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Por: Ultor Felis
Então você entrou no mundo da magia. Pode ter começado lendo algum artigo na internet, visto um documentário ou lendo um livro sobre ocultismo. Talvez tenha se juntado a grupos rosacruzes ou covens de bruxaria ou esteja participando de suas primeiras mentorias sobre o assunto e conhecendo pessoas com perguntas semelhantes em sua comunidade.
Ao fazer isso, você lentamente se desvincula do esquema “Escola-Cinema-Clube-Televisão”sobre qual Renato Russo falava, mas se arrisca em cair em um novo transe “Sobre-Magia-e-Meditação”. Provavelmente encontrará muitas ideias incrivelmente inspiradoras e, infelizmente, também muitas crenças desanimadoras.
Uma maneira útil de pensar sobre isso é considerar que a sociedade “não-magistica” é um sistema projetado para funcionar da melhor maneira possível para o maior número de pessoas. Isso geralmente significa boas pessoas decentes que estão satisfeitas em viver vidas tranquilas e se contentam com conquistas na carreira, família, saúde e felicidade cotidiana. E isso é algo bom e belo.
Fora da sociedade mainstream, entretanto, há uma realidade muito diferente — as “terras selvagens”. Seus habitantes, por uma razão ou outra, não estão satisfeitos com a realidade consensual. Pode ser que estejam à frente de seu tempo ou muito atrás dele. Isso torna as “terras selvagens” um lugar emocionante e perigoso. Nessas terras, a sociedade coloca as ideias que são disruptivas demais para sua rotina diária, para o bem ou para o mal. São ideias estranhas, desacreditadas, não testadas e potencialmente libertadoras.
A magia é uma dessas ideias — ou melhor, um vasto conjunto de ideias. Muitas dessas ideias são fascinantes, e muitas merecem ser descartadas. No final do Arco Íris há um pote com moedas e joias imersos em uma sopa de merda. Desanimador? Pode ser, mas lembre-se, a alquimia é a arte de transformar merda em ouro. Como fazer essa separação é algo que está sendo explorado desde que gravaram a Tábua Esmeralda. Vamos ver neste artigo alguns erros comuns para você não se perder logo no começo de sua jornada.
1. Despropósito
Primeiro de tudo, o que você quer com a magia afinal? Embora pareça uma pergunta simples, muitos que entram no mundo da magia e da espiritualidade alternativa nunca a fazem ou nunca definem plenamente a resposta. Como resultado, acabam sendo atraídos pelas “luzes deslumbrantes” do show de luzes esotérico, sendo lançados entre diferentes experiências, grupos e professores, sem nunca resolverem seus problemas centrais ou entenderem seus verdadeiros impulsos.
Desde o início, é crucial perguntar a si mesmo: o que você realmente quer? Busca maior habilidade e poder criativo? Deseja superar um trauma ou enfrentar um desafio pessoal? Está disposto a abandonar tudo em busca da iluminação? Seja qual for seu objetivo, defina-o claramente agora. E tudo bem se você mudar de objetivo depois. Mas por enquanto questione se os meios mágicos são realmente a solução que você procura ou se métodos mais mundanos seriam mais eficazes. Talvez você precise apenas de reeducação alimentar e noções de contabilidade. Seja claro e objetivo sobre isso, ou você corre o risco de ser seduzido pelo glamour da magia e astúcia do algoritmo das redes sociais, esquecendo que tanto magia como redes sociais são apenas ferramentas a sua disposição.
2. Superficialidade
A magia é como um restaurante por quilo. Você tem muito a sua disposição, mas pegar tudo (mesmo um um pouquinho de cada coisa) não é a melhor forma de montar um prato. Com as comunicações globais, você tem acesso a materiais de todas as fés e caminhos esotéricos do mundo. Alquimia, Cabala, Thelema, Wicca, Satanismo, Kundalini Yoga, Teosofia, Rosacrucianismo, etc.. — a lista só é limitada pela demanda do mercado esotérico que está sempre em expansão. Há apenas algumas décadas esses assuntos eram extremamente difíceis de se descobrir. Não se podia simplesmente entrar no MorteSubita.net ou pedir um livro na Amazon. Quando alguém encontrava uma porta de acesso encontraria junto um mestre que explicaria que esse caminho demandaria uma vida de dedicação. E as pessoas ficavam muito felizes com isso.
Mas as coisas mudaram e o ocultista modernos tem outro tipo de desafio. Não falta acesso — mas o que frequentemente falta é o compromisso com um caminho específico. É comum que os alunos naveguem entre diferentes práticas, lendo sobre uma vasta gama de tradições, ou até mesmo se juntando a vários grupos em sequência. Esta é uma forma incrível de aprendizado rápido; contudo, se a comida por quilo mística substituir o aprendizado profundo e comprometido com um único caminho ou tradição, o progresso se torna superficial. Você se limita e fica eternamente a borda da sua zona de conforto em um caminho para logo adiante mudar para outro, sem nunca dar aquele salto crucial para o desconhecido. Ironicamente, esse medo da água pode levar mais tempo do que cruzar o rio todo a nado mantendo-se em um único caminho até alcançar os estágios mais avançados.
3. Fanatismo
Ocorre que, se você seguir na direção oposta e se tornar um “Fanático por Caminho”, cometerá outro erro grave. Após experimentar estados de pico ou avanços pessoais em um sistema, é fácil generalizar: “Isso é absolutamente incrível… todos deveriam experimentar isso!” Se não tomar cuidado, você se tornará um missionário, falando incessantemente sobre suas experiências e tentando convencer amigos e familiares a adotar a prática que causou seu avanço. No ápice dessa obsessão, pode acreditar ter encontrado o Caminho Verdadeiro, desprezando todos os outros caminhos como inferiores ou equivocados.
Pessoas podem ficar presas nesse estado por dias, semanas, meses ou até anos, bloqueando seu próprio progresso. Este comportamento é típico de indivíduos com um senso de identidade fraco: sentem-se inferiores ou inseguros, então colocam toda sua fé em uma ideologia ou líder carismático, de onde derivam sua força e autoestima. Se isso parece uma armadilha óbvia e que você nunca cairia, pense novamente: a obsessão pelo “Caminho Verdadeiro” foi responsável por algumas das maiores tragédias da história, incluindo a Inquisição e o Terceiro Reich. Muitos genocídios cometidos por missionários religiosos zelosos que estavam certos de que haviam encontrado a verdade.
Se você acredita que seu caminho é o único caminho verdadeiro, é hora de sair do seu ambiente fechado e vivenciar a vida de pessoas com diferentes crenças e origens. Faça novos amigos, amplie seus horizontes e compreenda que há valor em diversas perspectivas.
Outro erro comum é tentar ser o “Melhor Mago” em vez de ser e melhor versão de si mesmo. Quando pessoas supercompetitivas entram na magia, elas tentam dominar todos os aspectos dela e se vender como o Mestre Absoluto No entanto, a maestria total não existe; isso é um arquétipo que pertence aos desenhos animados de sábado de manhã. A chave aqui é: Magia não é uma corrida, é uma peregrinação. Não há prêmio, além de se tornar quem você é.
4. Dicotomia
Pessoas interessadas em magia e espiritualidade alternativa muitas vezes se encontram nas margens da sociedade, o que facilita a adoção de sistemas de crenças que reforçam uma identidade de opressão ou uma narrativa de “nós contra eles”. Isso se torna um problema particularmente agudo quando a prática da magia não resulta em uma vida de qualidade ou não funciona como esperado. Em vez de ajustar comportamentos ou crenças que não estão funcionando, essas pessoas frequentemente criam narrativas em que algum “outro” indivíduo ou grupo está impedindo seu progresso ou causando desastres. Essas histórias de justificativa do fracasso podem rapidamente se transformar em teorias da conspiração de larga escala, infectando culturas inteiras com desempoderamento, miséria e preconceito.
Exemplos comuns dessas crenças incluem:
- Os Illuminati estão atrás de mim porque tenho conhecimento secreto.
- Reptilianos estão controlando a realidade e agindo contra mim
- Sou muito iluminado para ser aceito pela sociedade.
- Sou um trabalhador da luz encarregado de combater as forças das trevas no meu pais.
Qual a mensagem subjacente de todas essas falas? Elas fortalecem a importância pessoal. Eu, eu, eu. A dicotomia permite encontrar significado pessoal através do fracasso e possibilitam que você seja um fracassado completo e, simultaneamente, tenha a ilusão de ser um vencedor.
Essas crenças são tóxicas. Abandone-as imediatamente e, em vez disso, foque no seu próprio crescimento pessoal e felicidade, e em como você pode ser útil para as pessoas ao seu redor.
Particularmente como um magista iniciante e inexperiente, você provavelmente enfrentará situações ou pessoas que tem interesse em seu Despropósito e que sabem lucrar com sua Superficialidade e seu Fanatismo, sempre dispostos a alimentar a luta do bem contra o mal, na qual obviamente eles são o bem. Pode ser um guru autoritário ou abusivo, uma ordem mágica excessivamente controladora ou até mesmo uma ideologia rigidamente impositiva. Você pode sentir a tentação ou até mesmo o medo de entregar o controle da sua vida em troca de uma certa validação. Se você ceder a essa tentação, prepare-se para desperdiçar algo entre meses e anos em uma experiência de aprendizado bastante dolorosa.
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