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A Quimbanda e o Hedonismo

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por Tata Caratu

O que define o hedonismo? O hedonismo tem sua origem na Grécia Antiga, derivando da palavra grega “Hedonê”, que era o nome de uma divindade associada ao prazer. Na mitologia grega, Hedonê era considerada a personificação de uma vida prazerosa e era filha de Eros e Psiquê. Essa filosofia, conhecida como hedonismo, postula que a busca pelo prazer é o propósito central da existência humana. De acordo com os hedonistas, a busca pelo prazer é o motor subjacente das paixões, dos desejos e do funcionamento da vida como um todo, e, portanto, é vista como a via primordial e mais completa para alcançar o objetivo supremo da vida: a felicidade.

Vamos explorar uma das vertentes do hedonismo:

Hedonismo Epicurista: Conforme mencionado previamente, esse tipo de hedonismo faz distinções entre os prazeres que merecem ser perseguidos. Existem outras variações, mas, neste momento, concentraremos nossa atenção apenas nesta. Ao aplicar isso ao contexto da Quimbanda, é fundamental compreender que pensar como Exu é um processo extremamente complexo que envolve vários anos de devoção e mudança na percepção da realidade. De toda forma, busquemos contemplar essa perspectiva coletivamente, na esperança de que, ao unirmos nossos pensamentos, possamos, talvez, adquirir a capacidade de pensar como Exu e Pombagira.

Não é surpreendente que, dentro da Quimbanda, nossos mestres desempenhem um papel evolutivo abrangente, não apenas no aspecto espiritual. Portanto, devemos almejar o aprimoramento em diversas áreas da vida, incluindo a busca pela felicidade. Cada um de nós possui uma visão de mundo e uma necessidade a ser satisfeita para atingir o prazer ou a felicidade. Para alguns, essa satisfação se encontra na comida, enquanto para outros reside no dinheiro, na família, no amor, e assim por diante. No entanto, é crucial lembrar que Exu nos adverte contra tudo o que é escravizante e opressor. Isso nos leva a questionar até que ponto a busca pelo prazer e pelo gozo não nos aprisiona. Aqui é onde encontramos respostas na filosofia hedonista de Epicuro.

Considere a seguinte situação: imagine que você aprecia profundamente pão com manteiga, considerando-o uma iguaria sublime, quase à altura da culinária francesa mais refinada. No entanto, um dia decide adicionar queijo a esse pão e, a partir desse momento, não consegue mais conceber um mundo sem queijo. O seu pão quente com queijo suplanta radicalmente a manteiga em seu paladar, tornando-a praticamente irrelevante diante da grandiosidade do queijo. Segundo Epicuro, isso representa um retrocesso de consciência, pois ao elevar um prazer acima do outro, estamos a um passo de uma busca desenfreada pelo prazer, levando, consequentemente, à perda do propósito na vida e da busca pela felicidade. Portanto, compreendemos a importância da busca pelo prazer natural, aquele que é essencial à vida, como saciar a fome ou aliviar sensações de frio ou calor. É aqui que o hedonismo de Exu, na perspectiva epicurista, se torna relevante.

Exu é reconhecido como senhor do comércio, dinheiro, sexo, caminhos e fertilidade. No entanto, é essencial compreender que ele possui um lado perverso, temperamental, dual e contraditório, entre outros aspectos. Como senhor, Exu deve ser entendido como aquele que não deve ser subjugado por nenhum desses aspectos, mas sim como alguém que domina os impulsos benéficos e prejudiciais de cada um deles. Quando não buscamos uma simbiose adequada com nossos mestres, ficamos vulneráveis a sucumbir aos aspectos mencionados anteriormente. É importante ressaltar que não estamos afirmando que aqueles que cultuam Exu e Pombagira estão imunes aos efeitos nocivos dos excessos. Contudo, podemos afirmar com segurança que aqueles que buscam a elevação mental, carnal e espiritual através da essência ancestral ígnea estão no caminho do sucesso, independentemente de sua natureza, desde que mantenham firmemente em mente o equilíbrio entre o prazer e a autodestruição.

Para concluir este texto, compartilho minha perspectiva sobre o hedonismo na Quimbanda. Devemos buscar experimentar tudo o que for possível, em diversos aspectos da vida, seja espiritual ou carnal. No entanto, não podemos permitir que essas experiências turvem nossos sentidos. Devemos ser capazes de apreciar cada detalhe com maestria e, somente então, experimentar prazer também nas coisas simples da vida. Não devemos viver segundo os padrões dos outros ou motivados pelo medo da morte, pois não há um encontro real com a morte. Quando estamos vivos, a morte ainda não chegou, e quando a morte chega, já não estamos mais aqui. O desencontro é inerente, e, portanto, quando não há encontro, não há sofrimento possível.”


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