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A História da Música Erudita para Apreciadores Músicais

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Foi o título deste texto que te trouxe até aqui. Saiba, contudo, querido leitor, que não quero aqui de fazer um levantamento exaustivo da música erudita ocidental, nem de reunir os nomes mais importantes como quem monta uma enciclopédia de prestígio. A ideia é outra. Quero percorrer, com uma certa curiosidade mais atenta do que didática, os momentos em que o som passou a carregar um valor para além da celebração e do apelo popular.

Essa trajetória não será linear, nem poderia ser. O que tentei aqui foi puxar um fio que ligasse essas diferentes formas de escutar e compor, sem fingir que há uma lógica única. Do Canto Gregoriano ao presente, o que se vê são mudanças na maneira como se entende o som, o tempo, o papel do intérprete, e até a função da música na vida cotidiana. Há períodos de organização e outros de ruptura, momentos de apuro técnico e fases de reinvenção crua. Mas todos eles têm em comum o fato de que, em cada época, alguém acreditou que havia algo ali que valia a pena ser ouvido. Não porque estava reunido em um evento social ou por alguma obrigação cultural, mas pela música em si.

Canto Gregoriano

A origem da música erudita no Ocidente está profundamente enraizada no contexto litúrgico da Igreja Católica, e sua semente mais emblemática floresce no que hoje chamamos de Canto Gregoriano. A razão é simples. Antes dela não havia uma notação estabelecida e portanto o cantochão é o equivalente musical ao início da história escrita. Este estilo, que começou a se consolidar entre os séculos VIII e IX, era primariamente um instrumento devocional, pedagógico e espiritual da Igreja, voltado à elevação da alma por meio do som e da palavra sagrada.

Cantado a capela, ou seja, sem o acompanhamento de instrumentos, o Canto Gregoriano é essencialmente monofônico, ou seja, uma só linha melódica, entoada por vozes uníssonas, o que confere à sua sonoridade uma limpidez angelical. As melodias gregorianas seguem uma fluência natural da declamação escritural, respeitando a prosódia do latim e favorecendo a inteligibilidade do texto bíblico. Assim, a melodia nunca é separada das Escrituras Sagrada. É sua versão cantada.

Os temas sacros portanto são onipresentes, abordando passagens da Bíblia, salmos, louvores e súplicas, moldando uma paisagem sonora que visa ordenar o tempo e o espírito. O calendário litúrgico, com seus ciclos e festas, oferecia o pano de fundo para a variedade de cânticos: missas, ofícios, antífonas e hinos que pontuavam as horas do dia e as estações do ano.

Entre os recursos técnicos mais marcantes do Canto Gregoriano estão os melismas, sequências de várias notas cantadas sobre uma mesma sílaba. Esses melismas podem ser tradicionais (repetidos em diferentes peças litúrgicas como fórmulas melódicas recorrentes) ou regulares (integrados de forma equilibrada na estrutura do canto, mas sem excessos virtuosísticos). Eles criam espaços de contemplação, estendendo a palavra para além de seu sentido semântico, transformando-a em experiência mística.

Uma das melodias mais famosas do canto gregoriano, Dies Irae, era tradicionalmente atribuída a Tomás de Celano (falecido em 1260), mas atualmente é geralmente atribuída a um franciscano desconhecido daquele período. A peça é baseada em Sofonias 1,14-16, uma reflexão sobre o juízo final.

Ouça mais em Old Roman chant – Statuit ei Dominus

Medieval Tardio

No Medieval Tardio, entre os séculos XII e XIV, a música ocidental começou a se afastar da rigidez monástica do Canto Gregoriano e a explorar novas dimensões expressivas, ainda majoritariamente a capela, mas agora com um crescente senso de autoria individual, liberdade melódica e invenção formal. Esse período é marcado pela emergência de nomes próprios na história da música sacra e profana, como Hildegard von Bingen e Guillaume de Machaut, que imprimiram estilo e identidade pessoal às composições, algo até então raro.

A monodia continuava presente, ou seja, ainda se privilegiava uma única linha melódica, mas com características muito distintas do gregoriano. A monodia do período tardio ganhava agora um caráter melismático longo, repleto de saltos intervalares audaciosos e imprevisíveis, quebrando a linearidade tradicional. Essa música exigia muito mais da voz e do ouvinte: já não era apenas suporte para o texto sacro, mas uma forma de exaltação emotiva e sensorial.

Hildegard von Bingen (1098–1179), mística e visionária do século XII, representa esse novo espírito. Suas composições, como as reunidas em Symphonia armoniae celestium revelationum, revelam uma musicalidade exuberante, com linhas vocais amplas e serpenteantes, muitas vezes transcendendo os modos tradicionais. Sua música é devocional, mas também profundamente visionária, com longos melismas que ecoam as imagens proféticas de seus escritos teológicos.

Já no século XIV, Guillaume de Machaut (c. 1300–1377) se destaca como um dos primeiros grandes compositores autônomos, tanto em contextos sacros quanto seculares. Embora tenha sido um dos mestres da polifonia nascente, Machaut também cultivou a monodia melismática, com estruturas poéticas e melódicas refinadas e complexas. Sua Messe de Nostre Dame, embora polifônica, já revela os traços de uma escrita marcada por expressividade individual e técnica inventiva — herdeira direta da tradição monódica ornamentada e imprevisível.

Ouça mais em Ordo virtutum

Renascentismo

Durante o Renascimento (aproximadamente 1450–1600), a música erudita atinge um refinamento estrutural e estético inédito, marcado pelo pleno florescimento da polifonia vocal. Diferentemente do canto monódico medieval, a música renascentista se desenvolve por meio de múltiplas vozes independentes que se entrelaçam harmonicamente, criando uma textura rica, equilibrada e de grande profundidade espiritual. A obra musical deixa de ser uma mera expressão litúrgica para se tornar também um ideal de beleza, proporção e equilíbrio vocal, em sintonia com os valores humanistas da época.

Neste período, a música ainda é predominantemente a capela, mas a introdução de instrumentos ganha espaço, sempre subordinados ao modelo da voz humana, considerada o paradigma da perfeição sonora. O ideal renascentista não é o virtuosismo individual, mas a fusão das vozes num todo coeso, onde nenhuma parte sobressai em excesso. Essa abordagem favorece uma harmonia modal suave e estável, baseada nos modos eclesiásticos herdados da Antiguidade e do canto gregoriano, mas agora explorados com mais liberdade e sensibilidade estética.

Dois nomes simbolizam o ápice desse período: Josquin des Prez (c. 1450–1521) e Giovanni Pierluigi da Palestrina (c. 1525–1594). Josquin, por vezes considerado o “Michelangelo da música”, foi pioneiro em usar a polifonia de forma expressiva e arquitetônica, explorando imitativos, cânones e variações tímbricas com grande domínio técnico. Suas composições, como o moteto Ave Maria… virgo serena, demonstram como o entrelaçamento vocal podia servir tanto à clareza do texto quanto à emoção.

Palestrina, por sua vez, representa o cume da polifonia sacra clássica, agora em vez de cantarem juntas as vozes se espalham pela musica com um estilo refinado, sereno e perfeitamente proporcionado. Sua Missa Papae Marcelli tornou-se modelo da música litúrgica católica, especialmente após o Concílio de Trento, que buscava preservar a inteligibilidade do texto sagrado. Palestrina soube combinar com maestria a beleza melódica com a pureza da polifonia, elevando a prática musical a um verdadeiro ideal espiritual.

Ouça mais em Josquin des Prez / Philippe Caillard Vocal Ensemble

Barroco

O Barroco (c. 1600–1750) marca uma virada estética profunda na história da música erudita, caracterizada pela busca por expressividade dramática, contrastes intensos e uma nova centralidade do virtuosismo individual. Saindo do equilíbrio racional e contido do Renascimento, a música barroca mergulha em afetos, tensões e exuberância sonora, moldando um universo em que a arte passa a espelhar o movimento, a emoção e o esplendor.

Neste período, surgem e se consolidam formas musicais fundamentais como a fuga, o concerto e a ópera, todas elas pensadas para explorar a tensão entre unidade e contraste, entre coletivo e solista. A fuga exemplifica o rigor contrapontístico levado ao extremo, com vozes imitando-se e entrelaçando-se em estruturas densas e matematicamente elaboradas.

Já o concerto, especialmente o concerto grosso e o concerto solo, evidencia o diálogo entre a orquestra e um ou mais solistas virtuosos, que ganham espaço para brilhar com passagens tecnicamente desafiadoras e emocionalmente intensas. A ópera, nascida no limiar do Barroco, une música, teatro e poesia em uma síntese dramática total, expressão máxima dos afetos humanos.

Entre os grandes mestres barrocos, destacam-se Antonio Vivaldi (1678–1741) e Johann Sebastian Bach (1685–1750). Vivaldi, conhecido por suas centenas de concertos (como As Quatro Estações ) dominava a forma do concerto solo, explorando contrastes entre movimentos rápidos e lentos, e realçando a habilidade técnica dos intérpretes com sequências ágeis e ornamentadas. Sua música é vibrante, rítmica, com estrutura clara e impacto direto.

Já Bach representa o ápice da complexidade estrutural e expressividade espiritual do Barroco. Em obras como o Cravo Bem Temperado, as Paixões ou as Suítes para Violoncelo, ele combina erudição contrapontística com uma profundidade afetiva rara. Bach não compôs óperas, mas sua música vocal e instrumental carrega o mesmo potencial dramático, muitas vezes em contextos litúrgicos.

Ouça mais em Adagio in G Minor (Albinoni)

Classicismo

O Classicismo (c. 1750–1820) surge como uma resposta à exuberância e ao dramatismo do Barroco, promovendo uma estética centrada na clareza formal, na simetria estrutural e no equilíbrio emocional. Inspirado pelos ideais iluministas de racionalidade, proporção e universalidade, esse período transforma a música em linguagem refinada e inteligível, voltada tanto à razão quanto ao sentimento, mas sempre com medida e elegância.

É nesse contexto que se consolidam as grandes formas instrumentais da tradição ocidental: a sonata, a sinfonia, o quarteto de cordas e o concerto clássico, todas pautadas por estruturas bem definidas, como a forma-sonata (com exposição, desenvolvimento e recapitulação) que organiza o discurso musical de maneira lógica e coesa. Ao contrário do foco barroco no solista virtuoso, o Classicismo valoriza a execução coletiva, onde cada instrumento ou seção desempenha um papel equilibrado dentro do todo.

Dois nomes simbolizam esse ideal com perfeição: Joseph Haydn (1732–1809) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756–1791). Haydn, frequentemente chamado de “pai da sinfonia” e do quarteto de cordas, foi mestre em construir estruturas sólidas com humor, inventividade e clareza. Suas obras, como as Sinfonias de Londres ou os Quartetos do Sol ,  demonstram um domínio absoluto da forma e do desenvolvimento temático.

Mozart, por sua vez, levou essa linguagem à sua expressão mais sofisticada e emotiva. Suas sinfonias, concertos e óperas equilibram com naturalidade a inteligência formal e a sensibilidade melódica. Em obras como a Sinfonia nº 40 ou o Concerto para Piano nº 21, a clareza e o equilíbrio são acompanhados por uma profundidade emocional sutil, que brota sem excessos nem artifícios. Nas óperas, como As Bodas de Fígaro e Don Giovanni , ele revelou ainda a capacidade clássica de unir estrutura e drama, leveza e crítica social.

Ouça mais em Mozart: Symphony

Romantismo

O Romantismo (c. 1820–1900) inaugura uma era de profunda transformação na música erudita, marcada por uma ênfase crescente na emoção intensa, no individualismo expressivo e em um espírito de rebeldia estética que rompe com as estruturas clássicas em busca de liberdade, subjetividade e identidade. O artista romântico não é mais um artesão da forma: é um gênio criador, movido por paixões, visões e dilemas existenciais. A música torna-se não apenas arte, mas confissão da alma.

Essa mudança se reflete na linguagem musical: as formas tradicionais, como a sonata e a sinfonia, são expandidas ou subvertidas; os contrastes dinâmicos tornam-se mais extremos; e o idioma harmônico se torna mais denso e cromático. A orquestra é ampliada, ganhando novas cores instrumentais, massas sonoras grandiosas e recursos expressivos que vão do sussurro à explosão. Ao mesmo tempo, desenvolve-se o nacionalismo musical, com compositores incorporando ritmos, melodias e mitos de suas terras natais, transformando a música em veículo de identidade cultural.

O indivíduo está no centro dessa revolução. Compositores como Ludwig van Beethoven (1770–1827), já no final do Classicismo, antecipam plenamente o espírito romântico. Sua Sinfonia nº 3 “Eroica” ou a 9ª Sinfonia não são apenas obras musicais, mas declarações heroicas de vontade, liberdade e transcendência. Franz Schubert (1797–1828), por sua vez, imprime uma intensidade lírica e melancólica inconfundível aos seus lieder e obras de câmara, transformando a música em poesia íntima e delicadamente trágica.

Com Frédéric Chopin (1810–1849), o piano torna-se o confidente por excelência do espírito romântico. Suas mazurcas, noturnos, polonaises e prelúdios expressam toda a gama da sensibilidade individual, desde o lamento mais suave até o ímpeto revolucionário. Em Chopin, como em muitos românticos, a música é quase sempre programática, mesmo quando não declaradamente: ela evoca paisagens internas, sonhos, saudades e exílios.

Ouça mais em Beethoven – Violin Romance No.2

Modernismo

O Modernismo musical (final do século XIX até meados do século XX) inaugura um tempo de ruptura radical, onde a música deixa de buscar beleza, harmonia ou consolo e passa a refletir os conflitos, angústias e descontinuidades do mundo moderno. É uma arte que cria tensão no ouvinte como se estivesse assistindo um teatro,  muitas vezes de forma desconfortável , rejeitando os modelos herdados do passado e investindo em experimentação sonora, dissonância expressiva e quebra das formas tradicionais.

O ideal romântico de emoção subjetiva e lirismo é substituído por uma estética da tensão teatral, do estranhamento e da liberdade estrutural. A previsibilidade tonal cede lugar a novos sistemas: o atonalismo, que elimina a hierarquia entre notas; o dodecafonismo, desenvolvido por Arnold Schoenberg, que organiza as doze notas da escala cromática em séries não repetidas antes de todas serem usadas, abolindo qualquer centro tonal. Essas linguagens geram um tipo de música intelectualmente rigorosa, mas muitas vezes percebida como incompreensível, instável ou incômoda, especialmente para públicos habituados às sonoridades anteriores.

Ao mesmo tempo, a forma e o timbre tornam-se elementos abertos à subversão e à invenção. Igor Stravinsky, com obras como A Sagração da Primavera, rompe com toda regularidade rítmica e tonal para criar um mundo sonoro primitivo e brutalista, cuja estreia, em 1913, gerou um dos mais célebres escândalos da história da música. Seus ritmos fragmentados, harmonias secas e orquestração percussiva fizeram da música um palco de forças tribais, muito distante da elegância clássica. Wagner em especial é visto como um precursor do modernismo musical, especialmente por seu uso ousado de harmonia (como no célebre acorde de Tristão), que influenciou fortemente compositores como Mahler, Schoenberg e Debussy.

Na América Latina, Heitor Villa-Lobos incorpora o espírito modernista ao explorar a hibridização entre a música erudita europeia e os elementos populares brasileiros. Suas Bachianas Brasileiras ou Choros fundem a linguagem contrapontística do barroco com ritmos afro-indígenas, sons urbanos e paisagens tropicais, produzindo uma sonoridade visceral, exuberante e inclassificável. Em Villa-Lobos, o modernismo assume uma força antropofágica, devorando influências para gerar algo novo e indomesticado.

Musica Erudita Hoje

A música contemporânea, desenvolvida a partir da segunda metade do século XX até os dias atuais, caracteriza-se por uma impressionante diversidade estilística e pela superação de paradigmas únicos ou dominantes. Trata-se de uma era de ecletismo consciente, onde convivem linguagens contrastantes da tradição tonal ao ruído industrial, do coral sacro ao glitch eletrônico e onde a fronteira entre alta cultura e cultura popular é cada vez mais difusa.

Após as tensões radicais do modernismo, muitos compositores buscaram caminhos de reconciliação com a escuta, sem necessariamente abrir mão da complexidade. É nesse contexto que surge o minimalismo, estilo marcado por repetições hipnóticas, estruturas modulares e um senso de tempo expandido, como se a música respirasse lentamente. Philip Glass é um dos expoentes desse movimento, com obras como Einstein on the Beach ou suas séries de concertos, que utilizam padrões harmônicos simples, mas com variações rítmicas e texturais contínuas. Sua música é meditativa, mas inquieta; minimal, mas profundamente cinemática.

Outro nome fundamental da contemporaneidade é Arvo Pärt, representante do chamado estilo “tintinnabuli”, que une simplicidade harmônica e espiritualidade contemplativa. Suas composições, como Spiegel im Spiegel ou Fratres, ecoam o canto litúrgico medieval e ortodoxo, mas com uma limpidez e silêncio que os tornam profundamente modernos.

Por outro lado, a música contemporânea também abraça a tecnologia, a interdisciplinaridade e a mistura de estilos, dialogando com cinema, dança, instalação, vídeo, performance e cultura pop. É nesse campo que se insere John Williams, talvez o mais influente compositor da música orquestral popular contemporânea. Embora sua linguagem seja fortemente influenciada pelo romantismo tardio e por compositores como Wagner ou Korngold, Williams consegue integrar esse legado com uma narrativa sonora cinematográfica, que se tornou parte do imaginário global (como Star Warse Harry Potter), suas trilhas são pontes entre a tradição e o entretenimento de massas.

O metal sinfônico hoje, embora não pertença institucionalmente à tradição da música erudita, incorpora muitos de seus elementos estruturais e estéticos, situando-se em uma zona híbrida entre o popular e o clássico. Musicalmente, utiliza recursos como orquestrações complexas, formas expandidas, contraponto, harmonia funcional e virtuosismo técnico, aproximando-se de práticas da música sinfônica europeia. Esteticamente, compartilha com a música erudita o gosto pelo grandioso, pelo dramático e pelo simbólico, evocando frequentemente temas mitológicos, religiosos ou literários em uma linguagem próxima à da ópera romântica e do drama musical. Seu contexto cultural apesar disso, permanece enraizado no universo do rock e da cultura jovem, com produção, performance e recepção fora das instituições tradicionais da música de concerto.

Voltando a música erudita propriamente dita, a composição historicamente informada e o ecletismo pós-moderno abriram caminho para essa diversidade criativa, onde nenhum estilo é visto como ultrapassado. Compositores como Caroline Shaw, John Willians, John Rutter, Jennifer Higdon e coletivos como Nuova Pratica provam que é possível renovar a linguagem musical antiga com frescor, autenticidade e significado atual. Em vez de limitar a inovação, os modelos do passado servem como matriz expressiva para novas criações que soam familiares e, ao mesmo tempo, dizem algo único sobre o nosso tempo.

Jacob Collier é um exemplo brilhante de como a música erudita do século XXI pode ser profundamente pós-moderna, ecleticamente virtuosa e ainda assim dialogar com toda a tradição da música clássica sem necessariamente se limitar a ela. Ele não se encaixa num único estilo, mas transita livremente entre o barroco (em fugas vocais), o romantismo (em suas harmonias ricas), o impressionismo (no uso modal e timbres), o jazz moderno (estrutura harmônica e improvisação) e até a música microtonal e experimental. Em vez de compor “como se estivesse no século XVIII”, Collier absorve as estruturas e técnicas antigas e as reinventa com tecnologia, looping, camadas vocais complexíssimas e harmonizações que desafiam até músicos profissionais. Ou seja: ele não é “neobarroco” nem “neorromântico” no sentido estrito: é um gênio.


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