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Entre o século VIII e o XII, a Igreja viveu uma série de intrigas, grande parte dela dentro da própria instituição. Iniciou-se com o advento do Papa João VIII, que teria sido, no entanto, uma papisa. Conta a tradição que, ficando grávida, deu à luz no meio de uma procissão, sendo assassinados ela e o seu filho. Entre 896 e 904, uma dezena de papas foram assassinados, correndo a sucessão vertiginosamente. Depois, o Papa Formoso (891-896). Estêvão VI, terceiro papa no ano de 896, também morreu assassinado. Seus Romano e Teodoro II sucessores permaneceram no cargo o primeiro dois meses e o segundo vinte dias. Cada papa assassinado era imediatamente espoliado dos seus pertences pessoais pelo Vaticano. O fato se tornou tão vergonhoso que o Papa João IX (898- 900) lançou um decreto proibindo tal prática.
O Papa João XII (954-964), um ano antes do seu bárbaro assassinato, foi acusado de incesto, perjúrio, assassinato, profanação de igrejas e era tido como um mago negro, malgrado o Concílio de Agda, em 506, já houvesse proibido a prática do sortilégio. Em 993, Oto III decidiu investir um alemão no pontificado, Gregório V, mas este morreu três anos depois. Em seguida, o Papa Silvestre II (999-1003), um das pessoas mais eruditas da época, que era também um dos maiores adoradores do diabo. João XIX (1024-1032) não se interessou pela cúria e passou para o seu filho, Benedito IX, que vendeu a tiara papal por mil libras ao seu padrinho. Gregório VI (1045-1046), que teve de renunciar por imposição do imperador Henrique III.
Cita Alberto Cousté, que “Embora a situação tivesse melhorado para o prestígio da Igreja com o advento dos príncipes alemães, pouco mais de dois séculos depois três pontífices quase sucessivos mereceram ser incluídos por Dante, o maior poeta da cristandade, no inferno dos simoníacos: o romano Nicolau III (1227-1280), um Orsini que não desmereceu o prestígio da família; o catalão Benito Caytano (Bonifácio VIII: 1294-1303); e o tristemente famoso Clemente V, submisso a Felipe, o Belo, até o extremo de transferir a sua corte papal para Avignon a fim de comprazer o francês e responsável histórico pela destruição dos templários.”
No século XI, em 1076, Jerusalém foi tomada pelos turcos. O Islã é imediatamente identificado com o diabo. No entanto, a Terra Santa4 não estava sob nenhum jugo, pois os cristãos, judeus e maometanos conviviam pacificamente. Não obstante, o pretexto serviu para a primeira cruzada em 1095, que terminou em derrota total, sem nenhum resultado. Mais sete cruzadas se seguiram, mas a maioria das tentativas de recuperar a “terra santa” resultou em fracasso, porque os árabes não deixaram barato. A última cruzada foi em 1270, com a morte do rei cristão e a cessação das hostilidades.
Em relação ao Islã, eis a lição da Madame Blavatksy: “Nenhuma religião teve uma história tão sangrenta quanto o Cristianismo. Todas as outras, incluindo as ferozes batalhas do ‘povo escolhido’ contra seus parentes próximos, as tribos idólatras de Israel, empalidecem diante do fanatismo homicida dos pretensos seguidores de Cristo! Mesmo a rápida difusão do Maometismo diante da espada conquistadora do profeta do Islão é uma conseqüência direta das batalhas e rixas sangrentas entre os cristãos. Foi a guerra intestina entre os nestorianos e os cirilianos que engendrou o Islamismo; e foi no convento de Basra que a prolífica semente foi pela primeira vez semeada por Bahira, o monge nestoriano.”
A partir do século XII, com a multiplicação das heresias populares, foi instaurado o Santo Ofício, que se deu através de um decreto do Papa Lúcio III, no ano de 1184, e realmente começou a funcionar em 1229, através do Concílio de Toulose. O responsável oculto pelo estabelecimento desta “carnificina por atacado” é justamente Loiola, membro da ordem mais infame que já existiu, a dos Jesuítas. A Inquisição perseguiu os albigenses, simoníacos, basilidianos, gnósticos, setianos, cátaros e pessoas de muitas outras seitas consideradas hereges.
No Directorium 5, a lista de hereges aplica-se aos Inquisitorum excomungados, aos simoníacos, a quem se opuser à Igreja de Roma e contestar a autoridade que recebeu de Deus, a quem cometer erros na interpretação das Sagradas Escrituras, a quem criar uma nova seita ou 5 Manual dos Inquisidores, escrito por Nicolau Eymerich, em 1377, depois revisto e ampliado por Francisco de La Peña, em 1578 aderir a uma seita já existente, a quem não aceitar a doutrina romana no que se refere aos sacramentos, a quem tiver opinião diferente da Igreja de Roma sobre um ou vários artigos de fé, e a quem duvidar da fé cristã.
Mas, além dos hereges, quem realmente eram as grandes vítimas dos inquisidores? Eram, em sua maioria, pessoas como uma mulher velha excêntrica, uma criança com um sinal estranho no corpo, um fazendeiro pego fazendo sexo com uma cabra, uma pessoa denunciada por um vizinho vingativo, um banqueiro (homem de posses), um protestante, e assim por diante. Uma tortura, nos moldes medievais, fazia com que a pessoa confessasse qualquer absurdidade.
Para se ter uma idéia do espírito inquisitorial, cito aqui dois preceitos jesuíticos que escolhi ao acaso:
1. “Os filhos cristãos e católicos podem acusar seus pais pelo crime de heresia, ainda que saibam que por isso os acusados tenham de morrer na fogueira… E não só podem negar- lhes até o alimento se tratam de apartá-los da fé católica, mas também podem com toda justiça dar-lhes morte.” (F. Esteban Fagundez: Precepta Dacalogi)
2. “Por ordem de Deus, é lícito matar uma pessoa inocente, roubar ou fornicar, porque ele é o Senhor da Vida e da Morte e de todas as coisas: e devemos cumprir as suas ordens”. (Padre Alagona)
Os templários, originariamente uma ordem cristã, defendendo pontos estratégicos contra os mouros, era extremamente rica e despertou a cobiça a cobiça da coroa francesa. Em 1314, Felipe, o Belo, recebendo apoio do papa Clemente V, mandou torturar e matar centenas de membros da ordem, ficando, naturalmente, com a maior parte dos bens, enquanto a outra parte foi transferida para a cúria romana. É interessante o fato de que a família dos condenados era vampirizada de todos os seus bens. Llorente, o historiador da Inquisição, revela que Torquemada, durante 18 anos, queimou 17080 pessoas e torturou mais 97321. Se por um lado, os bens desses infelizes ficaram com o inquisidor e os seus cúmplices, imagina então o dinheiro arrecadado dos ricos na venda de indulgências pela Santa Sé! Dietrich Von Niecheim, Bispo de Verden, Alemanha, em 1411, parece justificar esse genocídio em massa, bem como outras características semelhantes, ao dizer que “Quando sua unidade está ameaçada, a Igreja fica libertada de toda e qualquer obrigação moral. Neste caso, o fim – a preservação da unidade – santifica os meios: a perfídia, a traição, a tirania, a simonia, a cadeia e a morte”. Marcelo Mota relata o seguinte: “Em toda ocasião em que isto aconteceu (estabelecimento ou restabelecimento de doutrina contrária ao Cristianismo; parênteses meus), a Igreja Romana interveio com fúria demoníaca, assassinando homens, mulheres, velhos e até criancinhas, sem a mínima compunção; ao ponto mesmo (como no caso dos Albigenses) de capitães medievais, homens supostamente embrutecidos pela violência das batalhas selvagens da época, terem ficado tão fartos da chacina que foram perguntar ao papa se, porventura, não estariam exterminando inocentes com os culpados (essa gente morria tão virtuosamente, o senhor compreende!). E foi em tal ocasião que o Bispo de Roma honrou a tradição cristã de sua igreja com as seguintes palavras: “Matai a todos; Deus distinguirá os seus.” Segundo o autor, a matança incluía até recém-nascidos.
“No curso de apenas quinze anos, entre 1580 e 1595, e só na província de Lorraine, o Presidente Remigius queimou novecentas feiticeiras”, diz Thomas Wright, em seu Sorcery and Magic. T. Wright também explica que “Entre as milhares de pessoas que pereceram na fogueira, na Alemanha, durante a primeira metade do século XVII, por feitiçaria, o crime de muitas delas foi a sua ligação à religião de Lutero”. Na Alemanha, o príncipe local era quase sempre um bispo jesuíta, que ficava com o patrimônio dos condenados. Alberto Cousté menciona que, “entre 1625 e 1630 ocorreram não menos de 900 processos nos tribunais de Bamberg e Zeil; e um panfleto publicado pela autoridade de Bamberg, em 1659, fixa em 600 o número de pessoas que o Bispo João fez queimar por bruxaria”. Madame Blavatsky descreve que “Uma vista d’olhos neste horrível catálogo de assassinatos feitos em nome de Cristo é suficiente para descobrir que, das 162 pessoas queimadas, mais da metade é designada como estrangeiros (isto é, protestantes) nesta cidade hospitaleira6; e, na outra metade, encontramos 34 crianças, a mais velha das quais tinha catorze anos e a mais nova era o bebê do Dr. Schütz. (162 pessoas em 19 meses)”.
É o momento de se perguntar: E os magos? Também compareciam aos tribunais? Os poucos casos reais de magia laica eram sentenciados à fogueira, enquanto os prodígios cristãos eram favorecidos. Magia laica era heresia; magia cristã, milagre. A Igreja não podia permitir a produção fenômenos estranhos a ela, porque, tais fenômenos desacreditavam o cunho milagroso do Cristianismo. Então, eu me pergunto: essa perseguição a “feiticeiros” em algum momento impediu que o próprio clero exercesse magia? É óbvio que não! Nunca houve mais feiticeira no seio da Igreja do que nos séculos XV, XVI e XVII, mas o crime de heresia era mais hediondo do que o de feitiçaria. Além disso, é risível o fato de que os grandes magos estavam acobertados pela própria Igreja. É famoso o grimório do papa Honório, o Grande. Outro fator relevante na história do Catolicismo era a venda de relíquias sagradas, autenticadas pelo clero, naturalmente, como a venda do dente de um suposto santo. A plebe, na sua fé tola e ignara, corria para comprar tais amuletos, esperando a proteção divina, que, é claro, nunca ocorria. A coisa foi tão vergonhosa que abriu passagem para Lutero e o advento do protestantismo.
Em relação à ciência, merece destaque um gênio polonês, chamado Giordano Bruno, que, no século XVI, já punha em dúvida a virgindade de Maria, o caráter divino de Jesus, acreditava em reencarnação e afirmava que Moisés era um mago que fingiu ter falado com Deus. Ele se tornou um monge dominicano e abandonou a ordem. Como astrônomo criou o modelo de que a Terra girava em torno do Sol, o que abria a possibilidade de abalar firmemente a fé dos católicos. “Hoje parece difícil entender por que isso incomodou tanto. Entrementes, imagine a quantidade de dúvidas que aquelas idéias podiam originar nos católicos. Se há vários mundos, então houve vários Cristos? Se Deus nos fez à sua imagem e semelhança, por que não nos colocou no centro do Universo? A Igreja não tinha respostas e temia que esse tipo de pergunta abalasse a fé dos cristãos.”7 Giordano era um homem corajoso, não renegou a sua teoria, e acabou morrendo na fogueira, por ordem do papa Clemente VIII, ao contrário de Galileu, que, além de covarde, também foi plagiador das suas idéias.
Merece aqui um destaque à Maçonaria, uma das criações mais engenhosas do jesuitismo. Prevendo a aproximação da Revolução Francesa, que pôs fim ao Santo Ofício, graças ao Iluminismo que já grassava neste século, com a participação inclusive de alguns segmentos do clero católico, esta ordem foi criada no colégio jesuíta de Clermont, em Paris. Seus ritos são católicos e datam, segundo Blavatsky, de 1735-1740. A autora acrescenta que “a sua perseguição pela Igreja foi uma farsa desde o princípio”.
Diz ela: “É curioso notar que a maioria dos corpos em que existem esses graus superiores – tais como o Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito de Avignon, a Ordem do Templo, o Rito de Fessler, o ‘Grande Concílio dos Imperadores do Oriente e do Ocidente’, Maçons Príncipes Soberanos etc. – seja a progênie de Inácio de Loiola”. Essa progênie, que é a ordem “oculta” por detrás da Maçonaria, também é a mesma que controla o Vaticano, política e economicamente, até os dias atuais.
A idéia era reunir numa mesma ordem as pessoas das outras religiões que acreditassem no princípio de um deus único, chamado “arquiteto do universo”. Assim, a instituição passou a reunir não só católicos, mas protestantes, judeus, maometanos, budistas etc. e a se espalhar pelo mundo, conhecendo as atividades das outras religiões e influenciando enormemente o poder político e econômico, em nível mundial.
Algumas das posturas maçônicas herdadas do jesuitismo são impedir totalmente o acesso da mulher aos seus quadros, bem como dificultar a entrada de pessoas de pele escura e de pessoas sem capacidade econômica suficiente para bancar o custo da filiação e manutenção dos templos. Na verdade, a ordem é um sistema de auxílio mútuo entre os irmãos, que, na sociedade, passam a ter cargos mais altos, auferir maiores salários etc. Uma pessoa de posição política privilegiada, como um presidente da república, é praticamente certo ser um maçon, ou ser convertido num. A ordem não possui grandes segredos mágicos. Ainda, se o tivesse, a maioria deles já estão disponíveis ao grande público, por intermédio de magos de peso, como Israel Regardie e Aleister Crowley. Com o advento do Espiritismo, através de Allan Kardec, surgiu logo o “milagre” de Lourdes. Tais “milagres” sempre ocorrem quando a “Santa Igreja” acha-se ameaçada: Eles vêm desde a Idade Média, quando possivelmente foi fabricada também a farsa do Santo Sepulcro, desmascarada recentemente. Alguém já observou que os milagres só ocorrem em dioceses? É claro que somente a Virgem aparece, e não o próprio Jesus, por causa da profecia do Apocalipse. Na verdade, se Jesus realmente tivesse existido, talvez retornasse agora como o Anticristo.
Finalmente, no século XX, ideologias como o Nazismo e a Kan-Klux-Klan tiveram apoio do Catolicismo. Recentemente, o papa João Paulo II, se desculpou em relação ao extermínio em massa promovido por Hitler. Nunca se viu em toda a historia da humanidade a Igreja mover uma palha em prol dos oprimidos, exceto alguns poucos padres, isolados, e nunca a instituição em si. Então eu pergunto: Não é a Bíblia que diz que pelos frutos se conhece a arvore?
Em relação ao Brasil, pode-se observar que As Ordenações Filipinas, Afonsinas e Manuelinas, que eram compilações legislativas fortemente baseadas no Código Canônico, ainda impunham penas post mortem, como esquartejar um cadáver e espalhar os pedaços por vários locais, como aconteceu com Tiradentes após a sua execução.
Enquanto no exterior, a Igreja sempre fora aliada ao poder dominante, como o sistema feudal, aqui não podia ser diferente: apoiou os senhores de engenho. Através do infame instituto da confissão (leia-se: da cacuetagem) ouvia os planos dos escravos sobre possíveis fugas e delatavam tudo aos senhores. Este fato foi denunciado por Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa, entre outros.
Eis o lamento de Joaquim Nabuco: “Entre nós, o abolicionista nada deve, movimento infelizmente, à Igreja do Estado; pelo contrário, a posse de homens e mulheres pelos conventos e por todo o clero secular desmoralizou inteiramente o sentimento religioso de senhores e escravos. No sacerdote, estes não viam senão um homem que os podia comprar; e aqueles, a última pessoa que se lembraria de acusá-los. A deserção, pelo nosso clero, do posto que o Evangelho lhe marcou foi a mais vergonhosa possível: ninguém o viu tomar parte dos escravos, fazer uso da religião para suavizar- lhes o cativeiro, e para dizer a verdade moral aos senhores. Nenhum padre tentou, nunca, impedir um leilão de escravos, nem condenou o poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação.
Terminando esta breve história do culto da morte, é preciso lembrar que o Catolicismo não foi apenas baseado numa ferrenha repressão, em todos os sentidos, mas qualquer fiel é monitorado pelo clero em toda a sua vida, desde o nascimento até a morte: batismo, comunhão, crisma, sacramento, confirmação, casamento, confissão, extrema-unção.
Alimente sua alma com mais:
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