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Os dois modelos da Árvore da Vida

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As dez sefirót da Árvore da Vida

Dentro deste diagrama, entendemos as sefirót como estações de uma linha de montagem. Podemos abordá-las como dez níveis de consciência, mas, por enquanto, basta ter em mente alguns de seus atributos. Sefirót é a forma plural de sefirá.

Literalmente, sefirá significa “número” ou “contagem” – uma derivação de safar. De modo geral, interpretamos como “recipiente”, “forças fundamentais da criação” ou “emanações divinas”. O sentido original permanece para reforçar que se trata de uma sequência.

As sefirót podem ser vistas isoladamente em seus atributos, mas fazem parte de um processo que não deve ser ignorado. Um bom exemplo disso é que Chochmá e Biná, Chesed e Gevurá, Netzach e Hod precisam ser compreendidas como pares, onde uma sefirá acaba por regular a outra.

Etz Chaim, a Árvore da Vida

Em linhas gerais, temos:

  1. Kether (Coroa) – A semente do que pode vir a ser. O potencial indiferenciado e além da nossa compreensão.
  2. Chochmá (Sabedoria) – Inspiração. Criatividade. Centelha que dá ignição ao processo de criação.
  3. Biná (Entendimento) – Nutrição. Propósito. Análise. Separação entre falso e verdadeiro.
  4. Chesed (Misericórdia) – Amor. Generosidade. Expansão. Abundância. Espiritualidade.
  5. Gevurá (Severidade) – Temor. Restrição. Autolimitação. Correção. Foco. Disciplina. A energia direcionada para atingir uma meta específica.
  6. Tiferet (Beleza) – Integração. Balanço Interior. Compaixão. Conciliação.
  7. Netzach (Vitória) – Coragem. Perseverança. Vitalidade. Certeza. O domínio de si mesmo.
  8. Hod (Glória) – Motivação por trás de um objetivo. Estratégia. Responsabilidade. Empatia. Sistema de valores. Refinamento.
  9. Yesod (Fundamento) – Alianças. Fundamento. Segredos. Compromisso. Ponte entre o físico e o sutil.
  10. Malchut (Reino) – O mundo da forma e dos sentidos. O receptor. Realização.

Moshe Cordovero, o Ramak (1522-1570), colocou a estrutura das sefirót dessa forma:

“Para ajudar-te a conceber o processo da emanação das sefirot, imagina a água que escorre por vasos de diferentes cores: branco, vermelho, verde e assim por diante. À medida em que a água se espalha nesses vasos, parece adquirir a cor do vaso, embora seja desprovida de cor. A mudança na cor não afeta a água em si, mas apenas a nossa percepção da mesma. O mesmo acontece com as sefirót. A essência não muda; só parece mudar quando escorre dentro dos vasos”.

Dois Sistemas

São raras as fontes que descrevem o diagrama estabelecido por Yitzchak Luria (1534–1572). Algumas referências estão no livro Etz Chaim, escrito por Chaim Vital (1542 -1620). Rabi Vital foi discípulo de Cordovero, o primeiro a formalizar a estrutura mais conhecida da Árvore da Vida. Vários modelos foram esboçados antes deste por diferentes estudiosos. A base foi sempre o Sefer Yetzirá, com acréscimos do Sefer Bahir e do Zohar. Com a morte do Ramak, Chaim Vital tornou-se um dos principais alunos de Luria. Tudo o que temos dos ensinamentos do Arizal foi compilado por ele.

A Árvore antiga e a sua versão atualizada
São 10 sefirót e 22 caminhos. O que muda entre as duas, inicialmente, é como estes caminhos são distribuídos. No desdobramento disso, a posição de cada letra também segue uma lógica própria.
É interessante observar que, apesar da sequência 1, 2, 3 e 4, não temos um caminho ligando estes dois últimos na Árvore da Vida mais conhecida. Malchut, o plano físico, é alimentado por três sefirótNetzachHod Yesod. De novo, há um farto material em fontes judaicas e herméticas que justificam isso.

A retificação que Luria propõe reestrutura os caminhos superiores (2-5 e 3-4) e estabelece que todas as energias da árvore se concentram em Yesod para, só então, serem projetadas para Malchut.

Existe uma história em que se conta que Cordovero apareceu em sonho para Vital um tempo depois do seu falecimento. O aluno, um tanto incomodado, perguntou ao seu antigo mestre qual era a verdadeira Cabalá, quais os ensinamentos que ele recebia na Academia Celestial. Eis então que Ramak respondeu:

“Ambas as abordagens são verdadeiras. No entanto, a minha é simples, apropriada para iniciantes na sabedoria da Cabalá, ao passo que os ensinamentos de seu mestre (o Ari) são mais profundos e são a abordagem fundamental. Eu, também, na Academia Celestial, estudo somente de acordo com a abordagem de seu mestre”.

A Árvore de Vida e seus caminhos

As três classes de letras

Etz Chaim possui três colunas e sete níveis. As sefirót são interligadas por 22 caminhos, cada um com a regência de uma letra hebraica. Até aí, tudo bem. O Alef-Beit, por sua vez, é dividido em três categorias. 3 Letras Mães7 Letras Duplas e 12 Letras Simples.

As colunas estão ligadas ao processo de pulsação, onde a coluna da direita expande e a da esquerda contrai. A coluna central equilibra os dois polos. Quanto aos níveis, eu me aproximo do plano físico em direção a Malchut (10) e do Absoluto em direção à Kether (1).

O Ari estabeleceu uma distribuição que atende uma lógica bem simples: as 3 Letras Mães ocupam as linhas horizontais, conectando a coluna direita (expansão) à coluna da esquerda (contração). As 7 Letras Duplas ocupam os caminhos verticais, onde o fluxo sobe ou desce dependendo do propósito: criação de cima para baixo, retorno (elevação espiritual) de baixo para cima. As 12 Letras Simples ocupam as diagonais, que mudam não apenas de coluna, incluindo a central, mas de nível também.

E o que nos interessa neste contexto?

A forma grosseira de ver as coisas é que os caminhos são como as tubulações que levam a água de um reservatório a outro desde Kether até o seu destino, que é Malchut. O fluxo só é possivel por conta dos atributos das letras que, de alguma forma, tem pertinência com os atributos das sefirót conectadas. Há mil abordagens metafísicas para isso, mas tentaremos ser os mais práticos possível para que se extraia sempre um aconselhamento aplicável às questões do dia a dia.

Publicado em 9 de dezembro de 2018 no site Otiot Oráculo.


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