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Alta Magia

Teurgia Neo-Pagã: Deus não age sozinho

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Alberto Grosheniark

Na Alta Magia concebe-se a existência final de uma entidade suprema, destituída de forma, nome ou rosto; é simultaneamente o alfa e o ômega, existindo desde o início dos tempos e destinada a perdurar pela eternidade. Esta entidade não é meramente um ser, mas não é menos do que é um ser. É mente universl que estrutura e fundamenta tudo o que existe. Essa essência suprema é comparada ao infinito, além do alcance da mente humana. Assim, em mais de um sentido é um ‘número como qual não se pode contar’, pois nós é que somos contados por ele.

Há muitas e muitas obras que falam disso esoterismo. Por exemplo Giuliano Kremmerz em “Introdução à ciência hermética” (1897):

“O único conceito científico de Deus é este: a lei que governa o Universo no mais perfeito equilíbrio. Essa lei é infinita, constante e eternamente a mesma em toda parte: sobre a Terra, no pensamento inteligente, fora da órbita da Terra, na gravitação dos mundos visíveis, no deslocamento moral de almas agrupadas em uma sociedade. Essa lei é perfeita porque não admite qualquer violação, seja qual for; assim, um milagre que violasse a lei seria, a priori, impossível e, ao que parece, só se torna possível se, por razões ainda desconhecidas pelo homem, for o resultado da própria lei. A lei é inteligente porque dá e tira segundo o merecimento; concede e remove com uma justiça que está além das capacidades do homem. Para nós, há somente o Universo, com uma única lei inexorável, com uma Ordem da qual nada pode ser tirado.”

e mais logo adiante:

Quando os antigos patriarcas das histórias da Bíblia falavam da figura inexorável de Javé (Jeová), que beirava a crueldade e nunca era inconstante, estavam de fato fazendo referência a essa lei universal que dirige e cria tudo que existe, cuja alma é a essência do Ser, ou seja, a substância primária imutável e a forma secundária e variável. Esta lei imutável é também compreendida como manifestação da essência inteligente primária universal, que salta das formas de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Os antigos sacerdotes de religiões iniciáticas clássicas nunca usaram formas definidas para representar o princípio primário ou a substância inteligente; usaram sempre uma variedade de formas adaptáveis para definir diferentes momentos do ato criativo, ou melhor, da encarnação do Deus Universal.

É aqui que entram os deuses. As divindades secundárias, frequentemente retratadas nas mitologias e lendas, são interpretadas como manifestações limitadas dessa fonte divina primordial, que recebe nomes como “Todo-Poderoso”, “Deus inefável”, ou “Divina Providência”. No âmbito da tradição hermética, estes deuses são respeitadas, mas não são foco de adoração ou veneração intensa, visto que seu status é considerado substancialmente inferior ao do Deus supremo.

A Orquestração Divina

Para o magista, estes deuses menores constituem o que J.R.R. Abrahão em seu curso de magia denomina “Hierarquia dos Deuses Internos do Homem”, uma das doze hierarquias que, segundo acredita-se, regem o universo conforme é percebido pelos seres humanos. Essas entidades não são destinadas a receber orações; elas são essencialmente ferramentas espirituais empregadas na prática mágica, sempre sob a égide da emanação primária conhecida como “Luz”.

A Luz, nesse contexto esotérico, é a autoridade máxima sobre todas as outras formas e manifestações. As aparências por vezes aterrorizantes ou inusitadas dessas deidades se desfazem quando expostas a essa luz sublime. No cerne da crença, considera-se que elas são como sonhos emanados do não-manifesto, modelados pelos sonhos coletivos da humanidade e não como produtos da criação de indivíduos isolados. As formas assumidas por estas entidades são cristalizadas pela vontade coletiva de uma sociedade, que lhes confere significado e forma.

Consideremos o exemplo de Afrodite, a deusa grega do amor. Ela é comumente percebida como um produto da imaginação dos povos gregos; contudo, a interpretação hermética sugere uma visão mais profunda. Embora Afrodite possa parecer uma construção da mente humana, ela é, na verdade, a personificação das qualidades eternas como o amor, a beleza e o desejo, reconhecidas e nomeadas pela humanidade. Assim, antes mesmo de ser representada como uma deusa formosa, de cabelos dourados e dotada de um cinturão mágico, Afrodite já existia como um princípio ativo na natureza.

Os seres humanos, portanto, não são criadores no sentido pleno do termo; eles são melhor descritos como intermediários ou tradutores, que conferem formas e contextos através dos quais forças e princípios preexistentes podem ser compreendidos e interagidos. Ao conceber Afrodite como uma figura humana, os antigos gregos não inventaram suas características intrínsecas, mas forneceram uma maneira pela qual essas qualidades pré-existentes puderam ser acessíveis e interpretáveis em termos humanos.

Desse modo, Afrodite não interage com os afazeres humanos de maneira pessoal; ela não retém memórias ou alberga esperanças, mas se apresenta como a manifestação de um princípio natural, uma confluência de forças que, ao ser personificada, torna-se acessível à interação humana.

As várias culturas ao redor do mundo desenvolveram panteões compostos por deuses com nomes e características distintas. Esses deuses, embora possuam poderes extraordinários e sejam considerados eternos e indestrutíveis pelos padrões humanos, simultaneamente apresentam mais limitações e mais poderes que os seres humanos. Eles são limitados porque não possuem livre arbítrio, incapazes de evoluir ou se transformar além do que foram originalmente concebidos para ser.

No entanto, o poder desses deuses reside na sua natureza imutável e na sua capacidade de personificar forças naturais. Essa imutabilidade não implica que existam independentemente da percepção humana. A realidade é que, mesmo se a humanidade deixasse de pensar nesses deuses, as forças naturais e os princípios que eles representam continuariam a existir, prontos para serem reinterpretados por futuras culturas sob novos nomes e símbolos.

É crucial reconhecer que os humanos não criam deuses; eles meramente os nomeiam e, ao fazer isso, exercem uma forma de poder sobre eles. A nomenclatura e as características atribuídas a um deus são uma espécie de magia que o vincula à vontade da comunidade que o nomeou. Portanto, frequentemente se afirma que os deuses dependem da devoção e dos sacrifícios de seus devotos para existirem, pois sem esses elementos eles poderiam ser relegados novamente ao domínio das forças impessoais da natureza.

O relacionamento entre humanos e seus deuses é, assim, simbiótico e de dependência mútua. Essa dinâmica é muitas vezes inconsciente e reflete uma interação complexa entre os desejos subconscientes da sociedade e as manifestações divinas que ela venera.

Curiosamente, mesmo nos panteões mais ricos e diversos, é comum encontrar uma divindade suprema que permanece quase ou completamente indefinível, relegada ao plano mais abstrato da espiritualidade. Isso evidencia uma tendência humana de se afastar da verdadeira essência do divino, inefável, focando-se, em vez disso, em formas e nomes concretos.

A veneração de imagens, símbolos ou deuses nomeados é, de certo modo, um desvio espiritual, pois direciona a humanidade para um caminho que a distancia da verdadeira evolução cósmica. Esta tendência não se limita apenas à adoração de deuses, mas estende-se a todas as formas de veneração de egrégoras, que são coletivos de energia e consciência alimentados pelo pensamento humano coletivo. Tanto a idolatria quanto a adoração reverente são consideradas ofensas equivalentes à divina providência, indicando uma falta de compreensão espiritual mais profunda.

O Poder Oculto das Egrégoras

Uma egrégora é um conceito esotérico que representa uma coletividade de energia e consciência, nutrida e sustentada pelo pensamento coletivo de um grupo ou sociedade. Em essência, as egrégoras são comparáveis aos “Deuses-Menores” por não possuírem uma forma humanoide ou um nome específico. Exemplos marcantes de egrégoras podem ser observados nas artes divinatórias, tais como o i-ching, o jogo de buzios e as runas nórdicas.

Nas artes divinatórias e nas ciências experimentais, os praticantes empregam “convenções mentais” que facilitam o acesso a níveis de percepção extra-sensorial. Na radiônica, por exemplo, que é um sistema utilizado para detectar e tratar doenças à distância, o praticante manipula um dispositivo enquanto se concentra em uma amostra do paciente, como uma fotografia ou um fio de cabelo. O processo continua até que o praticante sinta uma resistência em seus movimentos, sinalizando a conexão estabelecida com a egrégora do equipamento. Essa interação permite ao praticante identificar e interpretar índices ou números que correspondem a condições específicas de saúde.

A funcionalidade de uma egrégora se manifesta na maneira como ela informa sobre a existência e a natureza de uma doença, além de fornecer orientações sobre métodos para restaurar a saúde do indivíduo afetado. Portanto, a egrégora atua como uma ferramenta que deve ser utilizada, mas não dominada, de maneira objetiva ou subjetiva.

Diferente dos cultos tradicionais a deuses, onde os praticantes podem se submeter objetivamente às egrégoras, em práticas como a astrologia, a submissão ocorre de forma mais subjetiva. A astrologia opera com uma egrégora caprichosa que é alimentada e moldada pelas crenças e expectativas das pessoas, utilizando os modelos e dados astronômicos tradicionais e modernos. Esta distinção é essencial porque, contrariamente ao que alguns podem pensar, as influências em astrologia não derivam diretamente dos corpos celestes, mas da egrégora associada, que é suscetível a alterações através de práticas mágicas. Tal como nos jogos de búzios ou em qualquer outra arte divinatória, as previsões e influências podem ser modificadas, permitindo aos praticantes manipular eventos e potencialmente controlar seu próprio destino, reforçando a noção de livre-arbítrio.


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