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Afirma-se freqüentemente que o convento de 1877, realizado pelo Grande Oriente de França (GOF), expulsou o G.:A.:D.:U.: de seus templos e, por esta razão a Grande Loja Unida da Inglaterra retirou-lhe o reconhecimento, jogando-o, ipso facto, na irregularidade.
O objetivo deste artigo é arrolar os contra-argumentos do GOF, principalmente os apresentados na conferência do Ir.: Karim-Jacques em Washington, em 16 de novembro de 1996, sobre o assunto, para que se possa ter uma visão sobre os dois pontos de vista.
Os Maçonólogos do GOF preceituam que o Convento de 1877 foi, na verdade, um ato refundador da maçonaria dita liberal, sem desconhecer, contudo, que tal ato se tornou a raiz de sua “irregularidade” e da ruptura entre o GOF e a maçonaria anglo-saxã. Como pano de fundo desta querela cintila a questão da relação entre Deus e a Maçonaria (Vide A Querela do G.:A.:D.:U.: de Guilherme Oak).
A versão histórica dos fatos, pelo GOF, é bastante interessante. Imediatamente após sua criação em 1717, a Grande Loja Londres decidiu adotar um ato máximo regulador que veio ser conhecido como as Constituições de Anderson, pois sua redação foi confiada a uma comissão presidida pelo pastor James Anderson sendo a versão final publicada em 1723. Estas Constituições de Anderson apresentavam, como primeira parte, uma história mítica da maçonaria e, em seguida, os Deveres de um Franco-Maçom, no qual o item referente a Deus e à Religião constituiria o cerne destas Constituições. Eis o texto completo, retirado de uma edição do GOB em 1977:
I – O que se refere a Deus e a Religião
“O Maçom está obrigado, por vocação, a praticar a moral, e se compreender seus deveres, nunca se converterá em um estúpido ateu nem irreligioso libertino. Apesar de nos tempos antigos os maçons estarem obrigados a praticar a religião que se observava nos países em que habitavam. hoje crê-se mais conveniente não impor-lhes outra religião senão aquela que todos os homens aceitam, o dar-lhes completa liberdade com referência às suas opiniões particulares. Esta religião consiste em ser homens bons e leais, quer dizer, homens honrados e probos, seja qual fora a diferença de nome ou de convicções. Deste modo a Maçonaria se converterá em um centro de unidade, e é o meio de estabelecer relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separadas”. (Constituição de Anderson, GOB, s/d, Rio de Janeiro).
O que já se escreveu no mundo todo sobre este pequeno parágrafo, principalmente no que concerne à exclusão dos “ateus estúpidos” e dos “libertinos sem religião” daria para redigir vários tratados de filosofia. Obviamente que existem ateus que não sejam estúpidos e libertinos com religião, mas para os redatores das Constituições, saídos do meio protestante da Inglaterra do Século XVIII, o ateísmo constituía, na verdade, uma estupidez. Os comentadores do GOF notam que a tradição bíblica afirma que o ateísmo advém de uma limitação voluntária das faculdades da inteligência do homem: “diz o insensato no seu coração: ‘Deus não existe”’ (Salmos 14,1) e o pensamento Inglês do Século XVIII considerava o ateísmo como contrário ao bom uso da razão. Quanto ao libertinos, Anderson não visava, como hoje se pensa, àqueles que são desregrados nos seus costumes, na sua moral, ou seja, àqueles que não seguem as leis da religião, seja pela crença seja pela prática, em suma, os livres-pensadores. Assim, para os redatores das Constituições, a adesão do maçom à uma religião era mais que um imperativo categórico, era, enfim, uma necessidade quase biológica. Aqui se coloca um problema. De que religião se trataria? Daquela sobre a qual todos os homens estão de acordo.
E esta religião, sobre a qual todos os homens estão de acordo, não deveria ser definida tendo como referência a crença em um Deus pelo qual se atribuiria todas as suas características singulares, mas sim as virtudes às quais Ele sujeitaria seus adeptos, ou seja, a bondade, a sinceridade, a modéstia e a honra.
As Constituições de Anderson são, para os maçons do final do século XX, o texto fundador da maçonaria moderna antes de tudo, porque elas consagram a superação das clivagens religiosas entre os homens. Quando, durante o século XVIII, a maçonaria se espraiou sobre o continente europeu, principalmente na França, esta superação das clivagens religiosas casou-se naturalmente com as idéias defendidas pelos filósofos das Luzes. A religião, sobre a qual todos os homens estariam de acordo, era, para a maioria dos maçons franceses, idêntica à religião natural, adogmática, na qual falava Voltaire no seu Dicionário Filosófico quarenta anos após a primeira redação das Constituições: o Deus dos filósofos das Luzes, que era o grande denominador comum da natureza e do cosmo, sem que lhe fosse necessário recorrer a manifestações sobrenaturais. Estava claro que esta interpretação estava em desacordo com aquela dos maçons ingleses, pelo menos daqueles que se sucederam aos redatores das Constituições. Sobre o continente europeu, e mais uma vez, principalmente na França, a filosofia das Luzes se confrontava com um cristianismo fortemente dogmático representado pela Igreja Católica. Pelo contrário, na Inglaterra, as tradições de livre interpretação da bíblia, apanágio do protestantismo, permitiam ao Iluminismo desabrochar num clima fortemente marcado pelos ensinamentos de Cristo.
Assim, para os maçons ingleses, a abertura trazida pelas Constituições de Anderson apontava a vontade de ultrapassar as clivagens entre as diversas religiões cristãs e, até mesmo, em direção às outras religiões reveladas, como o judaísmo. O islã ainda estava muito distante para entrar neste caldeirão ecumênico “avant la lettre”. Esta orientação deveria por outro lado, ser formalmente confirmada quando da revisão das Constituições, efetuada em 1738, ou seja, quinze anos após a primeira edição.
Contudo, nesta versão revisada, o maçom é, naquele famoso item das obrigações para com Deus e a Religião, obrigado, de agora em diante, “a observar a lei moral como um verdadeiro Noaquita”. Pronto, com esta guinada do deísmo para o teísmo, introduziu-se a referência à revelação de Deus a Noé, à aliança entre o Deus criador e o homem, que engloba todas as religiões monoteístas, ou seja, estabeleceu-se a reserva de mercado das religiões reveladas e não mais “a religião sobre a qual todos os homens estão de acordo”. Aqui, é necessário fazer uma distinção entre edoísmo e teísmo. Segundo Alberton “teísmo é a doutrina de escola filosófica que admite a existência de Deus pessoal, primeiro princípio e fim último de tudo o que existe; deísmo é um sistema filosófico-religioso ou espécie de religião natural.
Não nega a existência de Deus. Entretanto, Deus só pode ser alcançado por argumentos puramente racionais. Não há, pois, revelação e o Cristianismo se torna desnecessário. Intervenção de Deus no mundo também é, pois, desnecessária, negando, por conseguinte, sua providência.
Por isto também repugna-lhe o milagre, bem como toda intervenção sobrenatural: a Revelação e a Graça ou auxílio de Deus” (O Conceito de Deus na Maçonaria, ed.Aurora, RJ, 1981, pg.79).
Convém salientar que Anderson tenta amenizar a derrapagem teísta, pois, em maçonaria a primeira aliança com Deus é a de Noé, e não somente aquela de Abraão, que conviria mais aos Judeus e aos maometanos, ou ainda a de Moisés, que convém mais aos Judeus e aos Cristãos, ou aquela de Cristo que concerne obviamente aos cristãos. O Anderson de 1738 tenta demonstrar, assim, que os filhos de Noé também contrataram com Deus a mesma aliança que seu pai; estão na origem das religiões posteriores. Deste modo, o Noaquismo andersoniano tenta ser, não uma filosofia, mas acima de tudo um princípio. Ainda que a palavra seja imprópia, ela significa virtualmente, mas em definitivo, que todos os homens se reconhecem nesta primeira aliança, ainda que eles admitam ou não as alianças posteriores; todos, de maneira universal, poderiam ser maçons.
Este, contudo, não é o ponto de vista da concepção da maçonaria liberal francesa, que se mantém fiel ao marco deísta das Constituições de 1723. Para ela, a Constituição teísta de 1738 conspurcou aquela original de 1723, e a ruptura entre a maçonaria anglo-saxã já estaria, senão virtualmente consumada, pelo menos programada neste momento. A criação do GOF e a cisão de 1877 quase 150 anos depois, seriam meras decorrências daquela traição de 1738.
O Grande Oriente de França, criado a partir de 1773, sempre apresentou uma posição deísta e tolerante em relação a Deus e à Religião. A própria iniciação de Voltaire na Loja das Noves Irmãs em 1778 representou a adesão da elite da maçonaria francesa à uma concepção de uma religião natural de característica deísta, ou seja, a concepção original das Constituições de 1723. O exame dos rituais do rito francês da época, por exemplo aqueles de 1786, não faziam menção seja a Deus, seja ao G.:A.:D.:U.:, mas era diante do G.:A.:D.:U.: que o iniciando prestava seu juramento , terminando com a invocação: “Que o G.:A.:D.:U.: me ajude”. Todas a pranchas e os diplomas, emitidos pelo GOF apresentavam no seu cabeçalho o seguinte título: A.:L.:G.:D.:A.:D.:L.:U.: (À La Gloire Du Architecte De L’Univers – À Glória do Arquiteto do Universo).
Nos primeiros decênios de século XIX, o carácter majoritariamente deísta da maçonaria do GOF não foi colocado em causa, seja na época da saída dos eclesiásticos das lojas, quando da assinatura da Concordata Napoleônica de 1801, seja durante as condenações repetidas pela Igreja Católica em 1821, 1825, 1829, 1832 e 1846. Durante a Revolução de 1848, as idéias românticas e rousseaunianas triunfaram na sociedade civil, na política e nas lojas.
Recebendo uma delegação do GOF, o Ir.: Adolphe Crémieux, membro do Governo e maçom do R.:E.:A.:A.: declarou: “O G.:A.:D.:U.: deu o sol ao mundo, a liberdade para o sustentar. O G.:A.:D.:U.: quer que todos os homens sejam livres, ele nos deu a terra para ser fertilizada, e é a liberdade que a fertiliza. A maçonaria não tem, é verdade, por objeto e política, mas a alta política; a política da humanidade sempre tem encontrado acolhida no seio das lojas maçônicas. Lá, em todos os tempos, em todas as circunstâncias, sob a opressão do pensamento como sob a tirania do poder, a maçonaria repetiu incessantemente as palavras sublimes: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. (…) Seja Dito! A República fará aquilo que faz a maçonaria. Ela se tornará um contrato radiante de união dos povos sobre todos os pontos do globo, sobre todos os lados de nosso triângulo, e o G.:A.:D.:U.:, do alto do céu, subscreverá este nobre pensamento da República, que se espalhando por todas as partes, reunirá num mesmo sentimento, todos os cidadãos da terra”.
É, também, neste contexto que, em 1848, uma comissão do GOF examina um relatório intitulado “Como restituir à Maçonaria o caráter religioso que lhe é próprio?” e o Convento de 1849 do GOF adota a primeira Constituição da Obediência que, até aquela época, possuía somente regulamentos gerais. O artigo primeiro desta Constituição rezava o seguinte: “A Maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista, tem por base a existência de Deus e a imortalidade da alma; ela tem por objeto o exercício da beneficência, o estudo da moral universal, das ciências e das artes, e a prática de todas as virtudes. Sua divisa tem a sido de todos os tempos: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Esta profissão de fé estava indo bem além do deísmo, um pouco frouxo, que reinava na maioria das lojas, não sendo, entretanto, adotadas, sem dimensões internas, no seio do GOF. Em janeiro de 1847, Proudhon, que tinha sido iniciado numa loja de Besançon, ralatava: “Como todo neófito, antes de receber a luz, eu deveria responder às três perguntas de praxe: Qual o dever do homem em relação ao seu semelhante? Qual o seu dever em relação ao seu país? Qual o dever do homem em relação a Deus? Sobre as duas primeiras perguntas, a minha resposta foi tal qual se podia esperar. Sobre a terceira, contudo, eu respondi por esta palavra: a Guerra”. Resposta, entretanto, que não o impediu de ser iniciado…
As dissensões sobre a crença em Deus e a imortalidade da alma se acentuaram na medida que progrediam, às vezes, o anticlericalismo, alimentado pelas novas condenações papais de Pio IX à maçonaria, em 1864 e 1865, bem como também pelas idéias da filosofia positiva de Auguste Comte. Vamos ver agora como esta transição foi se processando progressivamente. No Convento de 1861, o conflito tinha sido muito forte entre o Grão-Mestre que saía – o príncipe Lucien Murat -, que desejava impor uma maçonaria do tipo anglo-saxão, e a maioria dos irmãos convertidos ao positivismo científico. Um compromisso foi, então, estabelecido no Convento de 1865, chegando-se a uma revisão do artigo primeiro da Constituição que, desde então ficou assim redigido: “A Maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista, tem por objeto a pesquisa da verdade, o estudo da moral universal, das ciências e das artes e o exercício da beneficência.
Ela tem por princípios a existência de Deus, a imortalidade da alma e a solidariedade humana. Ela contempla a liberdade de consciência como um direito próprio a cada homem e não exclui ninguém pelas suas crenças. Ela tem por divisa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Este compromisso mostrava-se extremamente capenga. As disposições do artigo primeiro estavam contraditórias.
A afirmação do princípio da existência de Deus e da imortalidade da alma não eram compatíveis, dentro da boa lógica, com aquele de liberdade de consciência. Nota-se que o compromisso estava se esgotando e não deveria, ipso facto, durar muito. Chega-se, finalmente ao ponto de ebulição: o Convento de 1877, que passou a ser o marco de rompimento da maçonaria francesa com a anglo-saxã. O Ir.: Fréderic Demons, um pastor protestante de Gard, que era, então, delegado da loja O Progresso ao Oriente de Saint-Geniès e que foi, posteriormente, Grão-Mestre do GOF, foi designado como relator do voto tendendo à supressão da referência, na Constituição, do princípio da existência de Deus e da imortalidade da alma. Segundo historiadores do GOF, ele pronunciou um dos mais belos discursos da história da maçonaria que deve ser citado para melhor se entender este ponto de ruptura. Após ter afirmado: “Quem não sabe (…) que ninguém entre nós, ao propor esta supressão, não se está fazendo profissão de ateísmo ou materialismo?” e prosseguia concluído: “Nós demandados a supressão desta fórmula porque ela é embaraçante para muitos profanos que, animados do sincero desejo de fazer de nossa grande e bela instituição que nós lhes incutimos, a bem dizer, como uma instituição lata e progressista, se vêem de repente detidos por esta barreira dogmática que sua consciência não lhes permite transpor. Nós demandamos a supressão desta fórmula por que ela nos parece, sobremaneira, inútil e estranha à finalidade da maçonaria (…) Seu campo não é bastante vasto, seu domínio tão extenso para que não seja necessário colocar o pé sobre um terreno que não é seu? Não. Deixemos aos teólogos o cuidado de discutir os dogmas. Deixemos às Igrejas autoritárias o cuidado de formar seus sílabos. Mas, que a maçonaria permaneça aquilo que ela deve ser, ou seja, uma instituição aberta a todo o progresso, a todas as idéias morais e elevadas, a todas as aspirações amplas e liberais.
Que ela não desça jamais à arena ardente das discussões teológicas que só tem levado – creiam-me naquilo que vos falo – às discórdias e às perseguições. Que ela se resguarde de querer ser uma Igreja, um Concílio, um Sínodo, porque todas as Igrejas, todos os Concílios, todos os Sínodos tem sido violentos e perseguidores, e isto por ter sempre tomando por base o dogma que, pela sua natureza, é essencialmente inquisidor e intolerante. Que a maçonaria plane, então, majestaticamente sobre todas as questões de Igrejas ou de seitas, que ela domine, do alto da sua grandeza, todas aquelas discussões, que ela se torne o vasto abrigo sempre aberto a todos os pesquisadores conscienciosos e desinteressados da verdade, a todas as vítimas, enfim, do despotismo e da intolerância”.
Após discussões acaloradas, o Convento adotou, então, a seguinte redação para aquele famoso artigo primeiro da Constituição do GOF: “A maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista, tem por objeto a busca da verdade, o estudo da moral universal, das ciências e das partes e o exercício da beneficência. Ela tem por princípio a liberdade absoluta de consciência e a solidariedade humana. Ela não exclui ninguém por suas crenças. Ela tem por divisa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Esta redação perdurou, sem muitas modificações, até os dias atuais. Segundo os analistas do GOF, o que o Convento de 1877 proclamou foi uma volta à orientação dada pelas primeiras Constituições de Anderson de 1723. Voltou a consagrar a maçonaria como sendo um verdadeiro Centro de União, refundando assim, pelo prisma dos historiadores do GOF, a maçonaria liberal, ou seja a maçonaria da liberdade absoluta de consciência. O Convento, após a modificação do artigo primeiro, convocou o Conselho da Ordem a estudar a questão relativa à revisão dos rituais. As informações sobre a data desta revisão são um tanto quanto contraditórias. Algumas fontes mencionam a publicação dos novos rituais dois anos após a celebração do Convento; outras indicam que os novos rituais só entram em vigor em 1887, dez anos após o Convento. Salienta-se ainda que, nos rituais revisados do rito francês, praticados pela maioria das lojas do GOF, não se faz menção, desde então, ao G.:A.:D.:U.:; por outro lado, não se proibiu nenhuma invocação ao G.:A.:D.:U.: àquelas lojas que assim o desejassem.
Pode-se entender, então, que a supressão nos rituais da menção do G.:A.:D.:U.:, ou pelo menos, tornar facultativa a sua menção, apresenta uma posição vital para os maçons do GOF, pois a liberdade de consciência se tornou absoluta para estes IIr.: chegando, mesmo, ao ponto de tornar não-obrigatório um Landmark da maçonaria universal regular.
Para encerrar, citamos um trecho do discurso do Ir .: Karim-Jacques, que nos parece lapidar sobre a posição da maçonaria liberal francesa: (…) após ter afirmado bombasticamente o princípio da liberdade absoluta de consciência, houve, com efeito, a ocasião de dar à noção do G.:A.:D.:U.: um sentido renovador, que teria sido aquele de símbolo unificador da maçonaria. E é este sentido que, por minha parte eu dou, aqui e agora, a este G.:A.:D.:U.: que nós invocamos daqui por diante na abertura e fechamento de nossos trabalhos, como também durante os rituais de iniciação.
Como diz um outro artigo de nossa constituição, “a maçonaria possui signos e emblemas, cuja alta significação simbólica não pode ser revelada a não ser na iniciação. Estes signos e estes emblemas presidem, sob formas determinadas, aos trabalhos dos maçons e permitem a estes, sobre toda superfície do globo, de se reconhecer e de se ajudar mutuamente”. Para mim, o G.:A.:D.:U.: é um dos símbolos, e talvez o maior entre todos. A força dos símbolos, aquilo que faz seu caráter único e os diferencia totalmente dos dogmas, é que cada um pode dar-lhes a interpretação que lhe aprouver, contanto que seguramente esta interpretação em questão não seja contrária ao ensinamento global da maçonaria. O pavimento mosaico não é, não pode ser para um maçom, o símbolo do apartheid. O símbolo é, então, um fator de aproximação entre todos os irmãos, um cimento entre seus corações e sua razão. Neste sentido, o G.:A.:D.:U.: poderá ser, para meu irmão teísta que esta ao meu lado na loja, o símbolo do Deus pessoal revelado pela bíblia ou pelo Alcorão; para o meu irmão deísta, o símbolo de uma divindade adogmática e não revelada; para meu irmão ateu, o símbolo de uma sociedade melhor e do progresso às quais ele aspira; e para mim, que não sei bem qual etiqueta deveria me ser pespegada (talvez, na falta de algo melhor, de agnóstico espiritualista), o símbolo do conjunto das leis que regem o mundo, que constituem a “inteligência”, inteligência que me é, muitas vezes inacessível, tendo em vista minhas capacidades limitadas, sejam elas científicas ou espirituais, de chegar a minha consciência. O Arquiteto edifica esta marcha de construção, ou seja de iniciação, e é isto que nos reúne todos sobre estas colunas, na fraternidade.
por William Almeida de Carvalho
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