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Cependant que persiste
La splendeur à côté,
Du plumage bleuté
De 1’orgueil que s’attriste
D’un paon jadis vainqueur
Au jardin du coeur.
– Verlaine
“Verdadeiro demais, cedo demais” talvez sejam as palavras mais apropriadas ao pequeno grupo de hereges que sobreviveu a oito séculos de cruel perseguição cristã e muçulmana – os Yezidis.
De sua meca – a tumba de seu primeiro líder, Sheik Adi – localizada no Monte Lalesh próximo da antiga cidade de Nínive, o império Yezidi estendeu-se numa larga faixa invisível de aproximadamente trezentas milhas até a junção mediterrânea da Turquia e Síria numa ponta, e na outra até as montanhas do Cáucaso na Rússia. Em intervalos ao longo desta faixa haviam sete torres – as Torres de Satã (Ziarahs) –, seis delas em formato trapezoidal, e uma, o “núcleo” do Monte Lalesh, construída de forma pontuda e sulcada. Cada torre possuía no topo um brilhante refletor heliográfico (solar), e funcionava como uma “usina de energia” de onde um mago satânico poderia irradiar sua vontade aos “descendentes de Adão”, e influenciar eventos humanos no mundo externo.
Como os anjos caídos do Livro de Enoque, os Yezidis alegavam ser descendentes de Azazel. Os Yezidis acreditavam numa duplicata da história de Lúcifer, i.e. a manifestação do orgulho banida. Como as lendárias tribos perdidas de Israel, os Yezidis romperam com suas origens como resultado de conflitos não resolvidos, e sentiram uma forte justificativa e propósito por causa de sua herança única, que isolou-os teologicamente de todas as outras raças.
A lenda dos Yezidis a respeito da própria origem não é mais fantástica, para padrões científicos. Ela alude à criação do primeiro macho e fêmea da tribo através dos princípios mais tarde estabelecidos por Paracelso para a criação de um homúnculo; a saber: conservação de esperma em um recipiente onde ele germine e assuma a forma de um embrião humano.
Os Yezidis fornecem um elo entre o Egito, Europa Oriental e o Tibete. O idioma dos Yezidis era o curdo – semelhante em som ao enoquiano, o idioma supostamente falado pelos anjos.
Pouco antes de Sheik Adi (nome completo: Saraf ad-Din Abu-l-Fadail, Adi bem Musafir ben Ismael ben Mousa ben Marwan ben Ali-Hassan ben Marwan) morrer em 1163, ele ditou o que viria a ser um dos mais lendários manuscritos de todos os tempos – o Al-Jilwah (revelações). O Al-Jilwah, junto com o Mashaf Rei, que foi compilado no século seguinte, tornou-se conhecido como o Livro Negro – as palavras proferidas por Satã a seu povo. O Livro Negro não só contém o credo Yezidi, como também seus rituais.
Os Yezidis adentravam seus templos através de pórticos ostentando as imagens de um leão, uma serpente, um machado de dois gumes, um homem, uma crista de galo, tesouras, e um espelho. O leão representava força e domínio; a serpente, procriação; o machado, potencial para o bem ou o mal; o homem, deus; e a crista, tesouras e espelho representavam vaidade. Mas o maior símbolo de vaidade, entretanto, foi a forma tomada por Satã na liturgia Yezidi – o pavão. Como eles não podiam dizer o nome de Satã (Shaitan) por medo de perseguição, o nome Melek Taus (Pavão Rei) foi usado. Tão grande era o risco de perseguição externa, que até palavras vagamente semelhantes a Satã eram proibidas.
Os vestígios da cultura Yezidi que restaram hoje tem, como era de se esperar, encontrado não só “simpatia” sentimental mas, pior ainda, tentativas de pintar de branco a religião e negar que ela era adoração do demônio. Depois de oito séculos sem machucar ninguém, cuidando do próprio negócio, e mantendo a coragem de suas convicções – apesar dos grandes massacres de seus homens, mulheres, e crianças nas mãos dos bons – os Yezidis finalmente foram presenteados com uma repugnante forma de caridade pelo reconhecimento dos teólogos. Agora é comumente afirmado que os Yezidis foram “na verdade pessoas nobres e de elevada moral”, e portanto não poderiam ter adorado o demônio! It is difficult to asses this as anything other than the most blatant form of selective in-attention!
Cada vez que um importante ritual Yezidi era realizado, a figura de um pavão de bronze (chamado sanjak) era retirada de um esconderijo secreto por um sacerdote e levada ao templo. Ela era colocada num pedestal em volta do qual havia uma fonte de água corrente que caía numa pequena piscina. Isto servia como o santuário e o ícone para o qual a homenagem era direcionada. A água supostamente vinha de um córrego que circulava por cavernas subterrâneas numa rede de passagens abaixo de cada Torre de Satã. O ponto de origem destes córregos acreditava-se ser a miraculosa nascente do Islam conhecida como Zamzam. As cavernas supostamente terminavam na cidade dos Mestres – Schamballah (Carcosa).
Para estabelecer uma perspectiva apropriada, além das próprias crenças dos Yezidis a respeito das cavernas e os efeitos das Torres de Satã, as conjecturas dos estrangeiros devem ser mencionadas aqui. Há muito tem sido suposto que as Torres não se limitavam à geografia Yezidi, mas localizavam-se em várias partes do mundo como diversas construções de formato desconhecido – cada uma servindo como uma entrada na superfície para o mundo subterrâneo, alegoricamente ou não. Neste caso, as Torres Yezidis e sua influência satânica seriam o microcosmo de uma rede de controle muito maior.
Os “clãs” dos Yezidis chamavam-se: Sheikan, no Monte Lalesh; Sinjar (Covil da Águia), no Curdistão; Halitiyeh, na Turquia; Malliyeh, no Mediterrâneo; Sarahdar, na Geórgia (ex-parte da URSS) e sul da Rússia; Lepcho, na Índia e Tibete; e Kotchar, que, assim como os beduínos, vagava sem área permanente.
A interpretação Yezidi de Deus foi a mais pura tradição satânica. A idéia, tão proeminente na filosogia grega, de que Deus é uma existência absoluta e completa em si mesmo, imutável, fora do tempo e espaço, não existia na teologia Yezidi. Também era rejeitado o teocrático conceito judaico de Jeová, bem como o Deus maometano: o soberano absoluto. O conceito, único aos cristãos, de que Deus é Cristo em pessoa era totalmente inexistente. Se houve qualquer vestígio de uma manifestação pessoal de Deus, foi através de Satã, que instruiu e guiou os Yezidis rumo a uma compreensão dos princípios multifacetados da Criação, como a idéia platônica de que o Absoluto é estático e transcendental. Este conceito de “Deus” é essencialmente a posição tomada pelos satanistas mais expandidos. Orações eram proibidas, na mais severa tradição satânica. Até diárias expressões de fé eram chamadas de “recitais”.
Poucos estrangeiros penetraram nos santuários dos Yezidis. As exceções quase restrinjem-se ao século passado(XIX) quando, infelizmente, a seita definhava como movimento organizado. E destes, pouquíssimos foram os que vislumbraram os sagrados sanjaks ou contemplaram os manuscritos do Livro Negro, pois ambos eram cuidadosamente guardados dos descendentes de Adão, cuja prole encheu o mundo de barro acéfalo. O Livro Negro foi traduzido para o inglês por Isya Joseph do manuscrito em árabe de Daud as-Saig.
No início do século XX o escritor William Seabrook aventurou-se no deserto e subiu o Monte Lalesh, registrando sua jornada (Aventuras na Arábia) com uma objetividade que provou ele ser um bravo ainda que misericordioso homem. Numa época em que foi moda literária punir severamente o demônio, independente de seus atributos, a afinidade de Seabrook com Satã era visível em todos os seus escritos como se ele fosse um Bierce, Shaw, Twain, ou Wells. Ele foi um dos poucos estrangeiros que, pela primeira vez na história Yezidi, mostrou simpatia pelo demônio deles.
Agora os Yezidis foram amplamente absorvidos pelo mundo “daqueles de fora”, mas sua influência teve efeito. Esta influência manifestou-se, em todo o período subterrâneo do Satanismo, nos procedimentos de praticamente toda irmandade secreta desde os Cavaleiros Templários, e em inúmeras obras literárias. Agora, após a frequentemente trágica epopéia dos Yezidis ter virado história, é seguro pronunciar o Nome Terrível.
A DECLARAÇÃO DE SHAITAN E O SILENCIOSO RITO DE DEDICAÇÃO
O rito começa uma hora após o pôr-do-sol.
Os congregantes adentram a câmara e sentam-se em travesseiros colocados no chão em semicírculo frente ao santuário de Melek Taus. A água corre sobre as pedras em volta do sanjak e numa piscina à sua base. Incenso é queimado em braseiros de cada lado do santuário. Os kawwals(músicos) ficam na parede traseira do templo, tocando um prelúdio em flautas, tambores e tamborins. (Nota: Como resposta emocional é essencial durante certos trechos do rito, ocidentais talvez necessitem de um tipo diferente de música. Há muito de recomendado nas obras de Borodin, Cut, Rimsky-Korsakoff, Ketelbey, Ippolitov-Ivanov, etc., apesar do désdem dos “puristas”.)
O sacerdote entra, seguido de seus assistentes, todos vestindo robes negros com fitas vermelhas na cintura. O sacerdote posta-se perante o santuário, seus assistentes nos lados. A cabeça do sacerdote é raspada. A navalha usada para isto foi primeiro lavada nas águas mágicas de Zamzam.
Toda música cessa, e o gongo é batido uma vez. A flauta volta a tocar, bem devagar e suavemente, e o sacerdote invoca a Terceira Chave Enoquiana. Quando ele tiver terminado, a flauta para, e, após uma pausa, o gongo é tocado de novo.
A flauta começa a tocar, como antes, e o sacerdote recita o Al-Jilwah, o Livro Negro.
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