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O Livro de Hermes – Dogma e Ritual da Alta Magia

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Chegamos ao fim da nossa obra, e é aqui que devemos dar a sua chave geral e dizer a sua última palavra.

A chave geral das artes mágicas é a chave de todos os antigos dogmas religiosos, a chave da Cabala e da Bíblia: As clavículas de Salomão.

Ora, esta clavícula ou pequena chave, que julgavam perdida desde há séculos, achamo – la e pudemos abrir todos os túmulos do mundo antigo, fazer falar os mortos, ver em todo o seu esplendor os monumentos do passado, entender os enigmas de todas as esfinges e penetrar em todos os santuários.

O emprego desta chave, entre os antigos, só era permitido aos sumos sacerdotes, e nem mesmo o seu segredo era confiado à elite dos iniciados. Ora, eis o que era esta chave:

Era um alfabeto hieroglífico e numeral, que exprimia, por caracteres e números, uma série de idéias universais e absolutas; depois, uma escala de dez números multiplicados por quatro símbolos e ligados conjuntamente por doze figuras que representavam os doze signos do zodíaco; depois, quatro gênios, os dos quatro pontos cardeais.

O quaternário simbólico, figurado nos mistérios de Mênfis e Tebas pelas quatro formas da esfinge: o homem, a águia, o leão e o touro, correspondia aos quatro elementos do mundo antigo, figurados: a água, pelo copo que o homem ou o aquário tem; o ar, pelo círculo ou auréola que rodeia a cabeça da águia celeste; o fogo, pelo pau que o alimenta, pela árvore que o calor da terra e do sol fazem frutificar, enfim, pelo cetro de realeza de que o leão é o emblema; a terra, pelo gládio de Mitra, que imola todos os anos o touro sagrado e faz correr com o seu sangue a seiva que enche todos os frutos da terra.

Ora, estes quatro signos, com todas as suas analogias, são a explicação da palavra única escondida em todos os santuários, da palavra que as bacantes pareciam adivinhar na sua embriaguez, quando, celebrando as festas de Iacchos, se exaltavam até o delírio por Io evohé ! Que significa, pois, esta palavra misteriosa? Era o nome das quatro letras primitivas da língua materna: o Iod , símbolo do pau da videira ou do cetro paternal de Noé; o , imagem do copo de libações, sinal da maternidade divina; o , que une conjuntamente os dois signos precedentes e tinha como figura, na Índia, o grande e misterioso lingham . Tal era, na palavra divina, o tríplice sinal do ternário; depois, a letra maternal aparecia uma segunda vez para exprimir a fecundidade da natureza e da mulher, para formular também o dogma das analogias universais e progressivas que descem das causas aos efeitos e sobem dos efeitos às causas. Por isso, a palavra sagrada não era pronunciada; era soletrada e falada em quatro palavras, que são as palavras sagradas: Iod he vav he .

O sábio Gaffarel não duvida que os therafim dos hebreus, por meio dos quais consultavam os oráculos do urim e do thumim , tenham sido as figuras dos quatro animais da Cabala, cujos símbolos eram resumidos, como diremos logo, pelas esfinges ou querubins da arca. Cita, porém, a propósito dos therafim usurpados de Michas, uma curiosa passagem de Philon Judeu, que é uma revelação inteira sobre a origem antiga e sacerdotal dos nossos Tarôs. Eis como se exprime Gaffarel:

“Ele diz, pois, (Philon Judeu), falando da história oculta no dito capítulo dos Juízes, que Michas fez de fino ouro e prata três figuras de moços e três de novilhos, outras tantas de leão, águia, dragão e pomba; de modo que se alguém o ia procurar para saber algum segredo a respeito da sua mulher, ele interrogava a pomba; se era a respeito de seus filhos, o moço: se para as riquezas, a águia; se para a força e o poder, o leão; se para a fecundidade, o querubim ou bezerro; se para a extensão dos dias e anos, o dragão ”.

Esta revelação de Philon, embora Gaffarel faça pouco caso dela, é para nós da mais alta importância. Eis, com efeito, a nossa chave do quaternário, eis as imagens dos quatro animais simbólicos que se acham na vigésima primeira chave do Tarô, isto é, no terceiro setenário, repetindo, assim, três e resumindo todo o simbolismo que os três setenários superpostos exprimem: depois, o antagonismo das cores, expresso pela pomba e o dragão; o círculo ou rota , formado pelo dragão ou a serpente, para exprimir a extensão dos dias; enfim, toda a adivinhação cabalística do Tarô, tal como a praticaram mais tarde os egípcios boêmios, cujos segredos foram adivinhados e achados imperfeitamente por Etteilla.

Vê – se, na Bíblia, que os sumos sacerdotes consultavam o Senhor na mesa de ouro da santa arca, entre os querubins ou as esfinges do corpo de touro e asas de águia, e que consultavam com o auxílio dos Therafim , pelo urim, thumim e ephod . O ephod era, como se sabe, um quadrado mágico de doze números e doze palavras gravadas em pedras preciosas. A palavra therafim , em hebraico, significa hieróglifos ou sinais figurados; o urim e o thumim eram o alto e o baixo, o oriente e o ocidente, o sim e o não, e estes sinais correspondiam às duas colunas do templo: Jakin e Bohas . Quando, pois, o sumo sacerdote queria fazer falar o oráculo, tirava à sorte os therafim ou as lâminas de ouro que continham as imagens das quatro palavras sagradas, e as colocava, de três em três, ao redor do racional ou ephod , entre o urim e o thumim, isto é, entre os dois ônix que serviam de colchete às cadeiazinhas de ephod . O ônix da direita significava Gedulah ou misericórdia e magnificência; o ônix da esquerda se referia a Geburah e significava justiça e cólera, e se, por exemplo, o signo do leão se achava perto da pedra em que estava gravado o nome da tribo de Judá, do lado esquerdo, o sumo sacerdote, lia assim o oráculo: “A verga do Senhor está irritada contra Judá ”. Se o therafim representava o homem ou o copo e que se achasse igualmente à esquerda, perto da pedra de Benjamim, o sumo sacerdote lia: “A misericórdia do Senhor está cansada das ofensas de Benjamim, que o ultraja no seu amor. É por isso que vai derramar sobre ele o copo da sua cólera ”, etc. Quando o soberano sacerdócio cessou em Israel, quando todos os oráculos do mundo se calaram em presença do Verbo feito homem e falando pela boca do mais popular e dócil dos sábios, quando a arca foi perdida, o santuário profanado e o templo destruído, os mistérios de ephod e dos therafim, que não eram mais traçados em ouro e pedras preciosas, foram escritos ou antes figurados por alguns sábios cabalistas no marfim, no pergaminho, no couro prateado e dourado, depois, enfim, em simples cartas, que sempre foram suspeitas à Igreja oficial, como contendo uma chave perigosa dos seus mistérios. Daí, vieram estes tarôs, cuja antigüidade, revelada ao sábio Court de Gebelin pela própria ciência dos hieróglifos e números, instigou tanto mais tarde, a duvidosa perspicácia e a tenaz investigação Etteilla.

Court de Gebelin, no oitavo volume do se Mundo Primitivo, dá a figura das vinte e duas chaves e dos quatro ases do Tarô, e demonstra a sua perfeita analogia com todos os símbolos da mais alta antigüidade; procura, depois, dar a sua explicação e desvia – se naturalmente, porque não toma por ponto de partida o tetragrama universal e sagrado, Io evoché das bacanais, o iod hê vô hê do santuário, o da Cabala.

Etteilla ou Alliette, preocupado unicamente com o seu sistema de adivinhação e do proveito material que dele podia tirar, Alliette, antigo cabeleireiro, não tendo aprendido nem francês, nem mesmo a ortografia, pretendeu reformar e apropriar – se do livro de Thot. Sobre o tarô que fez gravar e que se tornou muito raro, lê – se, na vigésima oitava carta (o oito de paus):

“Etteilla, professor de álgebra, renovador da cartomancia e redatores (sic) das modernas incorreções deste antigo livro de Thot, reside na Rua De l’Oseille nº 8, Paris ”.

Etteilla teria, certamente, feito melhor em não redigir as incorreções de que fala: os seus trabalhos fizeram cair no domínio da magia vulgar e das tiradoras de cartas o livro antigo descoberto por Court de Gebelin. Quem quer provar muito, nada prova, diz um axioma lógico. Etteilla forneceu disso mais um exemplo, e, seus esforços o tinham levado a um certo conhecimento da Cabala, como se pode ver em algumas raras passagens das suas obras ilegíveis.

Os verdadeiros iniciados contemporâneos de Etteilla, os rosacruzes, por exemplo, e os martinistas, estavam de posse do verdadeiro Tarô, como o prova um livro de Saint-Martin, cujas divisões são as do Tarô, e esta passagem de um inimigo dos rosacruzes:

“Alegam que possuem um volume no qual podem aprender tudo o que está nos outros livros que existem ou que para sempre poderiam existir. É pela posse desse volume que acham o protótipo de tudo o que existe, pela facilidade de analisar, fazer abstrações, formar uma espécie de mundo intelectual e criar todos os seres possíveis. Vede as cartas filosóficas, teosóficas, microcósmicos, etc ”– Conjuração Contra a Religião Católica e os Soberanos, pelo autor do Véu Levantado para os Curiosos. – Paris, Crapard, 1792.

Os verdadeiros iniciados, dizemos nós, que conservam o segredo do tarô entre os seus maiores mistérios, se guardaram de protestar contra os erros de Etteilla, e não o deixaram revelar, mas velar de novo o arcano das verdadeiras clavículas de Salomão. Por isso, não é sem profunda admiração que achamos intacta e ignorada ainda esta chave de todos os dogmas e filosofias do mundo antigo. Digo uma chave, e é realmente uma, tendo o círculo das quatro décadas para anel, a para haste ou corpo a escada dos 22 caracteres, depois para dentes os três graus do ternário, como o entendeu e figurou Guilherme Postello, na sua Chave das Coisas Ocultas desde o Começo do Mundo , chave da qual indica o nome oculto e conhecido unicamente pelos iniciados:

palavra que se pode ler Rota , e que significa a roda de Ezequiel, ou Tarô , e então é sinônimo do Azoth dos filósofos herméticos. É uma palavra que exprime cabalisticamente o absoluto dogmático e natural; é formado dos caracteres do monograma de Cristo, de acordo com os gregos e hebreu. O R latino ou P grego é achado entre o alfa e conforme os gregos e hebreus. O R latino ou o P grego se acha no meio, entre o alfa e o ômega do Apocalipse ; depois o Tau sagrado, imagem da cruz, contém a palavra inteira, como o representamos na gravura do 4º capítulo do nosso Dogma .

Sem o tarô, a magia dos antigos é um livro fechado para nós, sendo impossível penetrar em qualquer dos grandes mistérios da Cabala. Só o tarô dá a interpretação dos quadrados mágicos de Agrippa e Paracelso, como podeis convencer -vos, formando estes mesmos quadros com as chaves do tarô e lendo os hieróglifos que assim se acharem reunidos.

Eis aqui os sete quadrados mágicos dos gênios planetários, conforme Paracelso:

Adicionando cada uma das colunas destes quadrados, obtereis invariavelmente o número característico do planeta, e achando a explicação deste número pelos hieróglifos do Tarô, procurareis o sentido de todos os símbolos, quer triangulares, quer quadrados, quer cruciais, que achardes formados pelos números. O resultado desta operação será um conhecimento completo e profundo de todas as alegorias e de todos os mistérios escondidos pelos antigos, sob o símbolo de cada planeta ou antes de cada personificação das influências, quer celestes, quer humanas, sobre todos os acontecimentos da vida.

Dissemos que as 22 chaves do Tarô são as 22 letras do alfabeto cabalístico primitivo. Eis aqui uma tábua das variantes deste alfabeto, conforme os diversos cabalistas hebreus:
AlefO ente, o espírito, o homem ou Deus; o objeto compreensível; a unidade mãe dos números, a substância prima.

Todas estas idéias são expressas, hieroglificamente, pela figura do Pelotiqueiro. Seu corpo e seus braços formam a letra Alef , símbolo da vida e do espírito universal: diante dele estão espadas, copos e pantáculos, e ele eleva para o céu a¥; traz ao redor da cabeça, uma auréola em forma de  baqueta milagrosa. Tem figura juvenil e cabelos crespos, como Apolo ou Mercúrio; tem o sorriso da firmeza nos seus lábios e o olhar da inteligência nos olhos.

Bet A casa de Deus e do homem, o santuário, a lei, a gnose, a Cabala, a igreja oculta, o binário, a mulher, a mãe.

Hieróglifo do Tarô, A Papisa : uma mulher coroada por uma tiara, tendo os cornos da lua ou de Ísis, a cabeça coberta com um véu, a cruz solar no peito, e, em cima dos seus joelhos, um livro que esconde com o seu manto.

O autor protestante de uma pretensa história da papisa Joana achou e fez servir, tão bem como mal, à sua tese, duas curiosas e antigas figuras que achou da papisa ou soberana sacerdotisa do Tarô. Estas duas figuras dão à papisa todos os atributos de Ísis; numa, ela acaricia o seu filho Hórus; na outra, tem os cabelos longos e esparsos; ela esta sentada entre as duas colunas do binário, traz no seu peito um sol de quatro raios, põe uma das mãos sobre um livro, e faz com a outra o sinal do esoterismo sacerdotal, isto é, abre somente três dedos e tem os outros dobrados em sinal de mistério; atrás da sua cabeça está o céu, e de cada lado do seu assunto um mar, no qual se desabrocham flores de lódão. Lamento muito que o infeliz erudito só quis ver, neste símbolo antigo, uma estampa monumental da sua pretensa papisa Joana.

Gimmel
O verbo, o ternário, a plenitude, a fecundidade, a natureza, a geração nos três mundos.

Símbolo, A Imperatriz : uma mulher alada, coroada, assentada e tendo na ponta do seu cetro com o globo do mundo; tem para sinal uma águia, imagem da alma e da vida.

Esta mulher é a Vênus Urânia dos gregos e foi representada por São João, no seu Apocalipse , pela mulher revestida do sol, coroada de doze estrelas e tendo a lua debaixo dos seus pés. É a quintessência mística, o ternário, é a espiritualidade, é a imortalidade, é a rainha do céu.

Dalet
A porta ou o governo entre os orientais, a iniciação, o poder, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou a sua base.

Hieróglifo, O Imperador : um soberano cujo corpo representa um triângulo – retângulo e as pernas uma cruz, imagem do Athanor dos filósofos.

HetIndicação, ensinamento, demonstração, lei, simbolismo, filosofia, religião.

Hieróglifo, O Papa ou grande hierofante: Nos Tarôs mais modernos, este sinal é substituído pela imagem de Júpiter. O grande hierofante, assentado entre as duas colunas de Hermes e Salomão, faz o sinal de esoterismo e apóia- se na cruz de três travessas de forma triangular. Diante dele, dois ministros inferiores estão de joelhos, de modo que, tendo acima de si os capitéis das duas colunas e em baixo as duas cabeças dos ministros, é o centro do quinário e representa o divino pentagrama de que dá, assim, o sentido completo. Com efeito, as colunas são a necessidade ou a lei; as cabeças são a liberdade ou a ação. De cada coluna, a cada cabeça pode – se tirar uma linha, e duas linhas de cada coluna e cada uma das duas cabeças. Obtem – se, assim, um quadrado cortado em quatro triângulos por uma cruz, e no meio desta cruz estará o grande hierofante, diríamos quase como a aranha dos jardins no centro da sua teia, se esta imagem pudesse convir a coisas de verdade, glória e luz.

Vav
Encadeamento, gancho, lingham , laço, união, enlace, luta, antagonismo, combinação, equilíbrio.

Hieróglifo, o homem entre o Vício e a Virtude: Em cima dele irradia o sol da verdade, e neste sol o Amor retesa o seu arco e ameaça o Vício com a flecha. Na ordem das dez sephiroth , este símbolo corresponde a Tiphereth isto é, ao idealismo e à beleza. O número 6 representa o antagonismo dos dois ternários, isto é, da negação absoluta e da afirmação absoluta. É, pois, o número do trabalho e da liberdade; é por isso que se refere também à beleza moral e à glória.

Zayin
Arma, gládio, espada, flamejante do querubim, setenário sagrado, triunfo, realeza, sacerdócio.

Hieróglifo, um carro cúbico de quatro colunas, com uma coberta de pano azul e estrelado. No carro, entre as quatro colunas, um triunfador coroado de um círculo sobre o qual se elevam e irradiam três pentagramas de ouro. O triunfador tem na sua couraça três esquadros superpostos; tem nos ombros o urim e o thumim, da suprema dignidade de sacrificador, figurados pelos dois crescentes da lua em Gedulah e Geburah; tem na mão um cetro remontado por um globo, um quadrado e um triângulo; a sua atitude é altiva e tranqüila.Ao carro está atrelada uma dupla esfinge ou duas esfinges que se prendem pelo baixo -ventre; tiram uma de um lado e a outro do outro; mas uma delas volta a cabeça, e elas olham para o mesmo lado. A esfinge que volta a cabeça é preta, a outra é branca. No quadrado que constitui a frente do carro, vê- se o lingham indiano remontado pela esfera volante dos Egípcios. Este hieróglifo, cuja figura exata damos aqui, é o mais belo, talvez, o mais completo de todos os que compõem a clavícula do Tarô.
Heh Balança, atração e repulsão, vida, temores, promessa e ameaça.

Hieróglifo, A Justiça com sua espada e sua balança.

TetO bem, o horror do mal, a moralidade, a sabedoria.

Hieróglifo, um sábio apoiado no seu bastão e levando diante de si uma lâmpada; envolve – se inteiramente no seu manto. A sua inscrição é o Ermitão ou o Capuchinho , por causa do seu manto oriental; mas o seu verdadeiro nome é a Prudência , e completa, assim, as quatro virtudes cardeais, que pareceram desaparelhadas a Court de Gebelin e a Etteilla.

Yod Princípio, manifestação, louvor, honra viril, phallus , fecundidade viril, cetro paterno.

Hieróglifo, A Roda da Fortuna , isto é, a roda cosmogônica de Ezequiel, com um Hermanubis subindo à direita, um Tífon descendo à esquerda, e uma esfinge em cima, em equilíbrio e tendo entre suas garras de leão a espada. Símbolo admirável, desfigurado por Etteilla que substituiu Tífon por um homem, Hermanubis por um rato e a esfinge por um macaco, alegoria bem digna da Cabala de Etteilla.

KhafA mão no ato de pegar e segurar.

Hieróglifo, A Força  vital e que fecha tranqüilamente e sem esforço a goela de um leão furioso.¥, uma mulher coroada pelo

LamedExemplo, ensinamento, lição pública.

Símbolo, um homem que está suspenso por um pé e cujas mãos estão amarradas atrás das costas, de modo que o seu corpo faz um triângulo com a ponta em baixo, e as suas pernas uma cruz em cima do triângulo. A potência tem a forma de um Tav hebreu; as duas árvores que a sustentam têm, cada uma, seis galhos cortados. Explicamos alhures este símbolo do sacrifício e da obra realizada; não o faremos de novo aqui.

Mem O céu de Júpiter e Marte, denominação e força, renascimento, criação e destruição.

Hieróglifo, A Morte que roça cabeças coroadas, numa planície em que se vêem nascerem homens.

Nun O céu do Sol, temperaturas, estações, movimento, mudanças da vida sempre nova e sempre a mesma.
Hieróglifo, A Temperança , um anjo tendo o signo do Sol na fronte, e no peito o quadrado e o triângulo do setenário, derrama, de um vaso no outro, as duas essências que compõem o elixir da vida.

Samekh O céu de Mercúrio, ciência oculta, magia, comércio, eloqüência, mistério, força moral.

Hieróglifo, O Diabo , o bode de Mendes ou o Baphomet do templo, com todos os seus atributos panteísticos. Este hieróglifo é o único que Etteilla entendeu perfeitamente e interpretou de modo exato.

AyinO céu da Lua, alterações, subversões, mudanças, fraquezas.

Hieróglifo, uma torre ferida pelo raio, provavelmente a de Babel. Duas personagens, sem dúvida, Nemrod e seu falso profeta ou seu ministro, são precipitados de cima para baixo das ruínas. Uma das personagens, caindo, representa perfeitamente a letra u , hain.

PehO céu da alma, efusões do pensamento, influência moral da idéia sobre as formas, imortalidade.

Hieróglifo, a estrela brilhante e a juventude eterna. Demos alhures a descrição desta figura.

Tzadi Os elementos, o mundo visível, a luz refletida, as formas materiais, o simbolismo.

Hieróglifo, a lua, o orvalho, um caranguejo na água saindo para a terra, um cão e um lobo uivando para a lua e parados junto a duas torres, um caminho que se perde no horizonte e que está semeado de gotas de sangue.

Kuf Os mistos, a cabeça, o cimo, o princípio do céu.

Hieróglifo, um sol radiante e duas crianças nuas se dão a mão num círculo fortificado. Em outros Tarôs, é uma fiadora dividindo os destinos; noutros, enfim, uma criança nua montada num cavalo branco e estendendo uma bandeira escarlate.

Resh O vegetativo, a virtude geradora da terra, a vida eterna.

Hieróglifo, O Juízo . Um gênio toca a trombeta e os mortos saem dos seus túmulos; estes mortos que se tornaram vivos são um homem, uma mulher e uma criança: o ternário da vida humana.

Shin
Hieróglifo, O Louco . Um homem vestido de louco, caminhando ao acaso, carregando um saco e que, sem dúvida, está cheio dos seus atos ridículos e vícios; o seu vestuário em desordem deixa descoberto o que devia esconder, e um tigre que o segue o morde, sem que ele procure afastá – lo ou defender- se.

Tav O microcosmo, o resumo de tudo em tudo.

Hieróglifo, Kether , ou a coroa cabalística entre os quatro animais misteriosos; no meio da coroa vê – se a Verdade, tendo em cada mão uma baqueta mágica.

Tais são as 22 chaves do Tarô, que explicam todos os seus números. Assim, o pelotiqueiro, ou chave das unidades, explica os quatro ases com a sua quádrupla significação progressiva nos três mundos e no primeiro princípio; assim, o ás de ouro ou de círculo é a alma do mundo; o ás de espada é a inteligência militante; o ás de copas é a inteligência amante; o ás de paus é a inteligência criadora; são também os princípios do movimento, do progresso, da fecundidade e do poder. Cada número, multiplicado por uma chave, dá um outro número que, explicado por sua vez pelas chaves, completa a revelação filosófica e religiosa contida em cada signo. Ora, cada uma das 56 cartas pode ser alternativamente multiplicada pelas 22 chaves; resulta disso uma série de combinações, dando os resultados mais surpreendentes de revelação e luz. É uma verdadeira máquina filosófica que impede o espírito de desviar- se, deixando – lhe, ao mesmo tempo, a sua iniciativa e sua liberdade; são as matemáticas aplicadas ao absoluto, é a aliança do positivo ao ideal, é uma loteria de pensamentos rigorosamente justos como os números; é, talvez, enfim, o que o gênio humano jamais concebeu, ao mesmo tempo, de mais simples e grandioso.

O modo de ler os hieróglifos do Tarô é dispô – los quer em quadrado, quer em triângulo, colocando os números pares em antagonismo e conciliando – os pelos ímpares. Quatro signos explicam sempre o absoluto numa ordem qualquer, e se explicam por um quinto signo. Assim, a solução de todas as questões mágicas é a do pentagrama, e todas as antinomias se explicam pela harmoniosa unidade.

Disposto assim, o Tarô é um verdadeiro oráculo, e respostas a todas as questões possíveis, com mais clareza e infalibilidade do que o Andróide de Aberto, o Grande: de modo que um prisioneiro sem livros poderia, em alguns anos, se tivesse somente um Tarô, do qual soubesse servir- se, teria adquirido uma ciência universal, e falaria de tudo com uma doutrina sem igual e uma eloqüência inesgotável. Com efeito, esta roda e a verdadeira chave da arte oratória e da grande arte de Raimundo Lullo; é o verdadeiro segredo da transmutação das trevas em luz, é o primeiro e o mais importante de todos os arcanos da grande obra.

Por meio desta chave universal do simbolismo, todas as alegorias da Índia, do Egito e da Judéia se tornam claras; o Apocalipse de São João é um livro cabalístico, cujo sentido é rigorosamente indicado pelas figuras e pelos números do urim , do thumim , dos therafim e do ephod , resumidos e completados pelo Tarô; os santuários antigos não têm mais mistérios e entende – se pela primeira vez a significação dos objetos do culto dos hebreus. Quem não vê, com efeito, na mesa de ouro, coroada e suportada por querubins, que cobria a arca da aliança e servia de propiciatório, os mesmos símbolos que na vigésima primeira chave do Tarô? A arca era um resumo hieroglífico de todo o dogma cabalístico; continha o iod ou o bastão florido de Aarão, o ou a copa, o gomor contendo o maná, as duas tábuas da lei, símbolo análogo ao da espada da justiça, e o maná contido no gomor , quatro coisas que traduzem maravilhosamente as letras do tetragrama divino.

Gaffarel provou sabiamente que os querubins ou quérubes da arca eram figuras de bezerros; mas o que ignorou é que, em vez de dois, haviam quatro, dois de cada lado, como diz expressamente o texto, mal entendido, neste lugar, pela maioria dos comentadores.

Assim, nos versículos 18 e 19 do Êxodo , é preciso traduzir deste modo o texto hebraico:

“Farás dois bezerros ou duas esfinges de ouro, polidas a martelo de cada lado do oráculo”.
“E as colocarás uma virada para um lado, e a outra para o outro ”.

Os quérubes ou esfinges eram, com efeito, reunidos dois a dois de cada lado da arca, e as suas cabeças voltavam – se aos quatro cantos do propiciatório, que cobriam com suas asas arredondadas em arco, cobrindo, assim, a coroa da mesa de ouro, que sustentavam nas suas costas, olhando – se umas às outras pelos cortes da madeira e olhando o propiciatório.

A arca, assim, tinhas três partes ou três degraus, que representavam Atziluth, Yetzirah E Briah, os três mundos da Cabala; a base do cofre, à qual eram adaptados os quatro anéis das duas alavancas análogas às colunas Jakin e Bohas do templo; o corpo do cofre, no qual saía relevo o da esfinge, e a coberta, escurecida pelas asas das esfinges. A base representava o reino do sal, para falar a linguagem dos adeptos de Hermes; o cofre, o reino do mercúrio ou do azoth , e a cobertura, o reino do enxofre ou do fogo. Os outros objetos do culto não eram menos alegóricos, mas seria preciso uma obra especial para os descrever e explicar.

Saint-Martin, no seu “ Quadro Natural das Relações que Existem entre Deus, o Homem e a Natureza ” , seguiu, como dissemos, a divisão do Tarô, e dá sobre as 22 chaves um comentário místico bastante extenso; porém, guarda – se bem de dizer de onde tirou o plano do seu livro e de revelar os hieróglifos que comenta. Postello teve a mesma discrição, e mencionando o Tarô somente na figura da sua chave dos arcanos, ele o designa, no resto do livro, sob o nome: Gênese de Enoque . O personagem de Enoque, autor do primeiro livro sagrado, é, com efeito, idêntico ao de Thot entre os Egípcios, de Cadmo entre os Fenícios e de Palamedes entre os Gregos.

Achamos, de um modo assaz extraordinário, uma medalha do século XVI, que é uma chave do Tarô. Não sabemos se é preciso dizer que esta medalha e o lugar em que devíamos achá – la, nos foram mostrados em sonho pelo divino Paracelso; seja o que for, a medalha está em nossa posse. Ela representa, de um lado, o pelotiqueiro em traje alemão do século XVI, tendo uma das mãos na sua cintura e com a outra segurando o pentagrama; tem diante de si, na sua mesa, entre um livro aberto e uma bolsa fechada, dez moedas ou talismãs, dispostos em duas linhas de três cada uma e num quadrado de quatro; os pés da mesa formam dois Heh e os do pelotiqueiro dois Resh invertidos. O verso da medalha contém as letras do alfabeto, dispostas em quadrados mágicos, deste modo:

 

Pode- se observar que este alfabeto só tem 22 letras, o V e o N sendo repetidos duas vezes, e que está disposto em quatro quinários e um quaternário para chave e base. As quatro letras finais são duas combinações do binário e do ternário, e, lidas cabalisticamente, formam a palavra Azoth , dando às configurações das letras o seu valor em hebreu primitivo, e tomando N por Aleph , Z pelo que é em latim, V pelo Vavvav hebreu, que se pronuncia O , e o X pelo Tav primitivo, que tinha exatamente a sua figura. O Tarô inteiro é, pois, explicado nesta maravilhosa medalha, efetivamente digna do gênio de Paracelso, e que pomos à disposição dos curiosos. As letras dispostas por quatro vezes cinco, têm, para resumo, a palavra     Tav Yod Z Aleph a análoga às de Heh Vav Heh Yod e de Inri, e contém todos os mistérios da Cabala.

O livro do Tarô tendo uma tão elevada importância científica, é bem para desejar que não o alterem mais. Percorremos, na Biblioteca Imperial, a coleção dos antigos Tarôs, e é daí que colhemos todos os hieróglifos, cuja descrição demos. Resta uma obra importante a fazer: é mandar gravar e publicar um Tarô rigorosamente completo e cuidadosamente executado. Talvez a empreendamos logo.

Encontram – se vestígios do Tarô entre todos os povos do mundo. O Tarô italiano é, como dissemos, o mais bem conservado e o mais fiel; mas podia – se aperfeiçoá – lo ainda com preciosos indícios fornecidos pelas cartas espanholas; o dois de copas, por exemplo, no Naïbi é completamente egípcio, e vemos nele dois vasos antigos cujas asas são formadas por íbis, superpostas a uma vaca; nas mesmas cartas, encontra- se um unicórnio no meio do quatro de ouro; o três de copas apresenta a figura de Ísis saindo de um vaso, e dos outros dois saem dois íbis, que trazem, um uma coroa para a deusa e o outro uma flor lódão, que parece oferecer- lhe. Os quatro ases trazem a imagem da serpente hierática e sagrada, e, em certos jogos, no meio do quatro, de ouro, em lugar do unicórnio simbólico, encontra – se o duplo triângulo de Salomão.

Os Tarôs alemães são mais alterados, e neles só achamos os números das chaves, cheias de figuras bizarras ou pentagruélicas. Temos em nossas mãos um Tarô chinês, e existem, na Biblioteca Imperial, alguns modelos de cartas semelhantes. O Sr. Paulo Boiteau, na sua notável obra sobre as cartas de jogo, deu deles espécimes muito bem feitos. O Tarô chinês conserva ainda vários emblemas primitivos: distinguem – se neles, facilmente, os ouros e as espadas, mas seria difícil achar as copas e os paus.

É na época das heresias gnósticas e maniquéias que o Tarô deve ter sido perdido pela Igreja, e é na mesma época que o sentido do divino Apocalipse foi igualmente perdido. Não entenderam mais que os sete selos deste livro cabalístico são sete pantáculos, cuja figura damos, e que se explicam pelas analogias dos números, dos caracteres e das figuras do Tarô. Assim, a tradição universal da religião única foi interrompida por toda a terra, e pareceu à ignorância que o verdadeiro catolicismo, a revelação universal, tinha desaparecido momentaneamente. A explicação do livro de São João pelos caracteres da Cabala, será uma revelação inteiramente nova, como já pressentiram vários magistas distintos. Eis como se exprime um deles, o Sr. Agostinho Chaho:

 
Chave Apocalíptica – Os sete selos de São João

“O poema do Apocalipse supõe no jovem evangelista um sistema completo e tradições desenvolvidas somente por ele. É escrito em forma de visão, e encerra, num quadro deslumbrante de poesia, toda a erudição, todo o pensamento do civilizador africano. Bardo inspirado, o autor percorre uma série de fatos dominantes; traça em grandes rasgos a história da sociedade de um cataclismo a outro e até além. As verdades que revela são profecias vindas de cima e de longe, de que se faz eco vibrante. É a voz que grita, a voz que canta as harmonias do deserto e prepara os caminhos para a luz. A sua palavra brilha com império e ordena a fé, porque ele vem trazer aos bárbaros os oráculos de Iao e descobrir à admiração das civilizações futuras o primogênito dos sóis ”.

“A teoria das quatro idades se acha no Apocalipse como nos livros de Zoroastro e na Bíblia”.

“O restabelecimento gradual das federações primitivas e do reino de Deus entre os povos libertados do jugo dos tiranos e da cegueira do erro é claramente profetizado para o fim da quarta idade e a renovação do cataclismo mostrada, primeiramente ao longe, para a consumação do tempo ”.

“A descrição do cataclismo e a sua duração; o novo mundo, desembaraçado da onda e aparecido sob o céu com todos os seus encantos; a grande serpente, ligada por um anjo no fundo do poço do abismo, por um tempo; a aurora, enfim, deste tempo futuro profetizada pelo verbo, que aparece ao apóstolo desde o começo do seu poema: A sua cabeça e seus cabelos eram brancos, seus olhos brilhavam, seus pés eram semelhantes ao bronze fino, quando está na fornalha, e a sua voz igualava o ruído das grandes águas ”.

“Tinha na sua mão direita sete estrelas, e da sua boca saía uma espada de dois gumes bem afiados. A sua fronte era tão brilhante como o sol na sua força ”.

“Eis Ormuzd, Osíris, Chourien, o cordeiro, o Cristo, o ancião dos dias, o homem do tempo e do rio cantado por Daniel. É o primeiro e o último, aquele que foi e que deve ser, o alfa e o ômega, o começo e o fim. Tem na sua mão a chave dos mistérios; abre o grande abismo do fogo central onde repousa a morte numa tenda de trevas, onde dorme a grande serpente, esperando o despertar dos séculos ”.

O autor compara com esta alegoria de São João a de Daniel, na qual as quatro formas da esfinge são aplicadas aos grandes períodos da história, e em que o homem – sol, o verbo da luz, consola e instrui o vidente:

“O profeta Daniel viu um mar agitado em sentidos contrários pelos quatro ventos do céu ”.
“E bestas muito diferentes umas das outras saíram das profundezas do oceano ”.
“O império de tudo o que está na terra lhes foi dado até uma idade, duas idades e a metade da quarta idade ”. “E saíram quatro ”.
“A primeira besta, símbolo da raça solar dos videntes, veio do lado da África; ela parecia com um leão e trazia asas de águia: foi – lhe dado um coração de homem ”.
“A segunda besta, emblema dos conquistadores do norte, que reinaram pelo ferro, durante a segunda idade, era semelhante a um urso ”.
“Ela tinha na goela três ordens de dentes agudos, imagens das três grandes famílias conquistadoras, e lhe foi dito: Levantai -vos e saciai -vos de carne ”.
“Depois da aparição da quarta besta, tronos foram elevados, e o ancião dos dias, o Cristo dos videntes, o cordeiro da primeira idade, se mostrou assentado ”.
“A sua vestimenta era de uma ofuscante brancura, a sua cabeça irradiava; o seu trono, do qual jorravam chamas vivas, era levado em rodas ardentes, uma chama de fogo muito viva saía da sua fronte, miríades de anjos ou estrelas brilhavam ao redor dele ”.
“O julgamento foi feito; os livros alegóricos foram abertos ”.
“O Cristo novo veio numa nuvem cheia de relâmpagos e parou diante do ancião dos dias; obteve em partilha o poder, a honra e o reino sobre todos os povos, todas as tribos, todas as línguas ”.

Daniel aproximou- se, então, de um dos que estavam presentes e lhe perguntou a verdade das coisas.

“E lhe foi respondido que os quatro animais são as quatro potências que reinarão sucessivamente na terra ”.
O Sr. Chaho explica, depois, várias imagens cujas analogias são admiráveis, e que se acham em quase todos os livros sagrados. As suas palavras são muito notáveis:

“Em todo verbo primitivo, o paralelismo das relações físicas e relações morais se estabelece sobre o mesmo radical. Cada palavra traz consigo a sua definição material e sensível, e esta linguagem viva é perfeita e verdadeira como é simples e natural no homem criador ”.

“Que o vidente exprima com a mesma palavra, levemente modificada, o sol, o dia, a luz, a verdade e que diga, aplicando o mesmo epíteto ao claro sol e a um cordeiro, cordeiro ou Cristo em lugar de sol , e sol em vez de verdade , luz, civilização , não há alegoria, mas relações verdadeiras, determinadas e expressas com inspiração ”.
“Mas quando os filhos da noite dizem, no seu dialeto incoerente e bárbaro, sol, dia, luz, verdade, cordeiro , a relação sábia tão claramente expressa pelo verbo primitivo se apaga e desaparece, e, pela simples tradução, o cordeiro e o sol tornam – se seres alegóricos, símbolos ”.

“Notai, com efeito, que a própria palavra alegoria significa, em definição céltica, mudança de discurso, tradução ”.
“A observação que acabamos de fazer aplica- se rigorosamente a toda linguagem cosmogônica dos bárbaros ”.
“Os profetas se serviam do mesmo radical inspirado para exprimir a nutrição e a instrução . A ciência da verdade não é a nutrição da alma? ”.

“Assim, o rolo de papiro ou de biblos, devorado pelo profeta Ezequiel; o pequeno livro que um anjo faz o autor do Apocalipse comer; os festins do palácio mágico de Asgard, aos quais Gangler é convidado por Har, o Sublime; a multiplicação maravilhosa de sete pequenos pães, contada pelos evangelistas do Nazareno; o pão vivo que Jesus – Sol faz os seus discípulos comerem, dizendo – lhes: Isto é meu corpo; e uma multidão de outras passagens semelhantes, são repetições da mesma alegoria: a vida das almas, que se nutrem de verdade; a verdade que se multiplica sem nunca diminuir e que, pelo contrário, aumenta à medida que dela se nutrem ”.

“Que, exaltado por um nobre sentimento de nacionalidade, ofuscado pela idéia de uma revolução imensa, se levante um revelador de coisas ocultas e que procure popularizar as descobertas da ciência antiga entre os homens grosseiros, ignorantes, desprovidos das mais elementares noções ”.

“Que diga, por exemplo: – A terra gira, a terra é redonda como um ovo ”.

“Que pode fazer o bárbaro que ouve senão crer ? Não é evidente que qualquer proposição deste gênero se torna para ele um dogma de cima, um artigo de ? ”.

“E o véu de uma alegoria sábia não é suficiente para fazer dele um mito ? ”

“Nas escolas dos profetas, o globo terrestre era representado por um ovo de cartão ou de madeira pintada, e quando se perguntava às crianças: Que é este ovo ? elas respondiam: É a terra ”.

“Crianças grandes, os bárbaros tendo ouvindo isso, repetiram depois dos filhos dos profetas: o mundo é um ovo ”.
“Mas eles entendiam por isso o mundo físico, material e os profetas e mundo geográfico, ideal, o mundo imagem, criado pelo espírito e o verbo ”.

“Com efeito, os sacerdotes do Egito representavam o espírito, a inteligência, Kneph com um ovo nos lábios, pata mais clara expressão do símbolo. Aqui o ovo era somente uma comparação, uma imagem, um modo de falar ”.
“Chumuntu, o filósofo de o Ezur-Vedan, explica da mesma forma ao fanático Biache o que se deve entender pelo ovo de ouro de Brama ”.

Não devemos desesperar- nos completamente de uma época em que os homens se ocupam ainda destas investigações sérias e razoáveis: por isso, é com grande alívio de espírito e profunda simpatia que acabamos de citar as páginas do Sr. Chaho. Já não é aqui a crítica negativa e desesperadora de Dupuis e Volney. É uma tendência a uma só fé, a um só culto que deve unir todo o futuro a todo o passado; é a reabilitação de todos os grandes homens que foram acusados falsamente de superstição e idolatria; é, enfim, a justificação do próprio Deus, este sol que nunca está escondido para as almas retas e os corações puros.

‘É grande, o vidente, o iniciado, o eleito da natureza e da suprema razão, – exclama ainda, concluindo, o autor que acabamos de citar ”.

“A ele só, esta faculdade de imitação que é o princípio do seu aperfeiçoamento e cujas inspirações, rápidas como o raio, dirigem as criações e descobertas ”.

“A ele só, um Verbo perfeito de conveniência, propriedade, flexibilidade e riqueza, criado pela reação física sobre a harmonia do pensamento; do pensamento cujas noções, ainda independentes da linguagem, refletem sempre a natureza exatamente reproduzida nas suas impressões, bem julgado e bem expressa nas suas relações ”.

“A ele só, a luz a ciência, a verdade, porque a imaginação limitada ao seu papel passivo e secundário, nunca domina a razão, a lógica natural que resulta da comparação das idéias que nascem, se estende na mesma proporção que as suas necessidades, e cujo círculo dos seus conhecimentos se alarga, assim, por graus, sem mistura de juízos falsos e de erros ”.

“A ele só, uma luz infinitamente progressiva, porque a multiplicação rápida da população, depois das renovações terrestres, combina em poucos séculos a nova sociedade em todas as relações imagináveis do seu destino, quer morais, quer políticas ”.

“E poderíamos acrescentar, luz absoluta ”.

“O homem do nosso tempo é imutável em si e não muda mais do que a natureza na qual está adaptado ”.  

 

“Só as condições sociais em que se acha colocado determinam o grau do seu aperfeiçoamento, que tem para limites a virtude, a santidade do homem e a sua felicidade na lei ”.

Perguntar -nos -ão ainda, depois de semelhantes bosquejos, para que servem as ciências ocultas? Tratarão com desdém de misticismo e iluminismo estas matemáticas vivas, estas proporções das idéias e formas, esta revelação permanente na razão universal, esta libertação do espírito, esta base inabalável dada à fé, esta onipotência revelada à vontade? Crianças que procurais prestígio, ficais desapontadas porque vos damos maravilhas! Um homem nos disse, um dia: “Fazei aparecer o diabo e em vós acreditarei ”. Respondemos – lhe: “Pedis pouca coisa; queremos fazer não que o diabo apareça, mas que desapareça do mundo inteiro; queremos expulsá – lo dos vossos sonhos ”.

O diabo é a ignorância, são as trevas, são as incoerências do pensamento, é a fealdade! Despertai -vos, pois, adormecidos da Idade Média! Não vedes que é dia? Não vedes a luz de Deus que enche toda a natureza? Onde, pois, ousa agora mostrar- se o príncipe saídos dos infernos?

Resta- nos dar nossas conclusões e determinar o fim e o alcance desta obra na ordem religiosa, na ordem filosófica e na ordem das realizações materiais e positivas.

Na ordem religiosa, primeiramente, demonstramos que as práticas dos cultos não poderiam ser indiferentes, que a magia das religiões está nos seus ritos, que a sua força moral está na hierarquia do ternário, e que a hierarquia tem por base, princípio e síntese, a unidade.

Demonstramos a unidade e a ortodoxia universal do Dogma, revestido sucessivamente de vários véus alegóricos, e seguimos a verdade salvada por Moisés das profanações do Egito, conservada na Cabala dos profetas, emancipada pela escola cristã da escravidão dos fariseus, atraindo a si todas as aspirações poéticas e generosas das civilizações grega e romana, protestando contra um farisaísmo mais corrupto que o primeiro, com os grandes santos da Idade Média e os ousados pensadores da renascença. Mostramos, digo, esta verdade sempre universal, sempre viva, única que concilia a razão e a fé, a ciência e a submissão; a verdade do ser demonstrada pelo ser, da harmonia, da razão manifestada pela razão.

Revelando, pela primeira vez, ao mundo os mistérios da magia, não quisemos ressuscitar as práticas sepultadas nas ruínas das antigas civilizações, mas dizemos à humanidade atual que ela é chamada também a se criar imortal e onipotente pelas suas obras.

A liberdade não se dá, toma- se, disse um escritor moderno; o mesmo acontece com a ciência, e é por isso que a divulgação da verdade absoluta nunca é útil para o vulgo. Mas numa época em que o santuário foi devassado e caiu em ruínas, porque tinham jogado a chave ao acaso, sem proveito para ninguém, acreditei dever erguer esta chave, e a ofereço a quem souber pegá – la, porque este será, por sua vez, um mestre das nações e um libertador do mundo.
É preciso e será sempre preciso fábulas e véus para as crianças; mas não é preciso que os que seguram os véus sejam também crianças e ouvidores de fábulas.

Que a ciência mais absoluta, que a mais alta razão se torne a partilha dos chefes do povo; que a arte sacerdotal e a arte real tomem o duplo cetro das antigas iniciações, e o mundo sairá ainda uma vez do caos.

Não queimemos mais as santas imagens, não destruamos mais os templos: são indispensáveis aos homens os templos e as imagens; mas expulsemos os vendedores da casa de orações; não deixemos mais os cegos fazerem – se guias dos cegos; reconstituamos a hierarquia de inteligência e santidade, e reconheçamos somente os que sabem como mestres dos que crêem.

O nosso livro é católico; e se as revelações que contém são de natureza a alarmar a consciência dos simples, a nossa consolação é pensar que não o lerão. Escrevemos para os homens sem preconceitos e não lisonjeamos nem irreligião nem o fanatismo.

Mas, se há alguma coisa de essencialmente livre e inviolável no mundo, é a crença. É preciso, pela ciência e pela persuasão, tirar do absurdo as imaginações desviadas; porém isso seria antes dar aos seus erros toda a dignidade e toda a verdade do martírio do que ameaçá – las ou constrange – las.

A fé não passa de uma superstição e uma loucura se não tiver a razão para base, e só é possível supor o que se ignora por analogia com o que se sabe. Definir o que não se sabe é uma ignorância presunçosa; afirmar positivamente o que a gente ignora é mentir. Por isso, a fé é uma aspiração e um desejo. Assim seja, desejo que seja assim, tal é a última palavra de todas as profissões de fé. A fé, a esperança e a caridade são três irmãs de tal modo inseparáveis, que se podem tomar umas pelas outras.

Assim, em religião, ortodoxia universal e hierárquica, restauração de templos em todo o seu esplendor, restabelecimento de todas as cerimônias na sua pompa primitiva, ensinamento hierárquico dos símbolos, mistérios, milagres, lendas para as crianças, luz para os homens feitos que se guardarão bem de escandalizar os pequenos na simplicidade da sua crença. Eis, em religião, toda a nossa utopia, e é também o desejo e a necessidade da humanidade.

Voltemos à filosofia. A nossa é a do realismo e do positivismo.

O ser existe em razão do ser de quem ninguém duvida. Tudo existe para nós pela ciência. Saber é ser. A ciência e seu objeto se identificam na vida intelectual daquele que sabe. Duvidar é ignorar. Ora, o que ignoramos não existe ainda para nós. Viver intelectualmente é aprender.

O ente se desenvolve e amplifica pela ciência. A primeira conquista da ciência é o primeiro resultado das ciências exatas, é o sentimento da razão. As leis da natureza são algébricas. Por isso, a única fé razoável é a adesão do estudante a teoremas cuja exatidão completa em si mesma ignora, mas cujas aplicações e resultados lhe são suficientemente demonstrados. Assim, o verdadeiro filósofo crê no que existe, e só admite a posteriori tudo o que é razoável.

Porém, nada de charlatanismo em filosofia, nada de empirismo, nada de sistemas; o estudo do ser e das suas realidades comparadas! Uma metafísica da natureza! Nada de sonhos em filosofia: a filosofia não é uma poesia; e a matemática pura das realidades, quer físicas, quer morais. Deixemos à religião a liberdade das suas aspirações infinitas, mas também que ela deixe à ciência as conclusões rigorosas do experimentalismo absoluto. O homem é filho das suas obras: é o que quer ser; é a imagem do Deus que faz para si; é a realização do seu ideal. Se o seu ideal não tem base, todo o edifício da sua imortalidade se desmorona.

A filosofia não é o ideal, mas deve servir de base ao ideal. O conhecido é, para nós, a medida do desconhecido; o visível nos faz apreciar o invisível; as sensações estão para os pensamentos como os pensamentos para as aspirações. A ciência é uma trigonometria celeste:: um dos lados do triângulo absoluto é a natureza submetida às nossas investigações; o outro é a nossa alma que abraça e reflete a natureza; o terceiro é o absoluto, no qual nossa alma se engrandece. Não é mais possível o ateísmo de ora em diante, porque não temos mais a pretensão de definir Deus. Deus é, para nós, o mais perfeito e o melhor dos seres inteligentes, e a hierarquia ascendente dos seres nos demonstra bastante que ele existe. Não exijamos mais; porém, para entendê – lo sempre melhor, aperfeiçoemos -nos, subindo para ele.

Nada de ideologia; e ente é o que é e só se aperfeiçoa conforme as leis reais do ser. Observemos, não conjeturemos; exerçamos a nossas faculdades, não as falsifiquemos; engrandeçamos o domínio da vida; vejamos a verdade na verdade! Tudo é possível àquele que somente quer o que é verdade. Ficai na natureza, estudai, sabei, depois, ousai; ousai querer, ousai agir, e calai -vos!

Nada de ódio contra alguém. Cada qual colherá o que semeia.O resultado das obras é fatal, e pertence à razão suprema julgar e castigar os maus. Aquele que vai por um caminho sem saída voltará para trás ou será dilacerado. Adverti – o docemente, se ainda puder vos ouvir; depois deixai – o agir: é preciso que a liberdade humana siga o seu curso.
Não somos juízes uns dos outros. A vida é um campo de batalha. Não cessemos de combater por causa dos que caem, mas evitemos andar por cima deles. Depois vem a vitória, e os feridos dos dois partidos, tornados irmãos pelo sofrimento e perante a humanidade, serão reunidos nas ambulâncias dos vencedores. Tais são as conseqüências do dogma filosófico de Hermes; tal foi, em todos os tempos, a moral dos verdadeiros adeptos; tal é a filosofia dos rosacruzes herdeiros de todas as sabedorias antigas; tal é a doutrina secreta destas associações que eram consideradas como subversivas à ordem pública, e que foram acusadas de conspirações contra os tronos e altares.

O verdadeiro adepto, longe de perturbar a ordem pública, é o seu mais firme sustentáculo. Respeita muito a liberdade para desejar a anarquia; filho da luz, gosta da harmonia, e sabe que as trevas produzem confusão. Aceita tudo o que existe, e nega só o que não existe. Quer a verdadeira religião, prática, universal, crente, palpável, realizada na vida inteira; ele a quer com um sábio e poderoso sacerdócio, rodeado de todas as virtudes e de todos os prestígios da fé. Quer a ortodoxia universal, a catolicidade absoluta, hierárquica, apostólica, sacramental, incontestável e incontestada. Quer uma filosofia experimental, real, matemática, modesta nas suas condições, infatigável na suas investigações, científica nos seus progressos. Quem, pois, pode estar contra nós, se Deus e a razão estão conosco? Que importa que nos julguem mal e nos caluniem? A nossa justificação inteira são nossos pensamentos e nossas obras. Não vimos, como Édipo, matar a esfinge do simbolismo: pelo contrário, empreendemos ressuscitá – la. A esfinge devora somente os intérpretes cegos, e aquele que a mata não soube adivinhá – la: é preciso dominá – la, prendê- la e forçá- la a nos seguir. A

 

esfinge é o palácio vivo da humanidade, é a conquista do rei de Tebas; teria sido a salvação de Édipo, se este tivesse adivinhado o seu enigma inteiro.

Na ordem positiva e material, que é que se deve concluir desta obra? A magia é uma força que a ciência pode abandonar ao mais malvado? Será uma velhacaria e uma mentira do mais hábil para fascinar o ignorante e fraco? O mercúrio filosofal será uma exploração da credulidade pela habilidade? Os que nos entenderam já sabem como responder a estas questões. A magia não poder ser mais, nos nossos dias, a arte das fascinações e dos prestígios; agora só é possível enganar os que querem ser enganados. Mas a incredulidade mesquinha e temerária do último século recebe todos os desmentidos dados pela própria natureza. Vivemos rodeados de profecias e milagres; a dúvida os negava outrora com temeridade, a ciência hoje os explica.

Não, senhor Conde de Mirville, não é dado a um espírito decaído perturbar o reino de Deus! Não, as coisas desconhecidas não se explicam pelas coisas impossíveis; não, não é dado a seres invisíveis enganarem, atormentarem, seduzirem, matarem as criaturas de Deus, os homens, já tão ignorantes e fracos, e que têm tanta dificuldade em se defenderem contra as suas próprias ilusões. Os que vos disseram isso, na vossa infância, vos enganaram, senhor onde, e se fostes tão criança para os ouvir, sede bastante homem, agora, para não crer mais nisso.

O homem é próprio criador do seu céu e do seu inferno, e não há outros demônios senão as nossas loucuras. Os espíritos que a verdade castiga são corrigidos pelo castigo, e não pensam mais em perturbar o mundo. Se Satã existe, não pode ser senão o mais infeliz, o mais ignorante, o mais humilde e o mais impotente dos seres.

A existência de agente universal da vida, de um fogo vivo, de uma luz astral nos é demonstrada por fatos. O magnetismo nos faz entender, hoje, os milagres da antida magia; os fatos da segunda vista, as aparições, as curas repentinas, as penetrações do pensamento, são agora, coisas verificadas e familiares até às nossas crianças.
Mas tinha – se perdido a tradição dos antigos e acreditou – se em descobertas novas, procurava- se a última palavra dos fenômenos observados, as mentes se inquietavam diante de manifestações sem limite, sofriam – se fascinações sem as compreender. Vimos dizer aos giradores de mesas: Estes prodígios não são novos; podeis operar até maiores, se estudardes as leis secretas da natureza. E que resultará do conhecimento novo destes poderes? Uma nova carreira aberta à atividade e à inteligência do homem, o combate da vida organizado de novo com armas mais perfeitas e a possibilidade dada às inteligências de elite de se tornarem senhoras de todos os destinos, dando ao mundo futuro verdadeiros sacerdotes e grandes reis!

FIM


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