja dos cristãos. Todos os dias ela ouvia a voz pura de um diácono ler bem alto os santos Evangelhos. Esta palavra desconhecida tocou e revolveu-lhe o coração. Uma tarde, sua mãe, vendo-a pensativa, insisitiu para que lhe confiasse as preocupações. Justina lançou-se aos seus pés dizendo-lhe: “Mãe, abençoai-me ou perdoai-me, eu sou cristã”.
A mãe chorou abraçando sua filha e foi procurar o esposo a quem confiou o que acabava de saber. Eles adormeceram e tiveram o mesmo sonho. Uma luz divina descia sobre eles e uma voz doce os chamava dizendo-lhes: “Vinde a mim, vós que viveis aflitos e eu vos consolarei; vinde, os amados de meu Pai e eu vos darei o reino que vos está preparado desde o começo do mundo.”
Ao amanhecer, o pai e a mãe abençoaram sua filha. Os três fizeram-se inscrever entre os catecúmenos e depois das provas de costume foram admitidos ao santo batismo. Justina voltava branca e radiosa da igreja, entre sua mãe e seu velho pai, quando por ela passaram dois homens sombrios embrulhados em seus mantos: era o mago Cipriano e seu discípulo, Acládio. Os homens pararam deslumbrados pela visão da moça. Justina não os notou e entrou em casa com sua família.
No laboratório de Cipriano, uma vítima degolada palpita perto de um estrado fumegante. Em frente ao mago, apareceu então o gênio das trevas:
— Eis-me aqui; por que me chamas-te? Fala! Que queres?
— Amo uma virgem.
— Seduze-a.
— Ela é cristã.
— Denuncia-a.
— Eu quero possuí-la e não perdê-la; podes fazer alguma coisa em meu favor?
— Eu seduzi Eva, que era inocente e que conversava todos os dias familiarmente com Deus. Se tua virgem é cristã, fica sabendo que fui eu que fiz crucificar Jesus Cristo.
— Logo, tu me entregarás a jovem?
— Toma este ungüento mágico; besuntarás com ele o limiar da porta dos aposentos da moça e do resto eu me encarregarei.
Justina dorme em seu quartinho casto e severo. Cipriano posta-se à porta murmurando palavras sacrílegas e procedendo a ritos horríveis. O demônio coloca-se à cabeceira da rapariga e sopra-lhe sonhos voluptosos cheios da imagem de Cipriano que ela crê encontrar ainda ao sair da igreja; mas desta vez ela o contempla, escuta o que ele diz e perturba-se. Ela se agita e desperta. Faz o sinal da cruz e o demônio desaparece. O sedutor que faz sentinela à porta aguarda-a inutilmente toda a noite.
No dia seguinte ele recomeça suas evocações e faz amargas censuras ao cúmplice infernal. Este, confessa sua impotência. Cipriano o expulsa e faz aparecer um demônio de ordem inferior. O recém convocado transforma-se alternadamente em formoso mancebo e moça para tentar Justina por carícias e conselhos. A virgem vai sucumbir mas seu anjo da guarda a assiste; ela faz o sinal da cruz e expulsa o mau espírito. Cipriano invoca, então, o rei dos infernos e vem Satã em pessoa. Ele acomete Justina com todas as dores de Jó e espalha uma peste terrível em Antióquia, mandando os oráculos dizerem que a peste cessará quando Justina acalmar Vênus e o amor ultrajados. Justina ora publicamente pelo povo e a peste cessa.
Vencido mais uma vez, Cipriano obriga Satã a confessar a onipotência do sinal da cruz e o afronta, marcando-se com este sinal. Ele abjura a magia, torna-se cristão, chega a bispo e reencontra Justina num mosteiro de virgens. Eles se amam, então, com o puro e durável amor da celeste caridade; a perseguição, porém, os atinge: são presos juntos e mortos no mesmo dia, consumando no seio de Deus um casamento místico e eterno. (p 167-169)
Lenda de Apuleio
Eis o assunto do livro de Apuleio: ele é um viajante de passagem pela Tessália, país dos encantamentos. Ali recebe a hospitalidade de um homem cuja mulher é feiticeira. Seduz a criada desta mulher pretendendo, por este meio, obter segredos de magia. A criada promete entregar ao amante uma poção por meio da qual a feiticeira se transforma em pássaro porém engana-se com as caixas e Apuleio se vê mudado em Asno.
A amante desastrada o consola dizendo-lhe que para retomar sua forma humana basta comer rosas, que é a flor da iniciação. Mas onde achar rosas à noite? É preciso esperar o dia seguinte. A criada conduz o asno à estrebaria. Aparecem ladrões que roubam o asno. Torna-se difícil aproximar-se de rosas, que não são feitas para burros; sempre que tenta, os jardineiros expulsam-no a pauladas. Apuleio vai perdendo as esperanças mas, certa ocasião, tendo adormecido, aparece-lhe em sonho a deusa Ísis e lhe promete que seu sacerdote, prevenido por uma revelação, lhe dará rosas durante as solenidades de sua festa, que está próxima.
Chega o dia da festa: homens mascarados seguem à frente; …depois vêm as mulheres espalhando flores; por fim, as imagens dos deuses, em número de três, seguidas pelo grande hierofante, que conduz, não uma imagem, mas o símbolo de Ísis, uma bola de ouro com o caduceu em cima. Lúcio Apuleio vê na mão do sacerdote uma coroa de rosas. Aproxima-se e não é repelido. Come as rosas e recupera a natureza humana.
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