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por: Kizumolu
Banimentos mágicos são, precisamente e para além de todos os rodeios, rituais que visam expulsar de um certo perímetro um ou mais espíritos, humanos ou não, e também forças, de maneira a estabelecer ou restabelecer controle e domínio sobre a área em que foram executados. Essa é a premissa básica que define sua principal função.
É em torno dessas ideias – de controle, domínio e, em última análise, poder – que, fundamentalmente, são planejados e estruturados os rituais de banimento, mesmo os mais populares, das diversas versões do famigerado Ritual Menor do Pentagrama às suas tantas derivações.
São sobre esses rituais e os princípios desses rituais estas considerações.
I. Banimentos mágicos são realizados dentro de perímetros bem estabelecidos.
Antes de realizarmos um ritual de banimento, é de grande importância que possamos estabelecer limites ao perímetro de nossa ritualística, reivindicando-o como nosso. Ao fazê-lo, damos um primeiro passo rumo ao controle e domínio sobre a área em questão, além de adquirirmos uma boa noção de suas nuances energéticas e do quanto será necessário para banir possíveis espíritos.
Erigir um círculo mágico é a maneira mais utilizada de estabelecer esses limites, embora possam, também, ser estabelecidos tão somente pela imposição da vontade e pela consciência de que a área em questão nos pertence, por tomada ou por direito.
II. Se você não sabe o que está banindo, não está banindo nada.
A menos que tenhamos como objetivo o aprimoramento de habilidades como a visualização e o controle energético, ou que o banimento a ser realizado possua mecanismos para, no mínimo, afastar forças e espíritos nocivos sem que deles tenhamos consciência, realizar um banimento sem ter em mente aquilo que está sendo banido é, na melhor das hipóteses, uma performance com direito a plateia.
Há, no estranho mundo em que vivemos, espíritos nocivos, dos mais diversos tipos, e espíritos verdadeiramente malignos, daqueles que não encontramos em qualquer lugar. Os primeiros costumam ser coagidos com palavras e símbolos de poder, para além de todo cerimonial. Mas os segundos farão o incauto dançar lambada com os pentagramas de seu próprio ritual de banimento.
Delimitemos um perímetro, então. Identifiquemos as peculiaridades do espaço em que nos encontramos primeiro e, depois, suas nuances energéticas, para que tenhamos noção da natureza dos espíritos que nele habitam e trafegam. De posse dessas informações, realizemos um banimento à altura do que encontramos.
Na eventualidade de que pairem dúvidas a respeito da natureza de qualquer espírito, realizemos tanto uma purificação – a queima de enxofre há de ser suficiente – quanto um banimento, cientes de que podem haver represálias.
III. Os espíritos que você quer banir não desejam ser encontrados.
Os espíritos que realmente queremos – e precisamos – banir farão o possível para permanecer nas sombras, envoltos em densa penumbra, nos lugares mais discretos e oportunos do recinto em que nos encontramos. Realizar um banimento é tirá-los de sua morada e afastá-los daquilo ou daqueles que os mantêm nutridos e felizes.
Dadas as circunstâncias, defenderão aquilo que “lhes pertence”, empreendendo ataques psíquicos e energéticos a todos os que, porventura, estiverem presentes, particularmente aqueles a quem estão intimamente conectados. Cabe ao feiticeiro, e tão somente a ele, o conhecimento para dispor do que é necessário para realizar, com primazia e êxito, a purificação e o banimento.
IV. Se você não sabe para onde está banindo, dê uma olhada lá fora.
Os espíritos que banimos sempre são encaminhados para os lugares que determinamos. E, se não determinamos, eles são simplesmente afastados do perímetro traçado, da região ou casa em que realizamos o ritual. Quando não retornam, continuam a perambular pelo local onde foram parar até que algo lhes desperte a atenção.
Encaminhemos, portanto, os espíritos que banimos de forma que nenhum volte a nos incomodar. Há feiticeiros que os cooptam, outros que os encaminham para pontos de força específicos, como um cemitério, encruzilhada ou floresta.
Há quem decrete:
“Que voltes ao teu lugar de pertencimento, pois este não o é, e que, se não o tiveres, vás à mais profunda das covas e de lá não retorne.”
E quem decrete:
“Que voltes ao teu lugar de pertencimento, pois este não o é, e que, se não o tiveres, que de (nome da vítima) faças morada, pois teu será tudo o que dele e nele conseguires.”
V. Os espíritos que você quer banir podem ser cooptados. E depois, banidos.
A maioria dos espíritos, ao menos aqueles que se dispõem a interagir com humanos ou possuem, ainda, traços de uma consciência, está disposta a colaborar mediante uma boa conversa e uma oferta que lhes seja razoável.
Dos espíritos dos mortos àqueles que reinam no submundo, todos possuem um preço – que vem sendo pago pelos mais distintos feiticeiros, sempre que conveniente, desde os primórdios da magia, ou ainda na Grécia antiga, nas raízes das práticas que hoje conhecemos como goécia.
Cooptar espíritos é sobre fazer acordos, isto é, pactos, sobre propor a oferta de certos elementos mediante o estabelecimento de certas condições. Isso pode ser tão simples quanto encaminhá-los a um desafeto, ofertando-o, tal qual um suíno em uma bandeja de prata, ou tão complexo quanto preparar as entranhas de um animal muito específico, em certo dia, hora e lunação.
Aos espíritos que aceitarem um acordo, estipule tanto um prazo quanto uma oferta, a ser entregue assim que o espírito cumprir sua parte. É comum, particularmente aos espíritos dos mortos, que voltem a rondar as imediações do local onde habitavam no momento da oferta, ou mesmo aquele que os ofertou, com o intuito de serem novamente agraciados, o que deve ser evitado.
Mesmo o mais imundo dos cães, quando alimentado, sempre há de voltar ao prato em que comeu. Realizemos, assim, um banimento.
Kizumolu é um feiticeiro e ocultista brasileiro, natural do interior de Pernambuco. Tem estado imerso nos meandros do ocultismo há mais de dez anos. Há sete, escreve e instrui a respeito das mais diversas práticas de feitiçaria e magia.
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